Fantasmas e ingenuidade
Em entrevista ao Jornal de Negócios, Maria Luís Albuquerque, induzida a responder que as actuais circunstâncias da situação económica e financeira do país estariam a abrir as portas a um novo resgate, foi peremptória a demarcar-se da resposta armadilhada: "não colocaria a questão nesses termos".
Em entrevista á CNBC, questionado directamente sobre a hipótese de um novo resgate, Mário Centeno respondeu "fazer tudo o que for necessário para evitar que Portugal tenha um segundo resgaste". E para que não restassem dúvidas, completou assertivamente: "É a minha principal tarefa" ...
Mais que a ingenuidade política de Mário Centeno, que explica por que é que Costa lhe dá tão pouca importãncia e não raras vezes o deixa mesmo em situações embaraçosas, o que salta à vista é a pressão á volta do Orçamento de Estado para opróximo ano.
Sabe-se que era aí, no Orçamento, que todos apostavam. Passados que foram os primeiros meses do governo, ultrapassado o fogo do Orçamento (tardio, como sabemos) para este ano, logos as baterias apontaram para o do próximo ano. No próximo é que seria. A geringonça não resistiria aos contornos incontornáveis do próximo orçamento. Em Setembro ou Outubro a coisa sucumbiria de morte natural. E se não fosse assim lá estaria a Europa pronta a deitar tudo a baixo, o que iria dar no mesmo.
Setembro ainda nem a meio vai, mas as indicações que vai dando não apontam para nada disso. A geringonça, mesmo revelando aqui e ali a eventual falta de uma pontinha de óleo, vai-se aguentando bem. Da Europa já se dá conta até de convergência, e aquela reunião dos países do Sul, no final da passada semana, altera por completo o cenário da ameaça europeia.
Perante tudo isso é preciso inventar novos fantasmas, e nada melhor que o fantasma de um novo resgate. Daí a pressa em trazer o tema para a actualidade. E daí razões acrescidas para António Costa ficar zangado com Centeno. Mas zangado a sério, mesmo que - e bem - não o mostre!