À medida que o campeonato avança os jogos vão perdendo interesse. Por desgaste das equipas, por demais evidente, mas especialmente por saturação das propostas de jogo. Já nada de novo têm para mostrar nesta altura do campeonato.
Ontem foi mais um dia cheio, mas não um dia em cheio. Foi um dia de empatas. E de empates. Pela primeira vez ninguém ganhou. Mas o empate também servia para toda a gente!
O jogo inaugural, entre o Bloco e o PAN, foi enfadonho. Tinha o aliciante de ser completamente feminino, mas nem isso lhe deu grande alma. Com tanta convergência, Catarina Martins e Inês Sousa Real acabaram por afunilar sempre o jogo, retirando-lhe versatilidade e encanto. Quando afunilaram, não remataram. E só conseguiram jogar ao ataque quando partiram o jogo. E já se sabe - quando o jogo parte ganha emoção, mas perde rigor e consistência. Foi o que aconteceu, e ninguém ganhou com isso. Nem o espectáculo!
No jogo seguinte encontraram-se - não se confrontaram - PSD e IL, uma espécie de Porto - Portimonense. Aquilo pareceu muito mais um baile dos de antigamente - "a menina dança?" - do que um jogo de competição. E dançaram... dançaram ...
Para Rui Rio não podia correr melhor. A dois dias do jogo do campeonato, o único que realmente tem que ganhar, e no qual há muito concentra todo o trabalho semanal de treino físico e táctico, nada melhor que um baile para descontrair. E foi até bonito de ver como, em vez de jogar, dançaram. Com os passos sempre acertados, e sem pisadelas. Ninguém se queria aleijar, e por isso tiveram muito cuidado com os pés. E com o sítio onde os colocavam. Às vezes Cotrim de Figueiredo dava um apertãozinho mais malandreco, entusiasmava-se um bocadinho e lá saía uma pisadelazinha. Mas nada de grave, e voltava a encostar a cabeça.
Não foi desagradável à vista, e um foi um bocado bem passado. Mas estávamos à espera de um jogo, de uma competição que se resolve com golos, e não de uma dança de engate, que nem notas dá para a competição.
Rasgadinho foi o último da noite, sem surpresa, de resto. Livre e CDS não podiam fazer a coisa por menos!
Rui Tavares também já acusa algum desgaste. Foi a sua penúltima participação, a competição já vai longa, e isso notou-se. A ideia de jogo esteve lá, mas a condição física para a desenvolver já não é a melhor. Xicão não tem ideia de jogo - tem umas vagas ideias, com um ou dois séculos, do tempo em que o jogo nem sequer tinha ainda sido inventado - mas tem um novo fôlego (Sá Pinto que me perdoe...) que acrescentou uns truques (soundbytes) ao jogo de Lito Vidigal com que iniciou o campeonato. Continua a ser canela até ao pescoço, só que, em vez de cara fechada e dentes cerrados, é agora de riso aberto e boca escancarada. Pode até não doer mais, mas irrita ainda muito mais!
Ontem, domingo, foi dia de jornada completa, com os jogos uns em cima dos outros. Quem os quis acompanhar foi obrigado a autênticos golpes de Zaping, quase sem direito a intervalo, para não perder pitada.
Talvez pelo adiantado da competição, começa a perceber-se que algumas estratégias de jogo começam a acusar fadiga, e a deixar de resultar.
Os jogos fofinhos começam a ficar enfadonhos, e a dar para adormecer. Foi o que viu no encontro entre o Livre e o PAN, com Rui Tavares e Inês Sousa Real a embalar-nos para uma noite de sono tranquilo. Resistir a adormecer foi quase um acto heroico.
As propostas de jogo até eram interessantes, mas quando são muito iguais perdem atracção, e tornam o jogo pouco interessante. A proposta de Rendimento Básico Incondicional tem tudo para ser interessante, e para integrar estratégias de progresso no que mais importa do jogo; mas apresentada assim, sem disputa, acaba por passar despercebida e perder-se na sonolência instalada.
Acabou empatado. Dificilmente poderia ter outro resultado, até porque, pelo que se vai vendo, Rui Tavares - na competição pela via de uma espécie de repescagem - não perde um; e Inês Sousa Real não ganha nenhum.
