Sem surpresa - todas as sondagens, há muito, o davam por certo - o partido de extrema-direita "Irmãos de Itália" ganhou a eleições italianas, e Giorgia Meloni, a discípula de Steve Bannon, será a primeira mulher a chefiar um governo em Itália.
Ainda não são conhecidos os resultados finais oficiais, mas deverão desviar-se muito dos apontados 26% ao partido da seguidora de Mussolini que, somados aos 8,9%, de Matteo Salvini - da Liga, antes Liga do Norte, até aqui o principal rosto da extrema direita italiana -, e aos 8% da Força Itália, de Silvio Berlusconi, garantem a maioria absoluta e a governação à extrema direita, e mais uma dor de cabeça para a Europa.
Depois da Hungria e da Polónia, agora a Suécia e a Itália. Depois, provavelmente, a França. E eventualmente a Espanha ... neste processo de normalização da extrema-direita há muito em curso, que culmina no rótulo de "centro-direita" que todos os media colaram a este resultado eleitoral em Itália.
Na maioria dos jornais e televisões em Portugal (ainda não vi o que vai pela Europa e pelo mundo) a notícia é que o "centro-direita" ganhou em Itália. Alguns - poucos - lá introduzem a expressão "extrema" para classificar a solução vencedora como coligação de centro e extrema-direita. Não nos dizem onde encontram o centro na tríade Meloni, Salvini e Berlusconi, e apressam-se a revelarem-nos uma Giorgia Meloni inteligente, capaz, moderada e tolerante. Quando nem um só desses atributos nos salta à vista.
A globalização, a descrença nas instituições e a desilusão com os políticos que as dirigem, lavraram o campo para a extrema-direita. A guerra e a inflação fertilizaram-no, e agora é vê-la crescer.
No passado não se soube, ou não se quis, mondá-la. Isolá-la. Agora normaliza-se a partir de Itália. E sabe-se do potencial da moda italiana!
La roja - mecânica - voltou, e está aí para iniciar um novo ciclo de domínio no futebol europeu e mundial. Para já, está na final da Liga das Nações, despois de um festival de futebol no Giuseppe Meazza, onde vingou a eliminação nas meias-finais do último Europeu, e impôs a primeira derrota à Itália em 37 jogos, e em três anos, e a primeira deste século em jogos em casa. E, já agora, a primeira em quase 100 anos naquele mítico San Siro, de Milão.
Um festival de futebol, este dos fantásticos miúdos espanhóis, a que os graúdos italianos, os campeões europeus, responderam com outro. De pancadaria.
O resultado - vitória espanhola por 2-1 - é apenas mais uma das mentiras em que o futebol é fértil.
A Itália vai estar na final de Wembley para discutir o título de campeão europeu, para encontrar a selecção que sucederá à portuguesa, que ainda assim é a segunda selecção que durante mais tempo foi detentora do título. Mais uma ano que qualquer outro campeão. Para fazer melhor, a Espanha teve de ganhar dois europeus consecutivos; a Portugal bastou-lhe que este Euro 2020 se realizasse em ... 2021.
Pelo que Espanha e Itália fizeram na competição, e mais ainda se contarmos com a fase de qualificação, os transalpinos merecem estar na final. Por este jogo de hoje, talvez nem tanto. Hoje a Espanha foi melhor que a Itália durante mais tempo, qualquer que seja a perspectiva com que se olhe para o jogo.
Um jogo que começou de forma verdadeiramente sensacional, e a prometer mais do que acabou por dar. O início dos jogos, e especialmente destes, decisivos, normalmente as equipas adoptam uma estratégia expectante, assim a modos de quem está à espera de ver o que aquilo dá. Os entendidos chamam-lhe mesmo "período de estudo mútuo".
Hoje não houve nada disso. Não havia nada para estudar, tinham feitos os trabalhos de casa. Pareceu que mais por culpa dos italianos, que entraram no jogo a todo o gás, como que a dizer que vinham convencidos que eram os melhores, e que tinham os galões de melhor equipa do torneio para puxar. Pressão alta, e a tratar dos espaços como sabem fazer como poucos.
