Benfica e Atlético de Madrid oficializaram finalmente a transferência de João Félix, logo depois de, em Portugal e em Espanha, os jornais terem dado conta que os madrilenos estavam a perder a paciência.
Num dia, o Atlético de Madrid ameaça perder a paciência; no outro, está tudo tratado. Pode ser mera coincidência mas, à luz de tudo o que foi o processo, não parece.
Bem sei que nos dias que correm não fica bem questionar o que quer que seja deste negócio, sabendo-se que quem o faça corre o risco de ser até acusado de estar ao serviço do outro. Mas não posso deixar de notar que, mais uma vez, o Atlético de Madrid não faltou apenas ao respeito ao Benfica, achincalhou mesmo.
Teria apenas faltado ao respeito se se tivesse ficado pela abordagem ao jogador sem passar cavaco a ninguém. Ou pela pressão nos jornais, à revelia ou não dos canais de comunicação entre as partes. Mas, ao mostrar publicamente, precisamente no mesmo dia, o que é accionar uma cláusula de rescisão (nesta mesma capa da Marca: "Rodrigo paga su cláusula para irse al City"), o Atlético de Madrid achincalhou e deixou, mais uma vez, Luís Filipe Vieira muito mal na fotografia.
Resisti a escrever o que quer que fosse sobre a transferência de João Félix até que estivesse realmente confirmada sabendo-se, como se sabe que, nestas coisas, a verdade nunca chega antes de uma infinidade de mentiras, produzidas por uma máquina diabólica sempre a funcionar em alta rotação.
Sabe-se agora, parece que já não há volta a dar-lhe, que João Félix vai para o Atlético de Madrid. Dizem-nos, diz-nos a mesma máquina, que pelo valor da cláusula de rescisão. Pelos tais 120 milhões de euros, transferência que passa a constar do top 5 mundial.
Será certamente. Poucas dúvidas sobram disso. Mas muitas se levantarão sobre o destino de tanto dinheiro... Uma coisa pode ser dada por certa: se alguém esperava que este negócio resultasse do simples accionamento de uma cláusula de rescisão de um contrato, em que uma parte se apressa a depositar o respectivo valor deixando a outra paralisada e sem qualquer possibilidade de reacção; esqueça!
Não foi nada disso que se passou. E como não foi nada disso que se passou, toda a gente negociou com toda a gente sem restrições de qualquer espécie - incluindo o clube de Madrid com o jogador -, não há forma de os 120 milhões serem 120 milhões a entrar nos cofres do Benfica. Jorge Mendes esteve envolvido - está sempre - e não sai de mãos a abanar. Nem nada que se pareça...
Claro que haverá quem venha a correr dizer que só Jorge Mendes é capaz de fazer negócios deste nível. E são até capazes de trazer para aqui o caso de Bruno Fernandes, de que foi afastado. Mas não colhe. Pela simples razão que João Félix ... não era para vender!
O presidente do Benfica disse sempre que o queria manter no clube, renovar-lhe o contrato e aumentar até a cláusula de rescisão. Que, apenas obrigado pela activação da cláusula prevista no actual contrato, abriria mão do jogador. E por isso não se percebe por que surgiu Jorge Mendes no negócio. Se não era para vender, porquê um vendedor? Nem por que o Atlético de Madrid pôde começar a apresentar propostas a um jogador que não estava livre para negociar, nem era para vender, sem que isso fosse denunciado por hostilidade.
Mas, claro, estamos a falar de negócios - "business, as usual". Onde tudo o que importa é ganhar dinheiro a qualquer custo. Ninguém olhou muito para mais lado nenhum que não esse. Nem o miúdo, sempre o elo mais fraco nestas coisas. Que, deixando-se ir na conversa de todos os que o rodearam, cada um com as suas preocupações e com os seus interesses, corre sérios riscos de, naquele clube e naquele futebol de Simeoni, hipotecar uma carreira que poderia ser brilhante.
O Manchester City, de Guardiola, a alternativa mais robusta, ganha títulos, tem um futebol de primeira água, à medida das mais evidentes qualidades do miúdo, e pretendia deixá-lo na Luz, mais 6 meses ou um ano, passando depois integrá-lo na equipa. No Manchester City iria encontrar Bernardo Silva, uma referência na equipa. Atlético de Madrid vai encontrar fantasmas: João Pinto, Simão, Gaitan... e um clube com enorme dificuldade em conquistar títulos. Vai cair num futebol eminentemente físico e encontrar bancadas cansadas de não ganhar, que nada perdoarão a um miúdo que custou como gente grande. Da maior. Mas, acima de tudo, a diferença é esta: no Manchester City João Félix poderia aspirar a ser bola de ouro. No Atlético de Madrid, nem por sonhos...
Pode perceber-se que, com tanto dinheiro, ninguém se tenha lembrado disto. Não se entende é que o próprio João Félix não o tenha percebido!
