Foi um bom jogo, agradável de seguir, este de Paços de Ferreira, com que o Benfica se despediu deste campeonato, desta época de má sina e pior memória, e de Nelson Veríssimo. E uma agradável surpresa.
A surpresa começou na constituição do onze que subiu ao relvado. Nelson Veríssimo tinha anunciado que iria dar oportunidade a alguns jovens da formação. Não se esperava é que na equipa inicial, de uma assentada, entrassem logo cinco - Tomás Araújo e Sandro Cruz, na defesa, Paulo Bernardo no meio campo, Tiago Gouveia na ala esquerda e Henrique Araújo como ponta de lança. Seis, se contarmos com Morato - mais de meia equipa. E não se esperava de todo que, nos restantes cinco, nenhum fosse um habitual titular. Na realidade nem se pode dizer que Gilberto seja o habitual lateral direito. No fim, sabe-se que é o melhor que há no plantel para a função, mas nem isso fez dele um titular absoluto.
Introduzir três miúdos da formação numa equipa de titulares, experientes e rotinados, é uma coisa. Juntar cinco miúdos entrados de novo, a cinco ou seis jogadores que passaram ao lado da época, guarda-redes incluído, é coisa nunca vista. Nem para o último jogo.
A verdade é que funcionou, e resultou numa exibição colectiva agradável e num jogo bem conseguido. E num bom punhado de boas exibições individuais. Mas não tenhamos ilusões, resultou neste jogo. Muito provavelmente não resultaria em nenhum outro, noutro contexto. Num jogo em que o Paços, ou fosse quem fosse, estivesse à procura do pontinho, fechado lá atrás e a disputar cada bola como se fosse a última, seria diferente.
A equipa do César Peixoto quis disputar o jogo pelo jogo. Sabe tratar e trocar a bola, como bem demonstrou em alguns períodos da primeira parte, e até terá acreditado que poderia ganhar a esta espécie de equipa B do Benfica. (Que, e já que vem a propósito, desfalcou, e muito, a equipa do Benfica B que à tarde ganhara no Olival, ao Porto B, no fecho da Segunda Liga. Vi esse jogo no Porto Canal, narrado e comentado por um Miguel não sei quantos e por um tal Bernardino Barros. O Benfica B ganhou por 3 uis a 2 gooooooooolos. Isso mesmo, os dois golos dos portistas B foram berrados à boa maneira da velha rádio - goooooolo até o fôlego aguentar. Para os do Benfica B apenas "ui". Nunca foi golo, foi "ui"). E por isso houve um jogo aberto, sem truques e com espaço para os melhores jogadores jogarem à bola. E os do Benfica, mesmo estes, são bem melhores que os do Paços, por muito bem trabalhados que estejam.
E foi um regalo ver finalmente Paulo Bernardo a jogar à bola. Encheu o campo, a mostrar ao Taarabt como se faz. Ver o Henrique Araújo a mostrar ao Yaremchuck como se joga a ponta de lança, e se marcam golos. Ver como todos espevitaram os restantes, para que o João Mário voltasse a mostrar classe, Gil Dias e Meité a parecerem jogadores e até o Helton Leite a parecer que é guarda-redes para o Benfica.
Os golos, ambos do Henrique Araújo, surgiram no início e no fim da primeira parte, inteiramente do Benfica na primeira metade, mas bem dividida na última. Mas, mesmo sem golos, a segunda parte foi ainda melhor. Pelo menos até á altura das substituições, que deram para as estreias de Martim Neto e Diego Moreira, e para Taarabt e Yaremchuck mostrarem que não aproveitaram muito do que Paulo Bernardo e Henrique Araújo lhes tinham dada a ver.
Como Coimbra, na canção, os miúdos têm mais encanto na hora da despedida!
E para que acabasse bem uma época tão má, e bonito o que foi horroroso, deu ainda para os benfiquistas presentes no "Capital do Móvel" prestarem um belo tributo ao sempre nosso Nico Gaitan.
Para o ano, há mais. Esperemos que não seja do mesmo. Não vai ser, queremos acreditar!
O futebol em Portugal cabe todo no jogo deste fim de tarde, na Luz. Qualidade abaixo de zero, largas dezenas de faltas, jogo parado na maior parte do tempo, e "habilidades" várias. De árbitros e jogadores.
Foi isto que se passou neste clássico, e é isto que se passa no futebol que por cá acontece.
Sabia-se que este jogo podia acabar na decisão do título, na garantia matemática do apuramento do campeão desta época. Bastava ao Porto empatar na Luz, e desde bem cedo se percebeu que era exactamente isso que procurava do jogo. Ao Benfica cabia fazer tudo para ganhar o jogo. Porque é essa a exigência de sempre, e porque isso era necessário para impedir que o Porto voltasse a fazer festa na Luz.
Os maus resultados nas últimas épocas contra o Porto, esta incluída, foram sempre vistos à luz da diferença de competitividade das duas equipas. O Benfica era sempre suplantado pela garra e pela agressividade do adversário, sempre com evidentes dificuldades de resposta na disputa dos lances, fosse pela pressão do adversário sobre o portador da bola, fosse nos duelos individuais. Ficou a ideia que, neste jogo, os jogadores do Benfica quiseram enfrentar essa dificuldade. Que entraram em campo convencidos que teriam de usar as mesmas armas do adversário.
E na verdade o Benfica hoje não tinha outros argumentos e, a gosto ou a contra-gosto, teria de ser por aí que iriam discutir o jogo. E isso fez lembrar a célebre frase de Bernard Shaw: Nunca lutes com um porco; ... ficas todo sujo, e ainda por cima o porco gosta. É certo que os jogadores do Benfica lutaram até à exaustão, foram duros, não viraram a cara à luta. Mas, no fim ... o porco gosta.
