O último jogo do Benfica no campeonato, nos Arcos, com o Rio Ave, foi o retrato da época. Era impossível acabar o campeonato de outra forma.
Foi o jogo de despedida de Ukra, a que o Benfica se associou, com mais três pontos para o campeonato do fair play desportivo, o único que consegue vencer repetidamente. Ao minuto 17 - do número na camisola - Ukra abandonou o campo, colocando o ponto final na carreira, por entre uma ala aberta pelos seus colegas e pelos jogadores do Benfica.
A festa durou três ou quatro minutos, e quebrou o ritmo com que o Benfica tinha entrado no jogo, que lhe trouxera já duas excelentes oportunidades de golo. Durante cerca de 10 minutos o Benfica andou à procura de reentrar no jogo, de re-afinar a máquina. Depois retomou o fio à meada e prosseguiu.
Sem Trubin, Di Maria, Rafa e António Silva (Neres, Cabral e Leonardo já não tinham estado disponíveis no último jogo), substituídos - respectivamente - pelo nervoso Samu, pelo talentoso (tanto talento para potenciar!) Rolleiser, e pelo fiável Morato, o Benfica jogou como normalmente faz.
Tenho aqui repetido que o Benfica não sabe jogar mal. Foi assim durante praticamente todo o campeonato, com as excepções de Guimarães (aí com culpas nas condições climatéricas que tornaram o relvado impróprio para jogar futebol) e do Dragão. O problema não é, nem nunca foi, de qualidade de jogo. Foi de intensidade, nuns jogos. De velocidade, noutros. De estratégia, noutros ainda. E de eficácia em praticamente todos.
Depois de retomar o fio à meada, por volta da meia hora de jogo, o Benfica marcou. Por Kokçu, assistido por Tengstedt, que deve hoje ser o jogador com mais capacidade de irritar os adeptos. Dominou por completo o jogo e desperdiçou mais de uma dúzia de oportunidades claras de golo. Dessas, três ou quatro foram-se em enormes defesas de um guarda-redes de que nunca tinha ouvido falar: Miszta. A que se juntam mais três ou quatro em que foram os jogadores do Benfica (especialmente Tengstedt) a acertarem-lhe com a bola. Duas foram retiradas de dentro da baliza pelos defesas do Rio Ave. E todas as outras morreram em remates por alto ou ao lado.
Foi de tal forma que, mesmo a jogar bem e a dominar por completo o jogo - nenhuma das equipas do topo do campeonato dominou tanto nos Arcos -, a partir do meio da segunda parte a dúvida já não era quando é que o Benfica marcaria o segundo; era quando é que o Rio Ave marcava.
Porque essa era exactamente a história deste campeonato. E a sina de uma equipa que não consegue matar os jogos que domina.
O aviso chegou pouco depois da entrada no último quarto de hora. Na primeira vez que o Rio Ave conseguiu sair em contra-ataque marcou. Mas em fora de jogo, pelo que ficou apenas o aviso. Até que, no último minuto, o VAR descobre uma mão do Florentino na defesa de um pontapé de canto, que até acabou num remate de cabeça ao poste.
Não importa agora que o penálti não tenha existido. O Florentino saltou com a mão "em posição não natural", como justificou o árbitro a sua decisão. É verdade que sim. Mas não tocou, nem poderia ter tocado na bola, pela simples razão que ela não sofreu qualquer desvio. Se as imagens não permitem garantir que tenha, ou não, tocado com a mão na bola, o simples facto de a bola ter saído direitinha da cabeça do jogador do Rio Ave para o poste, sem o mínimo desvio, prova o erro da decisão do árbitro e do VAR.
Para este Benfica a velha lei "do quem não marca sofre" é cruel. Mas justa. Porque a equipa não falha apenas golos. Falha no controlo do jogo. O que só quer dizer que falha na mentalidade.
O Rio Ave fez uma festa. Quis o empate e foi mentalmente forte para o conseguir. E fechar o campeonato com o notável registo de 13 jogos consecutivos sem perder. Enquanto o Benfica o fecha, muito provavelmente, a 10 pontos da frente.
