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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Do céu ao inferno

Do céu ao inferno. Foi esta a viagem que o Benfica fez, esta noite, na Luz. Do céu, da primeira parte, ao inferno, da segunda. 

O céu não foi tão celestial quanto o 3-0 ao intervalo poderia fazer crer. Foi uma boa exibição, mas não foi daquelas exibições arrebatadoras, de destroçar o adversário, de vertigem e magia. Mas foi a prova de que se podem fazer grandes exibições sem se ser avassalador. 

Sem grande exuberância, mas com uma equipa competente, o Benfica deixava a ideia de ter feito uma grande exibição, deixando no ar a sensação de ter chegado à Champions só depois de já ter visto a porta de saída. O Inter, com uma equipa inicial onde faltavam as maiores estrelas, teve mais bola, manteve as suas rotinas e nunca foi um adversário verdadeiramente submetido. A grande diferença, e a tal ilusão de ter chegado ao céu, foram os golos, os três de João Mário, em 45 minutos inesquecíveis. Não tem sucedido nada de parecido em termos de aproveitamento.

O intervalo mudou tudo. E aí vêem-se os treinadores. A perder por 3-0, Simeone mandou os mesmos jogadores para a segunda parte. Deve ter-lhes dito que, tendo sido eles a caírem no seu inferno, eram eles que de lá teriam de sair.

Não faço ideia do que terá dito Roger Schemidt aos seus jogadores. O que se viu é que, coisas que, antes, saíam bem, começaram logo a sair mal.

O passe de ruptura de João Neves, que na primeira parte teria chegado ao destino, foi interceptado e deu em contra-ataque, interrompido, em falta, pelo próprio João Neves, provocando um livre a pouco mais de 20 metros da baliza. O pontapé de Alexis Sánchez assustou de tal forma Trubin que, podendo perfeitamente agarrar a bola, desviou-a por cima da trave. Do canto surgiu o primeiro golo do Inter. A segunda parte ia apenas com 5 minutos e já se via que o jogo tinha mudado por completo. E o segundo golo veio logo a seguir.

Exactamente como acontecera na primeira parte com os golos do Benfica: aos 5 e aos 13 minutos.

Simeone deu então por cumprida a tarefa dos seus rapazes. Tinham eles próprios saído do inferno, e fez então entrar as principais figuras para fazerem o resto. Fez as cinco substituições em tempo útil. Thuram, Cuadrado e Barella todos de uma vez, logo a seguir ao segundo golo. Lautaro e di Marco dois minutos depois.

No Benfica nada acontecia. Mas ao Benfica tudo acontecia. Os golos que na primeira parte aconteceram com toda a facilidade, e felicidade, passaram a oportunidades flagrantes perdidas. O guarda-redes do Inter, que na primeira parte praticamente não tocara na bola, passou a defender tudo. O central Bisseck , de andar de cabeça à roda, passou a cortar tudo. E quando Di Maria e Tengstedt poderiam ter feito o quarto e o quinto golos, a sorte já tinha sido toda esgotada por João Mário.

E como tudo acontecia, de um atropelamento a João Neves à entrada da área adversária, que a arbitragem - mais uma, desastrada, na linha do que também tem acontecido nesta Champions - não quis ver,  resultou um contra-ataque que acabou num penálti assinalado a Otamendi, sobre Thuram, e transformado por Alexis Sánchez no golo do empate.

Havia ainda muito tempo para jogar - na realidade houve ainda mais de meia hora - e o inferno ficaria ainda mais profundo com a expulsão de António Silva, ditada pelo VAR, e provavelmente exagerada. 

Com dez, durante perto de um quarto de hora, ainda que no inferno, o Benfica conseguiu apenas resistir e salvar o empate. Que, só por isso, pela resistência no inferno, não é ainda mais amargo.

Interessam pouco as contas para Sazburgo. Foi com esse adversário, logo no primeiro jogo, que o Benfica abriu as portas do inferno, de que já não tem salvação. Interessa é perceber como a equipa vai do céu ao inferno em apenas 45 minutos. Perceber a inconsistência sistemática desta época.