E o jogo foi isso, não muito mais que isso. Sempre que o Benfica conseguia impor outro ritmo ao jogo lá vinham os mestres a mudá-lo para o lamaçal. Mais uma queda, mais um rebolar na lama, mais uma manha. E lá voltava tudo ao mesmo. Como o porco gosta.
Na única vez que conseguiu fugir à luta com o porco, teve sucesso. Houve futebol, e golo. Um grande golo, até. Só que ... não vale. Não pode valer. E então arranjam-se dois centímetros para não valer. E no fim, ao quarto minuto dos seis de compensação, já esquecidos da missão que tinham levado para o jogo, deixaram que um adversário interceptasse uma bola na sua área e corresse com ela o campo todo sem ninguém pela frente até à baliza.
Se o jogo tinha sido mau, se a lata tinha tido apenas dois centímetros, e se o empate já lhes dava direito a voltar a fazer a festa em nossa casa, o pior nem era perder o jogo. Era perdê-lo aos 90+4 com um golo ... de Zaidu!
Depois de nos termos lembrado da frase do dramaturgo irlandês, acabamos a lembrarmo-nos de um tal Kelvin.
Mais um jogo decepcionante do Benfica, este da antepenúltima jornada do campeonato, nos Barreiros, contra o Marítimo.
Nelson Veríssimo, já com despedida confirmada, promoveu muitas alterações na equipa. De fora ficaram os laterais Gilberto e Grimaldo, à beira do quinto amarelo, e por isso poupado para o jogo com o Porto; Diogo Gonçalves, suspenso por acumulação de amarelos, Taarabt e Gonçalo Ramos. O miúdo Sandro Cruz estreou-se na equipa principal, a lateral esquerdo. Não foi brilhante na estreia, mas ninguém o foi. Gil Dias repetiu a titularidade, desta vez na ala direita, onde pareceu mais adaptado. Começou bem, mas depressa desmentiu quem tivesse chagado a pensar que ... desta é que iria ser. João Mário regressou à titularidade, e foi mais do mesmo - sabe jogar à bola, mas não traz nada para o jogo. Tal como André Almeida, também regressado à titularidade, mas apenas a justificar a despedida.
Mas, no meio de tanta decepção, a maior chama-se Paulo Bernardo. Há um mês, mais coisa menos coisa, os jornais anunciavam que iria ser aposta total até ao fim da época. É verdade que a jovem promessa não tinha conseguido afirmar-se nas oportunidades que se lhe tinham deparado, mas tem um potencial de qualidade que justificaria uma aposta continuada. Liberto da ansiedade da "prestação de provas", o jogador ganharia tranquilidade para afirmar a sua qualidade. Fosse isso para se mostrar ao mercado, fosse para se consolidar na equipa.
Ainda não resultou. Quando falta inspiração a toda a equipa, não sobra nada para Paulo Bernardo. E só pode voltar a desiludir.
E no entanto o jogo teve tudo para se tornar confortável para os jogadores do Benfica, e para lhes permitir exibirem-se sem grandes constrangimentos. O golo surgiu logo ao expirar do primeiro minuto, e não deu sequer para o Marítimo entrar por outro caminho que não fosse o de discutir o jogo no campo todo. O Benfica tem sempre grandes dificuldades quando encontra um autocarro à frente da baliza. Nunca pareceu que o adversário tivesse tido essa ideia, mas aquele golo logo a abrir também lha permitiria. O Benfica parecia ir tomar conta do jogo, mas aos poucos ia deixando cair essa ideia.
Depois, para ajudar ao contexto, o Marítimo ficou reduzido a 10 jogadores, perto do fim da primeira parte, com a expulsão de Cláudio Wink - que até estava a ser o jogador de melhor rendimento da equipa - por entrada violenta, e muito perigosa, sobre o estreante Sandro Cruz.
Mas nem nesse contexto, ainda mais favorável, os jogadores encontraram condições para dominar completamente os acontecimentos e deixar fluir a inspiração. Nunca, em 55 minutos jogados com mais um jogador, a equipa soube lidar com essa superioridade no campo. Arrisco a dizer que, neste campeonato, nenhuma outra equipa a jogar tanto tempo em inferioridade numérica dividiu tanto o jogo como hoje fez o Marítimo. É certo que não criou oportunidades para marcar, mas também é verdade que, a dois minutos do fim dos cinco de compensação, foi Vlachodimos, com a defesa do jogo a um remate de Alipour que sofreu um desvio num defesa do Benfica, que evitou o empate.
À parte o resultado, o melhor que o jogo teve foi a estreia de outro miúdo, Tiago Gouveia. Entrou para o lugar de João Mário, então já a jogar na ala direita, depois da saída de Gil Dias, e foi também o melhor que por lá passou.
Quando todos já só queremos queremos que isto acabe depressa, depois da conquista da Youth League no início da semana, é bom ver estes miúdos a chegar. Mau - mau de mais - foi o comportamento dos adeptos do Marítimo com o Sandro Cruz. Vaiaram-no cruel incessantemente durante todo o tempo depois da expulsão do jogador do Marítimo. Onde foi apenas vítima. Nunca culpado. Fazer isso a um jovem que se estreia na equipa, exactamente o mesmo jovem que passou pelo que passou há duas semanas em Vila do Conde, é desumano. Ignóbil, e mais um flagrante exemplo da falta de decência no nosso futebol, e da inexistente cultura desportiva no nosso país.
Mantém-se a sina - o Benfica não consegue ganhar três jogos consecutivos nesta Liga. Tem agora os últimos três jogos para conseguir esse registo, um indicador da indispensável regularidade numa competição destas. As dúvidas que seja desta são mais que muitas. O Benfica já perdeu 15 pontos em casa, e não há objectivos que resistam a uma realidade destas.