Só uma nota para as estreias demais dois miúdos - Gustavo Varela e Prestianni. E a prova de vida de Barnat, no último jogo. A entrada de Gustavo Varela ainda terá sido a pensar "na fezada" das substituições dos pontas de lança, que às vezes marcam na primeira vez que tocam na bola. As dos outros foram apenas para fazer número.
Um pouco menos de 50 mil - e ainda assim uma das mais fracas assistências na Luz desta época - no jogo das despedidas. Da despedida da época na Luz, e da despedida maior, no adeus de Rafa ao Benfica, oito anos depois.
Poderia falar-se de um jogo de festa. As despedidas nem sempre se fazem de tristeza e de nostalgia. Também se fazem de festa. Se até as despedidas de solteiro/a se fazem em festa...
Bem sei que a festa seria se, em vez da despedida da época - que não deixa saudades a ninguém, mesmo que o Benfica até só tenha deixado fugir quatro pontos na Luz -, ou de Rafa que, deixando saudades, também lá tem os "haters" do costume, se tratasse da despedida de Schmidt.
Como essa despedida não estava anunciada, a Luz dividiu-se entre uma maioria que queria estar na festa, mesmo que já não goste do treinador, e uma minoria ruidosa que queria, dali mesmo, despedi-lo.
Apesar disso o jogo foi uma festa.
Para isso contou com a preciosa colaboração da equipa do Arouca, é bom de salientar. Sabe jogar à bola e surgiu na Luz apenas empenhada em mostrá-lo, sem nada que chateasse ninguém. Mais que um bom adversário foi um adversário bem simpático.
O Arouca pretendeu, e conseguiu, repartir a bola com o Benfica. Nunca conseguiu atingir a intensidade que lhe permitisse fazer mais que simplesmente circular a bola. Por isso não criou uma única oportunidade de golo em todo o jogo, e demorou uma hora para fazer o primeiro remate, mesmo que sem a direcção da baliza. Por isso o Benfica marcou cinco golos, e bem poderia ter marcado mais do dobro, mesmo não contando com as defesas "impossíveis" do guarda-redes Arruabarrena, que está lá para isso. Contando apenas com as bolas, como aquela do João Mário no poste (18ª bola nos ferros neste campeonato!) que, tendo tudo para entrar, acabaram por ter outro destino.
E por isso o jogo teve mais que apenas a festa do golo. Fez-se festa quando as bancadas exigiram Rafa para cobrar o penálti. Quando Di Maria, por recusa de Rafa, o converteu em golo. No primeiro. Quando, logo a seguir, a Luz celebrou o minuto 27. Do número nas costas de Rafa. Quando, também logo a seguir, a da festa do golo se fez no penálti (dois, viva o luxo!) que Rafa voltou a não querer cobrar, deixando o golo para Kokçu. Fez-se festa, de arromba, quando Rafa, depois de iniciar a jogada com um chapéu sobre David Simão, recebeu de volta a bola de Aursnes para a rematar, de primeira, para um grande golo. Às portas do intervalo.
E a festa continuou na segunda parte. Logo na abertura com Rafa a voltar a marcar. Um golo com assinatura, e mais alguma coisa, a avaliar pela imagem da celebração, na fotografia. E continuou, à espera do hat-trick da despedida. Não chegou. A festa do quinto golo fez-se com Tengstedt - o único ponta de lança disponível - que tinha entrado na segunda leva de substituições e, como já faz parte da "estória", marcou na primeira vez que tocou na bola. Assistido por Rafa.
E acabou ao minuto 85, quando Rafa foi substituído (pelo menino João Rego) para o aplauso final de despedida. Deixando já saudades!
Esta deslocação do Benfica a Famalicão, no jogo que fechava a penúltima jornada do campeonato, tinha como principal interessado o Sporting. Que, se o Benfica não ganhasse, festejava o título. Não propriamente no sofá, como é da gíria, mas em Alvalade, onde tudo estava pronto para a festa.
Até por isso, o Benfica "só" tinha que ganhar este jogo.
O jogo iniciou-se com dois golos, logo no arranque, um para cada lado, e ambos anulados por fora de jogo. Primeiro o do Benfica, que parecia "sem espinhas". Desde logo porque o penúltimo jogador do Famalicão era o seu guarda-redes. Depois, porque a linha do VAR deu uns 9 centímetros. Já o de Jhonder Cadiz, logo na resposta, era visível a olho nu.
