Quando o inferno dos incêndios voltou a instalar-se entre nós, trazendo consigo tudo o que já sabemos que sempre traz – intermináveis debates nas televisões, sempre com gente muito conhecedora do fenómeno em todos os seus ângulos, entrecortados por intermináveis directos de fazer arrepiar – tivemos a notícia da greve dos motoristas, que se iniciará dentro de pouco mais de duas semanas.
O ministro já nos aconselhou a encher os depósitos dos automóveis, coisa que certamente a maioria de nós fará e que bem poderá fazer com que as bombas de gasolina fiquem esgotadas logo no início da greve, em vez de nos habituais dois ou três dias seguintes. Mas enfim…
Para além de combustíveis nos depósitos podem faltar também alimentos nos supermercados e medicamentos nas farmácias, mas aí já não chegaram os conselhos do ministro…
É, em pleno pique das férias, o inferno a estender-se para o litoral, lançando o caos nos hotéis, nas praias, nos restaurantes, nas cidades. É definitivamente tornar a vida dos portugueses num inferno: à maioria estragando-lhes as férias, aos outros, o trabalho. A todos, um país já tão estragado.
Parece que a ideia desta greve é também tornar as eleições num inferno para o governo, ao que consta de uns relatos que por aí andaram. Mas começa também a ficar a ideia que o governo está a levar isso muito a sério.
Para inferno, já lhe chega o que está a arder. E bem pode encontrar um coelho qualquer para, à boca do inferno, tirar de uma qualquer cartola...
Há nove anos também tivemos orçamento. Cheirava muito a queijo mas tinha vida. Havia vida para além do orçamento e nem se ouvia falar de défice, quanto mais de vida para além dele. Também não se falava de dívida e, de mercados, só fosse do peixe, do Bulhão ou da Ribeira!
E no entanto, de repente, quando ninguém esperava, chegou o pântano! O pantanal veio por aí fora, mais rápido e surpreendente que um tsunami, e transformou tudo num imenso e pelos vistos insuportável lamaçal!
O governo fugiu, e o país, nas palavras de alguém que também haveria de fugir pouco depois, viria a ficar de tanga!
Hoje, nove anos passados, o país secou, secou e … de pântano transformou-se num inferno. A arder por todo o lado. Insuportável!
Ontem terá sido o dia D. Um vento mais forte de um quadrante qualquer fez alastrar as chamas a uma velocidade maior que a do tsunami. E o governo volta a fugir!
Vai fugir como fugiu o de Guterres mas até a tanga já nos leva. Agora deixa-nos nos nus e descompostos! Espero que fiquemos também envergonhados!
É hoje claro que para o primeiro-ministro aquilo não passou de baile. Não era para levar a sério, era para continuar a fazer de conta. O seu parceiro de tango é que, como agora se vê, parece que levou aquilo um pouco mais a sério!
Entretanto o primeiro-ministro lá ia deixando correr o marfim. Num país virtual, ora tecnológico ora de novas oportunidades, em second life.
Percebia-se que o par dançava cada vez mais afastado, num tango já sem ponta de sensualidade. Nem um ligeiro encosto, um leve sarrafar!
Até que chegamos à beirinha do orçamento. O Presidente da República quer um orçamento negociado entre os dois para garantir a sua vidinha sem chatices: é música para os ouvidos de Sócrates! Que, porém, nada faz para se aproximar do par, que até parece cheirar mal dos sovacos, a precisar de patcholi.
Passa a dançar a solo, substituindo a música: agora é o Estado Social, tocado até à exaustão. Até o disco ficar riscado!
Claro que sabíamos no que ia dar a conversa do Estado Social. Simples: aumentar impostos mas nunca cortar na despesa! Subliminar: não reduzimos a despesa do Estado para não pôr em causa o Estado Social e para combater o défice temos que aumentar impostos. Outra vez!
Já ninguém se lembra que há quatro meses se havia acordado aumentos de impostos mas também redução de despesa! E que todos garantiam a pés juntos que não haveria mais aumentos de impostos!
E pronto! O ministro das finanças, como se acabasse de ser apanhado por uma enorme surpresa, a mesma surpresa do disparo do défice nos últimos dias do ano passado, lança o grito de desespero: digam-me como é que eu consigo reduzir o défice em 4,5 mil milhões sem aumentar impostos?
Logo a seguir é Pedro Silva Pereira: se não aprovam o nosso orçamento com os impostos que quisermos vamos embora. Já hoje, e desde Nova Iorque, é o primeiro-ministro que o confirma.
Está visto: esta gente, para reduzir o défice, só conhece um instrumento e uma única maneira de lhe mexer: aumentar impostos, ir-nos ao bolso!
Eu, por mim deixava-os ir embora. De vez e para bem longe. Pena que não fiquem a arder nas chamas do inferno que aqui criaram!
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