Os espanhóis não pareceram muito surpreendidos com o feito - lá está, trabalho de casa! - e muito menos atemorizados. Pelo contrário, puxaram do seu futebol, o tal de que já aqui falamos, de "muita parra e pouca uva" . E fizeram muito bem, porque esse futebol desta vez tinha muito para lhe dar. Desde logo, e não era o menos, era mesmo decisivo, tirava a bola aos italianos. E sem bola, nem os italianos jogam, por muito que bem saibam jogar sem ela.
E foi isto toda a primeira parte, o que não quer dizer que tenha sido desinteressante. Não foi, mesmo que também não tenha dado para cumprir as promessas dos minutos iniciais. E ia sendo assim pelo tempo fora, sempre a deixar no ar que os espanhóis não tiravam uvas debaixo daquela parra, e que os italianos haveriam de encontrar ali maneira de chegarem eles às uvas. Ou através de um contra-ataque ou, sabe-se lá se não lhes passou pela cabeça, através de um bónus de Unai Simón, que é um mais vezes um susto que um guarda-redes. Se passou, não estavam de todo enganados. A sua parte não ficou por fazer.
Quando, chegada a hora de jogo, Chiesa marcou mais um grande golo deste campeonato europeu, pensou-se que .. já estava. O inevitável não se pode evitar. É assim por definição!
O golo confirmou todas as expectativas. Até na forma como foi construído - Donaruma recebe a bola de um ataque espanhol, coloca-a rapidamente a rolar aos pés de Chielini ali à saída da área, um passe longo seguido de um segundo, e bola em Chiesa, para uma execução daquelas de que se fazem os grandes golos.
E os minutos que se seguiram foram de uma equipa italiana em controlo absoluto do jogo. Foram 20 minutos, que somados aos primeiros sete ou oito, no arranque da partida, perfazem o tempo em que a Itália foi melhor que a Espanha neste jogo. Esses 20 minutos acabaram quando a selecção espanhola recuperou uma bola no meio campo italiano e "engatou" uma bela jogada de bola, concluída por Morata, acabado de entrar, numa tabelinha perfeita com Dani Olmo, um jogador que aqui há uns anos, num jogo para a Liga Europa entre o Dínamo de Zagreb e o Benfica, era ainda uma criança, deixou toda a gente impressionada. Mas parece que só os tipos do Leipzig é que repararam nele.
Faltavam 10 minutos para o fim do jogo, e a Espanha voltou a estar melhor. E melhor continuou na primeira parte do prolongamento, não tanto na segunda, quando toda a gente passou a pensar nos penaltis. Que os espanhóis estavam fartos de treinar na competição. Mas sem grandes resultados, mesmo que tivesse sido assim que tinham eliminados a Suíça.
De resto nem foi muito diferente o que se passou desta vez. Só que ao contrário. Também a Itália desperdiçou o primeiro, com defesa de Unai Simón. E a Espanha marcou o seu primeiro, e passou para a frente. O pior veio depois, com os dois da tabelinha do golo a desperdiçarem sucessivamente, deixando ao italo-brasileiro Jorginho a ocasião de arrumar o assunto. Superiormente, com uma classe tremenda!
Itália e Bélgica discutiram em Munique o acesso às meias-finais, no mais entusiasmante jogo destes quartos de final.
A Itália confirmou todos os créditos que tem vindo a conquistar nesta competição, com o seu futebol de autor, e com assinatura. Confesso que, tendo sido grande admirador do futebolista Mancini, o treinador Mancini nunca me tinha entusiasmado. Até aqui!
O que Mancini fez do futebol da squadra azurri é deveras impressionante. É sem dúvida o grande futebol deste Europeu!
Os italianos começaram logo por impor o seu futebol de campo todo, ora de pressão em todos os metros quadrados, ora de colocação milimétrica a anular linhas de passe ao adversário. De ocupação de espaços, de circulação, da bola e dos jogadores, e de exploração dos espaços do adversário, tudo isto numa dinâmica de jogo absolutamente única neste Europeu.
Não obstante tudo isso foram dos belgas, em transições rápidas a criar as duas primeiras, e as melhores oportunidades para marcar. Duas, ambas negadas por Donaruma, provavelmente, aos 22 anos (parece um veterano, não é?), o melhor guarda-redes do mundo, mesmo que ainda no primeiro quarto de hora de jogo Bonucci tenha feito entrar a bola na baliza de Courtois, depois anulado por fora de jogo.