Depois foi preciso esperar um quarto de hora para se voltar a sentir o cheiro a golo. E de novo para ambos os lados. E, ainda de novo, primeiro para o Benfica, com resposta imediata do Famalicão. Mas não foi preciso tanto tempo para se perceber que a anarquia táctica no Benfica tornara o jogo caótico.
Poderia dizer-se que a equipa não teve meio campo. Que era uma equipa partida ao meio, que apenas defendia ou atacava. Mas foi ainda pior - não foi sequer equipa, foram simplesmente 10 jogadores mais Di Maria.
Ao intervalo não havia golos, mas poderia ter havido. E muitos, em ambas as balizas.
Roger Schmidt emendou a mão, e tentou pôr alguma ordem no jogo. Fez três substituições na entrada para a segunda parte, retirando o "inexistente" Kokçu (supostamente a jogar a 10), trocado por Rafa; Neres (trocado pelo inexistente João Mário, que jogara no meio, para onde entrou Florentino; e Marcos Leonardo - o ponta de lança que desta vez saiu na rifa de Roger Schmidt - foi trocado por Artur Cabral.
A necessidade da entrada de Florentino era óbvia. Como a da saída de Kokçu. O resto, era esperar para ver.
Não foi preciso esperar muito. A equipa parecia outra, passou a dominar por completo o jogo, e as oportunidades de golo surgiam agora de forma continuada, mas apenas na baliza do Luiz Júnior. Foram vinte minutos de asfixia, mas sem golos, com o Artur Cabral a fazer lembrar ... Marcos Leonardo. À falta de melhor ...
A meio da segunda parte tudo mudou. O Famalicão, com apenas uma substituição, conseguiu soltar-se da teia em que estava capturado. E, na primeira vez em que chegou à baliza do Benfica, marcou.
Se Luiz Júnior defendera tudo o que havia para defender, Trubin - paralisado, estático, desconcentrado - fez exactamente o contrário.
A partir daí o Benfica desapareceu do jogo, e voltou à fórmula de 10 mais o Di Maria. Incapazes de reagir ao golo - não pareceu que conseguissem reagir mas, ainda assim, essa hipotética reacção seria logo inviabilizada de novo por tochas, desta vez lançadas do exterior do estádio - os jogadores iam, uns atrás dos outros, batendo no fundo. Schmidt ainda lançou o Tiago Gouveia, retirando finalmente João Mário, mas já nada levantava a equipa. E acabaria por ser o Famalicão a aproveitar o desnorte instalado para voltar a marcar, e selar uma derrota que é, muito, a imagem desta época.
Na realidade o Benfica sempre pareceu ter pressa em entregar de bandeja este título!
O Benfica voltou à Luz, pela penúltima vez neste campeonato. Para defrontar o Braga, sempre um adversário complicado, envolvido na disputa do terceiro lugar, com o Porto - hoje em eleições - num jogo de grande expectativa. À volta do jogo, e do resultado, mas também nas bancadas. Com mais de 55 mil!
Sem João Neves, com o nariz partido em Faro, e surpreendentemente no banco, substituído por João Mário, Roger Schmidt regressou às suas opções habituais. E o Benfica não foi apenas a equipa tipo desta época, foi também a imagem do que tem sido.
A equipa entrou bem, (parte) das bancadas não. A tensão era alta. As claques entraram caladas, e seria bem melhor se assim tivessem continuado. Caladas e quietas.
Nos primeiros quinze a vinte minutos o Benfica dominou o jogo e criou duas claras oportunidades para marcar, entre elas aquela bola de Cabral à trave. Não há equipa que mais tenha rematado aos ferros da baliza, e a conta do Arthur Cabral já vai em cinco. A partir daí, fosse pelo que vinha das bancadas, fosse por crescimento "orgânico" do Braga, o jogo passou a ser mais repartido.
E, à beira da meia hora, o Braga aproveitou a primeira oportunidade, num contra-ataque em que o Djaló passou que nem um foguete por Otamendi, deixando-o batido logo na recepção da bola, foi à linha centrar a bola e atrasada para, à entrada da área, para Ricardo Horta marcar. Por entre as pernas do Trubin.
Era necessário e urgente que a equipa reagisse ao golo. O pessoal das claques achou que não. Que importante era levantar tarjas e arremessar tochas para o relvado, para que o jogo fosse interrompido. Uma vez, e outra vez!
