O que aconteceu nos últimos segundos desta noite a Luz pertence ao domínio do irreal. Tivemos que nos beliscar para sentir que era real, que aquilo não era um sonho.
E não foi. Aquilo aconteceu mesmo!
O Barcelona chegou à Luz de mão estendida, à espera de generosidade. E ela não lhe faltou. Não lhe faltou a generosidade de alguns jogadores do Benfica, especialmente de Trubin. Nem lhe faltou a da arbitragem.
O Benfica entrou para fazer um grande jogo, a única forma de ganhar ao Barcelona. Também a única de manter vivas as aspirações a seguir em frente nesta Champions, depois de todos os oitos e oitentas.
Marcou logo aos dois minutos, num grande lance de futebol, quando Tomás Araújo descobriu Alvaro Carreras nas costas de Koundé, no flanco contrário, para o lateral espanhol cruzar de primeira, e Pavlidis marcar, também de primeira. Logo a seguir, em mais um excelente lance com a marca da superioridade do Benfica, Aursenes falhou incrivelmente o segundo, com a baliza de Szczęsny à mercê.
Estava o jogo neste pé, com o Benfica a mandar no jogo como queria, quando o VAR detecta um penálti que passara despercebido ao árbitro. Tinha marcado canto, considerando que o Tomás Araújo tinha cortado a bola pela linha final. Não tinha, chegou atrasado e pisou mesmo pé de Baldé, o lateral esquerdo, e o minuto 13 foi mesmo de azar. E Lewandowsky empatou!
O Benfica não sentiu o golo, e continuou, como nada se tivesse passado. E na verdade o Barcelona também. Quando, 10 minutos depois, também Szczęsny quis ser generoso, e Pavlidis marcou o segundo golo, tudo parecia natural. O Benfica estava melhor no jogo, e fazia sentido estar a ganhar. E nem o 3-1, antes da meia hora de jogo, do hat-trick de Pavlidis (parecia o frasco do ketchup), no penálti com que Szczęsny derrubou Akturkoglu que, desmarcado por Aursenes, lhe picara a bola por cima, pareceu outra coisa que não o rumo natural do resultado, lado a lado como o do jogo.
Ao intervalo o que ficava era um jogo controlado pelo Benfica. O Barcelona tinha marcado um golo num penálti caído do céu, e Trubin tinha feito uma defesa, e negado a Gavi o golo na única oportunidade criada.
Na segunda parte o jogo manteve-se nas bases que trazia da primeira parte, com o Barcelona com muita bola e o Benfica a controlar e tapa os espaços, com autoridade e solidez. Era o Benfica dos oitenta desta Champions, e aos 10 minutos Aursenes volta a falhar o cheque-mate. Isolado frente ao guarda-redes polaco do Barcelona, embrulhou-se (nas ideias) com a bola e desperdiçou o quarto golo.
Estava o jogo nisto, e a segunda parte a meio, quando a generosidade de Trubin lhe deu a volta. Do nada, sabe-se lá como e porquê, ao repor a bola em jogo o guarda-redes do Benfica atira-a contra a cabeça de Raphinha. Depois ficou a contemplar o seu percurso até dentro da baliza.
De repente o Barcelona voltava ao jogo. Só que logo a seguir, quatro minutos depois, em mais uma cavalgada de Schjelderup, Araújo esticou-se para interceptar o cruzamento para Pavlidis, e desviou para a própria baliza a bola que, certamente, Szczęsny iria recolher. O quarto golo repunha a diferença em dois golos, e pagava, sem apagar, a generosidade de Trubin.
O jogo caminhava para o quarto de hora final, e o Barcelona apertava. Os jogadores do Benfica já acusavam o desgaste físico, e as substituições de Hansi Flick - de incidência táctica - resultavam melhor que as de Bruno Lage, que trocava os que não podiam mais.
Chega então a generosidade de um senhor holandês, já conhecido da época passada do jogo com o Inter, que se chama Danny Makkelie. Aos 78 minutos arranjou um novo penálti para Lewandowski marcar, só porque Carreras passou com a mão pelo braço de Yamal. Imprudência de Carreras, sim. Não no gesto em si mesmo, mas em fazê-lo com este árbitro.
Então sim, o Benfica sentiu o golo. E a injustiça. O cansaço dos jogadores retirava-lhes a concentração e os erros começaram a pesar. Na defesa, mas também na saída de bola. Os jogadores do Barcelona sentiram pela primeira vez que poderiam não perder este jogo, e acabaram por empatar, na marcação rápida de um canto, já com os 90 minutos à porta. A chuva caía impiedosa no relvado, com a mesma impiedade com que o empate caíra sobre os 64 mil benfiquistas nas bancadas da Luz.
Ao minuto 90 Di Maria - que entrara para o lugar de Schjelderup -, isolado, teve nos pés o golo da vitória. Daqueles que não falha, mas Szczęsny defendeu. Também conta: Szczęsny compensou a sua generosidade com duas grandes defesas, que valeram dois golos. Trubin não teve essa oportunidade.
Quatro minutos de tempo de compensação. A esgotarem-se quando Carreras - que grande jogo! - foi ceifado a meio do meio campo. Livre cobrado por Di Maria, e toda a gente para a área do Barcelona. Natural, o tempo de compensação estava esgotado, e não tinha havido qualquer interrupção que motivasse o seu alargamento. O apito final surgiria na conclusão desse lance.