A partida entre o PS e o CDS prometia. Francisco Rodrigues dos Santos, Xicão, ou simplesmente o mais jovem com a cabeça mais velha - rótulo bem colado pelo Cotrim de Figueiredo na partida que ambos disputaram - parecia o Moreirense. Percebeu-se que trocou de treinador. Despediu o Lito Vidigal e contratou o Sá Pinto. Não muda muita coisa, mas dá melhor imprensa: o que num é cacetada pura e dura, no outro é raça.
Foi isso. A mudança não foi mais que isso. Voltou a usar o "seu" Mercedes à porta, mas já sem evocar directamente a família de Famalicão. Percebe-se que está esgotado e, ao contrário do Moreirense, nem Sá Pinto lhe dá alento. Não tem ataque, nem meio campo, nem defesa. Não prepara os jogos, e depois não sabe o que fazer com a bola, não a consegue segurar, perde-a logo que lhe chega. Daí que António Costa se tenha limitado a passear pelo relvado. Não precisou sequer de se mostrar em grande forma grande para ganhar facilmente. Bastou-lhe não dar fífia
O jogo mais interessante da jornada acabou por ser o que opôs o Chega à IL. São equipas do mesmo campeonato, mas com argumentos de jogo completamente antagónicos. Os de Ventura são fraquinhos e gastos, e nem a troca do Mercedes pelo Porsche lhe valeu. Pelo contrário, trocou um Mercedes, parado, à porta, por um Porsche a circular. Mas, com o motor gripado, ficou logo ali.
Ventura ficou apeado, sem gasolina. Não tem uma gota de gasolina, e só agora é que percebeu que está encostado à beira da estrada. Vai ter que empurrar penosamente o carro até ao fim, e já nem vai receber mais palmadinhas nas costas de Rui Rio, sentado a ver o jogo e a aprender como se faz. Foi esta a fotografia do um jogo em que Cotrim de Figueiredo não se limitou a golear. Mostrou como se devem jogar estes jogos, e deu uma cabazada!
Já se percebe que começam a surgir os jogos fofinhos. À medida que o campeonato vai avançando, e com a aproximação do os dois verdadeiros candidatos ao título vão entrando em poupanças, a guardar forças para o grande clássico, o jogo de todos os jogos.
Depois do jogo fofinho de ontem, outro hoje. PS e PAN replicaram o PSD-CDS de ontem, e ofereceram-nos um jogo idêntico. A diferença esteve no espectáculo, que foi de muito melhor qualidade. Sem a pressão da competição, António Costa e Inês Sousa Real protagonizaram um bom espectáculo, com muita bola e tratada com propósito na área das alterações climáticas. É um jogo que, ao contrário do que sucede nos países com as melhores competições, não é muito jogado por cá.
Na verdade não haveria melhor oportunidade para este modelo jogo destes que um amigável. E especialmente um amigável destes, em que a sedução tomou o lugar da competição. Como é da praxe, estes jogos têm jogadas de encher o olho, acabam - têm de acabar - com muitos golos, mas empatados. Mesmo assim, sem ganhar, foi o melhor resultado da Inês Sousa Real na competição. E António Costa só não queria perder, o empate bastava-lhe.
O outro desafio, entre o Livre e o PSD, foi naturalmente diferente. Não foi exactamente fofinho - nem poderia ser - mas também não foi , nem de perto nem de longe, um jogo de faca nos dentes, onde valia tudo, como outros a que temos assistido. Rui Tavares, voltou a confirmar que tinha o jogo bem preparado, e teve sempre atitude competitiva, mesmo sem nunca passar das regras do fair-play. O adversário jogava à distância - nos estúdios da RTP no Porto - e isso também ajudou. Dificultava a competitividade e facilitava o fair-play.
Curiosamente isso não influenciou tanto assim o jogo de Rui Rio. Que não foi tão competitivo como Rui Tavares, mas também não teve o mesmo desportivismo. Rui Rio não jogou propriamente duro, mas mandou-se algumas vezes para o chão a rebolar, a fazer fita. E isso não fica bem a um candidato ao título!
Aconteceu assim nos momentos em que a bola era jogada para os apoios sociais. Logo que a bola entrava nessa zona Rio atirava-se para o chão a rebolar, com as mãos na cara como se tivesse sido apanhado pelos cotovelos do Rui Tavares. E, como todos que é fita quando o Octávio, do Porto, faz essas figuras, também vimos perfeitamente que os apoios sociais do Rui Tavares não eram nada as cotoveladas que Rio fingia.
