O tipo do Fiesta branco a cair de podre
Por Eduardo Louro
Umas centenas, que tranquilamente apreciavam a candura de um mar tão tranquilo que nem parece gémeo do outro, que do outro lado do promontório faz as delícias de não sei quantos Mcnamaras, e aproveitavam os últimos raios de sol deste cinzento e nada solarengo 2014, e outras centenas, de miúdos, e miúdas que se limitavam a aquecer as gargantas de cerveja para que mais logo estivessem no ponto, para a passagem de ano, enchiam a marginal. Linda, como sempre.
De repente um Ford Fiesta branco, a cair de podre, atravessa-se na rua com pouco trânsito, já condicionado para as festividades de logo á noite. Do vidro sai um pirilampo azul, que é colocado sobre a capota e, do carro, sai de imediato um tipo corpulento que, depois de meter a chave à porta do carro, segue com ar duro em direcção ao carro que fizera parar com aquela atravessadela brusca e desajeitada. Do curtíssimo diálogo que se segue nada se percebe. O tipo corpulento regressa ao interior do seu Fiesta, a cair de podre, que mantém atravessado, mas agora com uma nesga por onde acaba por passar o veículo interceptado, que encosta mais à frente. Logo depois o velho Fiesta regressa à sua posição inicial de completo bloqueamento do trânsito, e dele volta a sair o tipo corpulento, que volta a fechar o carro com a chave e passa a dar indicações à fila de carros entretanto criada para desviarem para a rua á direita para, acto contínuo, regressar ao velho Fiesta branco a cair de podre e desaparecer engolido pelo ex-libris que é a Praça Souza Oliveira. Encostado à direita continuava o carro tido por interceptado, e lá dentro o homem que poderia – sabe-se lá – explicar alguma coisa desta história esquizofrénica que por momentos, poucos é certo, trouxe um cheirinho recambolesco de Hill Street Blues ao fim de ano da Nazaré!
Bom 2015 para todos!