Cada fisgada cada melro
Quando - vai para trinta anos - a troco de um prato de lentilhas, Cavaco mandou destruir a frota pesqueira nacional, não estava a cometer um crime contra a economia nacional. Estava apenas a revelar uma rara visão de longo prazo, só ao alcance dos eleitos, de homens providenciais. Dos verdadeiros visionários!
Demoramos anos - quase trinta, vejam bem o avanço que nos dá - a percebê-lo. Perdão, demorou anos a explicar-nos, mas finalmente explicou-o hoje, em plena Pérola do Atlântico, onde cumpria a sua missão de encanar a perna à rã, agora na fase a que pomposamente chamou Roteiro para uma Economia Dinâmica. Um Roteiro que se esgotou nas inaugurações de um centro de design, uma adega e um hotel. E numa visita a uma empresa de piscicultura.
Aí está. Quer dizer, foi aí. Justamente aí, que Cavaco explicou a revelação que o futuro lhe fizera há quase trinta anos atrás. A única forma - revelou hoje - de Portugal, enquanto grande consumidor de peixe, resolver o problema das suas contas externas é " produzir peixe nestas quintas de peixe, fish farms como os ingleses lhe chamam"!
Gostando os portugueses, como gostam, do seu peixinho para que é que o país queria uma frota pesqueira?
Para pescar, responderia o comum dos mortais. Para pescar o peixe de que os portugueses tanto gostam. Para nada, respondeu há trinta anos Cavaco. É que não só não são preciso barcos para apanhar o peixe na farm - talvez fisgas bastem - como essa é a ùnica forma de, por força dessa mania de comermos peixe acima das nossas possibilidades, resolver o problema das nossas contas externas.
E, com os cofres cheios e o problema das contas externas resolvido, qual crise, qual carapuça?
Orçamento? Para quê?
Governo de gestão? Qual é o problema?
Cada tiro - perdão: cada fisgada - cada melro!