65 mil na Luz, para comemorar "in loco" a conquista do 38. Milhões por todo o mundo!
Antes, havia um jogo para ganhar. Não para jogar, apenas para disputar e ganhar. Tinha ontem dito algures que se amanhã o Benfica não desatasse a marcar golos cedo, o país corria o risco de um forte abalo sísmico, com um movimento tectónico capaz de deslocar a pacata cidade do Entroncamento 230 quilómetros para noroeste.
O Benfica marcou cedo, logo aos 7 minutos. Mas nem isso evitou que, no Dragão, o Porto começasse a jogar contra 10. Não sei - não vi, nem fui ainda procurara saber - se a expulsão do jogador do Guimarães, aos 2 minutos, foi justificada pela aplicação das leis do jogo. Sei é que uma expulsão aos 2 minutos é coisa estranha. Mas também sei que é mais frequente acontecerem coisas estranhas no Dragão que no Entroncamento. E tenho a certeza que nunca aconteceria com um jogador do Porto.
Se esta coisa estranha aconteceu logo no arranque do jogo, imagine-se o que não teria acontecido se o Benfica não tivesse marcado logo no início do seu jogo.
Na Luz sabia-se disso, e os jogadores entraram em campo para rapidamente marcar, e arrumar com os fenómenos. Do Entroncamento, ou do Dragão. Era um jogo para ganhar, e mais nada.
Teria de assim ser, e foi assim. Na primeira parte o Benfica ganhou o jogo. Na segunda, esperou pela festa. O Santa Clara era, irreversivelmente, o último classificado do campeonato, com a descida de divisão confirmada. Há muitos fenómenos estranhos no futebol em Portugal, não ainda não há milagres.
O Benfica entrou em campo com quatro alterações em relação ao último jogo, em Alvalade. Três pela entrada no onze de Morato, no lugar do castigado António Silva, Bah e Florentino. A quarta pelo regresso de Aursenes à sua posição natural. Que não se sabe bem qual é - porque ele é médio centro, é ala em qualquer dos lados, é segundo avançado, é tudo... - sabe-se é que não é defesa direito. Chiquinho ficou de fora. Dir-se-ia que naturalmente. Neres, também. Mas ao contrário do que seria natural. Talvez se justificasse mais que fosse João Mário a sair do onze, mas isso agora não interessa nada.
O que interessa é que o Benfica entrou em campo para resolver o que havia para resolver - o campeonato. O 38. E não deixou hipóteses a fenómenos e a fantasmas. Gonçalo Ramos marcou logo aos 7 minutos, logo no primeiro remate à baliza, de cabeça, a corresponder ao excelente cruzamento de Bah, depois de mais uma jogada bem desenhada. Até aí tinha havido futebol envolvente, pressão alta e domínio absoluto do jogo. Remates, é que não, como até foi sendo habitual.
Depois do golo o Benfica abrandou o ritmo, e parecia até ter deixado adormecer o jogo quando, 20 minutos depois, João Mário e Rafa conduziram uma jogada de contra-ataque de compêndio - até pareceu que fora para isso que se deixara adormecer, para os jogadores do Santa Clara se aventurarem lá à frente - que o último concluiu no segundo, deixando praticamente feito o que havia para fazer.
Depois foi dominar e controlar o jogo e, na segunda parte, esperar pela festa. Sem obsessões pelo golo. Nem que fosse para Gonçalo Ramos regressar ao primeiro lugar da lista de marcadores, donde saíra na última jornada por força dos penáltis de Taremi. De mais aqueles três de Famalicão.
Foi de tal forma evidente que Roger Schemidt não queria que essa obsessão perturbasse a equipa que até encarregou Grimaldo da marcação do penálti que fechou o resultado, quando havia ainda mais de meia hora para jogar. E como foi bonita a forma como o lateral esquerdo espanhol o usou para se despedir dos adeptos!
Começou aí a festa. Que ainda dura, bonita, na Catedral. Antes de seguir para o Marquês, para durar pela noite fora.
O 38 tardou, mas chegou. Com todo o merecimento. Com o mérito de uma liderança desde a primeira jornada, e isolada desde a quarta. Com o melhor ataque (82 golos) e a melhor defesa (20)!
A uma jornada do fim de um campeonato que liderou desde a primeira jornada, que dominou em toda a linha, e em que tem indiscutivelmente sido a melhor equipa, o Benfica ainda não é campeão. Muito por culpa própria, mas muito, também, pelo que é o futebol em Portugal há 40 anos e que, pelos vistos, continuará a ser.
Ainda não foi desta que o 38 foi carimbado. Pelo que foi o jogo dos penáltis de ontem - apenas mais um - e pelo que foi o dérbi desta noite, que o Benfica teria de ganhar. O "match point" de hoje em Alvalade começou a ser desperdiçado na preparação do jogo, falhada em toda a linha. Como havia sido falhada a do jogo da Luz, com o Porto.
A primeira parte do jogo de Alvalade chegou a parecer decalcada desse com o Porto, quando há perto de mês e meio o Benfica desperdiçou a oportunidade de acabar, bem cedo, com este campeonato. Os mesmos erros de estratégia, a mesma apatia, e a mesma resignação levaram a equipa a entregar ao adversário o mesmo domínio do jogo.
O Benfica entrou em Alvalade como se este fosse apenas mais um jogo deste campeonato, e não o jogo que teria de ganhar para se fazer campeão.
O primeiro erro foi, com Bah recuperado e mais uma vez no banco, continuar a insistir em manter Aursenes como lateral direito. O seu rendimento na posição já é, em si mesmo, um problema. Problema maior é, no entanto, a falta que faz à equipa nas posições em que ele faz toda a diferença. Com o internacional norueguês nessa posição o Benfica não ganha um lateral direito e perde o seu mais influente jogador.
O segundo, e não menos decisivo, foi o défice de agressividade. Os jogos que têm de ser ganhos exigem entradas com os índices de agressividade no máximo. Não há outra forma. Mas a equipa não entrou claramente convencida disso, e começou a perder todos os duelos, todas as bolas divididas, todos os ressaltos... A agressividade e o querer dos jogadores do Sporting nunca encontraram resposta nos do Benfica. A atitude do árbitro João Pinheiro, ao deixar passar incólumes os excessos de agressividade leonina, em evidente dualidade de critérios, foi reforçando ainda mais a confiança dos jogadores do Sporting, cada vez mais contrastante com as do Benfica.
Nem a circunstância de na baliza adversária estar um guarda-redes com poucos jogos, e pouca experiência, pesou na estratégia para o jogo, também aí com tudo a ver com agressividade e atitude.