Há pouco tempo dizia-se que o Benfica era forte com os fracos e fraco com os fortes. Agora, de há largos meses a esta parte, o Benfica é fraco com os fortes e com os fracos. Mais recentemente é ainda mais fraco com os fracos. Na realidade só não foi fraco com o Liverpool; em Alvalade o Sporting não foi sequer forte.
A irregularidade desta equipa não é apenas culpa dos jogadores. É de todos, adeptos incluídos. Basta olhar para o que vimos ao longo da semana, com o movimento que se viu à volta de Nelson Veríssimo. Bastou empatar em Liverpool e ganhar em Alvalade para que os adeptos achassem que o futuro teria que passar pelo actual treinador. Que era errado, e injusto, se assim não fosse.
A irregularidade do Benfica, e este empate de hoje com o Famalicão, na Luz, têm em comum, acima de tudo, uma mesma causa: falta de ambição. À equipa basta um um dois resultados positivos para achar que já cumpriu os objectivos. Não tem ambição para mais. E isso, mais que responsabilidade dos jogadores, é responsabilidade de quem está acima. De todos, a começar no treinador, o rosto mais visível dessa falta de ambição.
Os exemplos são muitos. O mais flagrante é o discurso de Nelson Veríssimo: "toda a gente dizia que iríamos ser amassados pelo Ajax e a equipa deu a resposta". Foi sucessivamente repetindo a expressão, acrescentando-lhe Liverpool. E depois até o Sporting. Ouvimos isto vezes sem fim, e voltamos a ouvi-lo depois de mais este desaire.
Esta falta de ambição notou-se logo na constituição do onze inicial, e confirmou-se na acomodação da equipa ao jogo. Sem Everton, a cumprir suspensão pelo amarelo de Alvalade, Nelson Verísismo apostou em Gil Dias. Percebeu-se que o treinador quis premiá-lo pelo golo em Alvalade. Não jogou nada ao longo da época, nunca justificou a contratação, que ninguém percebeu mas, porque nos 5 minutos que jogou em Alvalade marcou o golo que o Darwin fabricou, justificou a titularidade. É preciso pouco para ser titular numa equipa de alta competição. O Rúben Amorim é que não percebe nada disto.
O que se tem visto quando a equipa precisa de resolver os jogos, é Nelson Veríssimo tirar o Everton e fazer entrar o Yaremchuk, passando o Darwin para a posição do brasileiro. O natural seria que, sem o Everton à partida, e com o jogo para resolver, e face ao histórico deste jogos na luz quanto mais cedo melhor, tivesse feito isso no onze inicial. Falta de ambição do treinador, e ideia de que o jogo haveria de se resolver por si mesmo a passar para os jogadores.
E foi isso que vimos que os jogadores tinham na cabeça. Que não era preciso grande velocidade, nem era preciso ir para cima do adversário e abafá-lo, coisa que, de resto, não sabem como se faz. O tempo resolveria por eles, sem se lembrarem dos 13 pontos que, muitas vezes assim, já ali mesmo tinham deixado. À falta de ambição, de ritmo e velocidade o que é mais provável é juntar-se a falta de inspiração. E, com tudo isto, a única coisa que o tempo faz é acrescentar motivação ao adversário.
E foi isto o jogo, como é isto em quase todos. Depois, nunca se passa nada no intervalo. As substituições têm hora marcada. Sempre fora de horas. E na maioria difíceis de perceber. Taarabt, na única que mexeu com o jogo, já foi à terceira e trazia agarrada o Radonjic, de que já ninguém se lembrava.
Isto e mais uma arbitragem das do costume, de mais um árbitro do costume. Nada mais que o costume, e como de costume nada se passa. Tudo gente conformada. Para o conformado Nelson Veríssimo, se o penálti tivesse sido assinalado até poderia ter sido falhado.
Nós não nos conformamos. Mas isso passa. Eles sabem que passa depressa!
Parabéns, Nelson Veríssimo. Parabéns pelo 45º aniversário, e parabéns pela vitória (e como é sempre saborosa!) e pela forma brilhante como eclipsou o futebol do Sporting, de Rúben Amorim.
Foi um grande jogo este que o Benfica fez hoje em Alvalade. Os jogadores foram brilhantes, mas foram, acima de tudo, de uma dignidade, de uma entrega e de uma raça como ainda se não tinha visto. Nunca foram inferiores aos adversários na disputa pela bola, nunca tiveram medo dos duelos e nunca lutaram menos. Quando assim é, tudo é diferente, e sofrer golos deixa de ser a fatalidade que tem sido.
Dava ainda apenas para o jogo contar uma história de cartões - o cartão, nem sequer amarelo, que não foi mostrado a Coates, logo no início, e o vermelho que ficou em amarelo na agressão de Sarábia a Vertohghen - quando o Benfica marcou o primeiro golo, à beira do fim do primeiro quarto de hora. Foi a primeira jogada de golo, até aí, para além da história dos cartões que poderiam dar ao jogo outra história, só dava para perceber que o Benfica não deixava o Sporting impor o seu futebol habitual. Depois do golo - excelente lançamento de Vertonghen, o resto ficou por conta de Darwin, que começou por, primeiro, bater o Neto em velocidade, depois deixar o Coates para trás com um toque de cabeça seguido de fuga para, por fim, fechar com um chapéu a Adan. Mais bonito era difícil.
O golo abriu definitivamente as hostilidades. O Sporting reagiu e acelerou o jogo. Mas o Benfica, defendendo muito bem - uma autêntica equipa, que tem sido sempre o que mais tem faltado - era sempre mais perigoso . Adan negou o segundo, que surgiu pouco depois, porque no lance a seguir ao canto que resultou da defesa do seu guarda-redes, o Sporting criou a sua única oportunidade de golo, negada por Vlachodimos, a roubar a bola ao Pote, isolado à sua frente. No lance corrido, dessa segunda vez que a bola entrou na baliza de Adan, ficaram algumas dúvidas. Mas o Hugo Miguel, no VAR, tratou do assunto. Nas linhas manhosas, não fez a coisa por menos - 96 centímetros.
