Enquanto toda a gente acha que Alvalade está à beira de fechar as portas, há uns tipos de uns bancos que acreditam que haverá sócios a pagar quotas durante os próximos 40 anos.
Acreditam em cada coisa, estes bancos... Depois queixem-se!
Godinho Lopes acaba de despedir o seu quarto treinador em menos de onze meses. Provavelmente porque achou que já tinha cabimento orçamental: Domingos, o primeiro dessa lista, acaba de arranjar emprego na Galiza e, por isso, de deixar uma vaga na folha de salários!
Vercauteren sai pela porta pequena de Alvalade, vergado ao chicote de Godinho Lopes.
Que há pouco mais de dois meses, quando o contratou no fim de Outubro, dizia: "É uma pessoa que aposta na formação, é ganhador e é um antigo jogador de qualidade. Houve dezenas de treinadores que se ofereceram para treinar o Sporting. Enquanto os nomes iam correndo, nós já tínhamos escolhido Franky Vercauteren… Estou a trabalhar para criar um projecto sustentável e isso não se cria resolvendo os problemas à pressa."
Que pouco mais de um mês depois, assinava a guia de marcha do belga, contratando Jesualdo Ferreira para era essa função revolucionária e inédita no futebol mundial a que chamou treinador de treinadores.
Que acaba de estabelecer uma parceria com o FC Porto. Altamente interessante: cede um jogador de primeiro plano e para uma posição onde o Porto tem carências para receber um, de segundo ou terceiro plano, para uma posição (lateral direito) onde conta com três jovens de valor confirmado quando, pela voz do novo treinador, a estratégia está de regresso à Academia. Um jogador em fim de contrato, sobre o qual o Porto já não tinha quaisquer direitos financeiros …Mas que, por força desta parceria, passa a deter 50% durante os próximos cinco anos e meio. Em contrapartida fica com os mesmos 50% dos direitos financeiros de Ismailov para os próximos dois anos e meio. Ou seja: nada!
Os sportinguistas já não sabem que fazer para se verem livres do homem que lhes invade as noites de sono com pesadelos da segunda divisão. Acho que posso ajudar: já que o homem se acha um sábio da bola – pelo seu chicote despachou de uma só vez Luís Duque e Carlos Freitas, e assumiu-se como o verdadeiro e único líder para o futebol – convençam-no a assumir ele próprio as funções de treinador. Isso mesmo: em vez de cartazes “Godinho Rua”, cartazes “Godinho Treinador”! Com Godinho Lopes em treinador é limpinho… Vêem-se livre dele em menos de dois meses. Sem sequer terem de gastar um cêntimo a pagar Assembleias Gerais…
Godinho Lopes vai prosseguindo o seu processo revolucionário no Sporting. Enquanto espera que os investidores internacionais aterrem na Portela, e depois de contratar um treinador de treinadores, deita mãos à mais revolucionária das suas medidas revolucionárias, que irá mudar a face do futebol em Portugal, negociando com Pinto da Costa um acordo histórico. Chama-lhe parceria e é algo de verdadeiramente inovador!
Basicamente o Sporting manda Ismailoves para o Porto e recebe de lá Miguéis Lopes… A primeira troca já aconteceu. Não espantará que, na próxima, o Sporting mande para lá o Carrillo e receba em troca o Castro!
O Sporting apresentou Jesualdo Ferreira: o novo treinador, apresentado como manager!
No meio de tanta incongruência dificilmente poderia ser apresentado como outra coisa, mas é do novo treinador que se trata.
Apesar da excitação não passa de mais um novo treinador e de mais um coelho que Godinho Lopes tira da cartola… Certamente o último!
Os mais crentes – sim, o clubismo é mais que uma religião – acham que Jesualdo é Jesus, o Messias, por que há tanto suspiram. E deixam-se invadir por uma onda de excitação que os ventos que correm em Alvalade, paradoxalmente, até podem justificar.
Não me agrada nada o papel de desmancha-prazeres. Mas não posso deixar de avivar a memória dos mais entusiasmados, referindo que Jesualdo teve sucesso no Porto, onde chegou em circunstâncias invulgares, se bem estamos lembrados. Neste Porto das últimas duas décadas onde, como há muitos anos Mário Wilson (já não há gente desta humildade) disse do Benfica, qualquer um se arrisca a ser campeão. Ali, não importa agora como nem porquê, todos os treinadores são bem sucedidos. Até o Vítor Pereira!