E assim o Sporting foi crescendo. Em confiança e, a partir daí, em qualidade técnica e táctica. Até, a partir do meio da primeira parte, depois da primeira oportunidade de golo, desperdiçada pelo Pote, passar a dominar completamente o jogo. Vlachodimos ainda adiou o golo que se adivinhava, com uma grande defesa a remate do Esgaio. Apenas isso. Logo a seguir já não evitou o primeiro golo, todo ele a espelhar a permissividade e a apatia da equipa. António Silva falhou um corte fácil, o Trincão ficou a com a bola e rematou sobre o lado esquerdo, já com pouco ângulo. Vlachodimos defendeu para a frente (ficando a ideia que poderia ter feito melhor), com toda a defesa a "dormir na forma", permitindo que o avançado do Sporting desse meia volta e voltasse a trás para a recuperar, contornar o guarda-redes, e enviá-la tranquilamente para a baliza.
Cinco minutos depois, já em cima do intervalo, a mesma passividade e o mesmo adormecimento, daria novo golo. Num canto, o Sporting voltou a marcar, com Diomandé a ganhar nas alturas a Grimaldo uma bola que deveria estar a disputar com Aursenes.
Em toda a primeira parte o melhor que o Benfica conseguiu foi uma única oportunidade de golo, ainda com o resultado em branco, num remate de cabeça do Rafa que saiu por cima da trave, por descoordenação no tempo de salto. E o 0-2 era até lisonjeiro!
Ao intervalo Roger Schemidt fez o que deveria ter feito antes do início do jogo. Em 10 minutos, fez o que não terá feito numa semana inteira. A equipa veio para a segunda parte com Bah (saiu João Mário, mais notado em Alvalade pelos assobios que por qualquer outra coisa) e Aursenes nos seus respectivos lugares, e com a mentalidade indispensável para discutir o jogo. Que mudou, por completo.
O Benfica tomou conta do jogo e só não marcou mais cedo porque o João Pinheiro não quis que o empurrão claro e ostensivo do Nuno Santos ao Gonçalo Ramos, dentro da grande área, fosse penálti. Mas é assim, este campeonato. Ontem, em Famalicão, foram quatro, e até acções com bola e jogadores fora do campo acabaram em penálti. No dérbi da Luz, o Paulinho mandou-se sozinho para o chão, e foi penálti. Este empurrão, não é nada. Siga...
Rúben Amorim percebeu que a sua equipa tinha gasto as baterias todas na primeira parte. Começou por fazer entrar Paulinho (troca com Edwards), para passar a jogar longo, para a frente.
Benfica ia juntando oportunidades ao domínio do jogo, mas o golo ia tardando. Roger Schemidt voltou a mexer, trocando Rafa e Gonçalo Ramos por Guedes e Musa. Que, três minutos depois, com uma grande arrancada, só não marcou porque o jovem Israel desviou, com a ponta dos dedos, para o canto que João Pinheiro não assinalou. Foram precisos apenas mais dois minutos para, finalmente, o golo. Aursenes, depois de ter sido carregado dentro da grande-área, levantou-se a foi ainda a tempo de responder de cabeça ao cruzamento de Grimaldo (sim, jogou, e sim, vai deixar saudades!), que recuperara a bola, do outro lado.
Rúben Amorim respondeu ao golo com ... medo. E reforçou a defesa e o meio campo, para defender o resultado, tentando repor a agressividade perdida. Ia conseguindo.
O relógio ia avançando e o Benfica não saía de cima da área adversária. Entrou Florentino (para substituir Chiquinho, acabado de amarelar) e entrou bem. A ideia que ainda haveria tempo para, pelo menos, o golo do empate ia crescendo. Entrou ainda Ristic, provavelmente para anunciar a definitiva despedida de Grimaldo.
Ia o tempo de compensação (8 minutos) a meio quando finalmente entrou a bola que não queria entrar. Rematada duas vezes pelo João neves. O menino que merecia que aquele seu primeiro golo pela equipa principal fosse o da vitória, e do título, e não apenas o do empate no dérbi. Que merecia, como mereciam os benfiquistas que estiveram no estádio - onde, mais uma vez, adeptos sportinguistas cantaram o nome do Benfica à moda do Dragão - uma abordagem ao jogo que garantisse a festa do 38. Hoje, em Alvalade!
Há muito se sabia que Grimaldo não renovaria o contrato, e abandonaria o Benfica no final da temporada. Por mais juras de amor que fizesse ao clube que representou nos últimos 7 anos (e mais uns meses), sabia-se que esta seria a última página de um livro com histórias muito bonitas ... e outras que nem tanto.
Era legítimo o desejo do lateral esquerdo querer mais. Mais dinheiro porque, do resto, mesmo que igualmente legítimo, não será provável que venha a ter mais do que tinha. Como era legítima a decisão do Benfica de, nesta altura, não lhe dar tanto dinheiro quanto ele pretendia.
Grimaldo é um jogador de inegável qualidade. Não tanta que fizesse dele um jogador nas listas de cobiça dos grandes clubes europeus. Surgindo sempre em cada final de época clubes interessados na sua contratação, nunca esses interesses foram além de primeiras páginas dos jornais. Por isso aguardaria sempre pelo final do contrato, na mira do prémio de assinatura.
Ao Benfica, para a renovação, colocar-se-ia sempre a questão da rentabilização desse prémio. E a decisão teria de resultar do confronto entre esse valor, somado ao do novo salário, e o do investimento numa nova contratação.
"O Grimaldo desta época" faria inclinar a decisão a seu favor. O problema é esse - "o Grimaldo desta época". É legítima a dúvida se "o Grimaldo desta época" resulta da época do Benfica de Roger Schemidt; se de ter atingido a maturidade (na generalidade, os 27 anos correspondem ao ponto alto do "ciclo de vida" de um jogador de futebol); ou se da mera circunstância de, esta, ser a última época do contrato.
Há jogadores em que esta questão se não levanta. Não é, justa ou injustamente, o caso. Poderá até ser injusto mas, para grande parte dos benfiquistas, Grimaldo deixa a ideia de ter investido no último ano de contrato. E que, renovado o contrato, não dá garantias de se manter ao alto nível de desempenho desta época.
Aparentemente a direcção do Benfica pensou da mesma maneira. E, assim sendo, só há que agradecer ao Grimaldo, os 7 anos de manto sagrado. Em especial, este último. E que esperar da direcção a sua substituição por outro, ainda melhor.
O que não se admite, não se compreende, e não se desculpa, é que a notícia da sua contratação pelo Bayer Leverkusen tenha sido dada antes da confirmação da conquista do campeonato. Não se desculpa nem ao Grimaldo, nem aos responsáveis do Benfica.
Só se compreenderia se não tivessem visto nada do jogo de ontem no Dragão depois do intervalo. Se não tivessem visto a quase meia hora de intervalo (o que é que estiveram a fazer nos balneários aquele tempo todo?), a inclinação dada ao campo para a segunda parte, as faltas do Uribe e do Gruijc, as arruaças do costume, pelos arruaceiros do costume, e os festejos finais a celebrar não se percebe bem o quê.
