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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Normalizar o anormal

Luís Neves ao lado de Fernando Gomes: "Não é visado nesta investigação"

A Polícia Judiciária (PJ) realizou ontem buscas na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), no âmbito de um inquérito criminal que está aberto desde 2021, relacionado com a venda da antiga sede da FPF na avenida Alexandre Herculano (Lisboa), em 2018.

Em causa estão indícios de crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada, ocorridos durante o penúltimo mandato de Fernando Gomes na FPF (2016 a 2020), entretanto acabado de substituir por Pedro Proença, e acabado de eleger para a Presidência do Comité Olímpico Português (COP), cuja posse tomou também ontem, enquanto prosseguiam as buscas. 

O Centro Cultural de Belém, espaço da tomada de posse de Fernando Gomes, estava apinhado de jornalistas. Que naturalmente se preparavam para o confrontar com a matéria das buscas.

Até aqui tudo normal. A partir daqui, nada mais é normal.

Não é normal que Luís Neves, director nacional da Polícia Judiciária (PJ) tenha surgido na tomada de posse de Fernando Gomes. Por que razão o director nacional da PJ aparece na tomada de posse do presidente do COP?

Não só não é normal, como é verdadeiramente insólito, que o director da PJ se tenha entreposto entre Fernando Gomes e os jornalistas para ser ele, qual assessor de imprensa, a responder-lhes.

Não é normal, e é até o completo desrespeito pelas suas próprias funções que, enquanto decorriam buscas (se não estavam concluídas, era porque ainda havia recolha de prova em curso), o director da PJ avançasse com a conclusão que o "Dr Fernando Gomes não está envolvido". Mais: que aproveitasse a despropositada ocasião para enaltecer o seu trabalho na FPF, e expressar a convicção que repetiria o sucesso no COP.

Não é normal, e é a completa subversão da hierarquia da Justiça Penal, que o director da PJ tenha usurpado as funções do Procurador Geral da República (PGR) para assumir a liderança da acção penal.

Não é normal que o PGR, Amadeu Guerra, um dia depois de tudo o que de extraordinário ontem aconteceu, permaneça em silêncio.

Não é normal que nada disto tenha merecido uma linha, sequer, nas primeiras páginas dos três diários desportivos.

 Infelizmente começa a ser normal que as Instituições impludam, umas atrás das outras. Começa a ser normal que pessoas que tínhamos como referência institucional, e acima de qualquer suspeita, como era o caso de Luís Neves, não resistam a mostrar os pés de barro. Começa a ser normal vermos esfumear os últimos resquícios de decência na nossa forma de vida ...

 

E agora?

Marcelo entre o "otimismo" de António Costa e a "preocupação" de Fernando  Santos - Euro - SAPO Desporto

Creio que se poderá dizer que nunca uma selecção nacional de futebol saiu tão arrasada de um campeonato do mundo como esta. Nem no México, de Saltillo, em 1986. A Direcção da Federação, então presidida por Silva Resende, saiu vergada ao total descrédito, com a incompetência estampada na cara que deveria estar coberta de vergonha. Os jogadores não saíram bem mas, carregados de atenuantes, acabaram protegidos atrás deles. E acabou por sobrar para o seleccionador - o bom gigante José Torres, vítima, não responsável - a cruz que carregou para toda a vida . 

Desta vez os jogadores também não saíram bem - as cenas de Cristiano Ronaldo são um caso à parte, aí não entram jogadores - quando metade deles não regressou com a outra metade. Mas nem aí lhes cabe a responsabilidade maior. Essa pertence a quem lhes permitiu isso!

O seleccionador sai "refém da sua incapacidade táctica, do medo, da incoerência, mas sobretudo da sua pequenez", como referiu o embaixador no Japão. Para além das exibições e dos resultados - e não apenas nesta competição, porque se repetem há anos de mais - a que condenou um lote de jogadores como nunca outra selecção tinha encontrado, acabou trucidado à boca da(s) cena(s) de Ronaldo, onde conseguiu o "all in" - incapacidade, medo, incoerência e pequenez.