Na maior parte das vezes o Octávio sai-se bem. E a sua equipa ganha. Rui Rio não se saiu bem, e voltou a perder. Não foi apenas por isso, porque perdeu praticamente em todas as zonas do campo. E Rui Tavares não perdeu ainda um jogo neste campeonato. O pior é outro, que vem a seguir!
Foram mornos, mesmo que surpreendentes, os jogos de hoje. Dois apenas, mais uma vez, pelas razões conhecidas. Para que houvesse os três do programa, teve de haver o do Sporting. Esse não foi morno, foi nos Açores e mais surpreendente ainda. Não correu nada bem ao campeão. Mas não é deste campeonato…
O primeiro opôs o PAN à IL. João Cotrim de Figueiredo parecia vir em ascensão, mas hoje apenas mostrou que já esgotou o reportório. Nada do seu jogo é já novidade, e não mostrou golpe de asa para nos manter agarrado ao jogo. Até o pontapé de saída é invariavelmente o mesmo E quando assim é sujeita-se a que até a Inês Sousa Real lhe ganhe.
O segundo jogo era um clássico. E dos clássicos espera-se sempre qualquer coisa mais. Se bem que deste, entre o CDS e o PSD, não se soubesse muito bem o que esperar - tanto poderia ser um daqueles jogos amigáveis, de mera exibição, que acabam sempre empatados e com muitos golos; como poderia ser um jogo entre adversários picados. Um, Rui Rio, que diz que joga melhor quando picado e, outro, Chicão, que, picado com toda a gente, tinha razões de sobra para estar picado com a tampa que Rio lhe deu há tão pouco tempo.
Percebeu-se logo ao apito inicial que iríamos assistir a um amigável. E percebeu-se que Rui Rio já sabia que seria assim. Sem pressão, com espaço para jogar à vontade, Rio apresentou-se distendido. E negou a sua tese do picanço.
E percebeu-se que o Chicão tinha percebido que não ganhava nada em entrar no jogo com a frustração da rejeição. E que estava ali mais para procurar o colinho que lhe falta do que propriamente para vingar a tampa. Percebeu-se ao longo do desafio como lhe é difícil pôr em prática esse modelo de jogo. Mas resistiu bravamente aos impulsos caceteiros, e apenas por uma vez resvalou para os "Mesquita Guimarães", que para ele é "os Mercedes à porta" do coiso.
E assim foi. Acabou por ser um jogo fofinho, com muitos abraços e promessas para o futuro, com um resultado que agradou a ambas as partes e, que, no fim, deixou ambas as bancadas agradadas.
Segunda feira é dia de Miguel Sousa Tavares (MST) na TVI. Comenta no telejornal e, depois, entrevista uma personalidade que por qualquer motivo esteja no centro da actualidade, já no canal de notícias daquela televisão. À boa maneira da TVI ( e não só), de forma a prender o espectador, a entrevista é sucessiva e amplamente anunciada durante a emissão do telejornal.
Ontem voltou a ser assim, e a entrevista de MST a Inês Sousa Real, a nova líder do PAN, foi anunciada ao longo de mais de uma hora. Num zaping caí exactamente num desses momentos e ... claro, funcionou - deixei-me esperar pela entrevista. Não por qualquer entusiasmo especial pelas personagens; apenas, conhecendo-se as posições do entrevistador, pela curiosiade de ver até que ponto aquilo poderia ser uma entrevista.
MST é um opinador, um profissional pago mais que, para "vender" comentário, para defender as suas próprias opiniões. É assim sobre tudo o que são as suas opções pessoais, do clubismo ao estilo de vida: jornais e televisões pagam-lhe para as defender.
Mas, uma coisa é um texto publicado num jornal ou opinião prestada numa televisão. Outra é, jornalisticamente, uma entrevista. Era por isso duvidoso que MST fosse capaz de conduzir uma entrevista contra um dos seus maiores ódios de estimação, e daí a minha curiosidade.
Não foi. E, em vez da anunciada entrevista, foi-nos servido um debate. Aceso, como poucos, e pouco sério como quase todos. Uma fraude televisiva com o ponto alto na última intervenção do entrevistador, quando calou a entrevistada com "essa não é a minha pergunta", como se aquilo tivesse sido uma entrevista.
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