Quando à passagem da meia hora Barella fez o primeiro golo, numa excelente execução, rodeado de adversários, apenas aconteceu a coisa mais natural deste mundo. E quando, pouco mais de 10 minutos depois, Insigne executou mais uma obra de arte para a galeria deste Europeu, aconteceu exactamente o mesmo.
A equipa belga estava encostada às cordas, e a superioridade italiana era demasiado flagrante. Só que … Há sempre um que. Em cima do intervalo o lateral direito italiano, Di Lorenzo, cometeu penalti - afastou com o braço, dentro da área, o endiabrado Doku, hoje o melhor dos belgas - e Lukaku reduziu para o 2-1, que faria o resultado final.
Com este golo a Bélgica foi para o intervalo com condições de discutir o resultado, coisa que antes não era fácil de imaginar. No regresso para a segunda percebeu-se que os belgas até poderiam ter condições de discutir o resultado, de discutir o jogo é que parecia que não. Os italianos continuaram a mandar no jogo, e a espalhar futebol pelo relvado, com os belgas incapazes de contrariar tamanha superioridade, até porque De Bruyne, ao contrário de Eden Hazard, havia sido recuperado para o jogo sem que nunca parecesse recuperado. Menos ainda à medida que o tempo ia passando.
Só que … Desta vez é diferente. Mas a verdade é que nos vinte minutos finais - mais com o coração. é certo, mas o jogo também se faz de alma e de querer - a Bélgica virou o rumo do jogo. E poderia até ter chegado ao empate. Só não chegou porque Spinazzola conseguiu, só porque estava ali, desviar uma bola tocada por Lukaku - que assim igualaria Cristiano Ronaldo - a centímetros da baliza (na foto).
Spinazzola. o melhor lateral esquerdo deste europeu - se bem que com muitos rivais, esta é a posição em que mais jogadores se distinguiram nesta competição - evitou este golo e, logo a seguir, esteve na última oportunidade de golo da Itália, que poderia ter fechado o jogo, antes de se lesionar, com aparente gravidade, e abandonar o campo e certamente a prova. Vai ser uma baixa de relevo na equipa de Mancini para o que resta do Europeu.
E o que resta à Itália dificilmente se reduzirá ao próximo jogo. Ficará ainda a faltar provavelmente o da final, com a Inglaterra. Provavelmente … o tal slogan da tal cerveja dinamarquesa.
Em Amesterdão o País de Gales até entrou bem no jogo, e foi melhor nos primeiros 15 a 20 minutos do jogo, com Bale a assumir o protagonismo. Pertenceram-lhe então uma série de remates, mesmo que só um deles com alguma probabilidade de sucesso, bem executado, com a bola a sair ligeiramente ao lado, com Schemeichel batido. Foi á beira do quarto de hora de jogo, e ficou como a única oportunidade galesa em todo o encontro.
Depois a Dinamarca mostrou como estabilizou com a goleada sobre a Rússia, que lhe garantiu o apuramento, e começou a espalhar pelo relvado o seu futebol, que tinha começado a mostrar no primeiro jogo, há precisamente duas semanas, o do grave acidente cardíaco de Eriksen, que retomou, ainda que sob alguma instabilidade emocional, com a Bélgica, e que estabilizou finalmente no jogo com a Rússia.
Marcou aos 27 minutos, por Dolberg, que substituía Poulsen, o avançado de serviço, lesionado, e a partir desse golo não mais permitiu qualquer veleidade aos galeses, engolidos pelo futebol dos vikings. Logo no arranque da segunda parte o mesmo Dolberg voltou a marcar, e percebeu-se que a questão já apenas seria por quantos a Dinamarca iria ganhar.
Maehle, o lateral esquerdo que acabou de chegar da selecção sub-21e que, como já aqui referi, é um dos melhores, se não mesmo o melhor deste Europeu, e Braithwaite deram a resposta, já nos minutos finais ~ 4-0!
Em Wembley Itália e Áustria proporcionaram um grande jogo de futebol, emotivo e muito disputado.