Fernando Gomes sai como o líder que nunca existiu. A personificação da inacção, que assistiu a tudo quieto e mudo, certo que essa é a posição certa para quem está à porta do elevador da sede da FIFA. Conivente, quieto,  mudo e inimputável, são as senhas de acesso ao confortável gabinete de Zurique por que espera. E onde se espera por pessoas exactamente assim. 

É por isso provável que, agora, quando há responsabilidades a assumir, tudo fique exactamente na mesma. Que não se passe nada. 

Outra coisa não seria de esperar de quem, presidindo a uma associação a que o Estado atribui o estatuto de utilidade pública desportiva, celebrou contratos com uma sociedade para preencher um cargo pessoal de relevante representação nacional com o fim único de burlar esse mesmo Estado.

Nem outra coisa será de esperar dos representantes máximos desse mesmo burlado Estado - cujos Tribunais declararam "artificiosa na contratação e realização de prestação de serviços de uma sociedade comercial, que é desprovida de substância económica ou de razões comerciais válidas e que serviu proeminentemente para a obtenção no período tributário de uma tributação mais favorável em sede de IRC em face daquela que resultaria da tributação dos mesmos rendimentos em sede de IRS" - que fizeram as figuras que vimos fazer a voar para o Catar.

Nem outra coisa será de esperar quando o Presidente é o comentador mor da bola - esteja onde estiver, não falhando sequer as "flash interviews", e só lhe faltando, como dizia o Ricardo Araújo Pereira, narrar nas televisões os jogos em directo - e sempre pronto a pegar no telefone para dar parabéns aos signatários da "artificiosa contratação" mas,  sobre o assunto, não tem uma só palavra a dizer àqueles que que levam uma vida inteira a pagar impostos, e que pagam com língua de palmo uma simples falha de um prazo.

Portanto ... agora, nada!

Então ... boas férias

Se, em ambos os jogos de ontem, as coisas só se resolveram no desempate por penáltis, nos hoje tudo se decidiu nos 90 minutos, sem sequer necessidade de prolongamento.

No França - Inglaterra, um grande, grande jogo de futebol, porque Harry Kane falhou o penálti. Que foi o segundo a favor dos ingleses - assinalado porque, naquela que foi uma das piores arbitragem deste mundial, houve mais dois por assinalar, e ainda outro a favor dos franceses -, e restabeleceria a igualdade a dois golos, se tivesse sido convertido. Não foi assim, e a França acabou por ganhar um jogo em que não foi superior, e prosseguir a caminho para a revalidação do título mundial. 

No jogo de Portugal porque Marrocos marcou um golo e não sofreu nenhum. Ainda ninguém lhe conseguiu marcar um golo, e percebeu-se que também não seria hoje a selecção portuguesa a consegui-lo.

A equipa marroquina não fez nada que não se esperasse. E nem o facto de vir de um jogo com prolongamento, nem de ter perdido para este jogo dois dos defesas titulares, alteraram o que quer que fosse. Por isso a selecção portuguesa não teve motivos para qualquer surpresa, e teria que saber o que tinha a fazer.

Não sabia, e esse é o problema. Que não é de agora, mas de sempre. Não tendo feito o trabalho de casa, começou por copiar o que a Espanha tinha feito. Se não tinha resultado para a Espanha, que até o faz melhor, era garantido que não resultaria!

Entusiasmei-me, como creio que toda a gente, com aquela exibição e aquela goleada do jogo com a Suíça. Mas comecei por dizer que os problemas da selecção não se esgotavam nos de Ronaldo. Que, antes, depois e durante, havia os que vinham da ideia de jogo do seleccionador.

Nesse jogo - aparentemente com o problema Ronaldo mitigado - o primeiro golo surgiu, mais que na primeira oportunidade, na primeira chegada à baliza. O adversário precisou de procurar o resultado e abriu espaços. Com espaço os jogadores portugueses jogam como na rua. É o tal futebol de rua, que não precisa de treinador. 

