Não faltou animação na estapa raínha dos Pirinéus, mas no fim ficou a ideia que, afinal, não foi assim tão bom...
Esperava-se tudo desta etapa que partia do Santuário de Lourdes, ali num dos sopés daquele gigante montanhoso. Tudo o que para trás não tinha ficado resolvido teria de ficar hoje. E não foi bem assim: o que está resolvido, resolvido estava. Ou quase... Porque é quase sempre assim: quando as expectativas são demasiado altas, o bom não passa de sofrível e o excelente de suficiente.
A etapa foi bem viva, e muito mexida.Toda ela! Houve espectáculo e emoção, mas... Se calhar, numa etapa destas, colocar a meta vinte quilómetros depois do sítio onde ficava melhor, não é grande ideia. O ponto alto (literalmente), o clímax, encontrava-se no topo do L´Aubisque, mas aí só estava a meta de montanha. A da etapa estava em Laruns, 20 quilómetros depois, sempre a descer. Onde só não chegaram 10 corredores juntinhos porque, na descida, um adiantou-se um bocadinho (19 segundos) e outros dois atrasaram-se (12 segundos) outro bocadinho...
Mas uma etapa que faz perder mais de 7 minutos a Quintana - o grande perdedor do dia, talvez a ressentir-se da queda de ontem - e mais do dobro a Alejandro Valverde, não pode ser uma etapa mole.
Foram muitos os animadores, incluindo o rei da montanha, o francês Alphaville que, tendo andado muito tempo no grupo de frente, chegou à meta quase 20 minutos depois do polaco Roglic, o vencedor da etapa. E um dos vencedores do dia, ao subir ao terceiro lugar da geral. Mas Bardet e Mikel Landa fizeram tudo o que tinham a fazer para atacar os primeiros lugares, não ficaram a dever nada a ninguém.
Poderá parecer que não ganharam muito com isso, mas ganharam, e muito, em respeito e admiração. O francês seria terceiro na etapa, batido ao sprint pelo camisola amarela. E fixou-se no oitavo lugar da geral, logo atrás do colombiano: sétimo, na etapa e na geral. Que salvou "a honra do convento" da Movistar, depois do descalabro de Quintana e Valverde.
Mas - the last, not the least - esta etapa confirmou um miúdo de 21 anos como o grande ciclista da próxima década. Chama-se Bernal (na imagem) - Egan Bernal -, é colombiano, integra a equipa da Sky e, apesar da idade, é o pai de Froome. Também de Thomas, mas se hoje, mesmo perdendo o terceiro lugar, Froome não caiu desamparado pela classificação abaixo, foi apenas porque o miúdo o foi lá buscar e o rebocou montanha acima, até o levar ao grupeto dos primeiros. Aí chegado, passou para a frente e foi ele a puxar para ir buscar Bardet, que seguia lá na frente, já sem Landa, e até já sem Majka. Mesmo assim, depois de fazer isso tudo, chegou à meta logo a seguir ao grupo dos primeiros dez, pouco mais de minuto e meio depois do vencedor da etapa. E isto quer dizer duas coisas: a primeira é que, da Colômbia, continuam a chegar, todos os anos, grandes corredores para a elite do ciclismo mundial; e a segunda é que, noutra equipa, em que não tivesse de trabalhar para duas figuras como os dois britânicos, era menino para ganhar o Tour. Já e de caras!
Amanhã o contra-relógio fechará as contas finais. Os dois primeiros estão encontrados, só uma calamidade impedirá o galês de chegar, domingo, de amarelo aos Champs Elysées. E o holandês Dumoulin de ser segundo. Em aberto estará ainda o último lugar do pódio: Froome terá apenas que ganhar 13 segundos a Roglic, tarefa que há bem pouco tempo parecia fácil...
Ao segundo dia, os Alpes trouxeram a normalidade de volta ao Tour. A mais curta etapa (apenas 108,5 quilómetros) desta 105ª edição do Tour, à excepção óbvia dos contra-relógios, corrida sob o olhar altivo do fantástico Mont Blanc, foi um espectáculo de ciclismo verdadeiramente fabuloso. Os últimos 400 metros da chegada a La Rosière (Espace San Bernardo) foram de rara emoção. O espectáculo, esse, já vinha bem de trás. E chamou-se Alejandro Valverde, Dumoulin, Geraint Thomas e Chris Froome.