Ao intervalo parecia que seria uma cópia decalcada do outro. Surpreendentemente os austríacos entraram a todo o vapor, primeiro a pegar e pois a mandar no jogo. Aos 10 minutos de jogo tinham 73% de posse de bola. Impensável!
Quando se esgotava o primeiro quarto de hora já os italianos tinham as peças da sua máquina de futebol afinadas, e no fim da primeira parte já dominava em todas as variáveis do jogo, e acumulava oportunidades de golo que faziam do 0-0 um resultado lisonjeiro para os austríacos. Só que a segunda parte não confirmou o ascendente italiano, pelo contrário. A Áustria voltou a entrar por cima do jogo, que não mais evoluiria como na primeira parte.
Os austríacos foram até melhores. Valeu então o VAR aos italianos, a quem a arbitragem dentro campo também ia favorecendo. Em pequenas coisas, é certo, mas daquelas que se sabe que pesam no jogo. Dois foras de jogo de VAR anularam um golo e evitaram um penalti aos austríacos, numa segunda parte em que os italianos não lograram uma única oportunidade clara para marcar.
E a surpresa aí estava. Bastou à Áustria levar o jogo para prolongamento para consumar a primeira grande surpresa dos oitavos de final.
Se os recursos que a Itália dispunha em campo já eram muito superiores aos da Áustria, a diferença no banco era ainda maior. E então sim, no prolongamento essa diferença notou-se. Não terá sido simples coincidência que os golos italianos, Chiesa (grande execução) no primeiro, e Pessina, no segundo, tenham vindo do banco. Mas a selecção austríaca não queria sair da competição sem mostrar a fibra de que é feita. E nem com dois golos sofridos no prolongamento perdeu a alma. E quando se começava a pensar que a questão já não era quem conseguiria ganhar à Itália, mas quem lhe conseguiria marcar um golo, a Áustria deu a resposta Donaruma adiou o golo, com uma defesa espantosa. Mas não conseguiu impedi-lo, a seis minutos do fim do prolongamento, e levando o sofrimentos italiano até ao último segundo.
Parabéns ao Sr Foda, e aos seus jogadores - grande lição deixou a Áustria ao regressar a casa. A Itália não deixou de ser a equipa do melhor futebol que se tem visto, apenas permitiu que mais uma vez se confirmasse que o futebol não é ciência. E espera agora por nós. Esperamos nós, que não gostamos de deixar que a esperança morra!
Hoje fechou-se o grupo A. Com a Itália já com o apuramento garantido, só com vitórias, e a Turquia só com derrotas, Suíça e País de Gales disputavam o segundo lugar no grupo, que garantia também e desde logo o acesso aos oitavos de final da prova.
Curiosamente usufruíam ambas de vantagens do calendário. Os galeses porque, jogando com a Itália já apurada, defrontariam um adversário em poupança, que daria descanso às suas principais individualidades, e portanto teoricamente menos difícil. Os helvéticos porque encontrariam um adversário desmotivado, que falhara em toda a linha as expectativas que trouxera para esta competição, numa dinâmica de derrota que, especialmente em torneios deste género, muito curtos, é muito difícil de inverter.
Nestas circunstâncias a vantagem da Suíça pareceria mais interessante. Mas no fim foi a selecção do País de Gales quem saiu a ganhar. Não tanto que a sua vantagem tivesse sido mais evidente, mas pelas próprias circunstâncias do jogo.
Em Roma, fazendo o pleno dos jogos de apuramento em casa, a Itália, mesmo com uma equipa de segundas linhas, com oito alterações na equipa, manteve o seu futebol, do melhor e do mais excitante deste Europeu. Com os mais utilizados, ou com os outros, as mesmas dinâmicas e a mesma qualidade.
Porque o jogo de ontem da selecção portuguesa ainda é actualidade, abro um parênteses para lançar um pequeno desafio: quantos jogadores da selecção italiana, posição por posição - e tiremos os guarda-redes, cujo contributo para a qualidade do futebol é pouco relevante - , são claramente melhores que os portugueses?
Não é preciso ir consultar o "Tranfermarket", mas se o fizermos a resposta não será provavelmente muito diferente: um. Jorginho. A selecção de Fernando Santos não tem um centrocampista como ele. O que mais se aproxima das características do italo-brasileiro é Rúben Neves. Mas não calça. Nem a equipa está rotinada para o seu futebol.