No futebol de alta competição, e num campeonato do mundo, isso não existe. Aconteceu com a Suíça, e sabe-se lá se não poderia até ter voltado a acontecer hoje com Marrocos se, no arranque do jogo, aos 4 minutos, Bounou, a abrir logo com uma enorme defesa, não tivesse negado o golo a João Félix. Mas isso era se os milagres não habitassem também território de Alá!

Não falta à selecção portuguesa apenas ritmo, ideias de jogo trabalhadas e consolidadas, e mentalidade para enfrentar a adversidade. Falta tudo de que se faz uma equipa. Falta liderança. E falta estratégia. Para cada jogo, mas mais ainda para todo o edifício da selecção nacional, uma teia de interesses sempre em conflito com o objectivo desportivo. Que deveria ser o seu único e inegociável interesse.

Por isso esta eliminação aos pés de Marrocos só surpreende, e choca, porque se seguiu àquele jogo com a Suíça. Se olharmos bem para os outros três jogos - Gana, Uruguai e Coreia -, ou até mais para trás, nas derrotas, quando bastava o empate, com a Sérvia, para a fase se apuramento, ou com a Espanha, no afastamento da Liga das Nações, não há muito por onde surpreender.

E basta olharmos para três dados estatísticos do jogo para ser maior o choque pela exibição que pelo resultado: com 73% de posse bola, a selecção portuguesa rematou 12 vezes, apenas em 3 delas acertou na baliza; com apenas 27% de bola, os marroquinos remataram 9 vezes - pouco menos - e as mesmas 3 na baliza. O guarda-redes Bounou defendeu os três que lhe apareceram pela baliza, com três grandes defesas. O Diogo Costa sofreu o golo  logo no primeiro remate. 

Numa falha grave, a segunda, depois da do jogo com o Gana, porventura a deixar a nu a "verdura" escondida. Faltou-lhe determinação na saída ao cruzamento, mas acima de tudo avaliou mal toda a situação. Optou por tentar agarrar a bola com as duas mãos, em vez de a interceptar a punho e, o avançado marroquino En - Nesyri - a saltar sem oposição de Rúben Dias, que terá entendido que a sua intervenção na disputa da bola iria obstaculizar a acção do Diogo Costa, em condições de chegar primeiro à bola - chegou com a cabeça bem primeiro, e bem mais alto, que o guarda-redes com as mãos. 

Mas apenas mais um incidente de jogo. Que pouca importância tem no meio de tudo o que envolve esta participação portuguesa. Do contrato com o seleccionador, que é uma empresa, lá por coisas de impostos, onde a FPF, que até tem "utilidade pública", se mete; às novelas da entourage de Cristiano Ronaldo. Da estrutura de comunicação da FPF, do que brifa e não brifa ao treinador, ou do que deixa ou não dizer; aos jogadores que não regressam todos a Lisboa, porque por lá ficam uns tantos de férias...

  

Afinal o seleccionador nacional é só gerente do seleccionador nacional

FPF: Fernando Gomes explica as razões para a renovação de Fernando Santos -  Seleção Nacional - SAPO Desporto

 

Fernando Santos, o seleccionador nacional, tem o Fisco à perna.

Ao que consta criou uma empresa e, em vez de assinar um contrato de trabalho com a FPF, foi a empresa criada - a Femacosa - que assinou um contrato de prestação de serviços com a Federação. Quando pensávamos que Fernando Santos era o seleccionador nacional, estávamos enganados. Ele era apenas gerente da empresa, um homem de negócios, como se diz na gíria. O seleccionador era a desconhecida Femacosa.

Quando sabíamos que a vida tinha corrido ao seleccionador nacional, com os milhões do campeonato da Europa de 2016, não imaginávamos que pudesse não estar a correr assim tão bem a Fernando Santos, que afinal recebia apenas um salário mensal de 5 mil euros da sua empresa pelas suas funções de gerência. De que pagava o seu IRS, à taxa correspondente. Os milhões a sério que a FPF pagava è empresa eram tributados em IRC, à simpática taxa de 19 ou 20%. Coisas que a fiscalidade portuguesa trata sem grande margem para dúvidas no regime de transparência fiscal, e em especial numa cláusula geral antiabuso.