A bola sai do pé de Di Maria, chega à esquerda, e é de novo cruzada para o centro da pequena área, onde surge Barreiro, primeiro empurrado pelas costas e depois, já no chão, imobilizado por um defesa adversário. Penálti - grita-se. E gritam e gesticulam os jogadores do Benfica, enquanto a bola sobra para Lewandowski, na meia lua, que a atira para a frente, na direcção de Raphinha. Sozinho, com tempo para correr o campo todo e marcar o quinto do Barcelona.
O VAR vai intervir - pensou-se. Vai mostrar ao Sr Danny Makkelie que penálti é aquilo que fizeram ao Barreiro, e não o que Carreras fizera a Yamal. Vai anular o golo, e se o Benfica concretizar o penálti - e já lá estava Di Maria - vai escrever-se direito o resultado deste jogo.
Não. Nada disso. Na UEFA não se tira uma vitória ao Barcelona. Na verdade só isso é que não é inacreditável!
Jogo tranquilo na Luz, a abrir a segunda volta do campeonato. Não tivesse sido a agitação que o Sr João Gonçalves - mais uma encomenda que chegou do Porto - introduziu no jogo e teria sido dos mais tranquilos a que assisti na Luz, desta vez um pouco abaixo das enchentes do costume, com "apenas" 54 mil nas bancadas.
O adversário era o Famalicão, uma sombra daquela equipa que iniciou o campeonato "a fazer a cama" ao Schmidt, naquela derrota 0-2 na abertura do campeonato, que ainda não ganhou um jogo desde que trocou o treinador Armando Evangelista pelo Hugo Oliveira, há mais de um mês. E foi na realidade inofensivo. Mas ... lá está o axioma do futebolês - "uma equipa joga o que a outra deixa".
E o Benfica fez o "qb" para que o Fama não jogasse nada. Ninguém diria que era o quarto jogo em 10 dias. Sem Di Maria, substituído por Akturkoglu - com vantagem na pressão e na recuperação de bolas, mas sem comparação em tudo o resto - Bruno Lage apostou em Leandro Barreiro para as funções de Aursenes (este ano a precisar do descanso que não teve nos dois anteriores). No resto não fugiu do onze inicial estabilizado nesta fase da época, que passa já por Schjelderup na ala esquerda, Tomás Araújo no lado direito da defesa, e António Silva ao lado de Otamendi, o grande capitão. Provavelmente muita gente não repara, mas vale a pena desligarmos da bola por momentos para o ver aos comandos do jogo.
Como comecei por dizer a tranquilidade que a qualidade da exibição do Benfica transportou para as bancadas só foi perturbada pelo tal árbitro do Porto. Depois de ter subjugado o adversário, a exibição do Benfica teve ainda de tornar o tal João Gonçalves irrelevante. Mas não foi fácil. Durante toda a primeira parte, que acabou precisamente com o apito final quando a bola ia a caminho do Pavlidis, a isolar-se na cara do guarda-redes, depois de garantir total imunidade aos jogadores da equipa famalicense, já ter amarelado os dois jogadores do eixo central do meio campo Benfica, e de uma séria de faltas, e até lançamentos, marcadas ao contrário.
Daí a assobiadela monumental à saída para o intervalo, já mais arrefecida no regresso.
Para além da história dos quatro golos que fizeram o resultado, de outros tantos remates que acabaram por sair um bocadinho ao lado dos postes, ou acima da barra, e de oito grandes defesas do Carevic, o único jogador do Famalicão a exibir-se a grande nível, o jogo tem outras histórias. Também de golos!
A primeira é a de um goleador improvável. Parece que o Leandro Barreiro só tinha marcado um golo na sua carreira. No Benfica - sabia-se - estava em branco, mas também não tem assim tantos jogos. Marcou três, um hat-trick sem espinhas. Seguidinhos: 11, 36 e 67 minutos. Até para os grandes goleadores é um feito raro. Para um jogador do meio campo que ainda não tinha marcado, é do outro mundo. Mas a sua movimentação e a forma como rompe em desmarcações para dentro da área, fazem com que marcar golos não seja tão improvável quanto possa parecer. Hão-de certamente vir aí mais!
A segunda é a do suposto goleador que não marca golos. Pavlidis joga para a equipa, assiste, voltou a fazer um bom jogo, não regateia uma gota de suor, esforça-se, mas não consegue marcar. Voltou a ter quatro ou cinco oportunidade claras de o fazer, mas a verdade é que a bola não entra. Quando as bancadas se levantaram a gritar-lhe o golo, porque a bola estava mesmo a entrar, sem se saber como o Carevic tirou de lá dentro. Quando ia mesmo a marcar, a bola foi à barra. Ainda foi a tempo de procurar a recarga. Consegui-a e, quando finalmente marcou, o árbitro assinala-lhe fora de jogo no início da jogada. Que ninguém tinha visto (depois viria a saber que as linhas marcavam 17 centímetros, o que só "prova o olho de facão" do auxiliar) e que por isso deu festa. Em vão.
Por isso o aplauso das bancadas a Pavlidis na substituição (por Cabral) é também um dos momentos bonitos do jogo.
Acabada, com a sua substituição, a saga de Pavlidis e, com o terceiro golo, a de Barreiro (o homem do jogo, evidentemente), não acabou a história do jogo. Ela passou ainda pela fantástica jogada do João Rego - como gosto deste miúdo! - que passou por toda a gente por aquele lado direito até entregar a bola atrasada para Akturkoglu, de calcanhar, a deixar à frente de Kokçu, a jeito do remate rasteiro, de grande qualidade técnica, para o quarto. E último da história dos golos.