Quase um metro? Ó Hugo Miguel, isso não é de mais para ser levado a sério?
Fábio Veríssimo no campo e Hugo Miguel no VAR, não é de mais. É o costume, e apenas mais do mesmo.
Mais do mesmo foi a segunda parte. Temia-se que a equipa - exactamente a mesma que iniciou o jogo de Liverpool - pudesse quebrar fisicamente, e não conseguisse aguentar aquele ritmo diabólico de luta pela bola e pelos espaços, a defender e a atacar. Mas nada disso!
A segunda parte disse ao que vinha logo de entrada. Começou com mais uma grande oportunidade de golo do Benfica, naquele remate do Diogo Gonçalves a roçar o poste. E com a única oportunidade do Sporting, logo na resposta, num toque de cabeça ao poste- nem sequer se pode chamar-lhe remate - do Sarábia, que devia estar no balneário. E vimos uma segunda parte ainda mais intensa. Com o Benfica a continuar a defender a grande nível, a continuar a ganhar todos os duelos, e sempre a criar perigo nas saídas em contra-ataque.
E com Fábio Veríssimo a acrescentar histórias à história dos cartões da primeira parte: Nuno Santos "aviou" um pontapé na cabeça do Gilberto, já no chão depois de o ter ceifado, e nada. O Paulinho deu uma cotovelada no Vertongen, sem bola, quando ia a passar por ele e.... o Veríssimo do apito resolveu a coisa com um amarelo para cada um. Porro, distribuiu empurrões a torto e a direito na substituição de Taarabt, mas foi o jogador do Benfica a ver o cartão amarelo, quando ia a sair sem se meter com ninguém. E Hugo Miguel a acrescentar histórias à história do VAR. E à sua longa história de perseguição e incompetência. Houve um vermelho, foi para o Rui Pedro Brás. Mas a esse já eu o teria mostrado há muitos meses.
Por volta dos 60 minutos Rúben Amorim começou a mexer na equipa. Tinha no banco Slimani, Ugarte, Edwards. E em campo demasiados jogadores completamente secados pelos jogadores e pela estratégia do Benfica. Nelson Veríssimo no banco tinha Gil Dias e Paulo Bernardo. O suficiente para chegar ao segundo golo e "matar o jogo", numa jogada emblemática. Ao segundo minuto dos 7 de compensação que o árbitro entendeu justificarem-se, Darwin arrancou pela esquerda e foi tal o pânico que acabou rodeado por cinco - cinco! - jogadores do Sporting. Nada impressionado com tamanha guarda de honra, entregou a bola ao Gil Dias para tranquilamente meter a bola por baixo do corpo do pobre Adan . Mesmo com os 11 jogadores, em vez dos 7 que deveria ter em campo, ao dispensar cinco só para Darwin só sobravam seis. Mas estavam lá mais para a frente...
E lá ficou o resultado um pouco mais condizente com o que foi a superioridade do Benfica no dérbi, mesmo quando ainda estamos longe do dia em que voltarão a respeitar o Benfica, como hoje dizia o miúdo Henrique Araújo, no fim do jogo da equipa B em Vila do Conde, com o Rio Ave. Sim, um miúdo da equipa B. Não foi o presidente Rui Costa. Nem sequer o Rui Pedro Brás. Não terá sido por isso que foi expulso!
O Benfica entrou com pressa, hoje na Luz. Se é para sofrer golos - a equipa sofre sempre golos, seja a jogar com o último, com o penúltimo, seja com quem for - vamos lá tratar disso. Não há tempo a perder!
Foi assim que começou o jogo com a B SAD, directo ao assunto, sem perdas de tempo. E como é matéria que está bem treinada, é fácil, rápido e eficaz. Taarabt perde a bola, o resto é com a defesa. E, logo aos minutos, assim foi. O Afonso, a terceira geração dos Sousa, ganhou a bola ao marroquino e correu com ela pelo meio campo do Benfica. Entregou-a ao Rafael Camacho, na esquerda, para este dar um nó cego ao mesmo Taarabt - que correra atrás do prejuízo para o sítio onde não estava André Almeida - e continuou a correr, sem ninguém o incomodar, até receber de volta, sozinho, dentro da área, e bem na frente de Vlachodimos, a bola devolvida pela antiga promessa sportinguista e a meter na baliza.
Assunto arrumado. Com a consciência do dever cumprido, a equipa podia agora entregar-se de corpo e alma à espinhosa missão de ganhar ao último classificado. Com seis alterações em relação ao último jogo, e com mexidas em todos os sectores (na defesa apenas repetiu Otamendi, no meio campo apenas Taarabt, e na frente só Darwin e Everton sobraram), começou por não ser fácil: muita bola, mas também muita tremideira. Empurrava o adversário lá para trás, chegava a asfixiá-lo, mas nada de golpe fatal. Deixava-lhe sempre fôlego para ameaçar. Os remates, quando surgiam, eram pouco menos que desastrados.
Mas as coisas lá se foram compondo, e a meio da primeira parte Taarabt redimiu-se: recuperou uma bola e, depois de primeiro ter tentado o remate, à segunda correspondeu com um belíssimo passe à belíssima desmarcação de Darwin, que concluiu com os também belíssimos recepção e remate. E, mesmo sem jogar um futebol de sonho, os remates e as oportunidades começaram a surgir.
No arranque da segunda parte o ritmo dos remates (26 no total do jogo, um novo recorde na liga) e das oportunidades de golo cresceu ainda mais. Antes dos 10 minutos, com nova assisstência de Taarabt, Darwuin marcou o segundo e, quatro minutos depois, a passe de João Mário, o terceiro - o hat-trick. O guarda-redes do Belenenses, o poste, alguma falta de sorte e bastante aselhice iam evitando a goleada. Que, com meia hora para jogar, parecia inevitável.