Daí que não surpreenda que a Administração Fiscal lhe esteja agora a exigir qualquer coisa como 4,5 milhões de euros de IRS por pagar. Como também não surpreende que Fernando Santos esteja a recorrer a advogados, daqueles pagos a peso de ouro, para fugir com o dito à seringa do Fisco. O seleccionador que não é seleccionador mas apenas gerente, é Santos, mas não é santinho. Por mais que o possa querer fazer crer. Santinho é só nos bonecos da Contra-informação. O que surpreende mesmo é o comunicado da FPF, entidade com o estatuto de utilidade pública, que acusa a Administração Fiscal de "violação grosseira do direito ao sigilo fiscal" e declara que "Fernando Santos não só não deve um único cêntimo à Autoridade Tributária, como nunca deixou de ter a sua situação regularizada nos termos da lei."

A verdade nem anda muito longe - se tudo tivesse permanecido em segredo, em "sigilo fiscal", todos estaríamos convencidos que o seleccionador era Fernando Santos e não a tal empresa, e tudo estaria regularizado nos termos da lei. O problema é o raio do sigilo. E outro ainda: é que Fernando Gomes, e a sua FPF com estatuto de utilidade pública, sabia que contratara Fernando Santos para seleccionador nacional mas que pagava à Femacosa. Que tanto quanto seja possível saber nem deve ter curso de treinador!

 

 

É assim

Três dias depois dos intoleráveis acontecimentos da passada sexta-feira no Estádio do Dragão, que mostraram ao mundo o ground zero do futebol em Portugal, os responsáveis pelo mundo da bola cá do burgo - Fernando Gomes, da Federação Portuguesa de Futebol, e Pedro Proença, da Liga de Futebol Profissional, continuam a fingir que nada aconteceu. Calados e mudos, como se nada tenham a ver com nada e tudo possa continuar como se nada tivesse acontecido, empurrando para o tempo a responsabilidade de tudo apagar.

Esse, o tempo, vai cumprindo com as responsabilidades que lhe são atribuídas. É o único que não as endossa, e lá vai fazendo o seu caminho. Sem perder tempo, porque de tempo sabe ele ... Hoje, ao terceiro dia, já vai aqui, nesta primeira página. Amanhã irá mais além.... 

É assim!

 

 

Levar a sério...

                                             Capa do A BolaCapa do Record

 

O Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) reuniu ontem com os presidentes do Porto e do Sporting. Não se sabe nada do que se passou. Sabe-se é que o presidente do Sporting está castigado pelo Conselho de Disciplina da  FPF. Está suspenso do exercício das suas funções. 

Poderia simplesmente ter por lá passado para beber um copo com Fernado Gomes. E com o Pedro Proença, que também lá estava. Convidado na qualidade de Presidente da Liga, tal como Bruno de Carvalho, convidado na de Presidente do Sporting. Qualidade que a FPF, por castigo, lhe suspendeu!

Não se sabe nada do que lá se passou... Mas alguém falou do que lá se poderá ter passado. É verdade que não falou ninguém que pudesse falar, até porque tudo aquilo parecia envolvido em grande secretismo. Mas falou exactamente o único que não poderia falar, para dizer que abordou a violência associada ao futebol, e que pediu o regresso dos sumaríssimos... 

Quando nem a Federação se leva a sério... 

 A propósito - e não é que os jornais em causa mereçam, também eles, ser levados a sério - veja-se como é para levar a sério o que  os jogadores, sem falar, dizem. 