É isso. O melhor futebol desta primeira fase do Europeu é apresentado por uma equipa que, individualmente, não tem mais que um jogador superior aos portugueses.
Fechado o parênteses, a Itália voltou a ganhar, num jogo bem disputado e interessante de seguir, e fechou o apuramento com o pleno de vitórias e sem sofrer golos. Com a mesma qualidade, e ainda com a oportunidade de mostrar serviço nas bolas paradas. Foi num dos chamados lances estudados que fez o golo (por Pessina, alguém já ouviu falar?), que foi único porque assim calhou. E assim calhou porque, noutra demonstração do trabalho de laboratório a bola esbarrou no poste.
Os galeses sabiam que, se escapassem à chapa 3, ficariam em boas condições de segurar o segundo lugar, mas isso não os impediu de disputar o jogo no campo todo. Foram uma equipa completa (mais um exemplo: têm três jogadores de elevado nível - Ramsey, James e Bale - mas os outros são jogadores das divisões secundárias do futebol inglês), com identidade, e que nunca se deixou atropelar pelo futebol italiano. Nem mesmo jogando em inferioridade numérica desde os 10 minutos da segunda parte.
Em Baku, num Estádio que destoa neste Euro, antigo e à antiga, que a Turquia feito sua casa, o jogo valeu pelos golos. Quatro, todos excelentes. Mas com dois verdadeiramente fantásticos -o segundo da Suíça, e primeiro de Shaqiri, e o único dos turcos na prova, de Kahveci.
A Turquia não conseguiu resistir à dinâmica de derrota, e falhou rotundamente em especial na transição defensiva. A Suíça, com Seferovic a fazer um bom jogo (marcou o primeiro golo -bem cedo, na primeira vez em que a equipa chegou à baliza turca, e esteve soberbo no passe para o segundo, o tal primeiro de Shaqiri), aos 26 minutos já ganhava por 2-0. Mas foi o seu guarda-redes quem mais, e mais difícil, trabalho teve em toda a primeira parte, com três defesas que eram de golo.
Na segunda parte foi o inverso, aí foi o guarda-redes turco a ficar com esse papel. E Sommer não teve praticamente nada para fazer. Porque nada tinha a fazer no extraordinário golo dos turcos.
Shaqiri foi, com dois golos e uma exibição fantástica, o homem do jogo. Como é diferente ser a estrela da companhia!
Não foi este jogo que afastou a Suíça do segundo lugar. Foi o 0-3 da Itália que lhe deu os dois golos de diferença para os galeses que os empurrou para o terceiro lugar, e os deixa de credo na boca até quarta-feira. Os 4 pontos podem não ser suficientes para fugir aos dois terceiros que vão ficar de fora. Mesmo que Portugal até possa dar uma ajuda…
À entrada para a segunda jornada da fase de grupos da competição a Itália garantiu o apuramento para os oitavos de final. E continua a mostrar que tem a mais qualificada proposta de futebol que este Europeu tem para mostrar.
De novo, como sempre, no Olímpico de Roma, repetiu o resultado da estreia, um claro 3-0, agora à Suíça. Que não joga, nem jogou, até assim tão pouco, mas está em sérias dificuldades para seguir em frente. A renovada squadra azurri de Mancini, hoje mesmo azurri, é que joga mesmo muito. E deixa jogar muito pouco.
Os helvéticos criaram apenas uma oportunidade de golo. Duas, mas na mesma única jogada. Não tiveram mesmo a mínima chance de evitar a derrota, mesmo que tivessem entrado bem no jogo, entrada que repetiriam no início da segunda parte. Decididamente, este Europeu não lhe está a correr bem. Nem à direcção do Benfica, que esperava que Seferovic viesse a render algum dinheiro. Não vai sair valorizado, e hoje até saiu logo ao intervalo. Sem que a equipa tivesse ganho grande coisa com isso, valha a verdade.
Jogou pouco porque não joga muito. Mas também porque nem o adversário nem o seu treinador o deixaram jogar mais. Se é discutível a sua substituição, mais discutíveis são as funções que o treinador lhe atribuiu.
