Hoje é dia de moção de censura. É a 29ª do regime, e a sétima apresentada pelo CDS, que iguala o PCP na liderança desta tabela. Apenas uma atingiu as últimas consequências - foiapresentada pelo PRD em Abril de 1987, contra o primeiro governo de Cavaco. Ironicamente, o governo caiu, mas Cavaco não. Ficou bem de pé, e por lá permaneceu para o resto da vida... O PRD, esse morreu, enterrado na própria sepultura que cavou!
É certo que houve uma outra - duas, melhor dizendo: uma do PS e outra do PC, em simultâneo - que provocou a queda do governo. Mas porque o governo (de Mota Pinto) se antecipou à censura, e apresentou a demissão. Estávamos em 1979, na altura dos governos de iniciativa presidencial (Ramalho Eanes), e às portas da AD de Sá Carneiro e Freitas do Amaral.
Nesta, de hoje, e como a maior parte das outras condenada ao fracasso, o que mais surpreende é a lata de Cristas e do CDS. É que se trata de matéria que envolve todo o arco da governação, onde PS, PSD e CDS repartem responsabilidades há mas de 40 anos, e onde sobressai com particular brilho Assunção Cristas, dona da pasta da floresta em mais de quatro dos últimos seis anos, e com inusitadas responsabilidades directas no aprofundamento da sua eucaliptalização.
Vítor Bento bateu com a porta e foi-se embora, de mãos a abanar, não se cansa a imprensa de salientar, como se o normal na vida real, não seja – e deva ser – isso, quando alguém sai ao fim de dois meses.
Não é no entanto esse o ponto. Por agora o ponto é que Vítor Bento foi embora e, percebemos todos rapidamente que fez um grande favor ao governador Carlos Costa. Porque, como explicou o próprio demissionário, era oportuno que fosse substituído por alguém alinhado com o accionista.
O motivo do desalinhamento é, obviamente – tão óbvio quanto a forma como surgiu e foi divulgada a pressa –, a urgência súbita na venda do banco. Vítor Bento sabe, como todos sabemos, que vender à pressa é sempre sinónimo de vender mal. E sabendo isso, mesmo que sem recorrer à parodiada rábula de Seguro (qual é a pressa? …qual é a pressa?), não percebe qual é a pressa!
A pressa, esta pressa, é apenas mais um traço do calendário político que, percebe-se agora com toda a clareza, sempre marcou o maior escândalo financeiro do país, agravando-lhe as consequências. Foi a agenda política – do governo e da troika, não sobra hoje qualquer dúvida – que fez com que a bomba, descoberta no final de 2013, fosse atirada para a frente, para vir a cair já depois da saída limpa. É a agenda política que agora impõe a venda à pressa, para que o governo se desfaça, antes das eleições, do incómodo embrulho que também criou.
São os interesses políticos a sobreporem-se a todos os outros, sempre com os piores resultados. Sabendo-se que os actos mais danosos cometidos pela administração Espírito Santo aconteceram durante o corrente ano, e especialmente no segundo trimestre, ao que diz o próprio Banco de Portugal, fica a saber-se que teriam sido evitados se o interesse nacional se tivesse sobreposto ao interesse político de esconder o problema até à saída do programa da troika, a tal data épica, histórica, que Paulo Portas comparou ao 1º de Dezembro de 1640.
Acompanhei mais uma entrevista de um banqueiro. Desta vez foi Nuno Amado, o presidente do BCP, na TVI 24.
Que, também ele, fale como um banqueiro e que digam todos o mesmo não surpreende. O que surpreende é que agora todos falem do Tribunal Constitucional. Ao que dizem, o diabo que agora ameaça dar cabo do país!
O que surpreende é que, quando toda a gente, de todos os quadrantes – sejam eles quais forem – já se pôs de fora das opções políticas e económicas do governo, os banqueiros permaneçam firmes e hirtos na defesa desta política de destruição da economia que o governo prossegue. E que, eles e apenas eles, não poupem elogios ao ministro das finanças!
Por que será? Estranho, não é?
Ah! Já sei: se calhar é por isto. Se calhar é porque é muito interessante ir buscar dinheiro ao BCE de borla e aplicá-lo na dívida pública às taxas de juro dos malandrosdos mercados. Se calhar é porque se a política fosse outra, e como o dinheiro não estica, para financiarem a economia não poderiam meter a mão no pote destas rendas. Sim, também os banqueiros gozam de rendas, não são apenas as EDP´s, as PT`s ou as grandes distribuidoras…
Ah! Percebo: os banqueiros são coniventes com este processo de destruição do país. Com tamanha lata que nem se preocupam em disfarçar um bocadinho…
Acompanhei a entrevista de Fernando Ulrich na RTP. Que fale como um banqueiro não surpreende ninguém. Também a hipocrisia não surpreende: embora não pareça rima com banqueiro.
Mas a lata surpreende. Nem é por dizer que as empresas portuguesas não têm falta de crédito, que têm é falta de capitais próprios e de mercados. Ou que o não há milhares de portugueses a ficar sem as suas casas, obrigados a entregá-las aos bancos. Que no BPI não acontece nada disso. Ou que a Banca não teve nada a ver com a decisão dos portugueses de comprar habitação, e que essa foi uma decisão exclusiva dos portugueses, por sinal a melhor que tomaram… É por dizer que o governo deveria pôr os desempregados a trabalhar – de borla, evidentemente – nas grandes empresas. No seu BPI, pois claro…
É preciso ter lata!
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