Mas não foi. Entrou-se no período de substituições, e com as saídas de Taarabt, primeiro, e Darwin depois, para entrar Yaremchuck, nem admirou que ainda não fosse desta que o Benfica regressaria às goleadas. E, com as intermitências habituais da equipa, tudo até se poderia ter complicado em mais duas perdas de bola comprometedoras (não, não é só Taarabt) que, naqueles dias em que tudo corre mesmo mal, poderiam ter dado novos golos ao mesmo Afonso.
As intermitências e a falta de eficácia do costume, e a incapacidade para manter o adversário dominado e controlar efectivamente o jogo, são a nota negativa de uma exibição que, não sendo brilhante, acabou por ser aceitável e justificar muito mais golos. E se lhe dermos o desconto de André Almeida já não poder discutir o lugar com Gilberto, de Diogo Gonçalves não ser Rafa, de Valentino Lázaro não ter nada a ver com Grimaldo, e de Meité não ter nada a ver com nada, ainda mais terá de ser valorizada.
PS: Os meus afazeres são por regra submetidos à lei suprema "do hoje joga Benfica". Hoje violei a lei. Não fui à Luz, nem vi o jogo em directo na televisão. À hora do jogo estava em viagem, e fi-la ouvindo o relato na Antena 1. Quando cheguei a casa fui ver o jogo, e nem fiquei espantado por não ver nada do que ouvira relatar, porque já sabia que os relatos de futebol na rádio são hoje um produto, um "conteúdo" que e serve para tudo menos para transmitir o jogo. O meu espanto foi não ter visto nada do que o comentador do jogo viu. Disse esse comentador - não fixei o nome, mas é certamente um "especialista" - por exemplo, que o Benfica não foi Darwin mais dez. Foi Darwin mais zero!
Haverá certamente a tentação de considerar este Braga - Benfica de hoje, na Pedreira, um grande jogo de futebol. Um jogo com cinco golos, a maioria deles em apenas cinco minutos, com voltas e reviravoltas no marcador, tenderá para isso, para um grande jogo. Não me parece que tenha sido. Foi, antes, mais um mau - muito mau mesmo - jogo ... do Benfica.
O Braga aprendeu a lição da goleada (6-1) da Luz, na primeira volta. Quis disputar esse jogo de igual para igual com o Benfica, e acabou goleado. Hoje não caiu nessa tentação. Hoje entrou para o jogo com o claro propósito de se juntar no seu meio campo, com a grande área e baliza bem defendidas. Saía para pressionar a saída de bola , recuava de imediato, em bloco, e esperava pelo erro para sair em contra-ataque, a aproveitar as costas da defesa do Benfica. Que não são bem costas, são mais calcanhar. O calcanhar de Aquiles da equipa.
Não vi todos os jogos do Braga, mas vi muitos. Vi todos os que disputou com o Porto e com o Sporting, e nunca os vi jogar assim, dessa forma. Da forma como jogam todas as equipas pequenas contra o Benfica.
É condenável que Carlos Carvalhal tenha optado por esta estratégia de jogo? Não, claro que não. Toda a gente sabe que a melhor forma de enfrentar este Benfica é essa. Sem espaços, com pressão e intensidade na disputa da bola, esta equipa fica sem saber o que fazer. Circula a bola, por um lado, pelo outro, e para trás, mas na maior parte das vezes não vai a lado nenhum. Muitas vezes começa até a falhar passes fáceis lá estão as costas. Os calcanhares.
A primeira parte correspondeu por inteiro à óbvia e fácil estratégia do Braga. O Benfica teve bola (69 ou 70%) mas nunca encontrou a baliza do Matheus. Nas três únicas ocasiões em que conseguiu entrar na grande área adversária, e baralhar-lhes a defesa, os dois pontas de lança decidiram ser eles próprios a matar o perigo das jogadas. Primeiro Yaremchuck, que com Rafa liberto à frente da baliza, preferiu ser ele a rematar sem qualquer ângulo para isso, e naturalmente para fora. Depois foi Gonçalo Ramos a decidir rematar contra o defesa que tinha à frente, com o mesmo Rafa na mesma situação. Da última, em boa posição, à frente da baliza, Yaremchuck não teve engenho, nem arte, e nem sequer iniciativa para aproveitar o cruzamento rasteiro, perfeito, de Gilberto. E o Braga acabou até por rematar mais vezes que o Benfica, mesmo sem nunca acertar na baliza de Vlachodimos, que nem uma defesa fez em toda a primeira parte.
Não fosse a mão de Vertonghen e o jogo não dava em nada. Mas Vertonghen tem mão. Também tem azar, e também joga mal. Tão mal como hoje, é que nunca vi. A mão é que vem antes de tudo.
Ia a primeira parte a meio quando, num canto, Vertonghen marcou o golo que poderia - ou talvez não, já vimos tanta coisa - dar outro caminho ao jogo. O Hugo Miguel, lá no VAR, viu que a bola lhe raspou na mão. A mão que tinha encostadinha à barriga, mas é o que a lei diz. Quando é golo, tudo o que se sabe sobre a mão não vale de nada.
Logo a seguir, a mesma mão do capitão da selecção belga, que saltava nas alturas a cortar uma bola, e já não a podia ter encostada à barriga, tocou ao de leve no cabelo do Ricardo Horta, cá em baixo, apenas preocupado em empurrar-lhe ... os calcanhares. E o bom do Ricardo Horta, que dizem por aí que é benfiquista do coração e que está para ser contratado, caiu a rebolar-se agarrado à cara. E não foi só dessa vez que tentou enganar - o árbitro, os benfiquistas e até os braguistas.