Era grande, e até desmedida, a expectativa criada para este jogo do Benfica, em Portimão. Ouviu-se e leu-se de tudo, desde um ambiente terrível a aguardar a equipa, até à estapafúrdia possibilidade do Benfica lá se sagrar campeão ... desde que ganhasse, e o Porto perdesse o seu jogo, no Dragão, com o Casa Pia. Que acontece apenas amanhã, mais de 24 horas depois.
A relação - invulgar e mesmo promiscua, mas não estranha à luz do que acontece no futebol cá do burgo - do Portimonense com o Porto é uma coisa. Projectar daí uma "cena" de ambiente terrível, quando os benfiquistas tinham, como sempre têm feito por este país fora desde que não lhes vedem o acesso aos estádios, esgotado a lotação do Municipal de Portimão, foi uma tentativa de criar fantasmas. Transformar a impossibilidade de festejar o título em Portimão numa possibilidade, foi só mais um dos disparates em que a nossa comunicação social desportiva é fértil.
A equipa, e os adeptos, do Benfica não se impressionaram com essas manobras. A equipa chegou a Portimão com a única e clara ideia de mostrar que joga à campeão, para ser campeão. Os adeptos, para lhe dizerem que acreditam na equipa, e que não lhe regateiam apoio para lá chegar. E bem cedo disseram ao que vinham - os adeptos, com uma recepção extraordinária, logo à chegada ao Estádio; a equipa, com uma entrada em jogo demolidora. E, assim, acabaram com os fantasmas logo à partida. Com todos, incluindo o dos autocarros do Paulo Sérgio e o que se dá pelo nome de Soares Dias.
No primeiro minuto o Benfica criou logo a primeira clara para marcar, num remate ao poste do menino - homem. O menino João Neves. Tão homem que até foi o do jogo. E ao quarto já marcava. No primeiro quarto de hora do jogo o Benfica já tinha um golo, e outro anulado, duas bolas nos ferros, com mais um grande remate de Gonçalo Ramos à trave, e mais três outras grandes oportunidades. Tudo isto ao som da regressada orquestra de futebol que é este Benfica.
Só por volta de meio da primeira parte o Portimonense conseguiu respirar, e começar a ameaçar disputar o jogo. "Sol de pouca dura", e rapidamente o Benfica voltou a impor a força do seu futebol. E a criar e desperdiçar sucessivamente oportunidades de golo. O segundo chegou ainda antes da meia hora, num auto-golo que, a não o ter sido, teria sido de Rafa.
No primeiro remate à baliza, dez minutos depois do segundo do Benfica, o Portimonense marcou, na sequência de um livre lateral, mercê da passividade de Morato - claramente sem ritmo, e fora da nota dada pelo diapasão da equipa (é o preço a pagar pelas ideias fixas de Roger Schemidt - a única alteração na equipa, pelo castigo de Otamendi. E, aos 38 minutos, o que poderia ser um resultado de cinco ou seis, era um magro 2-1.
Nada de fantasmas, uma vez mais! E o Benfica respondeu de imediato, voltando a criar novas situações de golo. De novo desperdiçadas, à excepção, finalmente, do golo de Gonçalo Ramos. Um grande golo. De autor, com assinatura, já em cima do intervalo.
Na segunda parte o Benfica entrou com Florentino - e que bem jogou - no lugar de Chiquinho, já amarelado (no que parecia uma ameaça para chegar aos jogadores em risco para Alvalade, ameaça que Soares Dias não teve a mínima hipótese de concretizar), mas também no tom menos afinado. E voltou a entrar em força.
David Neres poderia ter marcado de imediato, e logo a seguir, numa jogada de esplendor na relva, Rafa marcou. E ao marcar, fez anular o golo. Não precisava de tocar na bola, que ia entrar, rematada por João Mário, e mal defendida pelo guarda-redes da casa. Tocou-lhe de raspão, estava em fora de jogo por ... 9 centímetros, e o VAR acabou por anular o que tinha sido festejado como o quarto golo.
Que nunca mais chegava, por mais oportunidades que se sucedessem. Nem de penálti, porque Soares Dias não o quis assinalar, quando o Sérgio Conceição (mais um, do clã) puxou Gonçalo Ramos dentro da área, impedindo-o de cabecear em condições para a baliza (sim, os jogadores do Benfica não se mandam para chão, e isso é motivo de orgulho). A fazer lembrar qualquer coisa - Chaves, lembram-se? - logo a seguir o Portimonense sai em contra-ataque, e é Aursenes quem consegue recuperar e anular o lance de perigo, cortando "in-extremis" para canto.
Contra os cânones, que dizem que não se fazem substituições antes da marcação dos cantos, Roger Shemidt fez duas, tirando Neres e Gonçalo Ramos, para entrarem Guedes e Musa. Só depois foi marcado o canto e, dele, saiu uma magistral jogada de contra-ataque, toda ela movimento, velocidade e arte. E toda ela Rafa, evidentemente, a cavalgar por ali fora, até deixar a bola à mercê da dança de Musa. Recebeu-a para lhe tocar pela primeira vez, ajeitou-a e dançou à frente dela, até deixar por terra um defesa e o guarda-redes adversários para, depois, a enviar para a baliza aberta. Finalmente, o quarto golo.
O quinto, de novo de Musa, chegaria dois minutos depois, a um dos 90, fechando o resultado num 5-1 que não tem nada a ver com o que se passou no campo. Se tivesse, teria que ser qualquer coisa parecida com aqueles 11-0 de há uns anitos, com o Nacional, de Costinha, na Luz.
Falta agora uma vitória para o 38. Mas não é só esperar por ela. É a jogar desta forma avassaladora, que não permite dúvidas. Nem fantasmas!
Mais uma vez a Luz em festa, cheia, a empurrar a equipa para uma noite de gala, e para a vitória, decisiva na caminhada para o ansiado, e adiado, 38.
E a equipa respondeu, com uma exibição que, se não foi de luxo, também não andou lá muito longe, asfixiando por completo o Braga, durante a maior parte do jogo. A equipa do melhor futebol desta fase do campeonato, naquilo que é a opinião publicada, limitou-se a defender com tudo o que pôde ... e a parar o jogo, a tentar quebrar-lhe o ritmo.
O Benfica entrou bem, de novo com Aursenes na lateral direita da defesa - Bah, que regressara mas para o banco, voltou a lesionar-se, e continua a ser baixa - e, desta vez, sem Florentino, com o regresso de Chiquinho à titularidade. Dominou por completo durante toda a primeira parte, com posse bola na ordem dos 80% mas, nos momentos decisivos, lá estava um pé, uma perna e até uma mão, dos jogadores do Braga a anular finalização das jogadas. Por isso, os remates tardaram. Mas apareceram.