Dos quatro, só Valverde não fica na História. Porque nunca reza dos vencidos, e Valverde acabou a perder. E muito. Como perdeu Mikel Nieve, na frente da corrida durante muito tempo, e na frente à entrada dos últimos 300 metros, acabando batido, primeiro, por Thomas, e depois, incrivelmente, ainda por Froome e Dumoulin.
O camisola amarela, o belga Avermaet que ontem resistira surpreendentemente à primeira abordagem aos Alpes, hoje desapareceu nas profundezas da classificação geral. E o próprio Valverde, que ontem era terceiro, desapareceu do top ten.
Amanhã há mais. E logo com o mítico Alpe D`Huez... Mas o que o Monte Branco testemunhou é que Thomas e Froome estão bem acima da concorrência. O tetra campeão do Tour tem a desvantagem do desgaste do Giro, que ganhou pela primeira vez. Mas tem a enorme vantagem de ter na sua equipa o seu maior concorrente. E Thomas, logo que hoje vestiu a camisola amarela, fez questão de dizer que tinha a missão de a entregar ao chefe!
Termina hoje a 72ª edição da Volta à Espanha em bicicleta, uma das três principais competições do ciclismo mundial, com a vitória de Froome, o terceiro ciclista a conseguir a rara proeza de ganhar a Vuelta e o Tour no mesmo ano. Até agora apenas os franceses Anquetil, em 1963, e Hinault, em 1978, o tinham conseguido.
Foi a primeira vitória do inglês em Espanha, depois cinco participações, com uma desistência, um quarto e três segundos lugares. Froome consegui-o porque é Froome, um extraordinário ciclista, porque dispõe daquela que é, a larga distância, a melhor equipa da actualidade - e dos últimos anos - e porque, além de tudo isso, dispôs da colaboração - forçada pelas incidências da competição - de outras equipas que, particularmente nesta última semana, se viram obrigadas a fazer o trabalho da Sky para defender as posições intermédias dos seus ciclistas, especialmente dos que estavam na esfera do pódio.
Mas a grande figura desta Vuelta foi, sem qualquer sombra de dúvida, Alberto Contador, que anunciara ser esta a última competição da sua brilhante carreira. O espanhol quis despedir-se em grande, como grande campeão que é, e consegui-o. Se, aos 34 anos, as suas últimas prestações apontavam para que estivesse a chegar a hora de encostar a bicilceta, esta sua despedida deixa já saudades.
A primeira semana, especialmente em Andorra, correu-lhe francamente mal e deixou-o desde logo sem hipóteses de, na despedida, ganhar a sua Volta. Só que, a partir daí, Alberto Contador foi ele próprio a Vuelta. Sempre ao ataque!
Atacou bem, atacou mal, mas atacou sempre. Deu tudo e deu espectáculo. É certo que a desvantagem que trazia lhe permitiu a liberdade que noutras circunstâncias, especialmente a Sky, lhe negaria. Mas não é menos certo que, pela capacidade que demonstrou, a equipa de Froome teria mais dificuldade em chegar para as encomendas.
Nesta última semana Contador atacou em todas as etapas, todos os dias, em todas as montanhas. Foi subindo na classificação, foi ganhando tempo a todos os adversários, o que obrigou as outras equipas a substituirem-se à Sky para defender os seus corredores que ainda estavam à sua frente. Foi assim que sucessivamente foram encurtando as vantagens que Contador ia conquistando com muito esforço, e muita categoria.
Na etapa de ontem, a mais difícil de todas, que terminava no cimo do mítico Angliru, Contador deu verdadeiro espectáculo na tentativa de chegar ainda pelo menos ao terceiro lugar, que o levaria ao pódio hoje, em Madrid. Desfrutou de vantagem suficiente para atingir esse objectivo, mas ... aí está. As três equipas dos ciclistas ameaçados (a Bahrain, do italiano Nibali, o segundo, a Katusha, do russo Zakarin, o terceiro, e a Sunweb, do polaco Kelderman, o quarto) deram tudo na frente da perseguição para reduzir a sua vantagem e, no fim, lá estava a Sky confortável para o ataque final que levaria Froome a voltar a ganhar mais uns segundos aos seus adversários mais próximos. Foi sempre assim, durante toda esta última semana.