Antes, fora um desastre no Benfica – o treinador das duas piores classificações: o sexto lugar que nos envergonha, de 2000-2001, ano do título do Boavista, e o quarto da época seguinte, no último título do Sporting – e, no Braga, um dos treinadores de menor performance da nova era de Salvador, onde Jesus, Domingos e Leonardo Jardim se encarregaram de reduzir os seus resultados à simples dimensão de suficiente. Depois … bem, depois foi o desastre no Málaga, onde se não aguentou mais de três meses. Uma equipa que o seu substituto – Manuel Pellegrini – levou à Champions, onde acaba de se apurar em primeiro lugar no seu grupo, sem qualquer derrota, mesmo depois da sangria – o sheik do dinheiro deu à sola - do último Verão. E viu-se grego no Panathinaikos, de onde acabou de ser despedido, para se oferecer ao Sporting, ao mesmo tempo que desenterrava o velho tema dos túneis. Um tema que, para ele, era dois em um: mitigava o seu último inêxito nacional, e com ele todos os que lhe sucederam, e entrava directamente por uma das portas de afronta ao Benfica. Sabendo qualquer uma é a porta 10 A para entrar em Alvalade!
No seu discurso de apresentação começou por exaltar o Sporting como um clube diferente. Exactamente como eles gostam de dizer. E mais ainda de ouvir! E quase ia dizendo que era sportinguista desde pequenino. Vá lá, segurou-se a tempo…
Ouviu-se da boca de um dos portistas residentes num desses múltiplos programas que as televisões dedicam ao confronto clubístico que, no meio da tertúlia azul e branca, alguém terá perguntado ao Jesualdo o que é que ia fazer para o Sporting. E que a sua resposta terá sido: “pagam-me; enquanto me pagarem estou lá”…
Confesso que a última coisa que me apetecia agora era atirar com água gelada para cima dos sportinguistas. Juro que não quero mais nada que pôr alguma água na fervura. Que alguma ordem chegue ao circo que Godinho Lopes armou ali à entrada do Lumiar!
Mas desconfio que o tipo que está ligado à pior classificação de sempre do Benfica (e à pior do Porto neste século, a par de Octávio, também de boa memória em Alvalade) não deixará de fazer menos no Sporting…
O programa Trio de Ataque, na RTP Informação, onde decorria uma entrevista ao presidente do Sporting, foi subitamente interrompido e saiu para intervalo. Um intervalo que ultrapassou a meia hora, com uma série de buchas pelo meio que meteu pássaros, livros e até Croácia.
No regresso, o apresentador - Hugo Gilberto – disse que o intervalo se tinha alongado por motivos de força maior e retomou a entrevista a Godinho Lopes.
Que se terá passado?
Um trio de (ataque) de hipóteses:
a) O Luís Filipe Vieira entrou por ali dentro a chamar-lhe aldrabão;
b) O Vercauteren entrou por ali dentro a pedir explicações sobre o Jesualdo;
c) O Ismailov entrou por ali dentro a exigir que lhe não chamassem maçã podre.
Nas três hipóteses uma coisa é certa: alguém entrou por ali dentro, ao ataque!
Não há paciência para as manobras de diversão do Sporting. Há muito que é assim, mas nesta gerência de Godinho Lopes ultrapassam-se todos os limites. Provavelmente para tapar toda a vasta incompetência que vem sendo notória e evidente!
Agora, e depois de tentarem fazer deste jogo com o Benfica o jogo mais importante da sua história, vêm criar o caso do adiamento do jogo. Depois de o abrir com o anúncio da decisão de não comparecer no jogo à hora marcada, depois de, a seguir, ser o seu treinador a dizer que não era necessário adiamento nenhum e depois de meter os pés pelas mãos em mais um mar de incompetências, vem responsabilizar o Benfica pelo não adiamento do jogo por parte da Liga Portuguesa de Futebol. E lançar mais uma série de atoardas sobre o presidente do Benfica!
Para levar a cabo esta estratégia incendiária com que Godinho Lopes acha que segura a sua liderança, conta com a legião de comentadores espalhados pelos media que não se inibem de lançar mais e mais areia para os olhos … dos sportinguistas.
Há apenas um ano incendiaram as cadeiras do Estádio da Luz, sob a batuta daquele dirigente exemplar que faz depósitos nas contas dos árbitros. Desta vez, em Alvalade, incendeiam o jogo. Com a incompetência de sempre!