A Itália, para além da máquina de futebol em que está transformada, beneficia ainda da anti-desportiva montagem deste euro 2020, de 2021, que Platini - o jogador fabuloso que foi não merecia que o miserável dirigente, que também foi, lhe conspurcasse tanto o nome - deixou em testamento. Joga, como mais umas quantas selecções, todos os jogos da fase de grupos em casa, quando os adversários têm de andar com as malas ás costas, em longas horas de viagem. E também por isso chegará certamente em melhores condições que os adversários às fases decisivas da competição. À excepção da Inglaterra, que ainda joga em casa essas fases.
Só a França, que é de outro campeonato, terá condições para esbater esse handicap.
No mesmo grupo A, o País de Gales ganhou à Turquia, que dificilmente deixará de ser o bombo da festa do grupo. Uma desilusão esta equipa turca, que vinha de uma auspiciosa fase de apuramento, com apenas 3 golos sofridos, e ganhando em casa à França, e empatando em Paris.
Foi o jogo que marcou a primeira participação da arbitragem portuguesa, na pessoa do "melhor árbitro nacional". Esse, o Artur da pastelaria. Que assinalou um penalti sobre o Bale que não lembraria ao diabo. A única explicação que se encontra é os turcos jogarem de camisolas vermelhas. O próprio craque galês deve ter achado aquilo tão escandaloso que achou que o melhor era mandar a bola para a bancada.
Achou que seria mais bonito, até porque já estava a ganhar. Através de um golo que merece ser contado, porque aconteceu tudo ao contrário do que há pouco tempo seria suposto - um passe sensacional de Bale do meio campo, com desmarcação de Ramsey que em plena área adversária recebe no peito e dispara para golo. Tudo ao contrário do que seria de esperar. Porque Bale também já não é o mesmo, não é só com Cristiano Ronaldo que estas coisas acontecem. Só que este Bale, mais recuado - para quem não se lembra, começou como lateral esquerdo no Southampton - a pautar o jogo no meio campo não é, antes pelo contrário, menos entusiasmante que aquele outro que explodia para a baliza.
No fim, já para além do período de compensação determinado pelo Artur - alargado por força de umas trocas de murros e empurrões entre os jogadores em que demonstrou faltar-lhe a autoridade de que por cá abusa - Bale esqueceu-se de guardar a bola e entrou por ali dentro para a entregar para o segundo golo, e fechar o resultado.
No primeiro jogo do dia, que abriu também a segunda jornada no grupo B, a Rússia, também a jogar em casa, ganhou (1-0) à Finlãndia, que não devia ter ganho aquele jogo de sábado à Dinamarca. Livrou-se boa, até porque logo no início do jogo viu o VAR anular um golo aos finlandeses. Mais um, depois dos dois de ontem à França, e de outro, hoje, à Itália.
Dado que neste grupo manda a Bélgica, é bem provável que todos fiquem com 3 pontos. Isto se a Dinamarca, que é bem melhor que os adversários directos, conseguir reagir ao infortúnio que a marcou no jogo inaugural.
Aí está o 16º campeonato da Europa de futebol. Arrancou hoje, em Roma, e cheio de novidades. Chama-se Euro 2020, mas joga-se em 2021. Em 12 países. Com um estádio sempre cheio, o Puskas Arena, em Budapeste, e todos os outros com as bancadas bem rateadas. É o primeiro em que as selecções tiveram a possibilidade de convocar 26 jogdores, e os treinadores a de fazerem cinco substituições. E é o primeiro com VAR...
Para novidades, nada pouco. E com tanta novidade, o jogo de abertura não poderia deixar de também ter novidades. Vieram do lado da Itália, a jogar em casa. E não foi por a squadra azurri ter surgido bianca. Foi mesmo pelo futebol que apresentou, com pouco - nada, mesmo - a ver com o estereotipo transalpino.
Em vez do seu habitual futebol expectante e especulativo, a equipa agora treinada por Mancini apresenta um futebol cheio de iniciativa, que manda no jogo e vai para cima do adversário. Não fica à espera de nada, nem de ninguém, assume o jogo por completo. E a jogar bem, com um futebol que arrebata, quando dantes era muitas vezes enfadonho.