No fim foram quatro equipas contra Contador. Ganhou no Angliru - é o primeiro ciclista a consegui-lo pela segunda vez - subiu ao quarto lugar da classificação geral, que conseguiu ainda roubar ao ciclista polaco (que, estranhamente, viria a recuperar hoje na etapa da consagração), e ficou a apenas 20 segundos do último lugar do pódio. Mas ninguém vai esquecer esta etapa, nem ninguém vai esquecer esta Vuelta de Contador.
Não me admiraria que daqui por uns anos, quando se perguntar quem ganhou a Vuelta em 2017, haja muita gente a responder: Alberto Contador!
Dos portugueses quase não rezou a História. O Nelson Oliveira (47º) e o Rui Costa (42º, nesta que foi a sua estreia na Vuelta), os melhores, ainda chegaram integrar algumas fugas - nesta última, nas últimas voltas do circuito final de Madrid, Rui Costa voltou a tentar, e andou adiantado até à entrada para a última volta - mas nunca estiveram perto nem de uma vitória nem de lugares de relevo na classificação geral.
Chris Froom venceu - vai ganhar amanhã - pela segunda vez o Tour de France. Venceu, mas desta vez não convenceu...
Não convenceu porque o jovem colombiano Nairo Quintana deixou a ideia que era mais forte. Porque lhe ganhou por duas vezes, e apenas perdeu para o britânico por uma vez, logo naquela primeira abordagem aos Pirinéus, que decidiu - como então aqui se prevera - o vencedor deste ano. Porque o minuto e doze segundos que no cimo do Alpe d´Huez lhe faltou anular é bem menos que os mais de dois minutos que perdeu na primeira semana, naqueles cortes que o vento sempre provoca. E porque, no fim, ficou a ideia que Quintana atacou tarde de mais. Que, para recuperar os quase quatro minutos de atraso que resultaram dos tais cortes provocados pelo vento e da única vez que foi, de facto, derrotado por Froom, naquela décima etapa, teria de atacar mais cedo. Mais cedo, mesmo que já nos Alpes. Ou, em última análise, mais cedo mesmo na etapa de ontem.
Ontem atacou - a sério - apenas quando faltavam cinco quilómetros. Hoje corrigiu, mas já era tarde. Atacou na nova subida de hoje ao Croix de Fer, a mais de quarenta quilómetros da meta, para abdicar pouco depois. E lançou o ataque definitivo à entrada da subida final para o Alpe d´Huez, com a mesma estratégia de sempre: ataque inicial de Valverde - que grande Tour, o do campeão espanhol! - para depois sair que nem uma flecha para se lhe juntar. Ganhou perto de minuto e meio - numa dúzia de quilómetros - em cima do meio minuto de ontem, em cinco. Seria difícil ganhar muito mais do que isso em cada etapa a um ciclista como Froome, com uma equipa como a Sky, que tem sempre três ou quatro corredores disponíveis para ajudar. Como hoje voltou a acontecer, com Porte - que, de saída da equipa e a fazer um fraquíssimo Tour, já tinha sido decisivo na tal décima etapa - a levá-lo montanha acima.
Claro que nunca se saberá se Quintana poderia fazer mais. Sabe-se é que Froome, não!
Lá no alto foi Pinault - também ele a fazer uma parte final da prova em crescendo - que ganhou, resistindo por 18 segundos à subida demolidora do colombiano, com Valverde, em quarto, a chegar com Froome. E a confirmar, com inteiro mérito, o seu lugar no pódio. Este foi o melhor Tour de sempre de Valverde, que foi dos maiores animadores da competição.
Os quatro candidatos que aqui se perfilaram acabam por ocupar as primeiras cinco posições da classificação. Valverde, e logo no terceiro lugar, foi o intruso. Froome ganhou, como se esperava se bem que talvez como não se esperasse. E ganhou ainda o prémio da montanha. Quintana foi segundo, mas bem podia ter sido primeiro. Que seguramente será, dentro em breve... Nibali - que hoje foi francamente azarado, quando teve uma avaria no início da última subida que o afastou do centro de decisão da etapa, mas não o impediu de mais uma clara demosntração de categoria - acabou em grande, a honrar o número 1 que ostentava nas costas. Pode dizer-se que corrigiu os Pirinéus com os Alpes. Onde esteve ao nível do melhor dos melhores: basta ver que ficou a 8 minutos de Froome, quando logo na primeira etapa dos Pirinéus já estava a 7!
