O que é que se terá passado em Alvalade em menos de um mês?
Basta menos que um mês para uma mudança de 180 graus. Nem é preciso falar do presidente Bruno de Carvalho, que conseguiu dizer tudo lhe apeteceu sobre toda a gente sem sequer uma repreensão, quando outros, por bem menos, só porque abrem a boca, são logo suspensos e multados. Basta lembrar que Leonardo Jardim, que a comunicação social elegeu treinador modelo a falar de arbitragem, ainda há menos de um mês dizia das arbitragens o que Maomé não disse do toucinho, reivindicando o recorde mundial de golos anulados, esquecendo o outro recorde, o de golos obtidos em fora de jogo, e até de penaltis cometidos por placards de publicidade. Hoje, apela à honestidade intelectual, já os árbitros são humanos e erram, como erram os jogadores, e como ele próprio erra. Já nem os golos anulados têm qualquer importância...
Se este mundo do futebol é fantástico, no Sporting é ainda mais fantástico. Se calhar já basta de hipocrisia... Não?
Não sei se o treinador do Sporting é assim porque o presidente é assado. Mas sei que o Leonardo Jardim, para além de saber do ofício, sabe o que diz. É sensato e sabe comunicar, mesmo que possa não entusiasmar plateias!
Bem sei que se poderá dizer que, quem tem um carroceiro para fazer o trabalho sujo, pode dar-se ao luxo de ser elegante, um gentleman. Que pode até haver ali uma divisão de tarefas, cabendo ao treinador as mais protegidas e ao presidente as de maior exposição e risco.
Mesmo assim não posso deixar de admirar o comportamento de Leonardo Jardim e de verberar o de Bruno de Carvalho. O presidente do Sporting não está apenas a exagerar, a passar das marcas: está a tornar-se patético!
O Sporting tem sido protagonista dos mais frequentes erros de arbitragem, que lhe têm sido maioritariamente favoráveis. Toda a gente se lembra, entre outras coisas, da série de jogos consecutivos resolvidos em foras de jogo do Montero. Quis o destino que a maior aberração em decisões de arbitragem - um penalti por uma ocorrência fora do rectângulo de jogo - acontecesse num jogo, e em favor, do Sporting, precisamente no último jogo, há uma semana.
Pelo papel que o presidente do Sporting puxou para si, tudo está bem quando beneficia dos erros. Mas tudo passa à maior vergonha, à vergonha de integrar o mundo do futebol - de que não quer abdicar - quando entende que sucede o contrário.
Dirão alguns que assim é com todos. Que não há no futebol ninguém que reconheça quando é beneficiado, que todos apenas saem a terreiro quando se acham prejudicados. É verdade, sem dúvida. Mas ninguém o faz com a ineficácia e o despudor do presidente do Sporting!
Percebe-se onde quer chegar. Mas não chega lá quem quer...
Diz-se que o Chelsea de Abramovich convenceu o André Villas-Boas a seguir as pisadas de Mourinho. Parece que terá bastado oferecer-lhe um salário anual de 5 milhões de euros para ele se dispusesse a levar a cadeira de sonho do Dragão para Stamford Bridge. Sem dela se levantar...
Pinto da Costa é que garante que a cadeira vale 15 milhões: em euros, bem menos em libras!
O Porto de Pinto da Costa agora até já em cadeiras faz milhões.
Mas nem sempre tudo lhe corre bem: agora tem 15 milhões mas não tem treinador.
Desta vez errou quando não acreditou suficientemente em Domingos! Houve ali um tempito, quando o calendário vira e se começa a ser tempo de mexer nas pedras que vão fazer a nova época, em que as coisas não lhe estavam a correr muito bem. Pinto da Costa deixou-o então cair – o Braga até desinvestiu na sua equipa cedendo um conjunto de jogadores – e convenceu o seu amigo Salvador que o Leonardo Jardim é que era.
“No final da passada semana começaram a surgir notícias que davam conta do envolvimento do FC Porto. Que Pinto da Costa, bem à sua maneira, classificava de imbecilidades.