Ao terceiro dia o Benfica - não, não ressuscitou, isso aconteceu só na segunda parte - depois do dérbi, e dos festejos da conquista da Taça da Liga, apresentou-se no S. Luís, em Faro, para disputar os oitavos de final da Taça de Portugal.
Para um jogo ao terceiro dia, com outro já para fazer em três dias, este na Luz, com o Famalicão, para o campeonato, logo seguido da recepção ao Barcelona, para a Champions, no meio de um ciclo de cinco jogos em menos de duas semanas, Bruno Lage poupou Tomás Araújo, Kokçu e Pavlidis. Na realidade foram quatro as alterações no onze, mas Trubin não foi por poupança, foi para a clássica oportunidade a Samuel Soares, na Taça.
Ao contrário do que até tem sido mais habitual, o Benfica entrou no jogo a todo o vapor, deixando claro que a ideia era resolver depressa o problema do resultado, para depois poder gerir o jogo e o cansaço acumulado. Logo na jogada de saída Barreiro desmarcou Scheljderup na esquerda, que virou a bola para a direita, para o extraordinário remate de Di Maria, que saiu a milímetros do ângulo superior direito da baliza de Ricardo Velho. Seria mais um golaço à Di Maria, mas foi apenas o mote para os cinco minutos iniciais de domínio absoluto do Benfica. E de bom futebol!
Na primeira vez - parece que é sina - que o Farense conseguiu sair daquele colete de forças, e chegar à frente, num canto resultante de um ressalto no António Silva, com toda a gente do Benfica a dormir - se não era de sono era de hipnose - marcou. Havia 7 minutos de jogo. Que mudou, naquele momento!
O Farense fechou-se lá atrás, defendendo com competência e gerindo, com manha, o tempo de jogo. Com Florentino e Barreiro faltava dinâmica e visão de jogo ao meio campo do Benfica. Aursenes, que também não atravessa um grande momento de forma, não podia resolver tudo. O regressado Bah não acertava uma, e o futebol do Benfica engasgava-se sistematicamente. Os cantos sucediam-se, uns atrás dos outros, mas só isso. A reforçada defesa do Farense não passava por grandes incómodos. Esperava-se que Di Maria resolvesse mas, se não estava fácil, pior ficaria com a sua saída, queixando-se do que parecia ser uma dor muscular.
Entrou Amdouni, a frio. Como frio se arrastou o jogo até ao intervalo, sem que o Benfica tivesse conseguido acrescentar grande coisa ao que tinham sido os primeiros cinco minutos.
No intervalo Amdouni fez aquecimento, e Bruno Lage diz que alterou uns posicionamentos, e que explicou aos jogadores o que era o campo no S. Luís. Estranho é que só ao intervalo tenha dito aos jogadores que o campo é mais pequeno, e que não dá largura para explorar as alas, nem comprimento para a profundidade.
A verdade é que a segunda parte foi completamente diferente. Admito a ignorância, mas a mim pareceu-me mais que foi por ter marcado três golos em cinco minutos que propriamente por grandes alterações tácticas. É que nem o primeiro quarto de hora da segunda parte foi muito diferente dos últimos quarenta minutos da primeira, nem nenhuma alteração foi introduzida no onze.
Aconteceu que Scheljderup - hoje, para além de Di Maria (mas noutro registo) o único jogador do Benfica com capacidade para desequilibrar no drible e na velocidade - novamente lançado por Barreiro, fez um grande jogada individual e um grande golo. E que no minuto seguinte num espectacular cruzamento de Carreras - este sim, em grande forma - Arthur Cabral marcou o segundo, numa execução irrepreensível.
Depois de tanto terem defendido, de tanto terem queimado tempo, e de tanto terem acreditado que eliminariam o Benfica, os jogadores do Farense caíram a pique. E, quando passavam apenas 5 minutos do golo do empate, de Scheljderup, Bah marcou o terceiro.
Depois - sim - o Benfica jogou bem e dominou como quis o jogo. E depois é que Bruno Lage fez as substituições. Essa é que é essa!
No fim, com 5 minutos de boa qualidade na primeira parte, e outros 5 na segunda, estes de rara eficácia, o Benfica resolveu uma eliminatória que chegou a parecer complicada. Mas o "futebol é isso mesmo", já diz o futebolês. Se aquele fantástico remate de Di Maria tem entrado logo no primeiro minutos, tudo teria também sido diferente. Assim, o Benfica acabou a dominar completamente o jogo e, como se sabe, o que fica são as últimas imagens.
Nove anos depois o Benfica voltou a conquistar a Taça da Liga. A oitava. É caso para dizer que a Taça da Liga voltou a casa. Muito tempo depois. Tanto que ainda nem se falava em "campeão de inverno", e depois de oito anos a vadiar pelas mãos deste e daquele. Mas voltou!
Foi o terceiro dérbi na final da competição. Disputada em Leiria, aqui ao lado, bem no centro de Portugal, e não no estrangeiro, na tal internacionalização prometida por Pedro Proença, antes de perceber que, comparar o nosso futebol ao inglês, ao italiano e ao espanhol, é enganar-nos a nós para se enganar a ele.