Contador foi o quinto, mas sem grande honra e não mais glória. Pode ter alimentado a ideia de que estaria ao seu alcance a proeza de ganhar o Giro e o Tour. Mas ficou apenas a ideia que o Giro foi a sua única hipótese de este ano ganhar alguma coisa!
Depois do dia de descanso, à décima etapa, chegaram aos Pirinéus. É aqui, e para a semana nos Alpes, que o Tour se vai decidir. Não é novidade nehuma.
Novidade não é que se tenha começado a decidir tudo. Novidade é que já tudo tenha já ficado decidido!
Tudo... tudo não. Mas o mais importante, sim. O que a primeira abordagem à alta montanha disse foi que dificilmente a camisola amarela mudará de corpo até Paris. Froome confirmou o que se desconfiava, e mostrou, logo à primeira, que não tem rival à sua altura. Tem a melhor equipa, também isso já se sabia, e é - está? - melhor que qualquer outro.
Hoje, na subida ao alto de La Pierre-Saint Martin - a última da etapa, com mais de 15 quilómetros e com a inclinação média de7,5% - onde a meta coincidia com o prémio da montanha de categoria especial, o festival começou com Richie Porte a abrir as hostilidades para levar o líder Froome para a frente, para deixar logo ali toda a concorrência. Nibali, primeiro. Contador, logo depois.
A confirmar aquilo que aqui deixara escrito anteontem, apenas Quintana conseguiu acompanhar os dois corredores da Sky. Mas foi sol de pouco dura: a mais de 6 quilómetros da meta, Froome saltou da roda do seu colega e partiu a solo até à meta. O colombiano não respondeu à aceleração mas, no seu ritmo, encetou a perseguição talvez à espera que o camisola amarela viesse a baixar o ritmo, lá mais para cima.
Nada disso. Froome era imbatível, sempre a aumentar a vantagem, e o seria próprio Porte a alcançar, e logo a seguir a deixar para trás o jovem colombiano, e a dar a dobradinha à Sky. E pronto: Nibali caiu para o décimo lugar, e já está a 7 minutos, Contador a mais de 4, em sexto, e Nairo Quintana a mais de 3, em terceiro.
Ironia das ironias: no ano em que a organização quis levar a incerteza da classificação até mesmo ao fim, deixando o Alpe d`Huez para o penúltimo dia, o Tour tem o vencedor encontrado logo ao décimo dia!
Foi um dia muito difícil para Rui Costa, que depois do ataque da Sky mais parece que, em vez de subir montanha acima, caiu montanha abaixo. Foi 100ª na etapa, a mais de 17 minutos... E fica a ideia que só não foi pior porque o Nelson Oliveira (e até o José Mendes) não o largou, num dia em que até poderia ter aproveitado do bom desempenho do colega de equipa Rafael Valls, 12º na etapa. Caiu para 33º, a mais de 22 minutos de Froome.
Esperemos que tenha apenas sido um mau - muito mau - dia!
Depois de, ontem, o Tour ter chegado a França, com mais uma vitória de Kittel – a terceira em quatro etapas –, e de ter perdido, por queda, na véspera, que não lhe permitiu comparecer à partida, uma das suas grandes figuras dos últimos anos, Andy Schleck – há já algum tempo que, por estas e por outras, deixou de ser um grande favorito –, correu-se hoje a primeira das etapas de elevado grau de dificuldade, uma daquelas que pode marcar a história da corrida.
A etapa de hoje, a quinta, não era corrida em montanha. Nem era um contra-relógio. Era simplesmente o regresso ao célebre pavé, no traçado da clássica Paris-Roubaix, com uma incursão por terras belgas. É o chamado Inferno do Norte!
Eram 155,5 quilómetros, entre Ypres e Arenberg Porte du Hainaut, numa daquelas etapas onde ninguém ganha o Tour, mas onde muitos o podem perder. Previam-se muitas dificuldades, um verdadeiro suplício para os ciclistas. A chuva encarregou-se de a transformar num inferno, com quedas sucessivas, umas atrás das outras.
