2011 A CAMINHADA DO MEDO
Convidado: Luís Fialho de Almeida
Depois de outras abordagens à estética da paisagem e à estética das coisas, a estética dos sentimentos é um domínio vasto para os artistas que tem a sensibilidade de lhe dar expressão.
“A Caminhada do Medo” é o título da obra mais recente da artista plástica Graça Morais, distinguida no passado sábado com o prémio das Artes Casino da Póvoa 2011.
É um conjunto de desenhos e pinturas que reflectem os sentimentos de angústia e preocupação da autora em relação ao presente e ao futuro do país e do mundo, inspirada na reflexão sobre as notícias e imagens transmitidas diariamente pelos órgãos de comunicação social.
Retrata a sensação de medo perante o desconhecido e um futuro cada vez mais incerto - as cenas do quotidiano, os tumultos recentes, os deserdados da sorte, os milhões de pessoas que se deslocam no mundo fugindo das guerras, dos massacres, da fome e da pobreza, procurando um mundo melhor. A temática é de extrema actualidade perante um governo que nos incentiva a emigrar e, simultaneamente, retira os apoios ao ensino de português junto das comunidades de emigrantes. Um governo cujo único programa de governação é a austeridade.
É uma pintura de intervenção política, transformando em arte o grito, a indignação e o repúdio, ao jeito dos massacres de Goya ou da Guernica de Picasso, obras às quais a autora, humildemente, diz não se comparar. Pintar assim, é um acto de cidadania como é também, entre outros, o movimento de cidadãos que exige auditoria às contas públicas.
Já em colecções anteriores - a mesma visão com alma e sentido social – se destacam os traços que a ligam à terra, à natureza, às suas origens e suas gentes. Que Graça Morais leva a tela na forma de rostos marcados pela dureza da vida nas terras do interior transmontano.
Interessante a ligação matrimonial a Pedro Caldeira Cabral, outro expoente da expressão estética, através da interpretação da música medieval e renascentista em instrumentos da época, mas também do barroco, clássico, música ibérica e da guitarra portuguesa.
Parabéns Graça Morais!