E lá estava Luís Godinho, sempre pronto a inclinar o campo. Se os jogadores bracarenses cometiam falta, o árbitro usava um critérios largo, e mandava jogar. Logo a seguir, alterava o critério e assinalava faltas que nem precisavam de existir, se favorecessem o Braga. Coisa pouca, daquelas habilidades a que estamos habituados. Gritante foi mesmo um penálti por assinalar, por mão de um defesa bracarense. E outro, cometido pelo guarda-redes Matheus, sobre Gonçalo Ramos. Que se desequilibrou, mas não caiu, como fazem todos, mas ele não fez. E o amarelo a Otamendi - que o retira do próximo jogo, em Portimão -, numa bola dividida, em que foi ele a sofrer falta, na sequência imediata de mais "um critério largo", em que deixara passar uma falta clara sobre o Chiquinho.
Ainda assim o Benfica criou oportunidades suficientes para terminar a primeira parte com dois ou três golos de vantagem. O Braga, nenhuma, e nem um remate. Só defendeu, e Borja, Niakaté ou Tormena, especialmente o primeiro, ainda devem estar a agradecer aos deuses os cortes milagrosos com que evitaram os golos que o jogo ficou a dever ao líder do campeonato. A perdida de Gonçalo Ramos, já nos 5 minutos de compensação da primeira parte (pouco para as paragens que os jogadores do Braga forçaram) foi a última imagem de um jogo ingrato, que nada deu ao Benfica, que lhe deu tudo.
A segunda parte arrancou no mesmo registo de superioridade avassaladora benfiquista, e de desperdício. De novo com Gonçalo Ramos a transformar um "golo cantado", fabricado por Grimaldo, num remate ao poste. Pouco depois foi Neres - que grande exibição! - a estar perto de marcar.
O treinador do Braga teve de começar a fazer substituições, retirando os mais cansados de tanto defenderem, e de tanto correrem atrás da bola. Já tinha trocado Borja por Sequeira, e chegara a altura de trocar Yuri Medeiros - que devia ter saída há muito, mas por expulsão, tantos foram os amarelos que Luís Godinho lhe perdoou - por Pizzi, ovacionado pelas bancadas, porque a Luz não esquece os seus, mesmo quando estão do outro lado.
Não é apenas pelo bonito gesto dos aplausos que trago aqui esse minuto 66. É que, logo a seguir, o Benfica marcou. Não conseguira marcar na mais de uma hora de ataque continuado, marcaria em contra-ataque, dando uso ao veneno que o adversário aguardava por utilizar. O passe é soberbo, de Neres. O resto foi a velocidade e a classe de Rafa, regressado ao seu nível, como vinha prometendo nos últimos jogos.
A Luz explodia em festa!
Dez minutos depois, logo a seguir à entrada de Musa para substituir o infeliz Gonçalo Ramos, de novo em transição rápida, Rafa, isolado, fez o chapéu a Matheus, quando tinha Neres em condições de concluir com menor risco. Saiu um tudo nada mais alto, e perdeu-se o 2-0.
A perder apenas por um golo, e tendo escapado à goleada (o que não tinham conseguido, por duas vezes, contra o Sporting em Alvalade, quando tentaram discutir os jogos, e "levaram" cinco, consentindo menos oportunidades que as criadas pelo Benfica neste jogo) o Braga arriscou finalmente alguma coisa. Esgotou as substituições para jogar com dois pontas de lança, juntando Banza a Ruiz. Mas apenas Bruma conseguia, uma ou outra vez, criar alguma instabilidade. Numa delas, aos 85 minutos, poderia ter marcado se o cruzamento tivesse dado a Banza a oportunidade de cabecear a preceito. Foi a única real oportunidade de golo do Braga em todo o jogo!
Neres já tinha saído, para a ovação merecida. E para Schemidt responder, com Gonçalo Guedes, ao balanceamento final do Braga. E Florentino ainda entrou, já em cima dos 90 minutos, para substituir João Mário, acabado, também ele, de ser amarelado.
Luís Godinho, desta vez, deu 8 minutos de tempo extra. Esgotaram-se com pouco jogo, e não foi por "manha" dos da casa. Foi porque os jogadores do Braga os passaram a fazer faltas para cortar as saídas do Benfica para o contra-golpe. Acabaram por ser 13, porque os de Braga, do presidente ao banco, seguem o menu do Porto. E, a perder, no menu tem de haver sarrabulho.
Foi um grande jogo do Benfica, decididamente de regresso às boas exibições que são o padrão desta época. Todos os jogadores estiveram em bom nível, sem elos mais fracos, nem mesmo Ramos, a quem as coisas continuam a não correr pelo melhor. Neres, e Rafa, já foram referidos. Falta referir João Neves, que fez um "jogão". Com apenas 18 anos, é o grande reforço para esta ponta final do campeonato.
No Braga, há dois jogadores a referir. Bruma, porque foi o único com um desempenho assinalável. E Ricardo Horta, porque confirmou que não poderá nunca voltar a ser jogador do Benfica. Não foi a primeira vez. E é, por isso, uma confirmação. Sempre que joga contra o Benfica comporta-se como os Taremis e os Octávios desta vida. Hoje simulou um penálti, com o descaramento do Taremi. Noutras vezes junta-lhe simulações de faltas, e até de agressões, com o descaramento do Octávio.
Sabe-se que, chegados aqui, nesta ponta final do campeonato todos os jogos são difíceis. O desta noite, em Barcelos, era, já por isso, difícil. Acrescia que o Minho, esta época, se tinha transformado em maldição. A qualidade do Gil Vicente e, hoje mais ainda, a motivação dos seus jogadores para este jogo.
Aqui chegados, sem margem de erro, o Benfica tem de entrar nestes jogos para os resolver o mais cedo possível, de forma a evitar que a ansiedade tome conta dos jogadores (e dos adeptos), e alimente ainda mais a motivação dos adversários. E começou logo por dar sinais dessa vontade, impondo o seu habitual plano de futebol. O tal para que Roger Schemidt não tem alternativa. O tal plano B que não tem.
As coisas saíam bem, a bola circulava certinha, e ia ficando a ideia que tendo, a bola, e tratando-a tão bem, tudo se encaminhava para que o jogo se começasse a resolver cedo, como era imperativo. Percebeu-se que não era bem isso que estava a acontecer quando, aos 10 minutos, o Gil Vicente fez o primeiro remate do jogo. E depois fez o segundo, e o terceiro...
Chegou a primeira parte a meio, e o Benfica sem conseguir rematar à baliza. Havia sempre mais uma perna à frente da bola, sempre mais um corte no limite, na hora de rematar. E assim não se resolvem jogos.
A partir daí, do meio da primeira parte, começou então a surgir um ou outro remate. E a bola até começou a entrar na baliza do Andrew, o tal guarda-redes que o Porto pretende a todo custo contratar. Ou pretendia, até hoje...
