Macron e os "gilets jaunes"
Os movimentos populares de protesto, caracterizadamente inorgânicos, estão a espalhar-se por todo mundo, em resultado da progressiva falência dos mecanismos políticos de representação e da crescente influência das redes sociais no papel da comunicação.
A França tem, no entanto, bastante tradição em movimentos sociais inorgânicos. Do nada, surgem frequentemente grandes fenómenos de contestação, movimentos de massas espontâneos à margem de mecanismos de organização, que acabam normalmente em grandes expressões de violência.
Os chamados "gilets jaunes" que, ao que parece, acabam de obter ganhos de causa perante Macron, não são por isso grande novidade. Mas não deixa de ser surpreendente que um movimento desta natureza e dimensão tenha surgido tão cedo no mandato de Macron, cuja eleição não é, ela própria, alheia ao último suspiro dos mais convencionais mecanismos de representação da sociedade e da democracia francesas.
Recorde-se que Macron foi eleito há apenas ano e meio, depois de um terramoto político que reduziu a pó os partidos políticos convencionais, e de poder. Que veio de fora do sistema, e que é, também ele, uma emanação do esgotamento dos velhos instrumentos de representação, que entregou o eleitorado a Marine Le Pen. Que, em última instância, acabou em factor crítico de sucesso da sua eleição.
O que me parece que isto quer dizer é que desengane-se quem achar que o sistema é reconvertível através de uma nova geração de políticos mais ou menos assépticos, pragmáticos e ideologicamente virgens.