Quero crer que alguém responsável ande à procura dessas explicações. Espero que sejam dadas porque, explicar tudo por sorte e azar, e por arbitragens, valha o que valer, só pode servir para o exterior. Para a equipa não pode servir!

 

Entre tantos equívocos, só uma certeza: o caminho na Champions está curto!

Ao somar, esta noite em Milão, a segunda derrota consecutiva, muito dificilmente o Benfica logrará assegurar um futuro na Champions desta época que vá além desta fase de grupos. O apuramento para os oitavos de final não é, hoje, uma miragem. Mas imensamente reduzida a probabilidade de ser outra coisa.

A derrota desta noite, frente ao Inter, no Giuseppe Meazza, sem adeptos do Benfica - à excepção das escassa dezenas dos que, pelas mais diversas formas, incluindo a de se fazerem sócios do clube italiano, pelo comportamento de uns poucos, precisamente lá, no jogo de despedida da passada edição - só tem tamanha consequência por se seguir à inesperada derrota na Luz, há duas semanas. Não fosse isso e, perder por 0-1 com o Inter, em Milão, seria um resultado desagradável, evidentemente, mas dentro de todos os cenários de apuramento.

Mas era essa a realidade. O Benfica já não podia alterar nada do primeiro jogo. Já só poderia, e deveria, fazer tudo para ganhar este jogo. Não seria fácil - nunca o é - porque não é fácil, a este Benfica, ganhar a este Inter. Muito melhor equipa, e com muito melhor futebol, que na época passada, em que chegou à final com o Manchester City. Mas mais difícil ficou com a declaração de Roger Schemidt que "o empate seria um bom resultado".

É que essa ideia transmitida pelo treinador foi transportada para a equipa. Desde logo na sua constituição, sem ponta de lança, com o ataque entregue à magia de Neres, Rafa e Di Maria. Também a estreia de Bernat, libertando Aursenes para o trio de meio campo, não terá sido grande ideia. Porque lateral espanhol ainda não está - nem de perto - pronto, mas também porque a equipa não está rotinada no 4X3x3 que daí resultava.

A primeira parte correu de feição (a lesão de Bah, aí a meio, é mais um contratempo, mas o Tomás Araújo até acabou por, como o jogo estava, revelar maior segurança) à ideia de que "o empate não era um mau resultado". O Benfica teve bola, muita mesmo. Mas era apenas para entreter. O Inter não se incomodava muito com isso. Estava claramente confortável naquele jogo, em que lhe bastava fechar espaços e espreitar o contra-ataque. É o seu habitat natural! 

A superioridade do Benfica era mais ilusória que real. Teve uma bola na barra, mas num canto (directo) de  Di Maria. Não se pode falar de uma oportunidade de golo, mas de um acidente de jogo. O mesmo não acontece com o penálti sobre Neres, à meia hora de jogo, que ficou por marcar. Mais um, a somar aos da Luz, há duas semanas. Já não são acidentes de jogo. Nem é acidental que em ambos os jogos o VAR não tenha intervido. 

Mesmo que a arbitragem holandesa (Danny Makkelie foi o árbitro principal) não tenha comparação com a daquela equipa turca que estivera na Luz na primeira derrota, voltou a ter influência directa no jogo e no resultado. Foi o penálti por assinalar, mas foi o próprio golo do Inter, que deveria ter sido invalidado, por falta - clara - sobre Otamendi, que não estava a disputar a bola, mas foi impedido de a poder inteceptar no caminho para a baliza. As arbitragens da UEFA estão a ficar muito parecidas com as de cá. Do burgo.

O que de melhor o Benfica podia tirar daquela estratégia do "empate é um bom resultado" morreu no apito do holandês. A estratégia, essa, também. Morreu no apito inicial para a segunda parte!