E a equipa, em vez de poder reagir, passou até pela sua pior fase do jogo. Repetindo o afunilamento do jogo, cruzamentos com os adversários de frente para a bola, passes para o lado e para trás, falta de ideias, que tem acontecido frequentemente ao longo da época. Ainda assim dispôs de mais uma clara oportunidade para empatar, com Aursenes "a conseguir", em cima da linha de golo, rematar por cima da barra.
O futebol que se vira em Faro, com os corredores laterais a serem bem ocupados, a alargar o campo, desaparecera.
Regressou na segunda parte. Não logo ao intervalo, que aí nada mudou. Mas quando Bah teve que sair, lesionado, entrando Carreras, com Aursenes a passar para a direita.
O que mudou ao intervalo foi a postura do Braga, que entrou decidido a defender a vantagem daquele golinho. Passou à fase do "autocarro", e o jogo já só tinha apenas o sentido da baliza do Matheus.
Faltavam 20 minutos para o fim quando Schmidt entendeu trocar Rafa por Kokçu - opção inatacável - e Arthur Cabral (discutível naquela altura) por Marcus Leonardo. E o joker voltou. Na primeira vez que tocou na bola, como tantas vezes no seu início, marcou. Um bom golo, pela execução e pela decisão e rapidez a chegar à bola, na ressaca de um livre cobrado por Di Maria. Exactamente um golo que Cabral dificilmente marcaria.
Continuava a ser um resultado interessante para o Braga, pelo que decidiu manter-se lá atrás. E lá manteve o autocarro, à espera de arriscar qualquer coisa nos últimos dez minutos, quando refrescou as alas com as entradas de Rony Lopes e Bruma.
Quando arriscou, num contra-ataque em que chegou à área de Trubin com quatro (avançados) para dois (defesas adversários), Bruma decidiu fazer como se estivesse sozinho. Rematou, para defesa tranquila do guarda-redes do Benfica, que de imediato lançou a bola para Kokçu, que abriu na esquerda em Di Maria, que cruzou milimetricamente para Neres entrar de cabeça, no poste esquerdo.
Era a reviravolta, a cinco minutos dos 90, e o golo que fez explodir a Luz, que não as tochas.
Depois foi controlar o jogo. E tempo ainda para, nos sete minutos de compensação, Leonardo fechar com o seu segundo golo. No seguimento de um lançamento lateral, que se seguiu a um pontapé de canto. Um daqueles que só marca quem tem fome de golo, e moral cheia.
E, sim. O Benfica regressou à sua imagem desta época. Nada de novo. Nem nos golos. Que só de bola parada e em transição rápida. Nem na patetice dos (alguns, sempre os mesmos) adeptos.
Não diria que se esperasse, hoje, em Faro, um Benfica destroçado, de braços caídos. Nunca se poderia esperar, nem admitir, nada disso, mas esperava-se um Benfica abatido, em crise de identidade, e provavelmente com dificuldades em agarrar o jogo.
Nada disso. E por isso o Benfica que vimos em Faro - um campo difícil e um adversário sempre bem organizado e ultra-combativo - foi surpreendente. Surpresa logo na constituição da equipa, uma espécie de meio termo entre a revolução feita no jogo contra o Moreirense e o onze base de Shmidt.
Se na linha defensiva apenas Carreras era novidade, daí para a frente tudo era, se não novo, às avessas. No banco ficavam Aursenes, João Neves, Rafa e Neres - quatro insubstituíveis. Insubstituível mesmo apenas Di Maria. E, se já se dizia que o contrato que assinou teria uma cláusula que o obrigava a jogar todos os jogos, durassem lá o tempo que fosse hoje, em campo, demonstrou que, a existir, não precisa dessa cláusula para jogar. Di Maria foi o maestro de uma orquestra surpreendentemente afinada, em especial na primeira parte!
E isso não se esperava. Com João Mário e Florentino no centro do meio campo, Kokçu mais à frente e atrás de Arthur Cabral, e Tiago Gouveia e Di Maria a ocuparem outros espaços para deixarem as alas para Carreras e Bah, respectivamente, a equipa jogou muito bem. E com uma dinâmica muito diferente da que tem apresentado.
