A guerra de guerrilha instalada no PSD à volta de Rui Rio está a evoluir para uma verdadeira guerra civil, de consequências imprevisíveis. Como todos fazíamos ideia, mais password menos password, mais login menos login, as presenças fantasma dos deputados, ou o seu particular dom da ubiquidade, numa linguagem mais maneirinha, não são um exclusivo do deputado José Silvano e, aberta a caixa, de lá haveria muitos nomes para saltar.
Não deixa de ser curioso que os dois primeiros a surgir sejam precisamente o do Duarte Marques, apenas o deputado em funções mais apertadamente ligado à anterior liderança, e o de José Matos Rosa, nem mais nem menos que "o José Silvano" de Passos.
Tenho para mim que, como a natureza tem horror ao vazio, a política tem horror à seriedade e à ética.
Sempre que alguém aparece na política a invocá-las … corre mal. Há sempre alguma coisa que salta das entranhas da política para lhe dar cabo das ideias.
Repare-se em Rui Rio. Tenho-o, como - creio – a generalidade das pessoas, por uma pessoa séria, que coloca a honra e a honestidade no topo da sua pirâmide de valores. Fez disso, e de uma auréola de competência e de independência, trazida da presidência da Câmara Municipal do Porto, os atributos de legitimação das suas ambições políticas. E chegou, assim, à liderança do maior partido português (na perspectiva da representação parlamentar), anunciando um banho de ética.
A primeira coisa que fez foi escolher para Secretário-Geral do partido, o responsável pelo funcionamento da máquina partidária, Feliciano Barreiras Duarte, logo à perna com uma série de aldrabices curriculares muito próprias dos aldrabões, especialmente na política. Como se não bastasse, logo a seguir, foi denunciado por aldrabice na morada, muito comum na actividade política, onde as pessoas não moram onde moram mas onde dá mais subsídio morar.
Depois de deixar que o problema se arrastasse de forma penosa durante tempo de mais, sempre a tentar justificar o injustificável, Rui Rio substituiu-o por José Silvano, trocando um carreirista dos corredores do partido por um transmontano rijo e sério.
Deu no que deu. Só não aldrabou na morada porque não precisava. De resto, valeu tudo. E Rui Rio volta a assobiar para o lado, chamando-lhes “questiúnculas” de “pequena política”, encharcado até aos ossos pela água suja do seu banho de ética.
É isto: a política tem horror à seriedade e à ética, o mesmo que Aristóteles descobriu na natureza pelo vazio.
* A minha crónica de hoje na Cister FM
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.