Aquele futebol de entreter da primeira parte, sem a esperada magia dos génios (Rafa, Di Maria e Neres nunca tiveram tempo nem espaço para a soltar) e com Kokçu desaparecido do jogo, tinha sido muito fácil para o Inter. Mas suficientemente desgastante para deixar mossa nos jogadores do Benfica: João Neves só há um!

Bastou ao Inter entrar com outra intensidade para acabar com a estratégia de Roger Schemidt. E transformar a segunda parte num pesadelo. Valeu Trubin, e a sorte que o Benfica não tem tido!

Trubin só não conseguiu evitar o golo - perdeu-se muita coisa em Milão, mas ganhou-se um guarda-redes, afinal a melhor contratação da época -, à entrada do segundo quarto de hora. E a sorte ... tem limites. 

A ganhar, o Inter ficou ainda mais com o jogo a seu jeito. A perder, o Benfica ficou ainda mais perdido no jogo. As substituições de Roger Schemidt limitaram-se a substituir os mais estourados, e a introduzir mais confusão na equipa. Que passou de nenhum ponta de lança, a dois: Musa e Arthur Cabral. Este ainda desfrutou da única oportunidade de golo criada. Mas seria sorte de mais que, um jogador que ainda não mostrou nada que justificasse a sua contratação, acabasse por, ao fim de tantos jogos, marcar pela primeira vez na única ocasião da equipa. E logo no jogo que não se podia perder!

 

Foram os anéis, salvaram-se os dedos!

Não era realisticamente expectável que o Benfica pudesse virar o resultado da eliminatória hoje em Milão. Não o era pelo que tínhamos visto do Inter, uma equipa de grande maturidade táctica, constituída por jogadores de grande valia individual; e não o era pelo que tem sido o Benfica das últimas semanas, num ciclo profundamente negativo, com uma sucessão de três derrotas.

Nestas circunstâncias, ultrapassar a diferença de dois golos que o Inter trouxera da Luz, se era o objectivo, era inatingível. O jogo confirmou isso mesmo, em nenhum momento o Benfica mostrou que poderia dar corpo à ideia perdida de chegar às meias-finais desta Champions.

Os objectivos para este jogo teriam de ser - e provavelmente seriam mesmo - estancar a série de derrotas e realizar uma exibição a que a equipa, e os adeptos, se possam agarrar para inverter a fase negativa que atravessa, matar a descrença, e afastar fantasmas.

À luz desses objectivos, o jogo foi interessante, e até empolgante. A perspectiva de ir além deles morreu cedo, logo aos 13 minutos. Quando, no primeiro remate do jogo, Barella marcou e deixou o Inter ainda mais confortável na eliminatória. E quando ficou claro que os argumentos que, em Lisboa, tinham sobrado à equipa italiana e faltado ao Benfica, voltavam a decidir este jogo de Milão. 

Esse golo evidenciou logo que o Inter continuava a ganhar todos os duelos. E que o Benfica mantinha no défice de agressividade o sua principal dificuldade para ultrapassar estes jogos de maior exigência. 

Foi nos duelos que os jogadores do Benfica perderam que perderam esta eliminatória. 

O Benfica só conseguiu o primeiro remate à meia hora de jogo. Mas, para isso, foi preciso um livre. De Grimaldo, que até poderia ter acabado em golo, não fosse a boa defesa de Onana. E chegou ao empate oito minutos depois, no segundo remate, na primeira boa movimentação colectiva da equipa, iniciada com um passe de grande visão de Florentino, continuada na movimentação de Gonçalo Ramos e de Grimaldo, a obrigar o muro italiano a abrir, no  cruzamento preciso de Rafa, e na excelente conclusão de cabeça de Aursenes.

O resto foi controlo do jogo por parte do Inter e, ao intervalo, mesmo com o empate, garantido só estava o desfecho da eliminatória. Os outros objectivos realistas do Benfica ainda não.

O Benfica entrou com Neres para a segunda parte. Entrou bem o brasileiro, e entrou bem a equipa. Desta vez não saiu Florentino. Saiu Gilberto, que nunca se tinha entendido em campo, com Aursenes a preencher a sua posição. Uma novidade, mas ainda haveremos de o ver na baliza. 