E no entanto a primeira parte do dérbi da final desta noite até deu para comparar. Benfica - com a mesma equipa inicial que brilhara a grande altura na meia final, com o Braga (a novidade foi Beste ter ficado de fora, na bancada) - e Sporting - com três alterações no onze relativamente á outra meia final (duas pelas lesões de Morita e de Matheus Reis, a outra por o Rui Borges ter retirado o surpreendente Fresneda) - ofereceram-nos uma primeira parte de alto nível, como se joga nos grandes campeonatos do futebol europeu.
Ambas as equipas jogaram em altíssimos ritmo e intensidade, e com enorme pressão em todas as zonas do campo. O Benfica fê-lo através de um jogo mais elaborado, e mais agradável à vista, enquanto o Sporting o fez mais através de um futebol directo. O Benfica jogava um futebol mais associativo, trabalhado nos três corredores, especialmente pelos laterais, frequentemente com mudanças de flanco, obra de Di Maria - mais uma grande exibição! - e de Kokçu.
Esta espécie de contraponto entre as duas equipas, naquele registo de intensidade, acabou por trazer ainda mais espectacularidade ao jogo. Era virtualmente impossível manter aquele ritmo na segunda parte, disso ninguém tinha dúvidas.
Os golos acabam por se encaixar no que foi o jogo. E até de o justificar. O Benfica inaugurou o marcador às portas da meia hora de jogo, num bonito golo de Schjelderup, assistido por Di Maria, justamente num passe da direita para esquerda. O Sporting empatou à beira do intervalo, num penálti assinalado pelo árbitro João Pinheiro, e convertido por Gyokeres.
O golo do empate, e as circunstâncias em que ocorreu, transporta-nos para os temas da arbitragem e da sorte, que aqui trouxe há pouco. Dizia então que, com razão de queixa das arbitragens, não era por elas que o Benfica perdera. E que a equipa não tinha sorte, mas também não fazia por a merecer.
Pela dualidade de critérios que João Pinheiro evidenciou ao longo de todo o jogo, e pela forma como nunca assinalou nenhuma das muitas faltas sobre o Di Maria, apesar de o contra-factual ser impossível de provar, tenho poucas dúvidas que o penálti assinalado a Florentino nunca o seria, em idênticas circunstâncias, contra o Sporting. Exactamente como o uso da mão por parte do João Simões, dentro da sua grande área, teria dado penálti se tivesse ocorrido na área do Benfica. Ou como, se no final da primeira parte, a chapada do Maxi ao Otamendi, tivesse sido ao contrário, João Pinheiro teria puxado do cartão vermelho.
Na primeira parte o Benfica merecia ter sorte. Tinha feito tudo para a merecer, mas voltou a não a ter. Não a teve nas circunstâncias em que o penálti foi assinalado. E voltou a não a ter quando Trubin o defendeu com o pé, e a bola subiu para cair dentro da baliza. Por poucos centímetros teria saído. Os mesmos poucos centímetros que, por clara falta de sorte de Pavlidis, impediram o 2-0, logo a seguir ao primeiro golo.
E assim - e com uma segunda parte igualmente emotiva, mas claramente de bem menor qualidade, por força do desgaste físico (o Benfica estava a jogar menos de 72 horas depois do jogo das meias finais, o Sporting tinha-a jogados 24 horas antes) - o empate subsistiu até ao final. E o troféu foi decidido nos pontapés da marca da grande penalidade, nos penáltis, como se diz.
Na primeira séria de cinco ninguém falhou, nem ninguém defendeu. E só não foram todos os dez excepcionalmente bem executados porque não se poderá dizer que o quinto do Benfica, marcado pelo Renato Sanches, tenha sido muito bem marcado. O guarda-redes do Sporting - Franco Israel devia estar com grande moral, sabendo que já contrataram o Rui Silva ao Bétis para o seu lugar - ainda tocou na bola.
A partir daí quem falhasse perdia. Do lado do Benfica, Leandro Barreiro marcou o sexto, e Florentino - o homem do jogo - o sétimo. Ambos irrepreensíveis. Quenda ainda marcou o sexto, mas já aí tinha deixado francas possibilidades a Trubin de defender. Calhou a Trincão permitir-lhe a defesa decisiva.
Da festa. Merecida. O Benfica foi melhor. As estatísticas não mentem: o Benfica teve mais bola, mais ataques, mais remates (16, contra 10, e 4 contra 3 enquadrados), fez mais passes, e mais passes certos.
Foi bonita, a festa. E foi muito bonito ver Trubin, em vez de sair a correr disparado para o festejo, dirigir-se a Trincão e abraçá-lo. A sua prioridade foi confortar um adversário, e isso é bonito. Como fez também, e foi igualmente bonito, Bruno Lage.
Depois de falhar com o Sporting, na última jornada, no passado domingo, o Benfica voltou hoje a falhar o bónus que ontem recebera de Guimarães. Depois de no domingo falhar a liderança isolada, hoje falhou a oportunidade de a passar a partilhar com o Sporting.
Com duas derrotas consecutivas - e se não iguais, em circunstâncias muito semelhantes - o Benfica corre o risco de terminar a primeira volta a 5 pontos do Porto. Basta que, seja lá quando for, ganhe o jogo com o Nacional, na Madeira, ontem interrompido aos 15 minutos da primeira parte, novamente pelo nevoeiro.
O que é o mais provável, já que se há campeonato em que o Porto não perde é no dos outros. Perdeu os jogos com o Sporting e com o Benfica - logo aí 6 pontos - e, ainda assim, e a faltar-lhe um jogo, tem mais dois pontos (podem ser 5) que o Benfica. E menos um (que podem ser mais dois) que o Sporting.