Luís Godinho, chamou-lhe um figo - assinalou falta, ali em cima da linha da grande área, e mostrou o amarelo ao defesa do Benfica, o quinto. Foi incompetente. Mas não tanto quanto Vlachodimos, que deixou entrar na baliza a bola rematada pelo Yuri na cobrança do pontapé livre. Ah... um livre ali, em zona frontal e mesmo a queimar a linha da grande área, tem boas probabilidade de dar em golo. É verdade. Grandes executantes conseguem fazer a bola contornar a barreira e enfiar-se no cantinho do lado contrário ao do guarda-redes. Só que não foi assim. Foi um remate rasteiro justamente para o único lado que podia ir. Aquele onde estava Vlachodimos.
E lá ficou o Braga a ganhar. Com a incompetência do Luís Godinho e do Vlachodimos, mas sem a mão de Vertonghen era o Benfica que estaria a ganhar. E lá continuou tudo na mesma, até ao fim da primeira parte.
Só mudou na segunda. E como mudou ... Ao intervalo, Nelson Veríssimo tirou Everton e Gonçalo Ramos, para fazer entrar Darwin e .... João Mário. Lembram-se dele? O Yaremchuck continuou por lá, a fazer não se sabe bem o quê. Nem ele saberá. Carvalhal trocou só o Abel Ruiz pelo Vitinha, e acertou. E foi a desgraça. Seguiu-se meia hora tenebrosa. Ninguém ganhava uma bola, e ouviram-se até olés na Pedreira. Ainda o primeiro quarto de hora se não tinha esgotado e os irmãos Horta fizeram o que quiseram da defesa do Benfica, com o André a entrar com a bola pela baliza dentro. Não festejou. Foi só cínico.
A perder por dois, Veríssimo fez entrar Seferovic, Paulo Bernardo e Diogo Gonçalves, tirando Yaremchuk (finalmente), Meité e o desgraçado do Vertonghen, recuando Weigl para o eixo da defesa. Mas nem isso mudaria o jogo, parecia até aumentar o risco de um resultado ainda mais penoso. O que mudou o jogo foi um penálti, essa raridade, que só não caiu do céu porque veio pela mão do André Horta, a desviar uma bola que lhe fugia da coxa.
Darwin converteu-o, e aí sim. O jogo mudou. A equipa acreditou, foi para cima do adversário, e bastaram três minutos para empatar o jogo, por João Mário, assistido pelo Darwin. Acreditou-se então na vitória. O jogo só terminaria 20 minutos depois e, chegados ali, já nada pararia a avalanche do Benfica.
Nada disso. O Braga já lhe tinha tomado o pulso, e já não tinha medo. Não foi o Braga que nem deixou saborear o golo de João Mário. Foi mais uma vez a equipa. O Braga só fez o que lhe competia - não ajoelhar. A bola foi ao centro e daí praticamente para o remate espontâneo, mas fácil, de Vitinha. Que Vlachodimos defendeu para canto, só porque não estava suficientemente concentrado para fazer melhor. Do canto, a bola ressaltou na costas do Gilberto e ia para sair pela linha lateral do lado contrário quando o AL Musrati a foi tranquilamente buscar para a colocar no lado oposto, para o Vitinha, completamente sozinho na pequena área, nas barbas de Vlachodimos, marcar um golo fácil.
Faltavam 11 minutos para os 90, a que se seguiram mais 7 de descontos. Muito tempo - 18 minutos - mas o Braga regressou à fórmula da primeira parte. Os jogadores do Benfica quiseram, mas não puderam.
Se ainda havia quem pensasse no apuramento directo para a Champions, já não há. Acabou. Uma equipa que não consegue ganhar três jogos consecutivos não pode aspirar aos lugares da frente de qualquer campeonato minimamente competitivo. Dá para terceiro porque é em Portugal. E porque o quarto também não tem primado pela regularidade. E porque o quinto é o Gil Vicente.
Com meia casa na Luz, no segundo jogo consecutivo em casa no regresso ao campeonato depois da vitória em Amesterdão e de se ficar a saber que o Liverpool é o freguês que segue nos quartos de final da Champions, o Benfica recebeu o Estoril. Tem sido em casa que as coisas têm corrido mal - ou pior, para bem dizer, porque tem corrido mal praticamente em todo o lado - mas hoje não havia que lembrar isso. Hoje importava saudar a equipa pelo feito na Champions, e ajudar a encaminhar os jogadores no rumo para a recuperação.
Por isso não faltou apoio à equipa, como de resto também não tem faltado. Não tem sido por aí que as coisas têm falhado.
A verdade é que hoje voltaram a falhar, acabando por se salvar o resultado - melhor, os três pontos da vitória. Nem deu para ficar com aquela sensação que a equipa até entrou bem no jogo, porque logo aos oito minutos o Estoril só não marcou porque a bola bateu no poste esquerdo da baliza de Vlchodimos. Que, logo a seguir, evitou o golo do espanhol Sória, com uma grande defesa. E seguiram-se mais de vinte minutos de de falso equilíbrio no jogo porque, se na verdade o Estoril não voltou a desfrutar de de oportunidades de golo - já tinha tido as mais flagrantes - estava melhor no jogo, controlando-o e jogando até de forma mais vistosa.
O Benfica era então um deserto de ideias, e tacticamente cheio de equívocos. O maior desses equívocos é já estrutural: os jogadores da defesa, com medo das suas costas, não sobem; e os do meio campo, com medo da defesa, encostam-se a eles atrás, deixando uma cratera entre os avançados e o resto da equipa. Nessa cratera jogam os adversários, à vontade, sem qualquer tipo de pressão.
É assim sempre, não foi só hoje. Só não é assim quando jogam todos a defender, como em Amesterdão. Aí já não há costas dos defesas, e os do meio campo e os da frente estão juntinhos numa única linha, encostados aos defesas.