O Benfica entrou bem mas, mais uma vez, um erro de arbitragem para "enfeitar" esta eliminatória, depois dos da Luz. Carlos del Cerro Grande, o árbitro espanhol que no passado domingo protagonizou em Valência (no jogo com o Sevilha) uma das mais inacreditáveis arbitragens da era do VAR, não assinalou um penálti claro de Lautaro sobre Aursenes. O Benfica tinha a bola, e jogava no meio campo do Inter, que fechava todos os caminhos para a sua baliza, e parecia que estava a atingir os tais objectivos realistas.

Só que o Inter saía em contra-ataque sempre que podia. Na primeira vez que o pôde, ia a segunda parte a meio, Lautaro Martinez marcou o segundo, com uma grande execução, saindo pouco depois, substituído pelo compatriota Corrêa. Que, dois minutos depois de ter entrado, marcou o terceiro, em novo contra-ataque, e novamente num golo de grande execução. 

Em comum, nestes contra-ataques bem sucedidos, a exploração do flanco direito e da falta de rotina de Aursenes, e a falta de agressividade, passividade mesmo, no centro da defesa do Benfica. 

Faltava um quarto de hora para o fim, e o cenário mais provável era, então, de mais uma derrota. Ou até de um enxovalho capaz de afundar a equipa ainda mais.

Os jogadores sentiram isso, e e não deixaram que isso pudesse acontecer. E, ao que, não direi de bom, mas de razoável tinham feito, acrescentaram querer. E alguma agressividade, nunca antes vista. Gonçalo Guedes, que substituíra Ramos pouco antes do terceiro golo, mas especialmente Musa e João Neves, que entraram a substituir Rafa e Chiquinho logo a seguir, muito contribuíram para isso.  

E nesse quarto de hora só deu Benfica. Neres rematou ao poste. Três minutos depois António Silva reduziu, respondendo de cabeça a um livre de Grimaldo. Um dos raros golos de bola parada dos últimos jogos, curiosamente no jogo em que, mesmo sem que se tenham visto lances trabalhados, finalmente acabaram aqueles cantos curtos para trás que já só irritavam.

Nove minutos depois, já sob o cair do pano, Musa, com a presença na área que Ramos nunca conseguira, empatou o jogo, e confirmou os objectivos que, na realidade, havia para atingir.

O Inter foi melhor no conjunto da eliminatória. Foi tacticamente superior e tem inquestionavelmente melhores jogadores. Mas, no futebol, ser melhor num jogo, ou numa eliminatória, nem sempre decorre de ter melhores jogadores e até melhor táctica. É frequente que haja circunstâncias do jogo a contribuir para que uma se superiorize, e outra se inferiorize. 

Mesmo com o actual Benfica longe da "performance" anterior, a verdade é que, na Luz, há uma semana, ficaram dois penáltis por assinalar a favor do Benfica. Hoje, ficou outro. No jogo da semana passado, diz-se que por o VAR ser holandês, e estar interessado na posição da Holanda no "ranking" da UEFA. No de hoje, não sei qual seja a razão, mesmo que o Valência-Sevilha do passado domingo diga muito sobre este árbitro espanhol. 

De que não há dúvida é que, se estes três penáltis tivessem sido assinalados, tudo teria sido diferente. E, se não é líquido que o Inter tivesse sido melhor, é evidente que o resultado final da eliminatória teria sido outro.

Assim, não foi. Mas, assim, com o que foi, não há razão para não acreditarmos todos que este ciclo tenebroso se fechou hoje em Milão. Mas é preciso manter a revolta patente no último quarto hora deste jogo, sem adormecimentos. 

 

Circunstâncias, não atenuantes!

25

Ainda não refeito, volto ao jogo de ontem, com o Inter.

No enquadramento aqui desenhado ontem, dificilmente o jogo seria diferente do que realmente foi. Dificilmente poderia fugir às circunstâncias que marcam o actual momento do futebol do Benfica, do mesmo modo que o da segunda mão, em Milão, não poderá fugir ao que este jogo foi.

