Uma questão de soberania*
O furto – como mandam as tecnicidades dizer – de Tancos pôs nu um rei que já calculávamos que andasse mesmo nu.
Por trás de umas missões aqui e ali, e de uns gritos de “presente” nas paradas da Nato, escondiam-se umas forças armadas despidas de verdadeira capacidade de acção. Tancos, sede de uma das mais míticas tropas de intervenção das nossas forças armadas, foi o biombo que caiu e deixou tudo à mostra. E mostrou, mais que um rei nu, um rei ridículo.
Um buraco numa rede por tapar. Câmaras de vídeo-vigilância obsoletas e há anos avariadas. Patrulhamento aos paióis desprotegidos feito de vez em quando e – é difícil acreditar mas é o que se diz - feito por patrulhas desarmadas, sem balas nas armas. Nem uma única bala, nem uma atada a um cordel para puxar depois de disparada, como na guerra de 1908 do saudoso Raúl Solnado. Apesar de tudo isso, de todas essas fragilidades, a suspeita de que só com envolvimento de alguém de dentro teria sido possível um roubo desta dimensão com tal limpeza. Onde até uma revolução se fez sem tiros, poderá admitir-se que até um assalto destes se possa fazer sem um tiro. Mas não abona ninguém. E menos ainda numa semana em que um conjunto de militares da força aérea, entre os quais altas patentes, foram presos por corrupção, nos velhos e gastos esquemas de abastecimento das messes
Mas, se em vez de uma perigosíssima mistura explosiva, tudo isto fosse apenas um bolo, lá estaria a cereja, bem no topo: as instalações dos militares que têm por missão defender o país são, elas próprias, defendidas por empresas privadas de segurança.
Meus senhores, não brinquem com isto. É a soberania do país que está em causa. E um mínimo de dignidade!
* Da minha crónica de hoje na Cister FM