A bola é, como se sabe, o elemento fundamental do jogo. Podem faltar jogadores, como ainda não há muito se viu para as bandas de Leiria, que não deixa de haver jogo. Mas, se faltar a bola, é que nada feito…
É por ela que toda a gente corre e luta, é a bola que toda a gente quer possuir. E, no entanto - coisas do futebolês -, diz-se que às vezes queima!
E não é exactamente porque seja uma brasa, como aquela ideia de toda a gente a querer possuir poderá sugerir. A bola, por mais desejada que seja, nunca é uma brasa. Mas pode ser factor de desconforto: queimar!
Diz-se que a bola queima quando uma equipa está descrente, sem confiança. Quando os jogadores não se entendem em equipa, porque lhes falta uma ideia de jogo, porque lhes faltam os automatismos, porque desconfiam uns dos outros. Porque não confiam na liderança nem a liderança confia neles…
Daí que ninguém queira ter a bola, como se ela lhes queime os pés. Quem a recebe quer libertar-se dela o mais rapidamente possível, porque nem tem confiança para se aventurar numa relação mais longa e estável. Porque tem medo de falhar. Não a liberta rapidamente e com critério – o que é quase sempre uma boa decisão – para a endossar a um colega que lhe dê o melhor seguimento. Fá-lo apenas e só por medo, para endossar a outro não a bola mas a responsabilidade!
O melhor exemplo disto é o Sporting. O Sporting do Sá Pinto, que já era!
Os jogadores não têm a mínima ideia do que fazer dentro do campo. Nem com a bola nem sem a bola. Quando a não têm nota-se-lhes um certo alívio, a angústia chega-lhes logo com a bola, como se a bola fosse dois em um.
Acharam os dirigentes do Sporting que resolveriam o problema correndo com o Sá Pinto - essa lenda viva de sportinguismo com que, há poucos meses, prometiam amanhãs que cantam - sem perceberem que, antes de a bola queimar os pés dos jogadores, já eles a tinham posto a queimar as mãos e a cabeça do treinador que um dia a Juve Leo impôs a Godinho Lopes. É que o Sá Pinto garantiu, na época passada, o contrato que agora tanto jeito lhe dará, jogando à Beira-Mar ou à Rio Ave (sem qualquer menosprezo para estas agremiações): todos à defesa e à espera de um contra-ataque que pudesse dar um golo.
Godinho Lopes e a sua equipa, sempre com a mania das grandezas – candidatos ao título e tal… - acharam que aquilo não era à Sporting. Afinal tinha um treinador à Sporting mas que não jogava à Sporting… Jogava à Gil Vicente! E obrigaram Sá Pinto a mudar para uma estratégia de jogo compaginável com a grandeza do Sporting, que rapidamente se revelou uma impossibilidade. Como se isso não funcionasse acharam que ele não sabia sequer escolher a equipa e passaram eles próprios a impor-lhe o onze. “Não percebes nada disto, hoje jogam fulano, beltrano e sicrano”! “Sim senhor, têm toda a razão, eu é que andava distraído”…
Acham que há milagres, é o que é!
No Benfica não é muito frequente que a bola queime, mas às vezes acontece. Não foi o caso do jogo desta semana com o Barcelona: tiveram-na tão pouco tempo que nunca daria para queimar. Antes que pudesse queimar já a rapaziada do Barcelona lha havia tirado. A esses é que a bola nunca queima. Se queimasse não havia unidade de queimados que lhes valesse…
A quem também a bola não queima é ao James. Que grande golo aos novos milionários da bola, a dar os três pontos e mais um milhão ao Porto!
Godinho Lopes voltou a puxar do chicote lá por Alvalade e o Sporting acabou por substituir o há muito chicoteado Sá Pinto - adjunto na última época de Pedro Caixinha no União de Leiria – por Oceano, também na última época o adjunto de José Dominguez no União de Leiria.
O Oceano que se cuide porque esta época há dois União de Leiria: a SAD, com uma equipa a disputar a II Divisão B e o Club a disputar a primeira divisão distrital. O que quer dizer que deve haver por lá mais dois adjuntos, prontos para o que der e vier!
Já vimos que no futebol e no futebolês há muita coisa que queima e muitos incêndios. Queimam-se, mas também se rasgam, cartões, quando as coisas não estão a correr bem. Queimam-se bandeiras e outras coisas, até cadeiras, quando o civismo e os mais elementares princípios de boa educação e convivência são substituídos pelo vandalismo e pelo facciosismo exacerbado. Incendeiam-se os ânimos por dá cá aquela palha, para abrir as portas à violência… Até a bola queima, como haveremos de ver numa das próximas edições!