Ao contrário das expectativas geradas com o sorteio, em muito alimentadas pelo espaço mediático que marca o futebol em Portugal, o Inter não era o melhor adversário para o Benfica. Nunca o seria, nem mesmo à data do sorteio, quando o futebol encarnado era todo "cor de rosa". Para o Benfica seria sempre mais cómodo um adversário que jogasse futebol, o jogo pelo jogo.

Não é o caso deste Inter, seguramente a "mais italiana" das principais equipas italianas. A mais matreira, a mais "cínica" e fiel à velha escola transalpina. E, ainda por cima, servida por jogadores tecnicamente de primeiríssimo plano, e maduros. Com experiência para dar e para vender, que lhes dá o "calo" que lhes permite exponenciar a matreirice. 

O Inter soube garantir a superioridade numérica em praticamente todas as zonas do campo. Dos três centrais fortes, e "batidos", libertava Bastoni para subir e criar desequilíbrios complementando, sempre um pouco mais por dentro, as tarefas do lateral esquerdo Di Marco, já que o do outro lado, Dumfries fazia tudo sozinho. No meio campo,  Brozovic, Barella e Mkhitaryan - todos jogadores de alto nível - eram de mais para apenas Chiquinho e Florentino. Na frente, Dzeko e Lautaro ficavam em igualdade numérica com os centrais do Benfica. E, depois, havia ainda o próprio guarda-redes Onana a criar mais desequilíbrios. Que é o que fazem os grandes guarda-redes, quando sabem jogar com os pés. Ora na construção, ora a lançar directamente os atacantes.

Daqui não resulta um grande futebol, que o Inter decididamente não tem. E como não o tem, não é uma grande equipa. Mas tem grandes jogadores para interpretar a estratégia de não deixar jogar. 

Era necessário um grande Benfica para contrariar aquelas dificuldades. Só que esse não é o Benfica desta altura. Este Benfica só deu para momentos, sempre esporádicos e breves. Nesses deu para ver que, com a consistência de há um mês, poderia justificar a euforia à data do sorteio. 

Depois, as circunstâncias do jogo não ajudaram. Nem só um bocadinho. O Inter marcou logo no arranque da segunda parte, quando o Benfica até passava por um daqueles momentos, e na primeira vez que chegou á baliza do triste Vlachodimos. E, na reacção ao golo, o Benfica não foi feliz, naquele lance em que a bola não quis entrar. Nem no primeiro remate de Grimaldo, nem no segundo de Rafa, nem na tentativa final de Gonçalo Ramos, onde até sofreu falta para penálti. A arbitragem foi outras dessas circunstâncias.

As decisões da equipa de Michael Oliver tombaram sempre para o lado italiano. Nas pequenas e nas grandes coisas. Nas pequenas foi até confrangedora a actuação do árbitro assistente do lado dos bancos. Nas grandes, sobressai o penálti assinalado a partir do VAR, com que Lukaku fecharia o resultado, a 10 minutos do fim. Ao contrário, nunca teria sido assinalado. O VAR viu penálti naquela intervenção do João Mário, mas não o viu  quando Darmian desviou com a mão da bola, disputa com Grimaldo na sua grande área. Nem quando Acerbi deu forte e feio em Gonçalo Ramos, no tal lance aos 55 minutos em que a bola não quis entrar.

Até no tempo de compensação. Quatro minutos perdeu ele para confirmar a grande penalidade, a maioria à espera que as imagens lhe chegassem ao monitor. Depois houve as cinco substituições do Inter. E a única de Schemidt, talvez para poupar tempo. E ainda os largos minutos queimados pelos italianos, de todas as maneiras e feitios. Algumas escandalosas, como nos festejos dos golos, onde permitiu que todos os jogadores do banco invadissem o relvado. Ou como Onana sempre ultrapassou todos os limites. Não com a tradicional demora na reposição da bola, que os árbitros sancionam com amarelo, normalmente já no fim do jogo. Mas com a bola na mão, ou debaixo do corpo, ultrapassando claramente os limites de tempo estabelecidos pelas leis do jogo, e puníveis com livre indirecto.