Incompetência sem incompetentes

Por Eduardo Louro

 

 

Depois, muito depois, dois meses depois, da escandalosa participação no campeonato do mundo do Brasil, Fernando Gomes concluiu que houve incompetência sem incompetentes. Quando descobriu que não há incompetência sem incompetentes enterrou-se no ridículo e afastou o médico dos índices de suspeição lesional. Agora é bem capaz de encontrar outro incompetente, sem perceber que a incompetência é tanto maior quanto mais forem os incompetentes. E que a incompetência é máxima quando todos são incompetentes…

Perder em casa o primeiro jogo de uma fase de apuramento com a Albânia, que até agora apenas tinha ganho dois jogos – a selecção de Jorge Mendes e Paulo Bento, sob a bênção de Fernando Gomes, foi a terceira a cometer a proeza de perder com a Albânia – é incompetência máxima!

Sim, Sr Dr Fernando Gomes, nós sabemos que foi com muito engenho e arte que chegou a essa que é uma das mais apetecíveis cadeiras que por aí andam, mas isso não é competência. São habilidades, são teias que se tecem à volta de interesses instalados, esses sim, competentes em auto-defesa. Não se engane, porque a nós não nos engana… 

Gente Extraordinária LI

Por Eduardo Louro

 

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) achou que tinha finalmente chegado a hora de dar contas da avaliação do desempenho da selecção nacional no Mundial do Brasil. Dois meses depois!

A conclusão foi óbvia, e tem seguramente a vantagem de pôr toda a gente de acordo: incompetência, disse ele. A péssima prestação da selecção nacional foi fruto da incompetência. Incompetência de quem? Incompetência onde?

Isso não interessa nada. Incompetência (ponto).

A deslocação aos Estados Unidos foi uma decisão competente. Como Campinas, e o timing de chegada ao Brasil, foi competente. O seleccionador Paulo Bento foi, é e será mais que competente. Tão competente que até lhe foram reforçados os poderes. Foi promovido e deverá ser já o DDT (dono daquilo tudo). Fernando Gomes não pode ser juiz em causa própria, mas é seguramente competente. Tão competente que tinha renovado o contrato milionário do competente seleccionador nacional pouco tempo antes da partida para o Brasil, para que nada lhe faltasse. Nem a tranquilidade, a sua imagem de marca...

Houve portanto incompetência sem que tenha havido incometentes. Houve incompetência, mas não houve agentes dessa incompetência, o que, sendo uma originalidade nacional, já nem sequer é muito original.

Quem não acredita nestas originalidades ainda é levado a pensar que incompetentes foram os jogadores. Mas logo afasta essa ideia quando, sobre eles, nem uma palavra... Fernando Gomes falou de necessidade de renovação, mas isso não é falar de jogadores. E, com toda a certeza, a próxima convocatória de Paulo Bento, que está por dias, será mais do mesmo. Dos mesmos!

Ah! O médico Henrique Jones foi despromovido. Aí está... o incompetente. Bem me parecia!

Gente extraordinária este Fernando Gomes e esta da FPF... 

 

Brasil 2014 XVIII - Balanço à participação portuguesa

Por Eduardo Louro

 

 

Quando o apuramento para o Brasil estava em dúvida – e isso aconteceu durante muito tempo, porque cedo a selecção começou a desperdiçar pontos e só tarde, no segundo jogo do paly-off na Suécia, o assegurou – toda a gente dizia que seria impensável um campeonato do mundo, no Brasil, sem a selecção portuguesa. Pelo peso que o futebol português (já ou ainda?) tem, por ser no Brasil, o romântico país irmão mas, acima de tudo, por Cristiano Ronaldo…

Hoje, com a selecção portuguesa já afastada, com um desempenho pior que medíocre, pode concluir-se que não faz lá falta nenhuma. Não faz, como não fez… Não acrescentou nada ao campeonato do mundo e retirou muito a si própria. E não só...