Uma das primeiras vítimas foi o vencedor do ano passado e principal candidato à vitória deste ano, Chris Froome. Que pouco depois voltaria a cair e a abandonar, ainda antes de chegar ao pavé. Já ontem tinha também sido vítima de queda, depois de também já ter caído no Dauphiné, há três semanas atrás. E o Tour ficava, logo ao quinto dia, sem a sua figura maior. E o maior ciclista do pós Lance Amstrong…
Logo a seguir ao abandono de Froome entrou-se no primeiro troço de pavé, e logo aí o pelotão começou a partir-se em vários grupos. Rui Costa, Valverde e Contador logo ficaram para trás, e nem sempre juntos. Como Nibali logo foi para a frente. E foi sempre assim, com uma outra recolagem, mas com muitos grupos espalhados pelo caminho. E muitas quedas, sempre e em qualquer fase da etapa…
Ler, ou ouvir falar, de pavé pode levar a pensar nos empedrados, nas calçadas. Na Calçada de Carriche de há 30 ou 40 anos por exemplo. Pois, não é disso que se trata… São troços de pequena quilometragem – normalmente à volta de dois – de caminhos rurais, no meio dos campos agrícolas, com pouco mais de 2 metros de largura. Que, com chuva, passam a poucos centímetros, ladeados de poças de água e de lama. Na margem, erva molhada que expulsa violentamente qualquer roda que se atreva a tocar-lhe… E público, muito público de um lado e doutro!
Esperava-se uma etapa importante, o primeiro ponto alto deste Tour. Pois, foi mais – muito mais – do que se esperava. Foi provavelmente a etapa que tudo deixou já decidido. Que a Astana tinha certamente bem preparada, nela apostando a vitória do italiano Nibaldi, que traz a camisola amarela, que se arrisca a não despir mais, desde a segunda etapa, que venceu.
Nibali ganhou hoje mais de dois minutos à principal concorrência. De fora da vitória não ficou apenas Froome. Ficou também Contador e, por que não, Rui Costa, nitidamente sem equipa. Viu-se que só pode contar com Nelson Oliveira – outro dos cinco portugueses em prova. Não pode contar com mais ninguém!
Admitindo que a juventude de Kwiatowsky lhe limita as hipóteses de candidatura à vitória final, Nibali tem agora no australiano Richie Porte (a 1´ e 54´´), que agora, sem Froome, passará a ser a primeira figura da Sky, o único rival a menos de dois minutos. E de eterno candidato no papel passou, de repente, não só a candidato real mas a candidato principal.
O Tour é espectáculo. É disso que se alimenta para ser cada vez mais – e apesar de tudo por que tem passado o ciclismo – uma das maiores competições desportivas do mundo. Mas uma coisa é o espectáculo do ciclismo, a preparação do sprint, o sprint, o ataque e o contra-ataque na montanha. Outra é aquilo a que se assistiu hoje. Não é que não tenha nada a ver com ciclismo. Terá. É também ciclismo. Mas é muito mais que isso… E desse mais, o Tour não precisa. Acho eu!
Mesmo que a média de 47 Km/hora do vencedor – Lars Boom, o holandês da Belkin – deixe a ideia de uma prova normal de ciclismo…
Cá está de novo o Tour, na sua 101ª edição. Começou em Inglaterra, e por lá andou estes três primeiros dias.
Hoje chegou a Londres, e lá esteve José Mourinho a receber Rui Costa. Bonito de ver! É sempre bonito, portugueses a ver portugueses que o mundo admira...
E portugueses é coisa que não falta neste Tour. Em destaque em várias funções, mas também no pelotão, em cima da bicicleta:o campeão do mundo não está só, está até muito bem acompanhado. Disso e doutras coisas falaremos aqui ao longo destas três semanas!
Com mais regularidade lá mais para a frente, quando as coisas aquecerem... Na linha dos anos anteriores!
Por agora ainda não há muito a dizer. A não ser que está a começar como acabou a última, com Marcel Kittel a ganhar. Das três etapas inglesas, ganhou duas... Nibali ganhou a segunda, ontem. Ou que Mark Cavendish, a quem Kittel inequivocamente sucede como rei dos sprinters, voltou a não ter sorte e abandonou, por queda, logo na primeira etapa. E que se espera um duelo entre Froome e Contador... E que estamos todos com uma expectativa enorme à volta do nosso campeão do mundo!