Outro equívoco é Meité a jogar ao lado de Weigl. A defender e a segurar a bola, em registo puramente defensivo, é útil. Viu-se como o foi com o Ajax, na passada terça-feira. Fora desse registo é um travão. Não reconhece os momentos do jogo, acha que o seu papel é apenas o de segurar e prender a bola. E por isso mata à nascença qualquer transição ofensiva rápida. Se a bola lhe chegar, e na zona do terreno que ocupa é difícil que não lhe passe ali perto, é garantido que o adversário tem todo o tempo para se recolocar defensivamente.
Estava o jogo nisto, com a equipa do Estoril confortavelmente instalada no jogo a cobrar mais um canto, quando Rafa interceptou a bola, junto à linha lateral da grande área defensiva. Com um primeiro drible tirou da frente o primeiro adversário, o destinatário da bola no canto, e olhou à volta. Não apareceu ninguém a quem passar a bola, e resolveu arrancar por ali fora, sozinho. Correu, correu, correu ... sempre com a bola nos pés. Passou por um, dois, três ... Quando acabou de passar por todos, já só restava o guarda-redes. Estava demasiado encaminhado para a esquerda, e o Dani Figueira tinha-lhe fechado o ângulo de remate, mas conseguiu encontrar engenho e arte para lhe colocar a bola fora de alcance.
Um golo do outro mundo. Só ao alcance de Maradona. Ou de Messi. Poborsky também fez com o manto sagrado uma coisa muito parecida.
Um golo destes nunca se imagina que possa acontecer. Aconteceu neste jogo, e só poderia acontecer num jogo jogo como este. O relógio marcava o minuto 34.
Até ao intervalo a equipa pareceu ficar contagiada por aqueles segundos mágicos que Rafa demorou a ir de uma baliza à outra, e teve então o seu melhor período. Mesmo assim apenas por uma vez esteve próxima do segundo golo, por Gonçalo Ramos.
À entrada para a segunda parte foi o Estoril que voltou à carga, e Vertonghen salvou o golo do empate em cima da linha de golo. O que parecia ser o regresso do Estoril ao comando do jogo acabou por ser liquidado por Gonçalo Ramos - definitivamente um valor confirmado - que aos 8 minutos fez o segundo golo. Iniciou e concluiu a jogada com o golo, depois de tabelar com Gilberto.
O Estoril sentiu o golo, como sentira o primeiro. E o Benfica começou a levantar a questão do copo meio cheio ou meio vazio. Se quisermos ver o copo meio cheio, diremos que vinha de um jogo super desgastante, de elevada exigência, e que, por isso, teria que entrar em regime de controlo. De poupança. E iremos buscar aquela estória do acrescido grau de dificuldade dos jogos pós Champions. Se virmos o copo meio vazio, diremos que a equipa voltou a fazer uma demonstração de falta de ambição para partir para uma exibição e um resultado galvanizador e, depois, de falta de qualidade para assegurar o controlo dos jogos. E diremos que esta equipa nunca marca mais de dois golos. E que sofre sempre pelo menos um.
O golo de André Franco, praticamente no último lance do jogo, e até a sua própria exibição, se calhar leva-nos a ver o copo meio vazio.
Já nada falta acontecer ao Benfica nesta malfadada época, e nesta Liga manhosa. Hoje era finalmente a altura do Benfica da era Veríssimo alcançar a primeira sucessão de três jogos a ganhar. A ninguém passaria pela cabeça que não fosse desta, com o Vizela, na Luz. Mas não foi!
Começou cedo a desenhar-se este insucesso. Logo no início do jogo, quando Taarabt ... foi Taarabt. Uma besta, como é tantas vezes. E deixou a equipa a disputar todo o jogo com menos um jogador. Aquelas perdas de bola, sempre da mesma maneira, ou acabam em golo para o adversário, ou acabam em amarelos e vermelhos. E nem se fala do jogo de braços, que geralmente não acaba em nada de muito diferente, porque nem teve tempo para isso.
Desta vez aconteceu logo aos 5 minutos de jogo. O árbitro - Manuel Oliveira - sancionou com amarelo. O VAR - André Narciso - achou que aquilo era para vermelho. Teve razão, perdeu-a toda ao longo do jogo, mas naquele momento teve-a. Perdeu-a quando, mais tarde, não viu uma entrada exactamente igual sobre o Rafa. Quando não viu dois penáltis sobre o Darwin. E quando não viu um defesa do Vizela a tirar a bola com a mão da cabeça de Vertonghen, dentro da área. E lá começou o jogo de 11 contra 10.
O Benfica, com 10 jogadores, tem a obrigação de ganhar ao Vizela, com 11? Tem, claro que sim. E acabou a prová-lo. Porque esteve mais próximo de ganhar este jogo do que de esteve de ganhar qualquer dos últimos que não ganhou na Luz, em igualdade numérica com o adversário. E, mesmo que com diversos roubos de igreja, bem menos que os três desta noite.
Mas, à excepção dos últimos vinte minutos do jogo, nunca foi claro que a equipa tivesse estratégia e alma para tanto. Durante a primeira parte, mesmo assim, o Benfica foi superior ao Vizela, e podia ter chegado ao intervalo em vantagem, se tivesse aproveitado as duas claras oportunidades de golo que criou.
A segunda parte começou com mais uma oportunidade de golo para o Benfica. Mas também com duas substituições no Vizela à procura de soluções que lhe potenciassem a superioridade numérica de jogadores em campo, que não tinha sabido aproveitar. E durante perto de 20 minutos aproveitou-a para tomar conta do jogo. Durante esse período questionou-se se o Benfica tinha a alma e raça sempre necessárias para ganhar jogos, e imprescindíveis para os ganhar com menos um jogador. De tal forma que o golo do Vizela pareceu apenas uma questão de tempo. E foi. Chegou aos 65 minutos, e não foi surpresa nenhuma. Surpresa foi a forma como o Benfica reagiu ao golo, então sim, com raça e alma, muita dela vinda das bancadas. Que veio também do banco, com Nelson Veríssimo desta vez a acertar nas substituições. Primeiro com a substituição do - mais uma vez - nulo Diogo Gonçalves por Meité, finalmente a dar o equilíbrio ao meio campo que faltava desde a expulsão Taarabt, mais de uma hora antes. E, mais decisiva ainda, ao tirar um defesa (Mourato, no lugar do poupado Otamendi) para meter mais um avançado - o miúdo Henrique Araújo.