Diz-se hoje que a selecção veio de menos para mais, que fez o pior no primeiro jogo, na goleada da Alemanha. Que melhorou no segundo, no empate com os Estados Unidos, e que esteve finalmente bem no terceiro, da vitória magra e amarga contra o Gana. Não me parece, nunca me pareceu que tivesse sido isso o que se passou. Isso aconteceu apenas nos resultados, que são soberanos mas não são tudo. O pior dos três jogos foi o segundo, contra a selecção de um país que despreza tanto o futebol - e tantas outras coisas - que nem o trata pelo nome. Porque o primeiro tem um sem número de atenuantes: má preparação do jogo, adversário do melhor que há, influência decisiva da arbitragem, expulsão, com inferioridade numérica durante mais de dois terços do jogo, lesões... O segundo, não. Não tem nada disso, antes pelo contrário. Contra um adversário fraco - agora a cumprir um alto serviço ao país, dando-lhe a saber que existe algures, não sabem bem onde, um país chamado Bélgica -, e com vantagem no marcador logo aos cinco minutos, sem surpresas quanto ao estado físico, e de forma, pelo menos dos jogadores que já tinham sido utilizados e sem qualquer razão para facilitar na preparação do jogo, que depois do empate entre a Alemanha e o Gana era decisivo, a selecção portuguesa foi simplesmente cilindrada. Os americanos, que haviam ganho ao Gana simplesmente porque às vezes há milagres no futebol, que simplesmente tinham mostrado saber defender - coisa que hoje em dia qualquer equipa que não seja africana sabe fazer - logo que se viram a perder mandaram-se para cima dos portugueses. E foi um não mais parar de oportunidades, uma autêntica humilhação que só parou quando viraram o resultado. Um golo no quinto e último minuto de compensação, com que ninguém contava, salvou o resultado. Apenas isso!

No terceiro, com o Gana, Paulo Bento recorreu finalmente a outros jogadores. Também isso contribuiu para que fosse o mais bem conseguido, ou, talvez melhor, o menos mau. Mas, francamente, decisivos mesmo foram os problemas internos na selecção africana. Tivessem repetido as exibições dos dois jogos anteriores e teria sido mais um suplício. Como de resto se percebeu na breve e intermitente, mas também imediata reacção que tiveram ao golo alemão, no outro jogo.

Há muito que se percebia que era grande a probabilidade de ser assim. Porque já não temos grandes jogadores, porque se deixou de lado a formação, porque a base de recrutamento é pequena. Porque, tantas coisas que tanta gente diz...

E que são verdade, mas não são a verdade toda. Nem talvez a verdade que, agora, no imediato, mais interessa. 

Como já se percebeu, o jogo que, na minha opinião, mais marcou a eliminação foi o tal com os Estados Unidos. No texto que então aqui publiquei não me pareceu oportuno escrever tudo o que me ia na alma, e por isso ilustrei-o com um fotografia que hoje aqui repito. Ali estão Fernando Gomes, o líder da Federação, o seleccionador Paulo Bento e Cristiano Ronaldo, todos reunidos à volta do ícon. Parece-me simbólico. E sugestivo!

Porque a idolatria iconográfica à volta de Cristiano Ronaldo foi prejudicial. É estrategicamente inaceitável que domine, como dominou, a selecção nacional. E revela as fragilidades de liderança na Federação e na selecção. O mediatismo do craque português, a sua dimensão universal, e a sua condição de figura incontornável do showbiz internacional, não podem ser transferidos para o seio de uma equipa. Têm o seu espaço, mas é outro!

Mas o descalabro da selecção tem também a ver com o jogador fantástico que é Cristiano Ronaldo. E tudo começa por não perceber o papel da selecção nacional no seu sucesso desportivo. Talvez ainda seja um súper atleta, mas não é, nem nunca foi, um súper homem. E por isso não pode passar um ano de campeonato do mundo obcecado por recordes individuais. Tem que optar: ou abdica de um ou outro, ou abdica de aparecer em grande forma no maior palco do futebol mundial. Sabe-se qual é a escolha dos seus principais concorrentes!

