A Henrique Granadeiro seguiu-se, na Comissão de Inquérito Parlamentar ao BES, Pacheco de Melo, o administrador financeiro – CFO, como eles gostam de dizer – da PT. Que sabia algumas coisas e tem alguma memória – muito boa mesmo, como chegou a referir.
E a memória dele choca com a história de Granadeiro. E ajuda-o a contrariar o anterior Presidente do Conselho de Administração, que ontem assumiu a responsabilidade por apenas 200 dos 900 milhões de euros torrados no GES. Pelo contrário, segundo Pacheco de Melo, só não é responsável por 200. É responsável por 700 milhões. Com Zeinal Bava, que também ao contrário do que disse – ou do não disse? – teve conhecimento de tudo.
O CFO – que se mantém ainda na PT – diz que apenas foi moço de recados de Granadeiro, tratando das coisas no BES com Morais Pires, moço de recados de Ricardo Salgado. Que tratava de tudo com Granadeiro e Bava!
Nem por isso ficam menos graves as confusões de Henrique Granadeiro com a História de Portugal, a que ontem recorrera para, na sua relação com os accionistas da PT, se equiparar a Egas Moniz. Que deu por primo de Afonso Henriques, a quem se teria penitenciado pelo que grantia ter sido a sua única falha ("Desta vez falhei, mas em todas as outras cumpri"). A História de Portugal registou Egas Moniz como aio de Afonso Henriques, nunca como primo. E dela não consta que se tenha penitenciado perante o primeiro rei de Portugal de coisa nenhuma. Foi descalço e de corda ao pescoço até Toledo, acompanhado da sua esposa e filhos, para colocar a sua vida e a dos seus ao dispor de Afonso VII, rei de Leão e Castela, pela falha de Afonso Henriques. Que quebrou a vassalagem jurada sete anos antes, para colocar fim ao cerco de Guimarães.
Mas como é que estes gestores podem conhecer a História de Portugal se não conhecem as suas próprias pequenas peripécias?
Chegou hoje a vez de Henrique Granadeiro… Não esclareceu muito, é certo. Mas respeitou o Parlamento, respeitou a Comissão de Inquérito e respeitou os deputados. Não faltou ao respeito a ninguém, não gozou com a cara de ninguém… Não gozou com a nossa cara!
E como foi diferente de Zeinal Bava… Da noite para o dia. Se Bava deixara uma imagem de frieza, com nervos de aço, com as palavras medidas em milhões de euros, próxima do verdadeiro pulha, Granadeiro deixa uma ideia do santinho traído por uma crença. Escondida atrás da amizade. E as amizades não se traem… De tal modo que o maior “erro estratégico da sua vida” foi ter feito dupla com Zeinal Bava. Não foi ter confiado em Ricardo Salgado. Declarou-se injustiçado: “… foi o pior que podia acontecer à minha carreira”.
Há pouco tempo a PT era aquilo que seria a primeira multinacional portuguesa a sério. Uma empresa genuinamente portuguesa, moderna e inovadora, que inventara o pré-pago – um mimo – aberta para o mundo e disposta a abraçá-lo.
A sua gestão era glorificada, com títulos e prémios à escala mundial, nunca vistos em Portugal. Zeinal Bava, o prodígio da gestão, era disputado por todo o mundo!
Resistira à espanhola Telefónica, tendo apenas de lhe entregar a brasileira Vivo, mas à custa de muitos milhões: 7,5 mil milhões! Resistiria depois à bem portuguesa Sonae, mesmo que tendo de queimar em dividendos muitos dos muitos milhões da Vivo. Para se voltar de novo para o Brasil onde, perdido o lombo suculento, ainda havia umas peles. Como a OI.
Mas não se atirou às peles, entregou-se às peles… Salvava-se o gestor prodígio e, há precisamente um ano, era assinado o acordo para a fusão com a OiI, de que haveria de resultar a CorpCo que, sob a liderança do génio de Bava, se propunha tornar num player mundial, numa multinacional brasileira gigante no mundo global das telecomunicações.
Sabe-se o que aconteceu depois. Os galardoados prodígios da gestão afinal estavam enrolados com os Espírito Santo e quando isso se descobriu lá se foram não apenas os 900 milhões de euros mas também todas as auréolas. E pior – a respeitabilidade!
E aquilo que era há pouco o maior projecto multinacional da economia portuguesa vai simplesmente desaparecer. Não desaparece nas condições que o Grupo Espírito Santo desapareceu, mas desaparece exactamente como desapareceu o grupo com que se deixou prostituir. Talvez por isso a OI queira hoje misturar-se com os italianos da TIM, descartar a PT e devolver Bava à procedência.
E hoje a notícia é que a OI quer vender a PT – para ter almofada para a italiana – e que os franceses da Altice a querem comprar. E que por isso as acções até estão a subir!
Ah… o grupo francês da Altice é o dono da ONI e da Cabovisão. E vem-nos à memória, não uma frase batida - como na canção - mas uma OPA batida. Que a gestão da PT, à custa de uns muitos milhões, repeliu há pouco mais de sete anos. Engraçado!
Os brasileiros da OI também não sabiam de nada, mas logo que souberam trataram de corrigir os números da fusão, baixando o peso da PT de 37 para 25%. Zeinal Bava, esse também não sabia de nada. E também deixou a administração da PT, para se dedicar em exclusivo à OI, que comunicou a ocorrência da forma curiosa que se pode ler no comunicado: "Zeinal Bava, diretor presidente da Oi, deixará de exercer o cargo de presidente do conselho de administração da nossa controlada PT Portugal SGPS e os cargos de administração que exerce em determinadas sociedades detidas por esta empresa". Quer dizer, a PT deixou de ser parceira de fusão para ser agora uma empresa controlada pelos brasileiros. E no meio disto tudo, segundo conta hoje o Expresso, haverá mails de Ricardo Salgado que sugerem que os administradores brasileiros e o próprio Zeinal Bava tinham conhecimento da operação. Mas logo apareceu quem disesse que poderão ter sido forjados...e que portanto é possível que uma empresa em Portugal aplique 900 milhões de euros sem conhecimento da sua administração.
É este o maravilhoso mundo dos negócios... A alta finança à portuguesa!
Nada lhe pesa na consciência... E há-de provar-se que só fez bem... E no entanto o que fica é a ideia que está atrasado, que era insustentável e que há muito se deveria ter demitido.