Só que sem contar, em ambas as vezes por fora de jogo, bem assinalados. De resto essa foi uma das habilidades de Fábio Veríssimo, e da sua equipa. Se o fora de jogo não lhes deixava dúvidas, deixavam concluir a jogada, e assinalavam-no depois, cumprindo a lei. Se lhes deixava dúvidas - já para não dizer que tinham a certeza que não existia - assinalavam de imediato. Incumprindo a lei, e matando a jogada à nascença, não fosse ela acabar em golo, que o VAR teria de validar.
E começaram finalmente a surgir oportunidades de golo. Umas falhadas - Neres, João Mário e Grimaldo, finalmente alguém a perceber que também se pode rematar fora da área -, outras anuladas por defesas do guarda-redes gilista, capazes de deixar o Diogo Costa com insónias. Só no mesmo minuto (44) tirou o golo a Florentino e a Neres, com duas grandes defesas.
A velocidade do jogo do Benfica não era a maior, nem a última decisão a melhor, mas o Benfica dominava claramente o jogo. Mas não tinha o adversário dominado, que alternava a defesa porfiada com toda a gente lá atrás, com uma pressão alta eficaz e perturbadora, cada vez mais confiante, e capaz de espalhar o sofrimento pelos adeptos do Benfica, que voltaram a dizer presente, esgotando o Cidade de Barcelos.
Esperavam-se alterações para a segunda parte, mas Roger Schemidt voltou a não ter pressa, e deixou a equipa na mesma. O primeiro quarto de hora foi uma cópia da primeira parte, com as mesmas virtudes e defeitos. E terminou com mais um remate de meia distância de Tiba, para uma boa defesa de Odysseas e, finalmente, o cartão amarelo para Carraça que, invariavelmente - até porque não tinha grande apoio na sua faixa -, recorria à falta para travar Grimaldo e quem mais lhe aparecesse pela frente.
À entrada para a última meia hora do jogo Schemidt mexeu finalmente na equipa, com a entrada de Gilberto e Gonçalo Guedes, para as saídas de Neres e João Mário. Neres tinha perdido algum fulgor, e João Mário, decididamente longe da forma com que nos surpreendeu na maior parte da época, nunca o tinha chegado a ter. Gonçalo Guedes tinha de entrar, e substituía bem qualquer dos dois. Gilberto ... é que não lembrava ao diabo.
Dá o que pode. Mas pode pouco. A verdade é que Aursenes, mesmo sendo pau para toda a obra, não é grande coisa como lateral direito. E não o estava a ser. Passou para o lugar de Neres, na direita, e nem foi preciso exigir mais a Gilberto do que o que ele pode, para resultar.
Dez minutos depois, nova dupla mexida: saíram Gonçalo Ramos (o mais penalizado pela quebra da pressão alta que a equipa antes fazia, e já não faz) e Florentino. Entraram o inevitável Musa e ... Chiquinho. Voltava a não lembrar ao diabo... Só que resultou, e de imediato!
A primeira vez que tocou na bola foi para responder, com um grande remate de cabeça, na zona da marca de penálti, ao cruzamento de Aursenes, da direita. E assim marcar o golo que fez explodir de alegria o Cidade de Barcelos, repleto de benfiquistas. Outros, mais energúmenos que benfiquistas, fizeram explodir outras coisas, que certamente vão custar caro.
A 20 minutos do fim a bola entrara, finalmente. O mais difícil estava feito. O Benfica acentuou ainda mais o seu domínio, e aproximou-se do nível exibicional capaz de devolver aos jogadores a confiança de que precisam para as últimas batalhas.
Nunca faltou tranquilidade à equipa, e o segundo golo, a cinco minutos dos 90, acabou com as dúvidas. E voltou a obrigar-nos a olhar para Fábio Veríssimo, que assinalou o penálti que Grimaldo converteu no 2-0 final. Há dois penáltis consecutivos, mas o árbitro não viu nenhum. Foi chamado pelo VAR, e acabou por marcar o segundo, por mão de um defesa do Gil, na disputa da bola com Musa. Quando, antes, o Carraça puxara o braço a Otamendi, impedindo-o de rematar para golo. E teria de ter sido esse a ser assinalado, com a consequente expulsão do jogador do Porto emprestado ao Gil Vicente.
Poderia e deveria ter sido outro o resultado, tantas as oportunidades de golo criadas e desperdiçadas. Na última, tudo foi feito como devia ter sido, mas o toque de classe de Musa acabou com a bola na barra. E na recarga Rafa - está a regressar, lenta mas seguramente - voltou a falhar. Da exibição, mais do que aquilo que na realidade foi, fica o que de prometedora teve.
Os adeptos benfiquistas não desistem, nem abandonam a equipa, por piores que sejam os momentos por que passe. Hoje, neste fim de tarde, voltaram a encher a Luz, a apoiar a equipa, e a ajudá-la a levantar-se, depois de quatro jogos seguidos sem ganhar, com três derrotas consecutivas, que fizeram desaparecer 6 dos 10 pontos de vantagem com que o Benfica tinha chegado a esta ponta final do campeonato.
Os adeptos fizeram a sua parte, e a equipa confirmou a vontade de dar a volta a esta surpreendente quebra, de que já tinha dado mostra em Milão, na passada quarta-feira.
Roger Schemidt também fez a sua parte, mesmo que possa apenas ter feito parte da parte que lhe cabia. Mudou algumas peças na equipa, porventura menos do que devia, mas sabe-se quanto isso lhe custa. E fez as substituições em tempo útil, e acertadas.
Sem Bah, tirou Gilberto da equipa, repetindo a experiência da segunda parte de Milão, entregando a Aursenes o lado direito da defesa. E resultou. O internacional norueguês não sabe jogar mal, jogue onde jogar. Deu a titularidade a Neres, que há muito a justificava, e também resultou. Nesta altura a equipa não tem quem tenha maior capacidade para criar desequilíbrios nos adversários, e confirmou-o no jogo. E, pela primeira vez, a João Neves. Em vez de Florentino. E voltou a resultar.
Nos poucos minutos que Schemidt lhe tinha dado, o miúdo tinha sempre aproveitado para mostrar que contava. Joga à bola como poucos. Não dá ao jogo o que dava Enzo, mas dá muita coisa boa à equipa. Na saída de bola, no transporte, e até na frente. Hoje confirmou tudo isso, e foi dos melhores. Ao seu nível apenas Neres.
A tarefa para hoje, frente ao Estoril, era mais que ganhar. Ganhar era imperativo, mas não era menos importante mostrar saúde física e mental para reverter a situação em que a equipa tinha caído, e dar garantias de ter condições para enfrentar os desafios que tem pela frente. Ganhar de goleada, e com uma exibição ao nível daquelas a que a equipa nos habituara, seria a cereja no topo do bolo, e porventura o empurrão decisivo que faltava para recuperar a embalagem perdida.