Dizia-se que, também bem à sua maneira, o teria contratado já para a eventualidade do André Vilas Boas sair. Para a hipótese de chegar uma proposta do estrangeiro que o levasse da sua tal cadeira de sonho. Com um plano B, bem à Pinto da Costa: se o rapaz não fosse levado a deixar a sua cadeira de sonho, o destino temporário do madeirense seria Braga.
Uma viagem de Aveiro ao Porto com escala em Braga!”
Agora Pinto da Costa vai ter que chatear o António Salvador, sem que se livre de lhe ter de entregar umas migalhitas do que vai receber do Chelsea. A contragosto, porque não era isso que estava no guião! No guião, o madeirense faria o tirocínio em Braga e chegaria ao Dragão já sem cueiros, porque a massa não é a mesma do Villas-Boas!
Aqui há uns cinco anos aconteceu qualquer coisa de semelhante com o Boavista e um tal de Jesualdo Ferreira, que este mesmo António Salvador tinha despachado de Braga. No meio de tudo isto quem tem mesmo azar é Domingos. Ai se ele pudesse voltar atrás…
Hostilidade é coisa que não falta em lado nenhum. Na vida, no dia-a-dia de cada um, nas relações internacionais, em tudo. Mas é na política e no futebol que as hostilidades são mais visíveis. Mais que nas guerras!
Nesta precisa altura diria mesmo que nem na Síria ou na Costa do Marfim as hostilidades atingem a dimensão do que por cá se passa na política. E no futebol!
Na política há muito que as hostilidades estão abertas. Entramos agora numa escalada verdadeiramente violenta – já se luta corpo a corpo, em ataque e resposta – que até ao próximo dia 5 de Junho não parará de subir. Com maus resultados, como sempre acontece com as escaladas de violência!
No futebol é o clássico de domingo entre o Benfica e o Porto a ditar as hostilidades. Tem tudo: pode, em caso de vitória do Porto, decidir o título a seu favor – o que representaria uma dolorosa passagem de testemunho para os benfiquistas -, as memórias estão bem frescas com tudo o que se passou nas duas visitas do Benfica ao Dragão (as pedradas ao autocarro e às casas do Benfica, as bolas de golfe, os isqueiros…) e mais vivas ainda com a recente agressão a um vice-presidente do Benfica, à saída de um restaurante no Porto e, há pouco mais de uma semana, com a emboscada que vitimou o autocarro do Benfica e o carro do seu presidente quando regressavam do último jogo, em Paços de Ferreira. De retaliação em retaliação até à desgraça final – parece ser este o caminho destas hostilidades a que ninguém parece querer pôr fim.
Mas há outras hostilidades abertas. Por exemplo entre o Braga e o Sporting, com o treinador Domingos Paciência no meio. E Pinto da Costa a manobrar, evidentemente!
Percebia-se que isto viria a acontecer: o candidato vencedor das contestadas eleições do Sporting tinha, ao contrário de todos os outros – que apresentaram soluções firmes e definitivas para o que, pelo que se viu na campanha, era o mais importante problema a resolver no Sporting – deixado no ar que o seu treinador era Domingos. Disso não ficaram quaisquer dúvidas! Como dúvidas também não ficaram que, dados os interesses e as classificações na Liga do Sporting e do Braga, esse era um assunto a tratar com pinças. Ambos disputam o terceiro lugar no campeonato que, sendo o último do podium, é muito mais do que isso. É, pelas implicações que tem na estruturação e na preparação da nova temporada, a chave do sucesso da próxima época. Tão simples quanto isto: O Domingos, treinador do Braga de inquestionável profissionalismo, que orienta uma equipa em ascensão que, desde que ganhou aquele célebre jogo ao Benfica, não mais parou de ganhar, continuando assim e ganhando a um Sporting em queda livre, que recebe na última jornada, cria enormes dificuldades ao Domingos do Sporting. Que, para não começar a ver logo lenços brancos e a Juve Leo a tratar-lhe da vidinha (o cenário é bem negro, sabendo-se o que por lá se passou pela madrugada do último sábado!) tem que entrar a ganhar, sem qualquer margem de erro! Para esse desiderato o terceiro lugar é vital!