O Farense terá pensado que com aquela pressão pelo campo todo tiraria proveito das esperadas fragilidades do Benfica. Não tirou. Pelo contrário, deixou o espaço todo do campo para jogar, e o Benfica soube usá-lo justamente para isso. Jogar à bola, criar lances de espectáculo (Di Maria esteve à beira de um dos mais geniais golos da História do futebol), oportunidades de golo - muitas - e dois belos golos, curiosamente ambos em assistências de Bah. No primeiro, Kokçu respondeu com um toque de primeira. No segundo foi a arte de Cabral, de calcanhar.
Pelo meio o Farense empatou - um grande golo, também - mas numa segunda bola, depois do único canto até então a seu favor. E a verdade é que se chegava ao intervalo com um escasso 2-1, completamente desajustado do que se passara no campo.
A segunda parte foi menos entusiasmante, mas nem assim com menos oportunidades de golo, ou menos espectaculares - como aquela bicicleta do Cabral - ou menos interessante o comportamento da equipa. Golos é só mais um, o da estreia de Carreras. Também a coroar uma belíssima jogada de futebol. Ao contrário do que tem sempre acontecido, nenhum dos três golos surgiu de transições rápidas, ou de lances de bola parada. Não foi por acaso!
É pena que já só tenhamos visto isto quando já foi perdido tudo o que havia ganhar. É pena que Schmidt só agora tenha entendido - se é que entendeu - que tem um plantel à disposição que o obrigava a outras decisões, que não as que tomou durante todo um ano. E é pena que alguns dos benfiquistas que hoje estiveram em Faro não tenham pecebido nada disto. Nem nada do jogo, nem nada do que os jogadores fizeram.
O que fizeram no fim, depois daquela exibição, àqueles jogadores, não é benfiquismo. É estupidez. E grande!
Os benfiquistas não andam exactamente felizes com o desempenho da equipa, e a Luz ficou abaixo dos 50 mil na recepção ao Moreirense, nesta 29ª jornada. Apenas 83 cima dos 49 mil.
O adversário é daqueles que mais complicam a vida ao Benfica. Seja lá por for - e a verdade é que não é fácil encontrar explicação - nos últimos anos o Moreirense tem sido sempre um adversário complicado. Os quatro empates, nos últimos quatro jogos, são prova disso mesmo. Roger Shmidt fez uma revolução na equipa, mantendo apenas três jogadores da equipa que iniciou o jogo com o Marselha, na passada quinta-feira. E fez outra ao intervalo, quando fez três substituições.
Talvez a aproximação do 25 de Abril, e os 50 anos da Revolução dos Cravos, estejam inspirar o treinador do Benfica. As revoluções são muitas vezes bem vindas mas, no futebol como no resto, se pudermos fazer as coisas pela evolução evitam-se alguns danos. Mas ... lá está - quando não há outra maneira de fazer as coisas é pela revolução que se tem que seguir.
Schmidt tem plantel para rodar a equipa, manter todos os jogadores motivados e rotinados no processo de jogo, sem ter necessidade de levar ninguém ao esgotamento físico. E mental. Mas tem preferido jogar sempre com os mesmos, com os resultados que estão à vista.
Do onze titular nos três jogos anteriores apenas Bah, João Neves e Neres se mantiveram. E até o último esteve a mais enquanto esteve. Não percebe por que o Trubin deu o lugar a Samuel Soares, mas nas revoluções nem tudo se percebe. Percebeu-se é que poderia ter corrido mal. O jogo até começou sem se dar por ele, mas em poucos minutos levou o pânico às bancadas. Que depois lho devolveram.
O primeiro quarto de hora teve pouca "estória", embora já desse para perceber que o Moreirense estava ali para honrar os seus pergaminhos. E que, inevitavelmente, o onze do Benfica não tinha rotinas. Os jogadores falhavam passes fáceis, curtos, não compreendiam os movimentos uns dos outros, e isso facilitava o trabalho dos "cónegos". Em vez de facilitar, o golo de Kokçu, aos 18 minutos - em transição rápida, claro - parece que dificultou ainda mais. E quem cresceu foi Moreirense, dando azo àquele período desconfortável para o guarda-redes do Benfica e para as bancadas, criando até uma clara oportunidade de marcar, naquela bola no poste que, depois, acabou num choque com Samuel Soares, que chegou a pôr Trubin a aquecer para entrar.
