Passam hoje 40 anos sobre Camarate, de que, depois de tanto se ter vindo a saber, nada se continua a saber.
Sabe-se que foi um atentado, e não um acidente, em que morreram o chefe e um ministro do governo de Portugal. Quer dizer, sabe-se o suficiente para tornar incompreensível que nada se saiba. E sabe-se que nasceu um mito.
Adelino Amaro da Costa era uma esperança, a quem se apontava grande futuro político. Uma esperança do CDS, e da direita em geral. Francisco Sá Carneiro era já um dos mais carismáticos políticos daquela época. E, ao desaparecer assim, daquela forma, tornou-se num mito que perdura na política portuguesa. Serve de referência para tudo. E para o seu contrário...
Foi há quarenta anos e em Portugal viviam-se os dias mais crispados depois do Verão Quente de 75, na véspera de uma das eleições presidenciais mais disputadas de sempre. Onde Sá Carneiro estava do lado errado. Errou, e foi certamente o seu maior erro político, ao escolher Ramalho Eanes como inimigo principal. Até porque, curiosamente, isso também acontecia com Mário Soares...
Há 35 anos Sá Carneiro teve um sonho e deu-lhe uma formulação: um presidente, um governo, uma maioria. Morreu sem o conseguir, nas circunstâncias conhecidas, precisamente quando procurava acrescentar o presidente ao governo que liderava e à maioria da AD que o suportava. Mas o sonho ficou e, mais do que num desafio, transformou-se na obsessão do centro-direita. Quis a História – ou o destino, não sei bem quem hei-de culpar – que o sonho se concretizasse nas pessoas de Passos Coelho e Cavaco, e em gente como Duarte Marques, Hugo Soares, Carlos Abreu Amorim...
Alcançado o velho sonho, logo a inédita trilogia lançou mãos à obra, e foi por aí fora como se não houvesse limites à sua fúria de recuperar o tempo perdido. Aos primeiros obstáculos não ligou muito, afinal não passavam de avisos. Nada que devesse ser levado a sério...
Até que, lá pelo oitavo aviso, já com alguma mossa na sua repetida fúria violadora, se lembram que, afinal, um presidente, um governo e uma maioria não é suficiente. Não chega, é preciso ainda acrescentar-lhe o Tribunal Constitucional!
Foi aqui que ontem chegou o nosso visionário primeiro-ministro, a uma nova formulação que passará agora a constituir o sonho da direita – já desligada do centro – e a nova ambição que Passos Coelho, como um dia Sá Carneiro - agora às voltas no túmulo -, deixará para o futuro: um presidente, um governo, uma maioria e um Tribunal Constitucional!
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