Mas não se fica apenas por aí. Cristiano não foi apenas um jogador que chegou a este mundial em condições inaceitáveis para o seu estatuto. Falhou ainda, porque é o capitão de equipa, na liderança da equipa. Mostrou não ser o líder dentro do campo, não saber agarrar a equipa e impedi-la de se afundar. Mas também mostrou não o saber ser fora de campo, sendo o primeiro a atirar a toalha, a desvalorizar a equipa e os colegas. Mostrou-se acima de tudo e de todos, como nunca se lhe tinha visto. Falou quando não devia e calou-se deselegantemente quando devia falar. A cereja no topo deste bolo intragável surgiu quando, na qualidade de homem do jogo da despedida, apareceu na sala de imprensa para uma simples declaração, sem direito a perguntas mas, coisa estranha, com direito a exibir um boné de publicidade à sua própria marca.

Paulo Bento não fica mal na fotografia apenas pelas convocações, por contar sempre com os mesmos, independentemente do estado de forma e, até, dessa coisa nova que aprendemos nesta semana chamada índices de suspeição lesional. Não se percebe que, não havendo pontas de lança ou avançados-centro de qualidade minimamente aceitável, ele queime três lugares da convocatória com três specimens como os que levou. Nem se percebe a insistência até à exaustão em Veloso e Meireles. Mas, pior que tudo isso, foi deixar cair aquela imagem de impoluto. Deixa agora perceber que cede a interesses, sejam eles de jogadores, de directores ou de outros agentes que se movimentam no futebol profissional. Declarou-se responsável por tudo o que envolveu a preparação da selecção, mas não se vê como a estadia prolongada nos Estados Unidos não corresponda a cedência a interesses. Ou os treinos abertos no Brasil. Ou a súbita titularidade do Eduardo, retirada logo que arranjou novo contrato. Ou até a lesão de Rui Patrício, que mais não pareceu que uma encomenda de Alvalade, um pouco na linha das convocações, dos portistas Licá e Josué, no início da época, em contra-mão com o seu conservadorismo convocatório

Por último a estrutura federativa, personalizada no presidente Fernando Gomes. Em vez de uma estrutura profissioanlizada, com competências específicas para as diferentes valências do negócio, a Federação dedicou-se ao compadrio. A distribuir lugares como se de tachos de trate, seja para pagar favores seja para obedecer a lobbies

As caras da estrutura federativa são, para além do presidente, o vice Humberto Coelho e o director João Pinto. Sabe-se que o lobby dos jogadores de futebol reclama sempre protagonismo na organização do futebol português, mas a verdade é que raramente se lhe reconhecem atributos que lhes garantam especiais competências para o efeito. Lá está o João Pinto, sem que sequer se saiba o que lá anda a fazer. De quando em vez ouve-se, mas é para debitar lugares comuns que dizem nada, levando toda a gente a pensar que está lá porque tem uns problemas pessoais para resolver. Qualquer dia - se não chegou já - chega a vez do Vítor Baía...

Humberto Coelho foi um extraordinário jogador de futebol. Depois foi durante pouco tempo treinador de segunda linha e, de repente, chegou a seleccionador nacional. Teve a seu cargo o melhor conjunto de jogadores que Portugal já conheceu, e com eles, com pouco ou muito mérito, fez a melhor selecção nacional de sempre, que brilhou no euro-2000, na Holanda e na Bélgica. Depois, mais nada... E pelo discurso percebe-se mesmo que mais nada. Lugares comuns, nada mais... E quando sai daí é disparate, do grosso. Como se viu na conferência de imprensa desta semana, onde se percebeu que naquela estrutura não há liderança, nem estratégia, nem nada por onde alguma coisa dessas pudesse passar. Viu-se, sim, fazer o discurso da derrota, lavar os cestos - e alguma roupa suja - quando a vindima ainda prometia. 

A FPF está (mal) habituada às receitas da presença consecutiva nas fases finais das grandes competições permitida pela aposta na formação dos primeiros vinte dos últimos trinta anos. A actual direcção - e também a anterior - está sentada em cima de um saco de dinheiro, e acha que isso basta. Por isso não precisa de quem pense no futebol, até porque se alguém começar a fazê-lo vai dar-lhe cabo da tranquilidade. E isso é muito desconfortável!

 

 

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