Os sindicatos ganharam, evidentemente: 93% de adesão à greve é, na lógica sindical, uma vitória. O governo não vem com os números ridículos do costume. Nem sequer os contesta, porque esses não são os números por que corria. Não era por ali, o que importava mesmo era os exames!
E pronto, mais de 60% de exames cumpridos também não é um mau número. Não é tão retumbante, mas é uma vitória!
Mas eu desconfio sempre de uma guerra em que todos ganham... É que, ainda por cima, fico com a ideia que muitos dos que fizeram exames, naquela confusão, também ganharam alguma coisa. Mesmo numa guera que não era deles...
A greve dos professores aí está, certamente com os números díspares de sempre, com os sindicatos a puxá-los para cima e o governo para baixo, como sempre acontece. Mas desta vez há outros números, esses sim objectivos, inquestionáveis, que ultrapassam os dois lados da barricada. Desta vez haverá um número: o das vítimas, a parte dos 75 mil alunos que hoje não fará exames. Será esse que se sobreporá a qualquer outro porque, mais que greve de professores, esta é a greve aos exames!
Todas as greves provocam instabilidade. Introduzem perturbação, porque é essa a sua natureza. Nesta, a perturbação foi introduzida ainda bem antes de ser produzida. Antes de perturbar os exames, e com eles os alunos, esta greve perturbou o governo, o ministro e todo o ministério.
Por isso ministros se expuseram, dizendo o que não sabiam e acabaram desmentidos. Por isso o ministro subverteu a negociação, e em vez de negociar sobre as causas, quis negociar a própria greve. Crato não se preocupou em negociar sobre a matéria reivindicada, para impedir a greve. Nem, ao que parece, sequer em negociar. Preocupou-se apenas em alterar a data da greve, para não ceder na data dos exames: tudo estaria bem se a greve passasse para Julho ou Agosto. De preferência entre a meia-noite e as cinco da manhã!
É o subsídio de férias, que o governo não paga. E que não deixou de aproveitar para mais confusão e mais trapalhada… Mais uma oportunidade para malhar nos funcionários públicos, e mais uma oportunidade para provar que é o espírito punitivo e não o reformista que o move.
Depois do chumbo, pelo Tribunal Constitucional, do corte do subsídio de férias o governo nem hesitou em trocar o subsídio de férias pelo de Natal, que estava a ser pago em duodécimos. Em vez de repor o pagamento do subsídio de férias, em Junho como a lei estabelece, resolveu meter os pés pelas mãos. Poderia ter dito que não pagava porque não há dinheiro, mas não. Porque logo grande parte da administração pública – quase toda a administração local e ainda o governo regional dos Açores – garantiu ter liquidez e, por isso, a intenção de o pagar, Passos Coelho fez questão de dizer que não era problema de dinheiro. Que era, agora, um problema de lei: não há lei que permita fazer o pagamento. Não há nem é preciso que haja porque, como logo adiantou, não há problema nenhum: o subsídio de férias está a ser pago em duodécimos e o de Natal será pago em Novembro. Como habitual, como sempre…
Curioso é que no mesmo dia em que garante não pagar o subsídio de férias – porque não há lei – garanta ir já a correr fazer uma lei - que não há – para lhe permitir a requisição civil dos professores.
Depois de tudo o que tem feito aos professores o governo admirou-se e achou inaceitável que tivessem marcado a greve para os dias dos exames. Apetece perguntar: estavam à espera de quê?
Depois, não teve a mínima preocupação em gerir o assunto. Preferiu partir para o braço de ferro, sem sequer tentar qualquer alternativa. Nem a última, que seria o adiamento dos exames. Depois de tudo o que tem feito aos professores, o braço de ferro é, certamente, a saída menos aconselhada. Vai correr mal, nem pode ser de outra forma!
Curioso é também que tudo isto se passa no mesmo dia em que o governo declara que o problema dos swaps com o JP Morgan está ultrapassado. O banco americano que se havia recusado a renegociar os famosos swaps, e que tinha mesmo decidido avançar com o assunto para tribunal, mas que, estranhissimamente, tinha sido escolhido pelo governo para consultor da privatização dos CTT.
Um governo de rins flexíveis para a banca – nacional e internacional – mas duríssimo de rins para os portugueses.
Forte com os fracos e fraco com os fortes?
Sim, mas mais do que isso: um governo para quem a pimenta no rabinho dos portugueses é refresco!
Depois admiram-se de não poderem sair à rua…
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