E há o passe à queima: o passe feito para um colega de equipa que o coloca em maus lençóis. Que o deixa em dificuldades perante o adversário, levando-o a perder a bola e, frequentemente, obrigando-o a cometer uma falta e a levar um cartão. Às vezes o segundo amarelo que o levará para a rua ou, para fugir desse destino, a deixar fugir o adversário para o golo!
Um passe à queima é assim como uma faca espetada nas costas do companheiro. Quando é feito para o guarda-redes, então, ainda é mais que isso. Mais parece uma granada arremessada contra toda a equipa!
Desengane-se quem pensar que só os jogadores têm esta capacidade autodestrutiva. Mesmo sem tocar na bola também treinadores e dirigentes fazem passes à queima. Com uma particularidade: têm sempre consequências bem mais nefastas e duradouras.
Quando, por exemplo, Jorge Jesus insiste sempre nos mesmos jogadores, espremendo-os até ao limite – sendo também ele responsável por esses limites -, independentemente da qualidade do plantel que tiver à sua disposição, e rebenta com a equipa para as fases decisivas da competição, não esteve se não a entreter-se com passes à queima. Para a equipa, para o clube e para os adeptos. Quando embirra com o Ruben Amorim, o Capdevilla, o Nolito, o Miguel Vítor ou o Enzo Perez, ou quando, ao contrário, vira a sua teimosia em favor de Roberto, na época passada, ou de Emerson, na actual, não está só a fazer passes à queima para estes jogadores. Está a fazê-los à equipa toda, ao clube e aos adeptos.
Claro que nem sempre os passes à queima correm mal. Quando não correm mal passam a chamar-se passes de risco: foi um passe arriscado, mas correr riscos faz parte da vida. Quem não arrisca não petisca!
O passe é o mesmo, só mudaram as consequências. Por mérito do destinatário ou demérito do adversário, nunca por mérito do autor!
Pinto da Costa, por exemplo, faz um passe à queima com a promoção de Vítor Pereira a treinador principal. Com tanta convicção que até inscreveu no contrato uma cláusula de rescisão que ninguém se atreveria a colocar num contrato com Mourinho. Correu bem, ou perto disso, e passou a passe de risco. Por demérito do adversário, como toda a gente percebeu. Mas, tal como há jogadores a quem tudo se perdoa – mesmo passes à queima ou falhados – também há dirigentes benzidos pela mesma água. Ora aí está como, contra todas as lógicas, o mérito vai para quem fez o passe à queima!
Esta semana assistimos à divulgação pública do maior dos passes à queima da categoria dirigentes: uma proeza – mais uma – da direcção do Sporting. O vice-presidente de Godinho Lopes, o nosso bem conhecido Paulo Pereira Cristóvão, especialista nestas coisas que queimam - ainda nos lembramos como incendiou ânimos (se não também cadeiras) no dérbi da Luz desta época, o seu primeiro dérbi como dirigente sportinguista -, é acusado de ter mandado um seu funcionário e sócio (parece que funcionário num lado e sócio noutro) e ainda colaborador do clube e membro da claque Directivo Ultra XXI (que grande confusão, maior ainda quando parece que empresas de ambos, na área da segurança e vigilância, trabalhavam para o Sporting) – conhecido por Rui da Amadora – efectuar um depósito de dois mil euros na conta do árbitro assistente José Cardinal para, depois, apresentar uma denúncia anónima de corrupção.
O depósito foi efectuado num balcão da Caixa Geral de Depósitos no Funchal, dias antes do jogo de Alvalade com o Marítimo, na semana do Natal, a contar para os quartos de final da Taça de Portugal. Para que a coisa batesse certa e o passe não fosse à queima, o tal Rui da Amadora ter-se-á deslocado à Madeira para fazer o depósito, em notas.
O ex-polícia da Judiciária apresentou a demissão da direcção, mas reflectiu e percebeu que fez mal. Parece que já quer voltar!
E afirma que não tem nada a ver com aquilo. Creio que todos acreditamos que não: um profissional da vigilância e da segurança, com 17 anos de polícia de investigação, não iria mandar um funcionário e sócio fazer um depósito destes, ficando à mercê das câmaras de vídeo do banco. Seria um passe à queima, com muita incompetência!
O presidente Godinho Lopes também diz que o Sporting não tem nada a ver com isto. Também não nos custa nada a acreditar: se por lá não há dinheiro, como é que iriam arranjar aquelas notas todas?
Um passe à queima, que os deixa a todos bem chamuscados!