Hoje foi o dia da chegada ao alto do Alpe d`Huez (na foto). O dia da mais mítica das etapas do Tour, que todos gostariam de ganhar um dia. Mas que poucos conseguem…
Foi o caso do francês Riblon – primeira vitória francesa neste Tour – que foi hoje o primeiro na etapa que, desta vez, subiu por duas vezes o Alpe d`Huez, depois de uma longa fuga, cheia de peripécias, que terminou com a ultrapassagem ao americano Van Garderen – seu companheiro de peripécias – já à entrada do último quilómetro. O suficiente para lhe ganhar ainda um minuto!
E hoje foi o dia em que finalmente Froome foi derrotado. Até aqui tinha ganho sempre, incluindo o contra-relógio de ontem, em montanha, onde ganhou a toda a gente. Aumentando distâncias para todos, incluindo para Contador, que foi segundo – com o mesmo tempo de Rodriguez – e para o checo Kreuziger, o colega de equipa e abono de família de Contador, que foi quarto, passando ambos a ocupar os restantes dois lugares do pódio. De onde saiu o holandês Mollemba, em quebra acelerada nesta última semana...
Só que, mesmo derrotado, hoje Froome voltou a reforçar a sua liderança. Porque foi derrotado pelo jovem colombiano Quintana - que subiu ao terceiro lugar - e pelo espanhol Rodriguez, finalmente a mostrar por que integrava o lote dos favoritos e já às portas do pódio.
Esperava-se que Alberto Contador, que ontem fizera um excelente contra-relógio, atacasse hoje. Ainda simulou fazê-lo quando, na descida que se seguiu à primeira passagem pelo cimo do Alpe d`Huez, saiu do grupo de Froome, na companhia de Kreuziger, o seu fiel e leal escudeiro. A ideia parecia boa: aproveitar a sua superior capacidade técnica para arriscar na descida - perigosa e exigente, onde Froome, com mais dificuldades técnicas e menos necessidade de correr riscos, não deveria responder – e chegar à entrada da segunda passagem pela montanha já fora do alcance do camisola amarela. Já se tinha percebido que Contador é, hoje, mais um jogador de póquer do que um corredor de bicicleta. Hoje confirmou-se: Contador tem passado este Tour a fazer bluf. Que voltou a fazer hoje, desistindo logo que a descida terminou, bem antes do reinício da subida foi, mais uma vez, bluf!
Na subida final voltou a não conseguir reagir ao ataque de Froome – mais uma vez foi ele, o líder, a tomar a iniciativa – e só conseguiu manter o seu segundo lugar na geral através, mais uma vez, do sacrifício do seu colega Kreuziger, que acabou por perder o terceiro lugar que ocupava. Dispõe daquela que é a melhor equipa deste Tour – tem a vitória colectiva praticamente assegurada – mas tudo aponta para que, nem assim, consiga segurar o seu segundo lugar, agora à mercê de Quintana e de Rodriguez. Que bem, e especialmente o colombiano, têm feito para o merecer!
Dos portugueses pouco há a dizer. No contra-relógio de ontem, Rui Costa, com honras de televisão, pela notoriedade da véspera, foi dos piores. Poderá perceber-se, mas não é bonito de ver: ficou a mais de seis minutos de Froome, em apenas 30 quilómetros… E hoje, simplesmente não se deu por ele!
O Sérgio Paulinho viu-se finalmente. Deu-se por ele. Porque fez um bom contra-relógio, por volta do vigésimo lugar, com muito boa companhia como, por exemplo, Richie Porte – que hoje voltou a confirmar a sua imensa categoria na ajuda a Froome. E porque hoje teve, também ele, honras de televisão. Foi vedeta de televisão, em virtude de uma fuga cujo único objectivo só poderá ter sido esse mesmo!
Aí está Tour a fechar a segunda semana. Falta uma!
E o Tour não é só Pirenéus e Alpes. E contra-relógios!
Comecemos por aí. Pelo contra-relógio de quarta-feira, o primeiro deste Tour, que permitiu a Froome reforçar a sua condição de grande candidato à coroa de louros em Paris, de hoje a uma semana. Foi ganho - por uma unha negra – pelo alemão Tony Martin, a unha negra que o separou de Froome. E que permitiu ainda a Rui Costa, apesar de um desempenho muito abaixo das expectativas – esperava-se um lugar entre os dez primeiros, mas ficou muito longe, perto do 30º posto – subir um lugar top tem que trazia dos Pirinéus. Nos dez primeiros do contra-relógio nem o seu chefe-de-fila - Valverde – coube!