Quer isto dizer que no fim da primeira volta o Benfica já está fora da rota do título?
Só isso não. Mas se lhe acrescentarmos o que vimos nestes dois últimos jogos, está. Claramente.
Hoje, na Luz cheia que nem um ovo, como sempre, o Benfica voltou, perante o Braga, a repetir a primeira parte de Alvalade. Sem atitude, sem intensidade, sem classe e sem rumo. Também sem sorte, mas sem nada fazer para a merecer. À primeira oportunidade de golo, logo aos 19 minutos, no primeiro erro gritante no comportamento defensivo do Benfica, o Braga marcou. Mas foi já á terceira, vinte minutos depois, no primeiro dos dois cantos de todo o jogo, que marcou o segundo.
Na segunda parte, tal como em Alvalade, a atitude dos jogadores melhorou. E isso foi suficiente para o Benfica empurrar o Braga para a sua área, e para não lhe permitir mais transições ofensivas, mas não deu para criar mais que duas ou três situações de golo. O que Arthur Cabral (entrou ao intervalo, para substituir Aursenes), marcou à entrada do último quarto de hora (bem a tempo da reviravolta, se a equipa tivesse mentalidade e querer, como se vira na véspera em Guimarães, com o Vitória a passar o 1-3 para 4-3) resultou dessa atitude. Resultou de um mau passe (Ricardo Horta) interceptado por Leandro Barreiros, que deixou a bola no ponta de lança brasileiro, que rematou de fora da área; e não de uma jogada construída.
Se todo o desempenho da equipa é perturbador, a passividade com que os jogadores abordam os jogos, a falta de rotinas e de soluções, e o estado de negação de Bruno Lage (parece a reencarnação de Schmidt) são assustadores. Já se pode dizer que por menos o alemão foi despedido. E creio que, também, que os jogadores já não estão com o treinador. E que tudo isto é a ponta do iceberg que é a (falta de) liderança no Benfica.
Nestas alturas fala-se de sorte e de arbitragens. Já falei da sorte, que a equipa não tem, nem merece. Passa-se o mesmo com as arbitragens. Não é pelas arbitragens que o Benfica está a perder os jogos, mas hoje o Luís Godinho foi tão habilidoso - em tudo - quanto fora Fábio Veríssimo.
Não é assim com os rivais, mas não é novidade. Na Madeira, logo aos 2 minutos e apesar do nevoeiro, toda a gente viu o Rodrigo Mora entrar de pitons, por trás, ao tendão de aquiles de um adversário. O Tiago Martins que, consegue até ver uma moeda num relvado inteiro, qualquer coisa como conseguir ver uma agulha num palheiro, não tinha visto ali nada mais que uma simples falta. Chamado pelo VAR a ver o que toda a gente vira, saiu do monitor a declarar que o menino de ouro do Porto tinha simplesmente sido negligente. E, seja lá quando for, o Porto vai acabar de disputar o jogo com onze jogadores.
Também em Guimarães foi mais do mesmo. St Juste empurrou pelas costas o avançado do Vitória, na sua grande área. Mas não se passou nada, como nunca nada se passa com o Matheus Reis. Com carta branca para tudo.
Cabia ao Benfica entrar mandão no jogo para tentar explorar o momento depressivo do Sporting, acentuar a desconfiança dos seus adversários, e criar dúvidas à volta do novo comando técnico de Rui Borges, acabado de chegar. Por muito que "dérbi seja dérbi", com a sua imprevisibilidade, e até com a badalada tendência para favoritismos invertidos em função do momento das equipas, seria inevitável que uma forçada má entrada do Sporting marcasse o destino do jogo.
Mas bem sabemos que o Benfica, e em particular o de Bruno Lage, não é dado a essas coisas de entrar de peito feito nos grandes jogos, nos de maior exigência. Por isso permitiu que o Sporting crescesse em crença, errasse menos e crescesse no jogo. E passou a ser o Benfica a errar.
E como errou!
O golo que ditou o resultado, perto da meia hora de jogo, é o paradigma do erro: Otamendi errou, com uma mudança de flanco despropositada a enviar a bola para fora das quatro linhas; depois, a equipa desligou da reposição da bola; depois, ainda, Tomás Araújo falhou completamente a abordagem ao Gyokeres; finalmente ninguém compensou na defesa, permitindo que o Catamo surgisse sozinho na direita a rematar para a baliza.
E no entanto o Benfica sabia - e era capaz - de fazer isso. De entrar mandão no jogo e empurrar o adversário para as profundezas da sua depressão. Mostrou-o na segunda parte, com toda a clareza.
Esse é o problema. Foi o problema hoje, como já o foi noutros jogos. Nos grandes jogos o Benfica reage, em vez de tomar a iniciativa.
Se o Benfica foi capaz de ir para cima de um Sporting já refeito da depressão, moralizado por estar a ganhar, e por uma primeira parte de clara superioridade, e de criar situações de golo suficientes para ganhar o jogo, mais facilmente o poderia ter feito ao Sporting que iniciou o jogo. Bastava querer!
Não digo que o Bruno Lage não quis. Digo que não teve coragem, nem rasgo, nem ambição para o querer.
Assim, o Benfica perdeu o jogo. Mal, porque ainda assim não o mereceu. Perdeu a liderança do campeonato, que tinha acabado de atingir. Caiu de primeiro para terceiro. E ressuscitou o Sporting!
