A última reunião do Conselho de Ministros, presidida pela segunda vez pelo Presidente Marcelo, foi a primeira nas suas novas instalações. Mas não é esta, mesmo com os beijos e abraços de Costa e Marcelo, a lembrar os bons velhos tempos, como se nada se tivesse passado, a notícia do dia: essa é a do maior excedente orçamental da História do País.
Poderia dizer-se que é a picada final de António Costa no presente que deixa a Montenegro. O cheiro a veneno já anda no ar - mesmo com" os cofres cheios", como para aí se diz, não vai dar para o novo governo cumprir muito do que foi prometido!
E de repente, quando o vírus nos roubava o inédito e festejado excedente orçamental de 2020, ei-lo a acabar de chegar vestido de 2019.
Não sei se o INE fez tudo para que o primeiro excedente orçamental da democracia portuguesa se não esfumasse ingloriamente às mãos de um vírus. Mas se fez, fez bem!
Não era justo que uma coisa tão desprezivelmente microscópica roubasse esta medalha a Centeno.
Portugal atingiu no primeiro trimestre do ano, e pela primeira vez (desde que há estes registos trimestrais, iniciados em 1999), um excedente orçamental. Pela primeira vez as receitas do Estado foram superiores às despesas, no caso em 180 milhões de euros, 0,4% do PIB.
Esta seria uma notícia fantástica se não estivéssemos todos com a sensação que os serviços que o Estado nos presta estão uma lástima, no caos completo. Dos de maior complexidade, como os de Saúde, aos mais banais, como a simples renovação do cartão de cidadão.
Imagino que a maioria de nós, especialmente dos que não têm que sujeitar a sua opinião às cores do cartão partidário, tenha tido alguma complacência com o governo nesta degradação da qualidade dos serviços públicos. Afinal, entre imperativos financeiros e objectivos ideológicos, a troika e o governo anterior tinham cortado sem piedade na capacidade de resposta do Estado, e a dinâmica de degradação nunca é fácil de inverter. Erguer é sempre muito mais difícil que deitar abaixo!
Mas a verdade é que, por muita boa vontade que tenhamos, temos muita dificuldade em perceber que, atingidos os indispensáveis equilíbrios nas contas do Estado, se continue a cortar no investimento e a cativar despesa para ir mais além nos resultados orçamentais. E não sobra nenhuma vontade de rejubilar com notícias dos melhores resultados nas contas do Estado com os serviços públicos no estado em que de facto estão... Ter boas contas, mas tratar mal os cidadãos, não pode constituir motivo para júbilo para qualquer governante. Deixa a ideia que, mais que uma opção, é uma obsessão.
Mário Centeno garante que estes resultados não têm a ver com cortes nem investimento público nem nas despesas de funcionamento. E atira com números, em particular na Saúde. E em especial ainda com números de médicos e enfermeiros contratados...
Diz-se que os números não mentem. Mas enganam. E também falham ...
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