Cumprido o jogo, e à luz deste caderno de encargos, os adeptos saíram da Luz com "mixed feelings". O jogo foi ganho, mas pelo magro 1-0. A exibição teve bons momentos, especialmente na primeira parte, e foi suficiente para um resultado dilatado, para uma vitória expressiva. Mas não foi suficientemente robusta para afastar fantasmas. Especialmente tendo em conta que, na teoria, este seria à partida o "mais fácil" dos seis jogos que faltavam quando se iniciou.
Poderia este jogo cumprir todo o caderno de encargos que lhe estava destinado?
Dificilmente, nesta altura. Até porque se a equipa revelou melhorias, o jogo mostrou que a estrelinha anda distante, e que as arbitragens "não dormem". Noutro contexto as oportunidades de golo teriam tido outro aproveitamento. Os penáltis que nos jogos dos outros estão sempre ali, prontos a desbloqueá-los, nos do Benfica nem a ferros. E quando, a ferros do VAR, lá saiu um, João Mário voltou a falhar.
O Benfica poderia ter resolvido o jogo na primeira parte, quando conseguiu impor um ritmo alto e muitas vezes sufocar a equipa do Estoril, exclusivamente dedicada a tapar os caminhos da sua baliza, defendendo com todos os jogadores em cima da sua grande área. Ocasiões de golo não faltaram para isso.
Só num espaço de 10 minutos, entre os 13 e os 22, João Neves, Gonçalo Ramos e Rafa desperdiçaram três, antes de Rui Costa fazer vista grossa a um penálti cometido sobre Aursenes. Voltaria a fazê-la 10 minutos depois, valendo desta vez o VAR. Mas nem de penálti, mais uma vez, e o golo apenas surgiria já perto do intervalo, à quinta oportunidade, pela magia nos pés de Neres, e pela cabeça de Otamendi.
Pensou-se que o mais difícil estava feito e que, como a equipa estava a jogar, e com a tranquilidade que o golo traria, o resultado iria crescer na segunda parte. Mas não. O jogo continuou a ter a baliza de Dani Figueira como sentido único, mas sem oportunidades de golo.
Roger Schemidt mexeu na equipa logo no início do segundo quarto de hora, substituindo bem Chiquinho e Gonçalo Ramos por Florentino e Musa. A equipa aumentou o ritmo e voltou então a criar novas oportunidades para marcar. Marcaria mesmo, pelo internacional croata, a finalizar, com classe, a melhor jogada da segunda parte. Mas não valeu. No início da jogada Aursenes recebera a bola quando estava a recuperar de posição adiantada, e o VAR anulou - bem - o golo.
O relógio avançava, e nas bancadas temia-se o magro 1-0. Chegou a fazer-se silêncio, mas durou pouco. O Benfica mantinha firme o controlo do jogo, ninguém tremia, e isso fez regressar o apoio dos adeptos.
Gonçalo Guedes, então sim, tardiamente, ainda entrou. Ter-se-ia justificado entrar mais cedo, e para o lugar de Rafa. Como já foi tarde (a 4 minutos dos 90), serviu para os - merecidos - aplausos a Neres.
O árbitro Rui Costa, para além de ser peça do sistema, é péssimo. Quando um árbitro é mau, e quer fazer mal, penáltis só obrigado. Queimar tempo, é à vontade. E qualquer disputa de bola é falta. Rui Costa, o árbitro, foi isto. E isto é o que nos espera até ao fim do campeonato!
Aos outros, voltamos ontem a ver com o que contam: amarelos a todos os adversários, expulsões bem cedo, penáltis, uns atrás dos outros, e impunidade total em todas as zonas do campo, e especialmente dentro da sua área.
Não era realisticamente expectável que o Benfica pudesse virar o resultado da eliminatória hoje em Milão. Não o era pelo que tínhamos visto do Inter, uma equipa de grande maturidade táctica, constituída por jogadores de grande valia individual; e não o era pelo que tem sido o Benfica das últimas semanas, num ciclo profundamente negativo, com uma sucessão de três derrotas.
Nestas circunstâncias, ultrapassar a diferença de dois golos que o Inter trouxera da Luz, se era o objectivo, era inatingível. O jogo confirmou isso mesmo, em nenhum momento o Benfica mostrou que poderia dar corpo à ideia perdida de chegar às meias-finais desta Champions.
Os objectivos para este jogo teriam de ser - e provavelmente seriam mesmo - estancar a série de derrotas e realizar uma exibição a que a equipa, e os adeptos, se possam agarrar para inverter a fase negativa que atravessa, matar a descrença, e afastar fantasmas.
À luz desses objectivos, o jogo foi interessante, e até empolgante. A perspectiva de ir além deles morreu cedo, logo aos 13 minutos. Quando, no primeiro remate do jogo, Barella marcou e deixou o Inter ainda mais confortável na eliminatória. E quando ficou claro que os argumentos que, em Lisboa, tinham sobrado à equipa italiana e faltado ao Benfica, voltavam a decidir este jogo de Milão.
Esse golo evidenciou logo que o Inter continuava a ganhar todos os duelos. E que o Benfica mantinha no défice de agressividade o sua principal dificuldade para ultrapassar estes jogos de maior exigência.
Foi nos duelos que os jogadores do Benfica perderam que perderam esta eliminatória.
O Benfica só conseguiu o primeiro remate à meia hora de jogo. Mas, para isso, foi preciso um livre. De Grimaldo, que até poderia ter acabado em golo, não fosse a boa defesa de Onana. E chegou ao empate oito minutos depois, no segundo remate, na primeira boa movimentação colectiva da equipa, iniciada com um passe de grande visão de Florentino, continuada na movimentação de Gonçalo Ramos e de Grimaldo, a obrigar o muro italiano a abrir, no cruzamento preciso de Rafa, e na excelente conclusão de cabeça de Aursenes.
O resto foi controlo do jogo por parte do Inter e, ao intervalo, mesmo com o empate, garantido só estava o desfecho da eliminatória. Os outros objectivos realistas do Benfica ainda não.
O Benfica entrou com Neres para a segunda parte. Entrou bem o brasileiro, e entrou bem a equipa. Desta vez não saiu Florentino. Saiu Gilberto, que nunca se tinha entendido em campo, com Aursenes a preencher a sua posição. Uma novidade, mas ainda haveremos de o ver na baliza.
O Benfica entrou bem mas, mais uma vez, um erro de arbitragem para "enfeitar" esta eliminatória, depois dos da Luz. Carlos del Cerro Grande, o árbitro espanhol que no passado domingo protagonizou em Valência (no jogo com o Sevilha) uma das mais inacreditáveis arbitragens da era do VAR, não assinalou um penálti claro de Lautaro sobre Aursenes. O Benfica tinha a bola, e jogava no meio campo do Inter, que fechava todos os caminhos para a sua baliza, e parecia que estava a atingir os tais objectivos realistas.