Esta 15ª jornada, a do Natal, entrará para a História dos campeonatos nacionais. É comum, nos tempos que correm, jornadas espalhadas por três ou quatro dias; não é comum, é mesmo inédito, uma jornada com três lideres diferentes.
Anteontem, no sábado, ao ganhar em Moreira de Cónegos (3-0, num jogo que explica como o Porto, mesmo em crise, pontua como nenhum rival no campeonato dos outros), onde perdera, e fora eliminado da Taça há um mês, e onde o Benfica deixara dois pontos e o Sporting três, o Porto chegou ao primeiro lugar do campeonato, com 37 pontos. Ontem, domingo, com o empate (0-0) em Barcelos, que terá ditado o despedimento imediato do João Pereira, o Sporting igualou aquela pontuação, mas regressou ao primeiro lugar. Ao vencer (3-0) hoje o Estoril, na Luz novamente cheia, o Benfica passou a somar 38 pontos, e chegou pela primeira vez ao topo da classificação deste campeonato.
Deseja-se que de lá não saia. É Natal, tempo de desejos.
O jogo desta noite não nos permite grandes conclusões sobre esse desejo. Foi um jogo que o Benfica poderia ter ganhado de forma ainda mais expressiva, mas que também poderia não ter ganhado. Foi um jogo que em grande parte controlou, mas em que também teve largos momentos de subalternização.
O Estoril entrou melhor no jogo - confesso que aprecio o treinador escocês Ian Cathro, e não é apenas por se expressar num português impecável - dominou praticamente o primeiro quarto de hora, e o Benfica teve que crescer no jogo para tentar equilibrar a primeira parte. Quando não tinha a bola o Estoril defendia com uma linha de cinco, mas de forma muito compacta, com as linhas muito juntas. Quando a recuperava subia da mesma forma compacta, e com os jogadores muito próximos uns dos outros, a facilitar a circulação. Mas também a pressão.
O Benfica começou por acusar a falta de meio campo. Sem Florentino (na equipa base Bruno Lage apenas trocou dois jogadores - Otamendi, que se deslocou à Argentina na passada quinta-feira, partindo logo da Madeira, por António Silva e Florentino por Beste - mas mudou muito no xadrez, com Kokçu ao lado de Aursenes e Akturkoglu atrás de Pvlidis, para Beste jogar na esquerda do ataque) o meio campo do Benfica esteve sempre muito desconfortável com a movimentação dos estorilistas.
Fechado o primeiro quarto de hora, ficou a ideia que o Benfica estaria a começar a resolver esses problemas. Durou apenas 4 ou 5 minutos, que acabaram com o remate de Pavlidis ao poste, e só a partir do meio da primeira parte, e mais claramente depois do golo de Pavlidis (finalmente!) o Benfica passou para cima do jogo.
O Benfica tinha antes tido oportunidades para marcar, a maior das quais na tal bola ao poste, aos 18 minutos, mas o primeiro golo chegou na altura e nas circunstâncias certas. E isso foi decisivo. Não é que, a partir daí e até ao intervalo, o jogo tivesse passado a ter como único sentido a baliza do espanhol Robles. Não foi assim, mas foi a partir daí que o Benfica conseguiu encontrar espaços para jogar, e verdadeiramente impor respeito ao adversário.
Não os aproveitou da melhor maneira, e esse é outro problema. É um problema de forma de alguns jogadores. Da forma perdida por Akturkoglu e Pavlidis, e da nunca adquirida de Beste.
A segunda parte começou a fazer lembrar os primeiros minutos. E logo o árbitro - António Nobre faz parte da elite do habilidoso sistema de arbitragem, e confirmou-o até ao limite - assinalou um penálti contra o Benfica. O VAR mostrou-lhe que não podia ser, que não havia por onde.
Em tempo de percepções, os jogadores do Benfica perceberam o aviso. E o penálti que António Nobre quis inventar funcionou como alerta.
Novamente sem grandes alardes, e sem entusiasmar as bancadas por aí além, o Benfica voltou a tomar conta do jogo. Mas o golo da tranquilidade tardou. Como tardaram as substituições que entravam pelos olhos dentro...
Estava Amdoumi há 3 minutos em campo, substituindo (em simultâneo Leandro Barreiros substituiu Aursenes) Pavlidis, acabado de falhar mais um golo de forma inacreditável, quando marcou o segundo, que afastou das bancadas os fantasmas das Aves. E deu o golpe de misericórdia no Estoril. O marcador só atingira a sua expressão final já no quarto dos justificados 6 minutos de compensação, de novo por Amdoumi, num canto cobrado por Beste.
Um golo que deu ao marcador o colorido da liderança, e que foi o regresso aos golos de canto. Que também pareciam esquecidos.
Acabou em festa a noite na Luz. Há razões para festejar, há muito que o Benfica não estava lá em cima, em primeiro. Mas nem tudo são rosas no momento actual da equipa!
Contra o que era dado por expectável, o jogo da Choupana, relativo à oitava jornada, lá se realizou. Era tido por certo que o nevoeiro - que neste século já obrigou a interromper e adiar 17 jogos - voltaria a aparecer. Àquela hora, às 17 para que o jogo foi marcado, a mesma a que se iniciara o jogo a 6 de Outubro, é inevitável.
Apareceu, e chegou a ser ameaçador, à medida que o intervalo se aproximava. O intervalo e o anoitecer afastou-o, e ainda bem.
