A Eusébio Cup voltou a homenagear o King, na Luz, como deve ser, com mais de 54 mil benfiquistas nas bancadas. Foi mais uma oportunidade de honrar a memória do nosso imortal Eusébio, mas foi também o quinto jogo desta pré-época, com uma primeira parte de grande nível, com um grande futebol, e com 18 minutos de uma eficácia rara. Quatro golos, em quatro oportunidades!
Todos obra das novidades desta pré-época: Prestiani, Pavlidis (por duas vezes) e Beste. Este num livre - outra novidade, temos de volta um jogador para as bolas paradas - que desviou num adversário e traiu por completo o guarda-redes do Feyenoord, o adversário desta Eusébio Cup, atropelado pelo vendaval de futebol do Benfica.
O quarto golo, aos 18 minutos, fechou o resultado. Mas não fechou as portas por onde entrava aquele vendaval. Esse continuou até ao intervalo, a gerar novas oportunidades (como aquela bola de Prestianni na barra), com a equipa de Roterdão completamente atordoada com as recuperações de bola de Tomás Araújo, Morato e Florentino, a circulação de bola de Leandro Barreiro, João Mário e Aursenes, as entradas de Bah e Beste, a magia de Prestianni e a competência técnica e posicional de Pavlidis.
Na segunda parte foi diferente. Era virtualmente impossível que não fosse. E não apenas pelas substituições, de um lado e de outro. A equipa do Feyenoord conseguiu equilibrar o jogo, teve mais bola, rematou até mais. Ainda assim foi com naturalidade que, à beira do fim, Arthur Cabral, fixou o 5-0 final.
Hoje o futebol do Benfica apresentou mais qualidade que nos jogos anteriores, mas tudo o que há para concluir deste jogo já dera para concluir dos anteriores. Que Pavlidis é o ponta de lança que encaixa no futebol da equipa. Que Prestianni não é um miúdo de 18 anos, para rodar por lado nenhum. É um craque de 18 anos para jogar no Benfica. Provavelmente por pouco tempo. Que há miúdos de muita qualidade no plantel, que terão de ser aproveitados e geridos. E que não voltaremos a ver o João Neves com o manto sagrado por dentro dos calções!
Onze "Eusébios", como há dez anos. Então, em cima da sua morte, como hoje, dez anos passados, a homenagem ao "king", o rei eterno da República Benfiquista. Há dez anos o jogo foi na Luz, o adversário foi o Porto, e a vitória abriu o caminho para a conquista do campeonato, o primeiro do tetra. Hoje foi em Arouca que, com o novo treinador, vinha de quatro vitórias consecutivas, e expressivas. De Estádio cheio, como sempre sucede nas visitas do Benfica.
Simbolismos à parte - que nunca a memória do Rei -, o jogo correu na linha do que têm vindo a ser os últimos jogos do Benfica. Em relação ao último, na Luz, com o Famalicão, a diferença é que não houve qualquer momento de assombração. O Benfica foi sempre superior, e nunca perdeu o controlo e o domínio do jogo.
Mas voltou a permitir oportunidades de golo a mais ao adversário. Desta vez mais permitidas ainda, dado que as duas maiores oportunidades de que o Arouca dispôs resultaram directamente de "ofertas" benfiquistas na saída de bola, uma de Otamendi, e outra de Kokçu. Valeu novamente que o diabo nem sempre está atrás da porta. Não é habitual, mas aconteceu nestes dois últimos jogos.
Moralizado pelos resultados, sempre que pôde, o Arouca disputou o jogo no campo todo, e pressionou bem na frente. Mais pressão sobre os espaços que propriamente sobre o portador da bola, o que é sempre menos desgastante. Uma pressão inteligente, sem dúvida.
O Benfica ia alternando o ataque continuado, quando o Arouca recuava e criava dificuldades de penetração na sua defesa, com a exploração da profundidade, sempre que o adversário se aventurava na tal pressão mais alta. Jogava com qualidade em ambas as circunstâncias, mas foi sempre nas transições rápidas a explorar as costas da defesa do Arouca que criou mais perigo, sempre com João Neves, Kokçu, Rafa e Di Maria em destaque. Os dois primeiros no lançamento, os outros dois na criação e finalização.