Olha-se para esta primeira página deste jornal e, cá em baixo, a letras mais pequenas, ficamos a saber que Luís Filipe Vieira pretende subir a cláusula (de rescisão do contrato) de João Félix (já fixada em 120 milhões de euros) para 200 milhões. No entanto já tínhamos visto, porque está lá em cima, a letras muito maiores, que 100 milhões, é o valor mínimo que Benfica admite encaixar.
Jorge Mendes e milhões à parte, quem tiver acabado de chegar de Marte pode achar que Luís Filipe Vieira, o tal que quer subir o valor por que será obrigado a ceder os direitos desportivos do jogador, não tem nada a ver com o Benfica, a quem basta metade desse valor. E achar que é uma primeira página aceitável para capa de jornal.
Como não consta que andem por aí marcianos, é bem provável que haja quem ache que Luís Filipe Vieira não anda bem da cabeça. Ou, sei lá, até que a eurodeputada Ana Gomes é bem capaz de dizer umas coisas acertadas... E que Luís Filipe Vieira é um intrujão e um trapaceiro...
Pode ser. Mas eu não descartaria a hipótese de, intrujão e trapaceiro, ser mesmo o jornalismo que é capaz de fazer uma primeira página destas, a chamar estúpido a toda a gente. Não é apenas a Luís Filipe Vieira que está a chamar estúpido. É mesmo mais aos leitores.
No fim ficou a ideia que este Benfica - Aves, da quinta jornada da Liga, foi um jogo esquisito. Teve de tudo um pouco, e um resultado muito pouco. Exactamente igual ao que acontecera ontem em Setúbal, quando o jogo, e principalmente o desempenho das equipas, não teve nada a ver.
Com a Luz, de novo, quase cheia, o Benfica não entrou apenas bem. Entrou também com muitas novidades. E estreias. Desde logo com João Félix de início, no lugar de Cervi. Mas também Gabriel, no de Gedson. E com Jonas, finalmente de regresso, no banco.
Os primeiros três minutos do jogo foram uma coisa raramente vista, com duas oportunidades de golo, daquelas claras, e um golo. Anulado - e bem - mas contingencialmente. E deram o mote para uma primeira parte de excelente nível, com inúmeras oportunidades de golo. Mas um único golo como, de resto, vem sendo hábito.
Um único golo porque, com a equipa do Aves toda metida na área, havia sempre mais uma perna à frente da bola, mais um desvio, mais uma defesa do guarda-redes, ou até os ferros, a evitar que a bola entrasse finalmente na baliza. O que, diga-se, nem quer dizer que tudo se resuma a uma pura questão de azar. Nem nada que se pareça, como o João Felix superiormente demonstrou. É que, quando os caminhos para a baliza está tão tapados, é preciso mais engenho e arte, só ao alcance dos foras de série.
E como as coisas estavam, só com classe, com muita classe, o Benfica conseguiria marcar. Até porque, à floresta de pernas dos jogadores do Aves, juntava-se uma arbitragem ... que ... também não surpreendia. Rui Costa não engana, e de VAR estamos conversados...
O VAR não altera em nada de decisivo o que era a arbitragem. Por exemplo, no fora de jogo, antes, as regras diziam que, na dúvida, deveria beneficiar-se o atacante. A questão era a dúvida: num fora de jogo de quilómetros, o fiscal de linha podia sempre refugiar-se na dúvida. "Tive dúvidas"... Na anulação de um golo com o marcador "em linha", não tinha tido dúvidas. Com o VAR passa-se o mesmo. Na anulação do golo contra o Porto, ontem, não teve dúvidas. Na "trancada" do Felipe, ontem, ou no penalti, hoje, sobre o João Félix, teve dúvidas. E com dúvidas não pode intervir... E está tudo na mesma, como já todos percebemos!
Com tudo isso, chegando ao intervalo a perder apenas por um golo, os jogadores de José Mota vieram para a segunda parte com o sentimento que estavam dentro do jogo. E que, se tinham saído vivos da primeira parte, podiam tentar mais qualquer coisa na segunda. Desde que, ter-lhes-á dito o seu treinador, aplicassem dureza máxima em cada disputa de bola. Assim fizeram, chegando mesmo a ter alguma dificuldade em escapar à violência.
Estava-se nisto quando surge a lesão - grave, ao que parece - de João Félix, que continuava a espalhar classe pelo relvado. E, mais tarde, a de Grimaldo. Pelo meio, o Benfica continuava a desperdiçar oportunidades de golo, com nota para uma extraordinária execução de Salvio (ora aí está, a classe) com os ferros da baliza, mais uma vez, a negarem-lhe o golo. E pelo meio o Benfica fez mesmo o segundo golo, por Cervi, que entrara a substituir o lesionado João Félix, e entrou Jonas, finalmente de regresso. Faltavam cerca de 20 minutos para o fim, e só se esperava que marcasse.
É esquisito que o Jonas jogue, e não marque. Nestes jogos, claro. Mas, mais esquisito ainda, é que o Aves tenha obrigado o guarda-redes do Benfica a três grandes defesas. Também já não estávamos habituados a isso. Se calhar, se o Vlachodimos tem chegado em Janeiro, quando já estava contratado, a época passada teria acabado de outra forma...
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