Mais de dois meses e meio depois, o jogo foi retomado com um lançamento de linha lateral a favor da equipa do Nacional. É estranho ver um jogo começar desta forma, e nunca um lançamento lateral terá certamente sido tão treinado.
Talvez por isso, por ter sido tão preparado, este acabou por ser o único momento do jogo em que o Nacional teve presença no meio campo defensivo do Benfica. Passados esses dois ou três minutos o Benfica tomou conta do jogo, e nunca mais o largou.
Com aquele que é o onze inicial de eleição de Bruno Lage, o Benfica tomou conta do jogo, e começou a criar oportunidades de golo umas atrás das outras. Golos, é que nada. Porque o guarda-redes "nacionalista", o brasileiro Lucas França, defendia tudo. Mas também porque Pavlidis e Akturkoglu estão muito longe da forma que apresentavam há dois meses.
Não quer isso dizer que o Benfica tenha realizado uma grande exibição, daquelas de encher o olho. Não, nem isso é nesta altura possível. Porque não são apenas aqueles dois que atravessam dificuldades, esses são os que lá estão, no sítio onde se tem de marcar os golos. Há muitos mais jogadores que não passam pela melhor condição. Quer apenas dizer que o Benfica ganhou sem qualquer espécie de reticências, sem tremideiras e sem nunca deixar de ter o jogo completamente sob controlo.
E quer dizer que o que se passou na Vila das Aves, no passado domingo, e que impediu o Benfica de ser hoje o líder da classificação, ficou para trás. Foi um acidente.
O Benfica entrou com pressa no jogo, e esse foi o primeiro sinal disso mesmo. Na verdade não dispunha de muito tempo: oito minutos já tinham desaparecido no nevoeiro de 6 de Outubro, e o que se esperava para hoje poderia surgir a qualquer instante, e acabar com o tempo que faltava.
O aproximar do intervalo e do nevoeiro, o adiar do golo pelo tal Lucas França - com três defesas impossíveis, a remates de Akturkoglu (por duas vezes) e Otamendi - e a degradação do estado do relvado, poderiam ter complicado as coisas.
O início da segunda parte acrescentaria os ferros da baliza do Nacional a estas contrariedades. Com o guarda-redes batido, foi a trave a devolver o remate de Kokçu. Só o nevoeiro era boa notícia, finalmente a dar sinais que o jogo poderia ser disputado até ao fim.
À passagem do quarto de hora um defesa do Nacional cortou com a mão uma bola rematada por Di Maria, e desta vez, ao contrário do que sucedera na primeira parte (até o gesto de esconder a mão atrás das costas, depois de ter sido usada para cortar a bola, é igual), o árbitro e o VAR não puderam deixar de ver. Di Maria converteu o penálti - à sua maneira, com a classe do costume - no primeiro golo, e o assunto ficou resolvido. Desta vez ficou mesmo resolvido!
O Benfica nunca permitiu qualquer tipo de chance ao adversário. Di Maria voltou a marcar, menos de um quarto de hora depois, já com Amdouni em campo, no lugar de Pavlidis. A bola voltou a bater nos ferros da baliza do Nacional, o seu guarda-redes continuou a defender o que lhe aparecia e, no fim, o resultado acabou por ser melhor a coisa que aconteceu à equipa madeirense.
Ao Benfica, e apesar do escasso resultado, as coisas acabaram por não correr mal. Nada que, no entanto, limpe a estrutura do Benfica neste processo. O jogo podia e devia ter-se realizado naquele dia 6 de Outubro. E era isso, e apenas isso, que competia à estrutura do Benfica aceitar.
Quem brinca com o fogo arrisca queimar-se. O Benfica brincou com o fogo - e não foi apenas hoje, na Vila das Aves - e queimou dois pontos.
Esperemos que não tenha queimado mais nada. Que o resto tenha apenas ficado chamuscado.
O Benfica chegava a este jogo com a equipa da SAD constituída em Vila Franca de Xira que joga na Vila das Aves - é mais uma singularidade do futebol profissional em Portugal, onde também há uma equipa que não tem campo para jogar - com uma sequência de oito vitórias consecutivas, com o jogo da oitava jornada em atraso, e em condições de à 14ª jornada chegar à liderança do campeonato.
Bruno Lage chamou a isto pressão da liderança, para dizer que a equipa não sofria disso. Não tinha falado do trauma pós champions, que atingiu grande parte das equipas neste fim-de-semana (Liverpool, Manchester City, Aston Villa, Bayern, Real Madrid ...), mas preveniu-se. E apresentou uma equipa sem cinco dos habituais titulares: o capitão Otamendi, Carreras (este por impedimento disciplinar), Florentino, Di Maria e Pavlidis. Mudou meia equipa!
Não foi no entanto por aí que começou a brincadeira com o fogo. A equipa dominou por completo a primeira parte do jogo, impedindo praticamente o adversário de sair lá de trás. Não fez uma exibição brilhante - o que também não surpreende, porque isso vem rareando - mas marcou logo à saída do primeiro quarto de hora (com Amdouni a concluir uma excelente combinação entre Aursnes e Akturkoglu, já dentro da grande área adversária), e criou oportunidades suficientes para marcar mais dois ou três golos.
Ao intervalo o Benfica poderia ter o resultado decidido, e estar a jogar contra 10. Em cima do minuto 45, Devenish, o defesa central da equipa de Vila Franca das Aves, cravou os pitons nas costas de Akturkoglu que, por acaso, até seguia isolado para a baliza. O avançado do Benfica ficou com as costas rasgadas, o árbitro assinalou falta e entendeu por bem resolver aquilo com o cartão amarelo. Que já lhe devia há uma enormidade de tempo.
