Não era propriamente novidade que o Papa Francisco não ignorava a homossexualidade, nem dela se escondia atrás de qualquer dogma. E era até conhecido que, enquanto servia como arcebispo de Buenos Aires, defendeu a união civil para casais homossexuais, mesmo que fugindo sempre a expressões como “casamento” e “família”.
No entanto, na qualidade de Papa, nunca se tinha manifestado tão assertivamente sobre o assunto como o fez agora, num documentário cinematográfico (Francesco) acabado de estrear no Festival de Cinema de Roma, chocando o mundo conservador, e em particular o conservadorismo da Igreja, ao defender uma lei civil que enquadre as uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Não é o casamento como sacramento da Igreja, mas o casamento enquanto quadro legal de relacionamento familiar, e o casal de pessoas do mesmo sexo como embrião de uma família. Mesmo que que nunca pronuncie a palavra “casamento”, enfatiza o termo “família: "Os homossexuais têm direito a ter uma família, são filhos de Deus [...]. Ninguém pode ser expulso de uma família, e a vida dessas pessoas não pode se tornar impossível por esse motivo", diz.
É mais uma oportunidade para que a Igreja Católica, pela mão deste Papa, dê mais um passo de aproximação às pessoas e à sua realidade, e se afaste de um mundo de trevas, cada vez mais remetido às profundezas da ignorância e até da barbárie.
Oficialmente a Igreja Católica continua a advogar que a homossexualidade é uma “desordem intrínseca”, e os actos homossexuais pecaminosos. Mas, agora, já sem legitimidade.
Com cada vez mais gente a assumir a sua homossexualidade, “ a sair do armário”, como se diz, sucedem-se revelações cada vez mais pitorescas. Agora, até bonecos e fantoches “saem do armário”… Ou tiram-nos de lá!
Foi o que aconteceu com o Egas e o Becas, duas das personagens mais conhecidas da “Rua Sésamo”, o programa infantil que fez as delícias dos mais novos nos anos 90.
Diz-se que já há anos que corriam uns rumores que aqueles dois… Bem, confesso que nunca tinha ouvido nada, mas também não sou de andar por aí a dar ouvidos a essas coisas. A vida é de cada um, e cada um faz com ela o que muito bem entender…
Mas… também os bonecos e os fantoches? Também os bonecos e os fantoches fazem com ela o que entenderem? – bem entendido…
Pois. É isso!
Parece que ao “sair do armário”, um dos guionistas do programa trouxe consigo o Egas e o Becas. E garante que eles tinham mesmo um relacionamento homossexual. Que partilhavam a mesma casa já se sabia, mas, caramba, podiam ser apenas amigos…
Não, jura agora o guionista, cujo nome para aqui não interessa nada. Eram mesmo namorados, como ele e o seu próprio namorado, um editor de cinema entretanto já falecido. E os traços de carácter aplicados a cada um dos fantoches eram os dele próprio e os do seu companheiro. E a conflitualidade dos bonecos não era mais que o espelho da sua relação com o seu namorado.
Os produtores do programa, sob a própria marca “Rua Sésamo”, não gostaram muito da ideia e vieram a correr dizer que "o Egas e o Becas são melhores amigos". E apenas duas personagens criadas para mostrar que duas pessoas muito diferentes, podem ser bons amigos. Mas depois também concluíram que são apenas fantoches, e que os fantoches não têm uma orientação sexual, projectando-se para um mar de acusações de homofobia, de onde não mais conseguiram sair.
Claro que esta polémica é um sinal dos tempos. Mas também me parece que estes tempos dispensariam bem que se fosse tão ao fundo do baú. Ou do armário. Valha-nos que já não está entre nós ninguém que possa vir agora dizer que o Pluto não era apenas mascote do Mickey, ou que aquilo entre a Minnie e a Margarida era muito mais que amizade, e daí o mau feitio do Donald…
* A minha crónica de hoje na Cister FM
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