Este quadro apanhou alguém distraído. E, independentemente da manchete do Reccord – que dava Domingos como certo no Sporting, em cumprimento da palavra dada - em dia das mentiras, alguém acabará traído. Que o Braga tinha o problema resolvido, e que se estava já nas tintas para o Domingos, já todos tínhamos percebido. Nem sequer houve qualquer esforço para o esconder: Pinto da Costa já tinha tratado da solução Leonardo Jardim, como aqui referi há uns tempos, e, portanto, para o Braga, não havia qualquer problema. Para Pinto da Costa, que via os sportinguistas encantados com Van Basten, Rijkaard e Zico, também não! Só depois é que percebeu que teria de ordenar, já completamente fora de tempo, a renovação do contrato com o Domingos. E mais uma vez deixou claro que abre hostilidades sempre que lhe convém, coisa que os de Alvalade têm dificuldade em perceber!
E com tudo isto já me ia esquecendo do futebolês – que é aquilo que aqui nos traz todas as semanas. Abrir as hostilidades, em futebolês, não tem nada a ver com essas guerras. Refere-se apenas àqueles jogos mornos, com toda a gente entretida no tal estudo mútuo, num jogo que nem ata nem desata e, de repente, alguém abre o livro, alguém pega no jogo, e alguém espevita aquilo. Basta, às vezes, um simples remate para, de repente, a intensidade subir e projectar o jogo para outra dimensão. De repente o jogo mudou. É outro, o que nunca sucederia se alguém não tivesse decidido abrir as hostilidades! Uma pedrada no charco que rompeu com a paz podre…
E, disto sim! Disto é que também o país precisa… Não é das outras hostilidades!
Chama-se Leonardo Jardim, é, como o nome deixa entender, madeirense e foi, até há pouco, treinador do Beira Mar. Na época passada, conduziu a equipa de regresso à I Liga e, sempre com o clube envolvido no meio de problemas organizativos e financeiros sem fim, conseguiu, ao longo desta, estabilizar a equipa em torno de níveis exibicionais bem altos e de resultados francamente positivos, ocupando sempre a primeira metade da tabela classificativa.
Tinha por isso, que não é pouco, dado nas vistas!
No final da passada semana começaram a surgir notícias que davam conta do envolvimento do FC Porto. Que Pinto da Costa, bem à sua maneira, classificava de imbecilidades.
Dizia-se que, também bem à sua maneira, o teria contratado já para a eventualidade do André Vilas Boas sair. Para a hipótese de chegar uma proposta do estrangeiro que o levasse da sua tal cadeira de sonho. Com um plano B, bem à Pinto da Costa: se o rapaz não fosse levado a deixar a sua cadeira de sonho, o destino temporário do madeirense seria Braga.
Uma viagem de Aveiro ao Porto com escala em Braga!
A conversa, ontem mesmo, de Domingos Paciência era um mal encapotado discurso de despedida. Hoje, o Leonardo de Jardim abandonou o Beira Mar!
Contra a vontade do presidente do clube, surpreendido com a decisão do treinador. A notícia correu: “Leonardo Jardim não chegou a acordo com o Beira Mar para a renovação do contrato e rescindiu o contrato”!
Ninguém percebe. Então não chegar a acordo para a renovação do contrato implica rescindir agora o contrato em vigor até ao final desta época? Por que raio rescindir agora um contrato que termina em Junho apenas porque não quis, e dentro de toda a sua legitimidade, renová-lo para além dessa data?
Não bate certo, mas o treinador explicou: “… entendo que é o momento certo para sair do Beira Mar”!
Nem bate certo nem percebemos a explicação!
Enfim, gente extraordinária…
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