A perder por um simples golo, o Aves - ou lá o que é - acreditou que se se aventurasse um bocadinho poderia não perder. E de repente o Benfica perdeu o controlo do jogo, muito - também - pelas alterações de Bruno Lage, quando ficou sem meio campo. Ainda pareceu que poderia repor a ordem com a entrada de Florentino, mas não.
No último lance, no último segundo dos 4 minutos de compensação, num livre na cobrança de uma falta estúpida, o tal Devenish - ironia do destino - que deveria ter sido expulso, empatou o jogo. E já não havia nada a fazer.
O Benfica sai claramente chamuscado desta brincadeira com o fogo. E tem agora nova prova de fogo, na quinta-feira. No tal jogo - é inadmissível que a estrutura do Benfica não tenha imposto que o jogo se realizasse na altura, já com o nevoeiro levantado - em atraso. Que, marcado para a mesma hora, pode voltar a ter nevoeiro, e complicar-se ainda mais.
Hoje a equipa viu-se confrontada com a sua incompetência. Na próxima quinta-feira, na Madeira, já lhe bastará a da estrutura. Não poderá acrescentar-lhe mais nenhuma!
O jogo desta noite na Luz, com mais de 60 mil nas bancadas, era para a "Champions". Mas foi mesmo um jogo de "Champions", daqueles que cansam só de ver, e que no fim deixam marcas.
O Benfica, com o onze habitual, hoje já novamente com Kokçu, entrou bem no jogo. E marcou logo, num lance que só não foi excelentemente finalizado por Pavlidis por estar ligeiramente adiantado. E bem que poderia ter evitado esse adiantamento, e ficar-se apenas pelo excelente movimento de finalização. Que, de resto, não mais repetiria.
E o VAR anulou o golo que teria certamente traçado outro destino para o jogo.
Aos 10 minutos já o jogo começava a mudar de feição - curiosamente com o lance mais perigoso de todo o jogo para a baliza de Trubin que, bem secundado por Tomás Araújo, anulou as intenções de Dallinga, isolado - com o Bolonha a impor a sua estratégia de pressão. Pressão sobre todos os jogadores do Benfica, e sobre a bola, em todas as zonas do campo. Não fosse esta é a estratégia habitual da equipa italiana e dir-se-ia que estava a decalcar o jogo do Guimarães, no passado sábado. Só que, com melhores jogadores, a colocar ainda mais dificuldades.
A meio da primeira parte o Bolonha dominava o jogo. Os seus jogadores chegavam sempre primeiro, ganhavam todos os duelos, e todos os ressaltos. Circulavam a bola em todas as zonas do campo - a posse de bola chegou a andar pelos 65% - começando a deixar a cabeça dos jogadores do Benfica feita em água. Alguns começavam até a dar sinais de perda do controlo, para que também o árbitro romeno contribuía, tudo permitindo aos jogadores da equipa italiana, e nada aos do Benfica.
Valia que o Bolonha não tirava qualquer partido desse domínio. Nem um remate à baliza. E que era fisicamente impossível prolongar por muito tempo aquela pressão. Assim foi: durou menos da terça parte do tempo de jogo, e aos 35 minutos acabou. Os últimos 10 da primeira parte já foram do Benfica, com duas situações de golo, mais que a equipa italiana em todo o jogo.
Ao intervalo já o Benfica tinha recuperado grande parte da desvantagem na posse de bola, tinha rematado mais (5-2), e mais cantos (5-1). Tinha também mais faltas (9-4) mas apenas pela contribuição do desastrado árbitro romeno.
E na segunda parte o Benfica inverteu por completo as feições do jogo. Os jogadores passaram a ser eles a chegar primeiro, a ganhar as bolas divididas e a pressionar os adversários. A equipa dominou, rematou, criou mais quatro ou cinco oportunidades de golo mas não marcou. Porque o guarda-redes polaco Lukasz Skorupski defendeu tudo o que lá lhe chegou, já depois de tudo o que era filtrado pelos seus defesas. Porque Pavlidis falhou um golo de forma inacreditável.
O Benfica fez um grande jogo?
Não. E poderia ter feito melhor. Provavelmente tudo teria sido diferente se o Pavlidis tivesse evitado aquele fora de jogo logo aos 3 minutos. Também poderia ter sido diferente se Bruno Lage tivesse mexido mais cedo na equipa: Pavlidis e Akturkoglu, que passou ao lado do jogo, deveriam ter saído bem mais cedo. Mas os jogadores, com o capitão Otamendi à frente, foram bravos, e dignos do manto sagrado. E tudo fizeram para merecer ganhar o jogo.
Com este empate o Benfica soma 10 pontos, quando lhe falta defrontar o Barcelona, na Luz, e a Juventus, em Turim. No início dizia-se que 9 pontos seriam suficientes para assegurar a continuação na Champions, através do play-off para os oitavos de final. Agora sabe-se seguramente que não.
Fora dos primeiros 24 classificados estão, pelo menos, dois que lá terão que entrar: o PSG e o Stuttgart. Palpito que basta que não sejam o Dínamo de Zagreb (com 8 pontos), e o Celtic (com 9), a ceder-lhe os seus lugares para que os actuais 10 pontos não cheguem para o apuramento.
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