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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Mas

Por Eduardo Louro

Tenho enorme dificuldade em perceber por que é que as pessoas se não limitam a concordar ou a discordar da greve, a fazer ou não fazer greve, conforme a sua vontade e as suas possibilidades. Por que é que haverão de passar daí? E por que é que ainda acham que têm legitimidade para passar daí?

Se calhar é culpa de um mas que anda por aí: é que a greve é um direito. Inalienável, sagrado, inquestionável... Mas...É deste mas!

Não tem que haver mas. A não ser este: mas não tenho grande dificuldade em perceber que a democracia portuguesa se esteja a transformar numa miragem. Ou numa memória perdida. Que sociedade portuguesa esteja cada vez menos tolerante. Cada vez mais dividida... Cada vez mais próxima da rotura...

 

COISAS DE HOJE IV

Por Eduardo Louro

 
Hoje é dia de greve geral. Mas o país não parou: há muita gente com a vida transtornada, mas não muito mais que isso!

Certas greves correm de facto o risco de não passar muito disso: de transtornarem a vida a muitos cidadãos e gerar alguns prejuízos num ou noutro sector, ou mesmo em toda a economia, como vem sucedendo com a greve dos estivadores.

Defendo o direito à greve como um dos direitos sagrados e inalienáveis, que fique claro. Mas como instrumento eminentemente laboral, um instrumento dos trabalhadores que lhes permita mitigar – como eu gosto desta palavra desde que o ministro das finanças a utilizou – a colossal (outra!) diferença de poder na relação laboral entre empregadores e empregados. É uma arma – a mais poderosa – de que os trabalhadores dispõem para fazer valer os seus interesses quando antagónicos ou conflituantes com os da entidade empregadora. É esse o seu espaço natural!

Utilizar recorrentemente a greve como instrumento de luta política corre esse risco de o desvalorizar, ou mesmo de virar a arma contra quem a utiliza. Ao utilizá-la como instrumento de reforço do seu poder e do seu peso político específico, Arménio Carlos também não ajuda ... se não Carvalho da Silva!

Duas greves por ano contra a política do governo parecem coisa despropositada. No mínimo tão despropositada quanto a própria política do governo. E Arménio Carlos já hoje anunciou que iria debruçar-se sobre as funções do presidente da república e ainda sobre as matérias inconstitucionais no Orçamento do Estado. É evidente que tem todo o direito de se pronunciar sobre esses ou quaisquer outros temas da vida nacional, não pode - não deve – é anunciá-lo como matérias da competência institucional da CGTP, deixando no ar –  quem sabe? – que também pode marcar greves para influenciar na definição das funções do Chefe de Estado ou na fiscalização da constitucionalidade.

Há um campo para as greves e outro para as manifestações e outras manifestações cívicas. Em democracia, a intercepção de ambos deve ser um espaço muito reduzido. Tão reduzido quanto o da repressão policial. Ou o da provocação que a motive!

 


COLETE REFLECTOR

Por Eduardo Louro

 

 

                                                                                      Foto tirada daqui

  

A carga da polícia, ontem no Chiado, parece que foi exagerada e desproporcionada - como acontece sempre que a polícia bate – mas o único problema é que aquilo foi a eito e nem jornalistas e fotógrafos escaparam. O que também não é exactamente novidade!

Sabe-se que a polícia gosta de molhar a sopa, está-lhe na massa do sangue. Há por ali adrenalina que só encontra saída na ponta do bastão… E muitos valentões que acham muito mais corajoso bater em manifestantes em fuga que enfrentar e perseguir criminosos, de que, não raro, desviam o olhar para que não se lhes fira a atenção nem a consciência.

Os responsáveis pela Polícia, como também sempre acontece, desvalorizam os exageros dos senhores agentes. O problema mesmo é os jornalistas. Aos outros - acham eles e muito mais gente - só se perdem as que caiam no chão

E já resolveram o problema: um colete reflector. Que está na moda e é muito fashion! E, já agora, igual aos dos polícias...

GREVE GERAL

Por Eduardo Louro

 

Já nem a greve geral tem o mesmo encanto. Confesso que o que mais me encantava nas greves gerais era a guerra dos números, os 8% de adesão do governo e os 80 dos sindicatos. Aquilo é que era, não havia vergonha. Era mesmo assim!

Nunca ninguém ficava a conhecer a verdade, mas sempre dava para entreter, tipo palavras cruzadas ou sudoku. Uns achavam que fazendo a média aritmética dos dois números se chegaria lá. Outros, mais eruditos na matemáticas, propunham algoritmos mais complexos… Mas a verdade é que essa – a verdade – permanecia incógnita de uma equação irresolúvel.

Até isso nos tiraram. Já nem sei para que é que serve agora uma greve geral…

GREVE GERAL

Por Eduardo Louro 

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A greve geral deste dia 24, que acaba de chegar ao fim, não foi muito diferente das outras. A mesma data - 24 de Novembro – do ano passado. A mesma repetição, até à exaustão, da legitimidade do respectivo direito. Toda a gente acha que a greve é um direito indiscutível, inalienável e que tem que ser respeitado.