É ainda a subida ao Mont Ventoux, na etapa de hoje - 14 de Julho, o dia nacional francês, o dia da tomada da Bastilha – a mais longa, mais difícil e talvez decisiva etapa deste Tour, a caminho daquela paisagem marciana, onde os ciclistas enfrentam a terrível subida e o não menos terrível vento que lhe dá o nome. E onde Froome chegou primeiro que todos os outros, a confirmar uma superioridade imensa. Que não, felizmente, incontestada!
Mas é – e eis a surpresa – também feito de etapas como a 13ª, 13 de azar, no dia 12 - que ligou Tours a Saint-Amand-Montrond. Uma etapa curta – 170 quilómetros -, de altos e baixos, mas sem montanha, para roladores, para ser discutida ao sprint e ganha por um dos sprinters glutões do pelotão. Como foi, ganha – mais uma – por Cavendish, caído em desgraça dois dias antes, quando – se não foi assim, foi essa a ideia que passou – derrubou em pleno sprint final um adversário que preparava a ponta final para um colega, o alemão Kittel, que viria a ganhar a etapa, maior rival do inglês e único ciclista com três vitórias até ao momento. Pois foi esta etapa, uma das que parecem destinadas a simplesmente não ter história, que se veio a revelar uma das mais decisivas e espectaculares deste Tour. Pelos sortilégios do ciclismo, mas também pelo vento, muitas vezes mais temido que as montanhas. Vale a pena contar: ia a etapa a menos de meio e já o pelotão estava partido em três grupos. No da frente seguiam as principais figuras, quando Valverde - segundo classificado, principal adversário de Froome e colega de equipa de Rui Costa – furou e perdeu o contacto. Toda a equipa (Movistar) ficou para trás para o levar de volta ao grupo da frente, à excepção dos outros dois ciclistas no top ten: Rui Costa e Quintana. Não tendo sido de imediato bem sucedidos, quando estavam apenas a doze segundos mas já com o segundo grupo do pelotão a chegar, a direcção desportiva da equipa deu ordens a Rui Costa para, também ele, esperar pelos seus companheiros, ficando lá na frente apenas o jovem colombiano Quintana. Foi então que o grupo da frente decidiu arrumar ali mesmo com toda a Movistar, que “apenas” liderava por equipas, tinha a vice liderança da prova, a liderança da juventude e três corredores nos dez primeiros. Olhando para a corrida, a equipa de Contador, toda ela no primeiro grupo, resolveu ainda atacar, deixando Froome angustiado, a olhar para o lado à procura da equipa que não tinha ali. Valeu então a Froome a sorte dos campeões - com a Team Saxo-Tinkoff de Contador tinham também seguido os sprinters – quando a BMC, de Cadel Evans, que já nada tinha a ganhar, e a Katusha, de Rodriguez, ainda com alguma coisa a defender, resolveram assumir a perseguição e defender-lha a camisola amarela. Quem pagou tudo isto foi a Movistar, com Valverde e Rui Costa a perderem mais de uma dúzia de minutos que os atiraram bem para fora do top tem. Rui Costa caiu só vinte lugares!
Claro que a espectacularidade desta etapa, e a volta que promoveu na classificação, nada retiram à etapa de hoje, com a subida ao Mont Ventoux. Mas não deixou de a influenciar, porque a Movistar, que perdera a cabeça e a corrida quando mandou Rui Costa esperar pelo grupo de Valverde, voltou a fazer hoje tudo errado. O português atacou quando faltavam onze quilómetros para a meta – que no Mont Ventoux são uma enormidade. No mesmo quilómetro, só para se ter uma ideia, foi absorvido e despejado. Quer dizer, em poucas centenas de metros, fugiu, foi apanhado e ficou para trás. Logo a seguir, também sem grande sentido por muito cedo, jogou o às de trunfo – o colombiano Quintana, um trepador que bem poderia ganhar ali.