Claro que a fase de apuramento 100% vitoriosa, com 10 vitórias em outros tantos jogos, e com 37 golos marcados e apenas 3 sofridos, é o melhor cartão de visita para apresentar à entrada de uma competição destas. Mas há sempre possa achar que um belo cartão de visita não é exactamente uma carta de recomendação.
Essa, a carta de recomendação, apresentou-a logo na estreia, à custa de uma selecção turca que resistiu enquanto pôde. E só pôde na primeira parte. Depois caiu, e foi cilindrada.
Começou a cair com um auto-golo - de Demiral, o central da Juventus, que chegou a passar pelo Sporting - também uma novidade. Nunca tinha havido um auto-golo num jogo de abertura de um campeonato da Europa. Mas foi numa daquelas bolas que entraria sempre. Era um golo que não ficaria por fazer. Que se adivinhava a todo o momento, como se adivinharam os restantes dois, que acabaram por dar o tom expressivo ao resultado, que a exibição bem justificou.
Não tem grandes estrelas mediáticas - o que até tenho por mais uma vantagem - mas está apresentado mais um candidato a levantar o troféu, de hoje a mês. E dos mais fortes!
Em Espanha, o governo de Rajoy caiu. Resistiu a tudo, até à desastrada gestão do dossiê Catalunha, onde as vagas de prisões mais fizeram lembrar a ditadura franquista, mas não resistiu à podridão interna. É quase sempre assim na política, nos regimes como nos governos: apodrecem e caem, por si.
A corrupção - Rajoy puxou do curioso argumento que a existência de corruptos no PP não faz do PP corrupto - teria de levar Rajoy à única saída possível: a demissão. Como não quis sair pelo próprio pé, saiu empurrado pela moção de censura do regressado Pedro Sanchez, que vai agora formar governo. Sim, porque o regime espanhol pode ter muita coisa má, mas não brinca às moções de censura. Quem censura tem de ter alternativa de governo!
E o PSOE tinha. Nem que para isso tivesse de garantir que mantinha o Orçamento (Presupuesto) em vigor, que o PP tinha negociado com o Partido Nacionalista Basco para, garantindo-lhes as vantagens adquiridas, garantir o seu voto. Coisa que, curiosamente e para percebermos a informação que recebemos, levou a RTP a dizer que o novo governo do PSOE garantia os pressupostos da governação do PP.
Também de Itália chegam notícias interessantes. A democracia de geometria variável da UE tinha levado o Presidente italiano, no início da semana, a recusar o o nome de Paolo Savona, dito eurocéptico, para a pasta da economia e finanças do governo apresentado pelos partidos mais votados, e a voltar (já o tinha feito com o governo de Mario Monti) a ignorar os resultados eleitorais, encarregando um ex-quadro do FMI (tinha de ser) de formar governo. Alguém lhe explicou - a ele e ao comissário alemão que lhe dava as ordens - que era capaz de não ser uma grande ideia: o governo não passaria no parlamento e teria de voltar a eleições, que só reforçariam os mesmos dois partidos de que ninguém gosta.
E num instantinho tudo voltou atrás. Hoje já vai haver governo e ... vá lá ... o primeiro-ministro Giuseppe Conte, para que o presidente não perdesse de todo a face, passou Paolo Savona para a administração interna.
E pronto, lá estão dois governos novos no mesmo dia, nas terceira e quarta maiores economias cá do clube.
A Alemanha tem finalmente, cinco meses depois das eleições, condições para formar governo. Ontem os mlitantes social-democratas do SPD confirmaram em referendo o "bloco central", e com isso o novo fôlego de Merkel. E a União Europeia mais ou menos no mesmo tom, mesmo que Macron o queira um bocadinho mais carregado.
Coisa em que, pelos vistos, a Itália não está interessada. Nas eleições de ontem, os italianos não adiantaram lá grande coisa à governação do país - aquilo parece ingovernável - , mas não deixaram grandes dúvidas que não vão em cantigas - isto é ainda efeito do festival - europeias. Se aqueles resultados não dão para governar, já dão bem para perceber um "arriverdeci" à União Europeia, bem claro no pontapé no rabo de Matteo Renzi, o primeiro-ministro que fora uma espécie de comissário político designado pela União Europeia.
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.