Ao quarto de hora marcou, numa das muitas belas jogadas de transição. O passe de João Neves para Arthur Cabral foi de génio. O golo de Rafa seria no entanto anulado pelo VAR, por fora de jogo milimétrico do avançado brasileiro. À meia hora voltou a marcar, e o golo voltou a ser anulado, desta vez por fora de jogo - novamente milimétrico - do próprio Rafa. E às três foi de vez: Rafa marcou e contou mesmo. A assistência é de Di Maria, "o Eusébio" com a camisola 11, a levantar com classe a bola sobre a defesa do Arouca, por onde entrou Rafa para o golo. Numa primeira instância guarda-redes do Arouca - o excelente Arruabarrena - ainda defendeu o primeiro remate, mas Rafa nunca perdeu o sentido da bola e acabou por marcar já de ângulo apertado, com frieza e categoria.
Para trás ficara já o erro de Otamendi na saída de bola, que permitira a primeira oportunidade do Arouca. Praticamente a seguir ao golo foi Kokçu a imitar o capitão. Em ambas as situações foi Sylla, na tal pressão no espaço, a interceptar a bola, e Rafa Mújica a desperdiçar.
A segunda parte inicia-se praticamente com o segundo golo do Benfica, numa excelente abertura de Di Maria para Rafa, que ofereceu o golo a Kokçu, depois de enganar Arruabarrena. Não foi só o golo da tranquilidade, foi imprescindível golo do número 10, com o nome de Eusébio. O árbitro assistente ainda quis estragar a festa, voltando a assinalar fora de jogo a Rafa, mas o VAR escreveu direito pelas linhas tortas.
O jogo não ficou resolvido, mas encaminhado. O Arouca continuou com o seu futebol desinibido, virado para a frente, mas era o Benfica a criar e a desperdiçar sucessivas ocasiões de golo. Foi Rafa - mais um grande jogo - isolado a falhar o golo cantado quando, na altura do remate, a bola ressaltou num tufo de relva levantada. Foi João Mário, a passe de Cabral, a falhar o golo por um desvio milagroso do defesa Milovanov. Foi Di Maria a quase voltar a marcar de canto directo. Foi, de novo, João Mário a rematar para a baliza deserta, com a bola a sair ligeiramente ao lado.
Estávamos nisto quando Arthur Cabral foi alvo de uma falta dura, mas foi para ele o amarelo. E foi substituído por Musa. Como a seguir foi João Mário substituído por Florentino, imediatamente amarelado, também. Deu a impressão que o Benfica teve mais amarelos do que faltas cometidas - uma apenas, em toda a primeira parte.
As última três substituições, com as entradas dos "Eusébios" Guedes (Di Maria), Tiago Gouveia (Rafa) e Tomás Araújo (Aursenes) ficaram para os últimos minutos, já depois do "Eusébio" Musa ter marcado o terceiro. Não foi à Eusébio, mas foi o melhor dos três golos. Para quem se lembra, à Artur Jorge. Que também jogou com o King!
Há cinco anos perdemos o maior símbolo do Benfica. Há cinco anos o Benfica jogou com 11 Eusébios e, no arranque de 2014, virou o campeonato, derrotando o Porto sem apelo nem agravo. Depois de uma época dramática, onde perdera tudo nos últimos minutos dos últimos jogos, e de um arranque pouco menos que penoso, foi aquele jogo com 11 Eusébios nas camisolas, o jogo de arranque para o primeiro de quatro títulos consecutivos. Foi o jogo mãe do tetra, que só não foi do penta e do hexa porque entretanto alguém traiu Eusébio.
O momento actual é porventura mais dramático. Amanhã, com Bruno Lage ao comando, por que não, como há cinco anos, para acreditarmos - agora, sim - na retoma, um Benfica com 11 Eusébios?
Com 11 Eusébios no campo, e alguém no leme sem complexos nem condicionamentos para dizer "basta" aos escândalos do VAR que se repetem em todos os jogos, ainda vamos a tempo!
No dia em que nos despedimos de Mário Soares, o Pedro Santos Guerreiro deu-me a dica para esta fotografia do Rui Ochoa e do Expresso, onde cabe todo um país que é o nosso. Não por Mário Soares ser a última destas figuras maiores de Portugal a partir. Nem por, muito provavelmente, se vir a juntar-se-lhes no Panteão Nacional.
Por muito mais do que tudo isso. É toda uma simbologia que retrata Portugal. No melhor, porque são do melhor que Portugal teve. E porque, enquanto mostra a gigantesca ponte com que Mário Soares uniu o país, esconde tudo o que de pior o país é capaz de fazer aos seus melhores...