Toda a gente acha que a greve é um direito respeitável, mas… Pelo que se viu por aí fora há sempre um mas, toda a gente tem uma mas a acrescentar. Que, mais ou menos atabalhoado, mais ou menos engasgado, serve tão simplesmente para dizer que o direito à greve existe mas não devia existir! Tal e qual!

Verdadeira novidade foi a ausência da famosa e clássica guerra dos números. Já diz o povo: para teimar são precisos dois! Como para dançar o tango, como dizia o outro… Os sindicatos não deixaram os seus créditos por mãos alheias – as coisas também não estão para isso – e, sem abdicar do seu papel, partiram para a luta. E não fizeram a coisa por menos: mais de 90%! O governo ainda deu mostras de ir a jogo – logo pela manhã já estava de peio feito e de provocação em grande estilo a anunciar os seus 3,6% - mas, depois, o patrão Relvas deu meia volta e mandou recolher. Não entramos nessa guerra – sentenciou. E pronto, não há discussão, ninguém teima e não há guerra!

Não será certamente novidade que muita gente que achava que deveria ter feito greve tenha ido trabalhar. Como não é novidade nenhuma que a adesão à greve tenha sido grande no sector público e muito reduzida no sector privado. O que de algum modo terá suavizado os terríveis prejuízos para o país…

Se a mobilização para a greve advém das dificílimas condições de vida impostas aos portugueses – não importa se com ou sem alternativas, e nem sequer se com ou sem enquadramento no manifesto do Dr Soares – é claro que, da imensa e esmagadora maioria dos portugueses que vive os mais duros dias das suas vidas, grande parte estaria disponível para aderir à greve. Razões não lhes faltam! Muitos – muitos mesmo – não o fizeram porque não podem sequer prescindir do salário que perderiam. Outros não o fizeram por conflito de interesses. Pela consciência – particularmente no sector privado - de que o seu direito legítimo de fazer greve conflituava com o interesse da empresa que lhe garante o sustento ou - mesmo no sector público – de que o exercício desse seu direito prejudicava outros concidadãos.

É natural que a adesão se tenha concentrado no sector público. É historicamente assim. É aí que se concentram os trabalhadores – não digo os portugueses – mais penalizados e é aí, apesar de tudo e sem paradoxos, que ainda poderá residir alguma capacidade para perder um dia de salário. Vamos a ver se isto não dá mais umas ideias ao governo, acabando por descobrir que, afinal, ainda há lá mais uns trocos para sacar!

O resto são posições ideológicas. Os que são contra as greves. Porque sim! Os que as vêm como o remédio para todos os males. Ou os que as delas têm uma visão meramente instrumental. Os dos mas e até os que acham que a chinesa Dagong e a americana Fitch acabam de baixar o rating da República (mais um lixo) precisamente por causa da greve.

Há gente que não percebe que as sociedades precisam de válvulas de escape. E que, nas actuais circunstâncias, é fundamental que a mais que justificada indignação esteja institucionalmente enquadrada. Para que incidentes sem expressão - como simples actos de vandalismo em meia dúzia de locais (entre os quais algumas repartições de finanças) ou os incidentes do final do dia junto ao palácio de S. Bento – não venham abrir caminho a fenómenos de contestação difusos e inorgânicos, que facilmente degeneram em descontrolada violência social.

Greve geral - umas impressões

Por Eduardo Louro

   

Hoje tivemos greve geral… Pareceu-me pouco geral, mas pode ser só uma impressão. Para esclarecer isso aí estarão, mais logo nos telejornais, as centrais sindicais a reivindicar uma adesão … vá lá, de 90% e o governo a dizer que não deu por nada. 10%, se tanto!

Pronto, está bem, ficamos nos 80-20 e não se fala mais nisso!

Apesar do que já ouvi hoje por aí, a propósito da vox populi que nos chega através desses autênticos tesourinhos deprimentes que são as antenas abertas das rádios e até das televisões, estou convencido que, entre todos os outros portugueses que não entram nesses comboios, os portugueses bem pensantes, chamemos-lhe assim, nunca houve uma greve geral que recolhesse tanto apoio como esta. Mais uma vez pode ser apenas uma impressão, mas cheira-me que, desta vez, a greve geral não produziu qualquer clivagem na sociedade portuguesa. Foi pacífica, não obstante ter aparecido por aí um artista a atropelar uns empregados. Mas deve ter sido por terem atravessado fora da passadeira!

Mas a verdade é que também me parece que a greve geral mais consensual de sempre corresponde à greve geral mais inútil de sempre. É só mais outra impressão, mas parece-me mesmo que esta greve geral não serviu para nada. Amanhã estará tudo na mesma, quer dizer, pior, como todos os nossos amanhãs!

A greve, esse direito dos trabalhadores que, é bom não esquecer, apenas as democracias garantem, é um instrumento vocacionado para o espaço laboral. Quando passa essa fronteira e invade o espaço da política dá mau resultado. Fico com a impressão que perde a eficácia. É assim como utilizar um garfo para comer a sopa! Também serve para comer, mas não dá muito jeito para a sopa...

Pode ser apenas mais uma impressão, mas a greve geral, á nossa maneira – pacata, cívica ou mansa, como muitos dizem – para estas coisas, para as coisas que realmente estão agora em causa, não passa de folclore. Não é como os franceses e até mesmo os gregos. Aí não é só folclore. Aquilo assusta! E se assusta mete medo...

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