São circunstâncias, mas os jogos também são feitos delas. Se os jogos da Champions se decidem em pormenores, estas circunstâncias são mais que isso. Mas não são atenuantes. E não se podem esquecer os "pormaiores". 

E o actual momento da equipa, e porventura o seu esgotamento, é mesmo o "pormaior" decisivo deste jogo. E desta eliminatória.

FUTEBOLÊS#133 BLOCO BAIXO OU AUTOCARRO?

Por Eduardo Louro

 

Bloco baixo: poderá parecer linguagem de construção civil mas não é. Aplica-se ao futebol e é mesmo futebolês!

Diz-se a propósito da postura de uma equipa em campo. Ou da forma como dispõe os jogadores em campo. Refere-se, no caso, à colocação dos jogadores na zona de protecção da sua área, no resguardo da sua baliza.

Antigamente, antes da explosão do futebolês como língua erudita dos especialistas das coisas da bola, dizia-se simplesmente que uma equipa estava a jogar à defesa e… fé em Deus. Defendia com onze – porque não podia jogar com mais – sempre de frente para a bola, sempre atrás da linha da bola, como também é fino dizer-se. Agora é mais erudito dizer que a equipa se apresenta com um bloco baixo: dizer exactamente a mesma coisa mas com mais classe. Acima de tudo com mais fair-play, sem achincalhar a equipa.

Para isso, para achincalhar, surgiu uma nova expressão: autocarro! Usa-se no futebolês popular, que já não diz que a equipa se apresenta num bloco baixo, nem sequer que vem jogar à defesa mas, de forma bem mais acintosa, que a equipa estacionou o autocarro!

Creio não estar errado – se o estiver, desde já as minhas desculpas – que é Mourinho o pai desta expressão. Pela minha parte não tenho dúvidas que foi da boca dele que a ouvi pela primeira vez. Substituindo uma expressão elegante como é o bloco baixo, e sendo, pelo contrário, achincalhante e acintosa, não admira que tenha mesmo sido criada por José Mourinho. Por ter sido a ele que a ouvi pela primeira vez e por ser tão ajustada à sua própria personalidade, é para mim indiscutível que é Mourinho o pai do autocarro!

Era então treinador do Chelsea, em pleno processo de dilatação do ego – um processo que apenas teve paralelo no da dilatação do fígado daqueles patos franceses para produzir o foie gras -, na altura em que se intitulou de special one, e deve tê-la usado para justificar um fracasso qualquer. Quem julgasse que o Mourinho tinha descoberto esta expressão numa célebre noite em que jogou com o Inter em Barcelona só podia estar distraído ou, de todo, não o conhecer.

Mal imaginava ele, na altura, que um dia haveria de vir a treinar uma equipa italiana e provar do seu próprio veneno… Na realidade sentiu-lhe o sabor. Se puxarmos pela memória lembrar-nos-emos que sentiu sempre a necessidade de justificar esse autocarro com o árbitro, como também não podia deixar de ser. Foi obrigado a isso porque o árbitro lhe expulsou um jogador - justificou. Mesmo que toda a gente tivesse dado pelo autocarro, lá bem estacionado, desde que o árbitro apitou mas para dar início ao jogo!

Mal imaginaria ainda que seria o seu Chelsea, anos mais tarde e então nas mãos de um treinador italiano, a repetir, no mesmo local e nas mesmas condições - meias-finais da Champions - o mesmo autocarro. Só que sem a desculpa de um a menos!

Ironicamente a história repetiu-se: os autocarros cumpriram a missão e ambos chegaram  à final, ambos encontraram o Bayern, e ambos acabaram por se sagrar campeões europeus. O Inter pela terceira vez, quarenta e cinco anos depois, e o Chelsea pela primeira!

 

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