Para ajudar, depois foi Tomás Araújo, num corte precioso, a lesionar-se. E, pouco depois, foi Cabral a acordar a equipa, e as bancadas, com um grande remate à trave, desviada por uma enorme defesa do guarda-redes contrário. Só entãoque o jogo mudou. E Tomás Araújo, ainda em campo e lesionado (não regressaria, substituído por António Silva, numa das três substituições ao intervalo), marcaria o seu primeiro golo, e segundo do Benfica. Na sequência de um canto - pois, golos só em transições e bolas paradas - já no período de compensação da primeira parte.
Ao intervalo, o resultado era bem melhor que a exibição.
A segunda parte foi diferente, para bem melhor. E corrigiu essa sensação. Com 45 minutos de adaptação, a equipa apareceu mais entrosada e passou a jogar e a dominar por completo o jogo. Só marcou mais um golo, também o primeiro de Rollheiser (como é possível que Shmidt não tenha dado mais oportunidades?), já à entrada do quarto de hora final. Um belo golo, numa bela jogada. E um dos poucos em ataque continuado nesta época, que colocaria justiça no resultado de um jogo em que dispôs de nove oportunidades claras de golo.
De um jogo que demonstrou que há jogadores para fazer muito melhor do que aquilo que o Benfica tem feito. Tiago Gouveia, Rollheiser, Tomás Araújo, Álvaro Carreras, Kokçu e até Morato - ambos nos seus lugares -, e mesmo Cabral, provaram que "só" precisam de jogar. Que Schmidt, que finalmente fez as cinco substituições de que dispõe, dando até oportunidade a Spencer (mesmo fora da sua posição), mais um miúdo, se estrear na equipa principal, tenha percebido, é o que deseja!
Quando assim é, nem é preciso falar de arbitragens - um penálti claro num lance genial de Cabral, e um vermelho transformado em amarelo. Basta utilizar bem os recursos disponíveis, e todos saímos satisfeitos. Sem assobios!
No dérbi em Alvalade o Benfica não repetiu a exibição da Luz, na passada terça-feira. Por isso, ainda que tenha feito suficiente para ganhar o jogo, perdeu-o. Inglória e imerecidamente, mas perdeu-o. E perdeu hoje o campeonato.
Ao intervalo o jogo estava empatado, com o Sporting a marcar nos primeiros segundos, e o Benfica nos últimos. Começa por aí a história do jogo: ninguém, nos primeiros segundos do jogo, pode ter feito o que quer que seja para justificar um golo; nos últimos segundos já tudo pode ter sido feito para o justificar.
O Sporting apanhou-se simplesmente a ganhar. Tudo começou num erro de António Silva, com um passe à queima para Bah, que o Pote aproveitou. Depois foi a premonição que a sorte estava toda virada para os de Alvalade: um ressalto que podia ter tido um destino qualquer acabou por levar Trubin, em rota de colisão com Otamendi, a desviar a bola para a frente (como na Luz) para Catamo fazer o golo.
Começando o jogo a perder o Benfica teve de se fazer à vida. E fez - repito, sem repetir a exibição da há dias na Luz - mas assegurando o domínio do jogo, e sendo melhor. Muita bola, muitos remates, muitos cantos, mas apenas um golo, e já nos últimos segundos. O Sporting pouco mais fez que limitar-se a esperar. A esperar erros do adversário, a esperar que o Gyokeres resolvesse e à espera que o tempo passasse.
A segunda parte foi novamente diferente. Rúben Amorim voltou a cedo mudar as peças, e o Sporting passou a equilibrar o jogo e a geri-lo, satisfeito com o empate. Nas pequenas coisas, nos incidentes do jogo, a sorte sorria-lhe sempre. A bola sobrava sempre para os seus jogadores (o lance do remate de Gyokeres ao ferro é paradigmático: num "despacho" da defesa do Benfica a bola vai bater violentamente na cara do Hjulmand e teve de ressaltar precisamente para o sueco, sozinho, com a baliza à frente). E, no que podia, o Artur Soares Dias, dava uma ajuda. Como fez, a mais de 25 minutos do fim do jogo, ao perdoar o segundo amarelo ao Hjulmand. Ao contrário do que, mais tarde, fez com Aursenes, hoje o melhor jogador do Benfica.