Só que o Inter saía em contra-ataque sempre que podia. Na primeira vez que o pôde, ia a segunda parte a meio, Lautaro Martinez marcou o segundo, com uma grande execução, saindo pouco depois, substituído pelo compatriota Corrêa. Que, dois minutos depois de ter entrado, marcou o terceiro, em novo contra-ataque, e novamente num golo de grande execução.
Em comum, nestes contra-ataques bem sucedidos, a exploração do flanco direito e da falta de rotina de Aursenes, e a falta de agressividade, passividade mesmo, no centro da defesa do Benfica.
Faltava um quarto de hora para o fim, e o cenário mais provável era, então, de mais uma derrota. Ou até de um enxovalho capaz de afundar a equipa ainda mais.
Os jogadores sentiram isso, e e não deixaram que isso pudesse acontecer. E, ao que, não direi de bom, mas de razoável tinham feito, acrescentaram querer. E alguma agressividade, nunca antes vista. Gonçalo Guedes, que substituíra Ramos pouco antes do terceiro golo, mas especialmente Musa e João Neves, que entraram a substituir Rafa e Chiquinho logo a seguir, muito contribuíram para isso.
E nesse quarto de hora só deu Benfica. Neres rematou ao poste. Três minutos depois António Silva reduziu, respondendo de cabeça a um livre de Grimaldo. Um dos raros golos de bola parada dos últimos jogos, curiosamente no jogo em que, mesmo sem que se tenham visto lances trabalhados, finalmente acabaram aqueles cantos curtos para trás que já só irritavam.
Nove minutos depois, já sob o cair do pano, Musa, com a presença na área que Ramos nunca conseguira, empatou o jogo, e confirmou os objectivos que, na realidade, havia para atingir.
O Inter foi melhor no conjunto da eliminatória. Foi tacticamente superior e tem inquestionavelmente melhores jogadores. Mas, no futebol, ser melhor num jogo, ou numa eliminatória, nem sempre decorre de ter melhores jogadores e até melhor táctica. É frequente que haja circunstâncias do jogo a contribuir para que uma se superiorize, e outra se inferiorize.
Mesmo com o actual Benfica longe da "performance" anterior, a verdade é que, na Luz, há uma semana, ficaram dois penáltis por assinalar a favor do Benfica. Hoje, ficou outro. No jogo da semana passado, diz-se que por o VAR ser holandês, e estar interessado na posição da Holanda no "ranking" da UEFA. No de hoje, não sei qual seja a razão, mesmo que o Valência-Sevilha do passado domingo diga muito sobre este árbitro espanhol.
De que não há dúvida é que, se estes três penáltis tivessem sido assinalados, tudo teria sido diferente. E, se não é líquido que o Inter tivesse sido melhor, é evidente que o resultado final da eliminatória teria sido outro.
Assim, não foi. Mas, assim, com o que foi, não há razão para não acreditarmos todos que este ciclo tenebroso se fechou hoje em Milão. Mas é preciso manter a revolta patente no último quarto hora deste jogo, sem adormecimentos.
Era como uma final para o Benfica, este jogo de Chaves. Depois de duas derrotas consecutivas, qual delas a mais confrangedora, esta deslocação a Chaves era decisiva. Era uma final!
E, das finais, diz-se que se ganham, não se jogam. Para ganhar, ou antes, para se dizer que se está ali para ganhar, é preciso entrar com tudo. O Benfica só tinha que fazer isso. Mas não o fez.
Pareceu até que não entrou com isso bem metido na cabeça. Sabe-se que os momentos maus não acabam de um momento para o outro, e sabia-se, por isso, que o Benfica não poderia chegar a Chaves e impor o seu futebol, perdido. Mas também não poderia entrar em campo como se nada estivesse a acontecer ao seu futebol. E foi isso que fez.
Entrou como se tudo estivesse a decorrer normalmente, sem sentir a necessidade de recorrer a outros argumentos. Os jogadores não procuraram na determinação, e na vontade de ganhar, compensar a criatividade perdida. Apenas Neres - com a reclamada condição de titular, que animou os media nos últimos dias, promovida pela ausência de Florentino, que fez deslocar Aursenes para o lado de Chiquinho - trazia ao jogo alguma criatividade. E assim correu toda a primeira parte. Com o Benfica por cima do jogo, tendo mais bola, mas nunca sem aquela pressão sobre o adversário - sempre cómodo na sua tarefa de fechar todos os caminhos para a baliza - de quem tem que ganhar o jogo. E depressa.
Bem espremida, a primeira parte deu um remate de Rafa (que continua completamente desinspirado, como os outros, mas nele nota-se mais), aos 19 minutos, que nem deu para assustar o guarda-redes flaviense, e uma jogada para golo, que António Silva desperdiçou com um remate por cima, com a baliza escancarada ali à frente. E deu, nos minutos finais, para, então sim, o sufoco. Um assalto à baliza de Paulo Vítor de que, no entanto, não resultou uma verdadeira oportunidade de golo. Tudo morria na muralha defensiva que os dez jogadores do Chaves construíram à frente do seu guarda-redes.
Mas deu o mote para a segunda parte. Que começou logo com uma grande oportunidade de golo - duas, no mesmo lance - de João Mário. Primeiro foi o defesa Bruno Langa a afastar a bola de cima da linha; na recarga, foi o guarda-redes a fazer o mesmo. Precisamente 5 minutos depois, um contra-ataque rápido do Chaves acabou com o veloz Juninho na cara de Odysseas. Que na única defesa em todo o jogo, acabou a impedir o golo.
O Benfica continuou a mandar no jogo. Com mais assertividade, e mais consistência, que na primeira parte. Mas com o mesmo resultado - muitos cantos, 19 ao todo, todos marcados da mesma maneira, sempre curta e inconsequente. E pouco mais.
Roger Schemidt voltou a tardar com as substituições. Começou por lançar Gonçalo Guedes, a 20 minutos do fim, por troca com Neres, desaparecido do jogo na segunda parte. Dez minutos depois, lançou Tengsted e João Neves, para saírem João Mário e Gonçalo Ramos, ambos muito apagados, mas os melhores marcadores do campeonato. E só a 2 minutos dos noventa algo arrojado - troca de Gilberto por Musa. Só que, nessa altura do jogo, é difícil falar de arrojo.
O Benfica voltara ao sufoco, para os minutos finais. O árbitro, João Pinheiro, deu 5 minutos de compensação e, ao terceiro, nova situação de golo eminente, depois de mais uma defesa milagre do Paulo Vítor a um remate de cabeça de Otamendi. Que se preparava para a recarga, na pequena área, quando o João Pedro, que entrara ao 78 minutos e logo viu um amarelo por "placar" Gonçalo Guedes, que saía disparado para a área flaviense - com João Pinheiro a parar o lance e a interromper um ataque prometedor, quando devia deixar prosseguir a jogada, e exibir o amarelo na primeira oportunidade -, o atinge, de pitons, na canela.