Poucos minutos depois de entrar Meité atirou à barra (mais uma para a estatística da equipa com mais bolas nos ferros do campeonato). Antes, no minuto anterior, o tal desvio da bola da cabeça de Vertonghen com a mão, no terceiro penálti que nem Manuel Mota nem André Narciso quiseram ver. E a primeira vez que o miúdo tocou na bola foi para marcar o golo do empate.
A partir daí foi um autêntico festival de desperdício. Com defesas impossíveis do guarda-redes vizelense, com cortes sobre a linha de golo, ou por falta de discernimento para tomar as melhores decisões, em especial de Darwin, o mais afectado pelas incidências do jogo, se for isso que chamem a uma arbitragem tão escandalosa. E lá ficaram na Luz mais dois pontos. Mais dois à conta da pouca vergonha instalada no futebol em Portugal!
E fica ainda uma factura para Amesterdão. Deveria ser apresentada a Tarrabt, mas vai ser paga por todos na terça-feira.
São as vitórias que fazem com que se ganhem jogos como este de hoje, em Portimão. Ganhar é importante para garantir pontos e classificações, mas é indispensável para inverter as coisas quando não correm bem.
Sem a vitória no último jogo, com o Vitória, de Guimarães, dificilmente o Benfica teria ganho este jogo de hoje. Teve tudo para se tornar em mais um jogo da série negra. O Benfica entrou com o habitual dispositivo de jogo, mas com três novidades na equipa - Otamendi e Weigl, regressados após cumprimento da suspensão pelo quinto amarelo, e Yaremchuk no lugar de Darwin, no banco, ao que se diz por ter estado engripado. E com a habitual pasmaceira, com um futebol lento, previsível, sem movimento, sem profundidade e sem baliza. Remates, nem por sombras ... O Portimonense, interessado em defender lá atrás, agradecia.
Estava tudo entretido naquele jogo que não dava para nada quando um apanha-bolas tropeçou num painel de publicidade e caiu, precisando de assistência e quebrando com a tranquilidade reinante no relvado. O jogo esteve interrompido por largos minutos e quase não se notou a diferença entre o jogo que se estava a jogar e o que estava parado.
Pouco depois de recomeçado, em tempo contado aí pelo que seria o meio da primeira parte, o Benfica consegue a primeira espécie de oportunidade de golo, por Gonçalo Ramos e, logo de seguida, Taraabt falhou mais um passe, Otamendi ficou a dormir, e o Portimonense, na primeira vez que chegou à baliza de Vlachodimos e no primeiro remate, marcou.
Era o costume. O que sempre tem acontecido, à excepção daquele último jogo, o tal da vitória importante. E péssimo presságio para o que poderia estar para vir. O Benfica acusou o golo, como sempre, e o Portimonense estava cada vez mais como queria. Quando era preciso reagir, a rapaziada da claque decidiu festejar com fogo de artifício o 30º aniversário. Ao minuto 30 encheu o relvado de luzes e fumo, mais fumo que luzes, e o árbitro, o nosso amigo Fábio Veríssimo - foi uma tarde/noite de Veríssimos, era o árbitro, era o treinador do Benfica e ainda o adjunto de Paulo Sérgio, que ficou a comandar a equipa por expulsão do treinador principal do Portimonense - suspendeu o jogo.
Valeu que aquela rapaziada, para além de esgotar a paciência de toda a gente, também esgotou as munições. E o jogo lá foi retomado despois deles terem terminado a festa. A verdade é que o espectro de o jogo poder ter acabado ali mesmo parece que fez bem aos jogadores do Benfica. E nos 15 minutos que se seguiram em modo de tempo de compensação foram melhorzinhos. Deu para o empate, de Grimaldo, depois de um canto, num pontapé de ressaca de fora da área. E poderia ter dado até para virar o resultado, num livre cobrado pelo lateral esquerdo que saiu a centímetros da baliza, com o guarda-redes adversário completamente batido.
Na segunda parte, já sem interrupções, o jogo foi diferente, para melhor. Logo no início, de novo na sequência de um canto, Gonçalo Ramos marcou o golo da reviravolta, que assegurou a vitória. E o Portimonense deixou de ter as coisas a correrem-lhe de feição.
Mesmo assim esperou pelo último quarto de hora para alterar a sua postura e para se adiantar no relvado. Esperou certamente que o Benfica se mantivesse à procura do golo da tranquilidade, e guardou a baliza para, depois, com o resultado em aberto, correr então riscos à procura do empate. Não se poderá dizer que o Benfica não tenha procurado o terceiro golo, mas não teve futebol para criar grandes oportunidades para isso. Os dois golos, e a circunstância que lhes é comum, ilustram essa dificuldade
E quando o Portimonense subiu no terreno e abriu espaços, voltou a não ter futebol para matar o jogo. As transições ofensivas, que antes eram o trunfo maior da equipa, e o responsável pelas goleadas de há uns meses, são hoje apenas boas recordações. Falha sempre o passe, a recepção, o movimento ou a decisão.
Pode ser que esta vitória - ainda com o resultado melhor que a exibição - seja mais um passo para que, aos poucos, também esses requisitos comecem a regressar à equipa. Para já vamo-nos contentando pelo azar já não estar sempre a bater à porta. É que o Portimonense até criou duas boas oportunidades para marcar. Noutras alturas teria mesmo marcado!
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