Dois candidatos que não entusiasmam muita gente, nem lá nem no resto do mundo. Verdadeiro entusiasmo, de resto, só Trump desperta. Mas apenas por lá.
Uma coisa é certa: Trump é o melhor adversário que Hillary Clinton poderia desejar. E, curiosamente, o inverso também é verdadeiro.
Clinton pode ganhar. São maiores a suas possibilidades, apesar de tudo. Mas muito provavelmente não ganharia a nenhum outro adversário ... convencional, digamos assim. Se ganhar, Hillary não ganhará pelos seus méritos. Ganhará porque é preciso evitar que um tipo como Trump ganhe.
Trump pode não ganhar. Mas - cruzemos os dedos - tem ainda algumas possibilidades de vir a ganhar. Contra outro candidato - já não diria contra qualquer outro, mas contra outro candidato menos comprometido com o sistema, mais transparente, mais de carne e osso e menos de plástico - já não teria qualquer possibilidade.
E assim cá estamos de coração nas mãos. À espera... Apenas á espera, mas sem conseguir evitar roer as unhas...
De repente, o cenário eleitoral das presidenciais americanas virou-se de pernas para o ar. Aquilo que os debates televisivos pareciam ter garantido, não está mais garantido e a ameaça de Trump poder vir a ser presidente da ainda mais influente potência mundial é agora mais real. Mais real do que alguma vez tinha sido, e mais assustadora ainda. Até porque ganhou forma e dimensão depois de estar praticamente aniquilada.
Tudo isto porque o FBI, a uma semana das eleições, decidiu entrar de repente pela campanha dentro. À bruta, e sem pré-aviso!
Na sexta-feira, o director nacional do FBI, James Comey, enviou uma carta ao Congresso dando conta de reabrir a investigação aos mails de Hillary, que tinha sido dada por concluída em Julho. O tema, recordo, tem a ver com a utilização, por parte da Srª Clinton, enquanto responsável pela diplomacia americana no primeiro mandato de Obama, de contas privadas de correio electrónico, e portanto à margem dos requisitos de segurança do Estado. Em causa estava se essa utilização tivera o propósito intencional de desviar informação dos canais normais, e em causa está que é crime utilizar essas contas privadas para veicular informação classificada de segredo de estado.
Se o assunto estava encerrado, que sentido tem reabri-lo a uma semana das eleições?
Bom, o senhor do FBI diz que, ao investigar um congressista (Weiner), acusado de troca de mensagens de cariz sexual com uma menor, que fora casado com uma assessora da então Secretária de Estado, foram encontrados no seu computador novos mails, que eventualmente poderão conter informação classificada. E diz que, ao ter disso conhecimento, não o revelar seria favorecer Clinton.
O que não diz, mas toda a gente vê, é quem favorece, revelando-os. Pois... O que toda a gente no mínimo percebe é quem o Sr Comey decidiu favorecer, a oito dias das eleições. Quando sabe que não tem sequer tempo para concluir a investigação, e que acaba de lançar para o ar coisas - decisivas - que não tem condições de deixar provadas.
O patrão do FBI decidiu lançar uma bomba de elevado efeito destruidor para favorecer Trump. E lançou. Não é a primeira vez que o FBI se porta mal... Não é a primeira vez que o FBI alinha pelo lado mais reaccionário da América. É comum!
E nem é preciso recuar ao sinistro J. Edgar Hoover...
No fim do terceiro e último combate televisivo são já muito remotas as possibilidades de Trump chegar à Casa Branca. O mundo pode começar a respirar de alívio.
Não é que Hillary tenha deixado Trump no tapete, inanimado. Foi uma tareiazinha, não foi um tareão dos antigos. É que o ridículo Donald já diz que não aceita os resultados eleitorais...
Sem grandes novidades, o primeiro debate televisivo entre os candidatos às eleições presidenciais americanas de Novembro: Hillary Clinton - formal, institucional e conhecedora; Trump - mentiroso, arruaceiro e ignorante.
Nenhuma surpresa. A não ser que continuam empatados... Essa é que é essa!
Quem segue a campanha para a nomeação dos candidatos às presidenciais americanas, e se preocupa com estas coisas da democracia, aguardava o dia de ontem em Nova Iorque com grande expectativa. De New York esperamos sempre tudo, esperamos sempre que nos dê o melhor que podemos esperar. No fundo, de New York, esperamos sempre que supere as nossas mais altas expectativas. Por isso é mítica...
Mas este New York não é a nossa New York: o Estado não é a Cidade que nos esmaga o imaginário. E confirmou a tendência de outras paragens que perderam a capacidade de nos surpreender, confirmando Trump - com 70% dos votos - e Hillary Clinton - com 60% - matando de vez a esperança que os americanos conseguissem encontrar um digno sucessor de Obama. E também um sucessor digno de Obama...
Depois da miséria brasileira que vimos entrar porta dentro, esta a não é uma boa notícia para a democracia "all over the world". Escolher entre um louco extremista reacionário e o pior do stablishment político é, agora, a opção que resta aos americanos.
Ouvi ontem o Miguel Sousa Tavares (minuto 9) dizer que a campanha de Hillary Clinton vai custar 2,5 mil milhões de dólares e fiquei assustado. É assustador pensar que a democracia chegou a este ponto...Quando as campanhas atingem valores desta dimensão há fortes motivos para nos assustarmos!
Interrogamo-nos: que democracia é esta, envolta em tão brutais quantidades de dinheiro? E assustamo-nos. Eu assusto-me!
* Como se percebe não é para adjectivar o H, símbolo da campanha. Bem poderia ser, mas não é...
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