Eusébio partiu há um ano. Faz hoje... Ninguém o esqueceu, os fumos negros nos braços das camisolas encarnadas lembraram-no durante todo um ano. Ainda ontem lá andavam, mesmo que ontem as camisolas fossem também elas pretas...
E a partir de hoje tem o seu nome numa avenida de Lisboa, ali mesmo à beirinha do Estádio da Luz, a sua casa eterna.
O minuto de silêncio foi estragado, a claque portista não respeitou a mais simples das homenagens a Eusébio. Como não respeitou a palavra do seu líder, que garantira antes do jogo respeitar o minuto de silêncio em memória de Eusébio. Ou como ele não respeitou a sua própria palavra!
Fora isso, o que não faltou foram homenagens a Eusébio. O jogo foi todo ele uma gigantesca homenagem à Pantera Negra. Foi o golo ao minuto 13, o número que celebrizou em Inglaterra, em 1966. Foi aquela fantástica arrancada no estilo inconfundível de Eusébio, com o número 50 na camisola, seguida de passe teleguiado para Eusébio que, já com o 19 nas costas, disparou de primeira como só Ele sabe. Foi aquela impetuosa cabeçada de Eusébio, então com o 24, mais alto e mais forte que quantos Mangala por aí andem…
Aconteceu hoje aquilo com que os benfiquistas sonham há muitos anos, e que muitos davam por impossível. Como hoje se viu era possível uma equipa de onze Eusébios e, como todos os benfiquistas sabiam, uma equipa dessas só pode ganhar. Ao Porto ou a quem quer que seja!
Eu sei que é difícil ver as faltas cometidas pela equipa do nosso coração. Eu sei que, para mim, muitas das faltas assinaladas contra o meu Benfica nunca existiram. Por isso, se fosse árbitro, não as assinalaria. Mas o Artur Soares Dias é!
Por isso não viu Jackson, em claríssimo fora de jogo, e que só não marcou porque não acertou com a baliza, naquele último lance da primeira parte… Não viu as inúmeras faltas de Lucho, Fernando e companhia. E às que viu não lhe viu gravidade para amarelar. Não viu o Mangala cortar a bola com a mão, dentro da área, mesmo à sua frente… Mas viu que toda gente viu que ele viu. E a partir daí…Não foi fazer bem sem olhar a quem. Foi fazer mal!
Eu compreendo, porque se fosse árbitro também não assinalaria nada contra o Benfica até perceber que tinha caído no exagero. A culpa não é dele. É de quem faz estas nomeações, que a toda gente pareceriam estranhas!
Ontem escrevi aqui sobre aquilo a que chamei efeitos colaterais da morte de Eusébio, a propósito das desastradas declarações de Mário Soares. Que parecem ter dado o mote para a sucessão de disparates – que só não são tiros no pé porque nesta nossa miserável classe política já ninguém tem pé - que se viram e ouviram durante o dia de ontem.
A começar de novo por Mário Soares, que logo no dia seguinte – depois de casa roubada trancas na porta – se apressou a emendar o soneto na sua coluna no DN, dedicando em exclusivo a sua crónica a Eusébio, que rapidamente passou “a um patriota excepcional que fez tanto por Portugal e por Moçambique”.
À questão do Panteão Nacional ninguém resistiu. Logo que surgiu a ideia de que o destino dos restos mortais de Eusébio não podia ser outro que não aquele, foi um ver se te avias… Todos os líderes partidários desataram a correr para ver quem era primeiro a agarrar a ideia e a levá-la à Assembleia da República. Devem ter chegado todos ao mesmo tempo…
Assunção Esteves, a Presidente da Assembleia da República, achou que era ali, na hora, em pleno velório, que deveria pronunciar-se sobre o tema que tanto entusiasmara os seus deputados, pondo alguma água na fervura. Só que, não se sabe se simplesmente em maré de azar, ou se por manifestas dificuldades próprias da sua já longa condição de reformada, não teve mão na água e aquilo saiu pior que as ondas gigantes que então assolavam a costa portuguesa. Foi o despropósito total, não podia ter sido pior. Falou do que não devia e do que não sabia, e as centenas de milhares de euros, não eram afinal mais que escassas cinco dezenas, como o seu próprio gabinete teve de vir esclarecer. As parcerias que preconizou, e o apelo ao mecenato, só econtram paralelo no seu discurso do inconseguimento!
