Despedida à portuguesa
Não se poderá exactamente dizer que o país foi apanhado de surpresa com a saída de Mário Centeno do governo. Não era necessário ser-se excepcionalmente informado para dar como certa a sua saída, tanto e tão insistentemente ela vinha sendo anunciada.
O que verdadeiramente surpreende é que tenha ocorrido assim tão de repente. É que não é um ministro qualquer que sai do governo, nem sequer a de um ministro das finanças qualquer. É – coisa rara e verdadeiramente excepcional para um ministro das finanças - a do ministro mais popular do governo. E o mais indiscutível dos ministros.
Sabia-se que Mário Centeno queria sair. E que também António Costa, sejamos francos, queria que saísse. E até o Presidente da República, que depois de o alcandorar a peça sine qua non do governo passou a achá-lo peça descartável, que só atrapalha.
Mas sabia-se também que estaria acordado entre todos que apresentaria – e defenderia - o orçamento suplementar e que terminaria com dignidade, e sem sobressaltos, as suas funções de presidente do euro-grupo.
Não aconteceu nada assim, e a exoneração – e sublinho o termo: exoneração – aconteceu à saída do conselho de ministros que aprovou o orçamento suplementar acabado de concluir. Bem antes de chegar sequer ao Parlamento. E a praticamente um mês de concluir o mandato europeu no euro-grupo.
Ninguém acreditará que foi Mário Centeno que forçou a saída nestas condições. Como também ninguém acha que haja alguma razão de interesse nacional na precipitação desta saída anunciada. E por isso, pouca gente – ou ninguém mesmo – acredita que isto não seja mais que mais um episódio de tricas e traições, infelizmente tão frequentes na manobra política.
Pelos resultados que alcançou ao comando das finanças públicas do país, Mário Centeno não merecia isto. Por outras razões … também acho que não!