Toda a gente sabe que o estado a que o banco público chegou é da responsablidade dos partidos do até aqui chamado arco do poder. PS, PSD e CDS, todos sem excepção, utilizaram sempre a Caixa para alimentar as respectivas clientelas.
Nenhuma dúvida a esse respeito. Não admira, por isso, que o PS se oponha a tudo o que seja mexer no assunto. Na mesma linha, poderia pensar-se que também que o PSD e o CDS não estivessem nada interessados nisso, ao contrário do Bloco e o PC, de mãos limpas.
Sobre estes já aqui vimos que, surpreendentemente ou talvez não, não queriam, também eles, que se mexesse no assunto. O Bloco já entretanto mudou de posição. No PC, como se sabe, essas coisas são sempre mais difíceis...
Quando o PSD e o CDS, contrariando as aparências, querem a todo o custo levar o assunto para o parlamento, com o PSD a impôr a constituição de uma Comissão de Inquérito potestativa (sem ter de ser votada), não estão no entanto a surpreender ninguém. Isso corresponde à cara de pau que têm para mostrar, e que há muito vêm mostrando, mas é também estratégia política. Na verdade não lhes interesa apurar o que quer que seja. Têm até tudo apurado, deixaram o governo há apenas seis meses. O que lhes interessa é explorar a clivagem que o assunto necessariamente provoca na geringonça.
A nós, aos contribuintes que vamos voltar a ser chamados a pagar os dislates desta gente, interessa-nos que o assunto seja debatido. No parlamento, em todo o lado. Mas o que nos interessa mesmo é exigir responsabilidades.
O que nos interessa é saber quem emprestou centenas de milhões de euros sem garantias. Quem andou a gozar com a nossa cara, financiando gente que compra acções dando por garantia essas mesmíssimas acções, com tudo a ganhar e sem nada a perder.
O que nos interesa é que, de uma vez por todas, haja responsabilidade e responsáveis. A sério, de verdade. O que nos interesa é que se deixe de fazer conta que ninguém está acima da lei.
O país não pode tolerar mais impunidade. E não pode tolerar que, ainda antes de conhecer a responsabilização, já saiba que não há bens para responder pelas responsabilidades. Como acaba de acontecer com Dias Loureiro...
Mas não é nada disto que interessa ao PSD e ao CDS. Na comissão de inquérito ou em qualquer outra sede. Ao PS não interessa nem isto nem outra coisa que não seja aceitar que ... tudo isto existe, tudo isto é triste... Tudo isto é fado!
A selecção nacional está apurada para o Brasil. Tarde, mais tarde do que a sua valia colectiva merecia, mas dentro daquilo que é o nosso fado. Um fado onde cabem velhas crenças, mas também velhas estórias. Uma delas é a do cântaro, da fonte, e da asa que alguma vez lá haverá de ficar…
Não foi ainda desta vez que lá ficou. Não poderia mesmo ser desta vez: porque não há asa que se quebre quando no cântaro está um génio; e porque a selecção da Suécia vale bem menos do que o que se anunciava, e bem menos do que se temia.
No cântaro, como se fosse lâmpada, estava o génio de Cristiano Ronaldo. Que fez, de longe, o melhor jogo de sempre pela selecção nacional e certamente um dos melhores jogos da sua já longa e sempre brilhante carreira. Hoje em dia só não é o melhor do mundo porque não é deste mundo!
Defendi frequentemente no passado que Cristiano Ronaldo era o melhor jogador do mundo. Que Messi não era deste mundo, e não era por isso comparável. Hoje é claramente o português que não é deste mundo, e é injusta para Messi e Ribery a discussão que por aí corre, como desigual e injusto foi o duelo para que convocaram Ibrahimovic, apesar da forma digna e capaz com que hoje, na segunda parte, se apresentou. A mostrar claramente que a selecção sueca é ele próprio, que para além dele é o deserto.
Por isso se percebeu hoje que o jogo retraído e ultra defensivo de Lisboa não fora estratégia. Que é mesmo assim, que pura e simplesmente a selecção sueca não tem mais (futebol) para dar.
É certo que chegou a assustar, quando a vinte minutos do fim estava a um golo do apuramento e galvanizada pela reviravolta no resultado. Sol de pouca dura, porque neste jogo de grande emoção e muito bem disputado, a selecção nacional foi tudo o que foi nesta fase de apuramento. E sendo tudo isso, já fora até aquela altura tudo o que de mau tinha sido!
A selecção nacional parece ter querido fazer deste decisivo jogo do play-off um espelho do seu desempenho durante o torneio de apuramento. Começou o jogo com a displicência e a falta de dinâmica dos jogos em casa com a Irlanda e com Israel, numa apatia confrangedora que aquele episódio de Pepe parado, com a bola também parada durante largos segundos, tão bem ilustra. Depois de perceber que o adversário estava ali apenas para defender, passou a jogar à bola e a dominar de forma inconsequente o jogo, como fizera em Moscovo, no único jogo que perdeu. No início da segunda parte fez o golo e logo se acomodou, como fizera nos jogos com Israel, com idêntico resultado. Viu-se de repente na eminência de perder o apuramento, com toda a pressão do jogo. E aí, quando tudo aperta, ressurgiu no seu maior esplendor. E não foi só com Cristiano Ronaldo, embora tenha sido ele o comandante. Foi com muitos outros e com muito Moutinho...
Gostamos disto. Gostamos de sofrer até ao fim, achamos que a vitória assim tem mais sabor. Não é estratégia, não é o nosso modelo, a nossa maneira de fazer as coisas. É o nosso fado!