Froome, que mais uma vez se despediu de Contador quando muito bem quis - em montanha tem sido sempre assim – viria a alcançá-lo, chegando a parecer que lhe agradaria a companhia até à meta. Mas não. Despediu-se também do colombiano e seguiu sozinho até lá cima. O holandês Bauke Mollema é – com alguma surpresa - o segundo classificado. E Contador, que pouco mais tem feito que aguentar-se. o terceiro, ambos a mais de quatro minutos.
Vem aí a última semana, a dos Alpes. E a do contra-relógio de montanha. Mas também de Paris, de hoje a oito dias!
O Tour entrou ontem e saiu hoje dos Pirinéus, onde, depois de uma entrada de leão, a Sky de Froome e Porte, teve uma saída de sendeiro.
Ontem a Sky assustara toda a gente: adversários e adeptos e amantes da modalidade, para quem seria de todo indesejável uma tão precoce definição da prova. Percebeu-se hoje que só os adeptos ficaram assustados!
Os adversários quiseram hoje, logo à partida, dizer que, impressionados sim, assustados é que não. E logo quiseram confirmar se aquela entrada da equipa de Froome não seria apenas bluf. Se aquilo de ontem não teria sido para os intimidar logo à partida e levá-los à submissão.
Esta etapa, com cinco montanhas, teve um início de loucos, com toda a gente ao ataque. Em especial a Movistar de Rui Costa, Valverde … e Quintana. Ao fim dos primeiros 40 ou 50 quilómetros já a Sky estava despedaçada. Já Froome estava sozinho e, mais, já Froome tinha que, entregue a si próprio, entrar em despesas de recolagem. E já Porte, como todo o resto da equipa, desaparecera!
À entrada da segunda das cinco escaladas, a primeira das quatro de primeira categoria, já Froome integrava o grupo principal, de onde não mais sairia. De onde ninguém mais conseguiu tirá-lo, apesar dos sucessivos ataques da Movistar, a quem todos os terrenos serviam para atacar, montanha ou plano. Froome resistiu sempre, umas vezes no conforto do grupo, outras respondendo ele próprio aos ataques.
Quando, a mais de 90 quilómetros da meta e com quatro montanhas de primeira categoria para escalar, se viu Froome sozinho, sem apoio sequer para o abastecimento, ninguém acreditaria que o camisola amarela pudesse resistir. Não só resistiu como acabou a etapa em clara confirmação do seu favoritismo, não dando hipótese a qualquer adversário!
Porque parece não ter rivais. Nenhum dos supostos candidatos à vitória final demonstra ter condições para isso. Contador, já era (sempre que Froome respondeu a um ataque o espanhol ficou nas covas) e por isso a sua equipa – Team Saxo Tinkoff, uma das mais fortes - não mexeu uma palha; com Rodriguez a limitar-se a fazer de morto no grupo principal, a Katusha assobiou para o lado. Só a Movistar atacou até achar que já não caberia fazer mais – talvez nem pudesse – dando-se por satisfeita com a derrota de Porte, que lhe garantia o segundo lugar na classificação para Valverde. E ainda as lideranças da juventude (Quintana) e colectiva, e três corredores - Rui Costa era o terceiro - no top ten.
Esta etapa de despedida dos Pirinéus prometeu, pois, muito. Não se pode dizer que tenha dado pouco, mas ficou bem aquém do prometido nos primeiros quilómetros, quando parecia mostrar que este seria o Tour mais aberto dos últimos vinte anos. Não o chegaria a confirmar, mas deu para muitas coisas. Deu para perceber que, ao contrário do que ontem deixara perceber, que não tem nada a ver com a do ano passado. Deu para perceber que, ao contrário do que ontem aqui dizia, Porte não é o Froome do ano passado, mesmo que este possa ser o Wiggins.
E deu para confirmar Rui Costa (na foto) na elite do ciclismo mundial: ontem ficara à porta do top tem, hoje entrou mesmo lá. E que Sérgio Paulinho continua por lá, sem que se saiba muito bem a fazer o quê. Que é um corredor de equipa, que tem um trabalho invisível, dizem os entendidos. Deve ser isso: trabalho invisível. Para ajudar o Contador é que não. Nem nunca lá está por perto nem o Contador lá vai de maneira nenhuma!
Segue-se o contra-relógio, já na quarta-feira, e no fim-de-semana regressa a montanha. Então nos Alpes, para fazer as contas finais...
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