João Pinheiro assinalou falta ... de Otamendi. O Paulo Vítor ficou deitado no relvado, e a sua equipa médica entrou em campo. O VAR, com todo o tempo para ver e rever o lance, obedeceu a Vítor Baía. O guarda-redes do Chaves está bem - nunca tinha deixado de estar -, e cobra o livre, com pontapé para a frente. Otamendi está sozinho, sem ninguém à volta, com a bola na sua direcção. Pode dominá-la no peito. Ou devolvê-la de primeira para o ataque. Não faz uma coisa, nem outra. Recebe-a com o pé, e ela foge-lhe. Escorrega e, de trás, surge a correr um tal Abass, entrado há pouco para reforçar o lado direito da defesa, com a bola ali à frente. Otamendi ainda poderia ter tentado a falta. Sabendo que seria expulso, deixou-o seguir, acreditando num milagre de Odysseas. Não houve milagre, e o Chaves ganhou o jogo, no último minuto.
Foi assim, esta final. Foi assim que o Benfica perdeu o jogo que não podia perder. Foi assim, não fazendo um grande jogo, mas fazendo mais do que o suficiente para o ganhar. Foi assim, com João Pinheiro (e o VAR) a trocarem, no momento certo, um penálti, e uma expulsão (segundo amarelo), por uma falta ao contrário. E transformarem uma (provável) vitória numa derrota. Antes já tinham feito vista grossa a um outro penálti, sobre João Mário. Sim, tem que ser penálti. Porque é igualzinho a um que, no Dragão, uma hora depois, desbloquearia o nulo. E contribuiria para mais uma vitória pelos mínimos (2-1 ao Santa Clara, o último). Só com uma diferença: João Mário não se mandou para o chão antes de rematar, completamente desequilibrado; Toni Martínez atirou-se de imediato ao chão!
Por ter sido assim perdido, o jogo que não se poderia perder, acredito que a revolta se instale no Benfica. E que será suficientemente forte para que não volte perder um ponto, que seja, que não possa ser perdido.
No enquadramento aqui desenhado ontem, dificilmente o jogo seria diferente do que realmente foi. Dificilmente poderia fugir às circunstâncias que marcam o actual momento do futebol do Benfica, do mesmo modo que o da segunda mão, em Milão, não poderá fugir ao que este jogo foi.
Ao contrário das expectativas geradas com o sorteio, em muito alimentadas pelo espaço mediático que marca o futebol em Portugal, o Inter não era o melhor adversário para o Benfica. Nunca o seria, nem mesmo à data do sorteio, quando o futebol encarnado era todo "cor de rosa". Para o Benfica seria sempre mais cómodo um adversário que jogasse futebol, o jogo pelo jogo.
Não é o caso deste Inter, seguramente a "mais italiana" das principais equipas italianas. A mais matreira, a mais "cínica" e fiel à velha escola transalpina. E, ainda por cima, servida por jogadores tecnicamente de primeiríssimo plano, e maduros. Com experiência para dar e para vender, que lhes dá o "calo" que lhes permite exponenciar a matreirice.
O Inter soube garantir a superioridade numérica em praticamente todas as zonas do campo. Dos três centrais fortes, e "batidos", libertava Bastoni para subir e criar desequilíbrios complementando, sempre um pouco mais por dentro, as tarefas do lateral esquerdo Di Marco, já que o do outro lado, Dumfries fazia tudo sozinho. No meio campo, Brozovic, Barella e Mkhitaryan - todos jogadores de alto nível - eram de mais para apenas Chiquinho e Florentino. Na frente, Dzeko e Lautaro ficavam em igualdade numérica com os centrais do Benfica. E, depois, havia ainda o próprio guarda-redes Onana a criar mais desequilíbrios. Que é o que fazem os grandes guarda-redes, quando sabem jogar com os pés. Ora na construção, ora a lançar directamente os atacantes.
Daqui não resulta um grande futebol, que o Inter decididamente não tem. E como não o tem, não é uma grande equipa. Mas tem grandes jogadores para interpretar a estratégia de não deixar jogar.
Era necessário um grande Benfica para contrariar aquelas dificuldades. Só que esse não é o Benfica desta altura. Este Benfica só deu para momentos, sempre esporádicos e breves. Nesses deu para ver que, com a consistência de há um mês, poderia justificar a euforia à data do sorteio.
Depois, as circunstâncias do jogo não ajudaram. Nem só um bocadinho. O Inter marcou logo no arranque da segunda parte, quando o Benfica até passava por um daqueles momentos, e na primeira vez que chegou á baliza do triste Vlachodimos. E, na reacção ao golo, o Benfica não foi feliz, naquele lance em que a bola não quis entrar. Nem no primeiro remate de Grimaldo, nem no segundo de Rafa, nem na tentativa final de Gonçalo Ramos, onde até sofreu falta para penálti. A arbitragem foi outras dessas circunstâncias.
As decisões da equipa de Michael Oliver tombaram sempre para o lado italiano. Nas pequenas e nas grandes coisas. Nas pequenas foi até confrangedora a actuação do árbitro assistente do lado dos bancos. Nas grandes, sobressai o penálti assinalado a partir do VAR, com que Lukaku fecharia o resultado, a 10 minutos do fim. Ao contrário, nunca teria sido assinalado. O VAR viu penálti naquela intervenção do João Mário, mas não o viu quando Darmian desviou com a mão da bola, disputa com Grimaldo na sua grande área. Nem quando Acerbi deu forte e feio em Gonçalo Ramos, no tal lance aos 55 minutos em que a bola não quis entrar.
Até no tempo de compensação. Quatro minutos perdeu ele para confirmar a grande penalidade, a maioria à espera que as imagens lhe chegassem ao monitor. Depois houve as cinco substituições do Inter. E a única de Schemidt, talvez para poupar tempo. E ainda os largos minutos queimados pelos italianos, de todas as maneiras e feitios. Algumas escandalosas, como nos festejos dos golos, onde permitiu que todos os jogadores do banco invadissem o relvado. Ou como Onana sempre ultrapassou todos os limites. Não com a tradicional demora na reposição da bola, que os árbitros sancionam com amarelo, normalmente já no fim do jogo. Mas com a bola na mão, ou debaixo do corpo, ultrapassando claramente os limites de tempo estabelecidos pelas leis do jogo, e puníveis com livre indirecto.
São circunstâncias, mas os jogos também são feitos delas. Se os jogos da Champions se decidem em pormenores, estas circunstâncias são mais que isso. Mas não são atenuantes. E não se podem esquecer os "pormaiores".
E o actual momento da equipa, e porventura o seu esgotamento, é mesmo o "pormaior" decisivo deste jogo. E desta eliminatória.
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