Mário Soares tem sido acusado por alguma imprensa de incontensão verbal, expressão do domínio do politicamente correcto. Fora desse domínio a expressão foi substituída por senilidade, arrogância, sectarismo, e até loucura.
A direita tem sido evidentemente mais cáustica, não lhe perdoando uma, e atirando-lhe directamente ao carácter. Percebeu-se que a esquerda se dividia entre os que reconheciam que o homem tinha ficado xé-xé, a não dizer coisa com coisa, e os que, esquecendo-lhe o passado, lhe aplaudiam o regresso à esquerda, imaginando-o a tirar da gaveta umas coisas que há muitos anos lá tinha metido.
O que para a direita era uma questão de carácter e de princípios, era para a esquerda perdoável. Perdoável pela idade ou perdoável pelo pragmatismo dos fins justificarem os meios!
Um dos efeitos colaterais da morte de Eusébio, o mais colateral de todos, não tenho dúvidas, foi acabar com esta divisão entre os portugueses. Com as suas absurdas declarações a propósito da morte de Eusébio, Mário Soares acabou com esta divisão e uniu os portugueses. Infelizmente – especialmente para ele - à volta da ideia que dele fazia a direita!
Cresci ao som dos golos de Eusébio. Dei por mim gente à luz da estrela mundial que era Eusébio. Dei por mim benfiquista sem saber bem distinguir Eusébio e Benfica, quando para mim – e para tantos outros - ambos eram a mesma e única coisa!
Lembro-me daquelas finais da Taça dos Campeões. Da inesquecível vitória de 62, obra sua, aos 20 anos. E que obra! E de todas as outras daqueles anos 60… Daquela de 68, em Londres, quando no último minuto, com Gordon Banks pela frente e Nobby Styles – um dos seus carrascos – no ombro, lhe rebentou em cima a maldição de Gutman… Daquele Mundial de Inglaterra, de 1966. Daquele mítico jogo com a Coreia do Norte, e das lágrimas no fim daquele jogo com cheiro a batota das meias-finais, com a selecção inglesa. Daquela maneira única de correr para a bola no livre que dava invariavelmente em golo. Da explosão e do poder de remate, únicos e imparáveis!
Lembro-me que os anos foram passando e deixando as suas marcas. Nele, marcas bem pesadas, que apressaram a hora do adeus aos campos de futebol. Deveria ter acontecido na Luz, aos 31 anos, pela porta grande daquele jogo de 25 de Setembro de 1973, que reuniu a fina flor do futebol mundial. Depois de mais uma época brilhante: o título sem derrotas - mais um tri - para o Benfica e a segunda bota de ouro de Eusébio, depois da de 1968. Mas não aconteceu, ao contrário do que merecia!
Lembro-me que se seguiram alguns anos – anos de mais – que o Eusébio não merecia. Lembro-me daqueles anos negros da segunda metade da década de 70, quando todos os dias me cruzava com ele na João XXI, onde então eu morava e ele passava os dias. No início da década de 80 o Benfica começou a reparar os erros desse passado curto, mas penoso. Mas foi só com Luís Filipe Vieira que Eusébio viria a ocupar o lugar que sempre merecera no Benfica. Honrando-se, honrando aquela que foi a maior marca da sua marca!
Hoje ficamos na cama até um pouco mais tarde. Pouco tarde para um domingo de manhã, mas muito tarde para os compromissos que tínhamos fora de casa. Por isso agilizamos as tarefas matinais, apressamos umas rotinas e suprimimos outras. Trocamos o pequeno-almoço na sala, na companhia das primeiras notícias do dia, pelo pequeno-almoço em pé, rápido no silêncio da cozinha.
Entramos no carro, e no rádio – na Antena 1 como sempre – falava-se de Eusébio. Naquelas primeiras missões de cada início de viagem – apertar o cinto, pôr os óculos, abrir o portão fechar o portão – nem prestei atenção. Até a minha mulher se virar para mim: “Olha, o Eusébio morreu”!
- “Não, isto é um programa desses sobre as histórias do século passado”, respondi enquanto pelas colunas do rádio ouvia falar do Mundial de 66. “Que disparate, mulher. O Eusébio não morre, o Eusébio é imortal”!
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