O Benfica ia criando algumas oportunidades. Golos é que não. A bola ou batia em Coates ou no ferro. Rúben Amorim esgotava as substituições (o Morita e o Gonçalo Inácio não atinavam, o Pote esgotou, e depois o Trincão, e o Hjulmand, tinha de sair, já tinha escapado por duas vezes à expulsão, e seria difícil continuar a escapar) à entrada do quarto de hora final. Schemidt fizera pouco antes a primeira (Tengstedt por Cabral). E ficou-se por aí. Já nos descontos, e já depois de o Sporting ter marcado, fez então duas.
No fim, no primeiro dos seis minutos de compensação, Sporting marcou, e ganhou o jogo e o campeonato. Foi num canto, e a bola interceptada pela defesa do Benfica foi novamente direitinha para o pé do Catamo. O Benfica ainda voltou a ter oportunidade de evitar a derrota. Mas a sorte esteve sempre do outro lado ...
Às vezes o Benfica joga mal. Uma vez por outra. Normalmente joga ... "benzinho". O problema não é sequer jogar apenas "benzinho". Poucochinho. O problema é que não consegue surpreender ninguém. Nem os adeptos, nem - e é isso que é determinante - os adversários.
Esta noite, na Luz, perante o Chaves, com o "onze" do costume - apenas com Tomás Araújo no lugar de António Silva (a confirmar que o preenche com absoluta competência), e com Kokçu, aparentemente com o problema resolvido, no banco - aconteceu o que é normal acontecer: sem jogar propriamente mal, o Benfica jogou "benzinho"... mas poucochinho. Ainda assim o suficiente para ganhar, por muitos, ao último classificado. Tem sido frequentemente assim: jogar "benzinho", mesmo que poucochinho, tem sido suficiente para ganhar maioria dos jogos. Umas vezes por pouco, outras por muitos, conforme a eficácia.
Só que, no jogo desta noite, àquilo a que normalmente chamamos eficácia, temos de chamar competência. Nem sempre é assim, nem sempre a falta de eficácia é incompetência, mas hoje foi-o. Hoje, na Luz, não foi eficácia que faltou especialmente a Di Maria e Arthur Cabral. Eficácia faltou a Rafa, Otamendi, Tomás Araújo, Bah ou Florentino.
Di Maria foi infeliz, mas também incompetente, ao permitir ao guarda-redes do Chaves que defendesse o penálti, ainda antes da meia hora, e que mudaria o jogo. Acontece. Arthur Cabral foi infeliz, mas também incompetente, ao imitá-lo, à hora de jogo. Não faço ideia donde tenha partido a decisão de trocar o marcador, mas não tenho dúvida que foi incompetente - um jogador como Di Maria não pode ficar afectado por ter falhado um penálti. Toda a gente sabe que não. Como toda a gente sabe que uma troca dessas pesa na cabeça de um jogador permanentemente desconfiado, como é Cabral. Fez exactamente como Di Maria fizera, e o guarda-redes voltou a defender.
O VAR - que tivera de intervir para que Hélder Malheiro assinalasse os dois óbvios penáltis - mandou repetir. Inicialmente ficara a ideia que Hugo Souza, o guarda-redes do Chaves, dera um passo antes de a bola partir. Deu, na realidade, mas manteve um pé na linha de baliza. E a repetição deveu-se, afinal, à entrada na grande área de jogadores do Chaves antes do remate, que já tinha também acontecido no penálti da primeira parte, de Di Maria, mas passado em claro.
Na repetição, Arthur Cabral já não foi infeliz, nem apenas incompetente. Foi qualquer outra coisa inimaginável, ao repetir, pela terceira vez, exactamente o mesmo. A mesma preparação, o mesmo remate fraco, para o mesmo lado direito do guarda-redes, no mais flagrante exemplo da incompetência que nesta altura grassa no futebol do Benfica!
A mesma que faz com que apenas consiga marcar ou em contra-ataque, ou de bola parada. Foi assim, num livre cobrado por Di Maria e concluído de cabeça por João Neves que, aos 68 minutos, marcou o golo que assegurou mais uma vitória. Curtinha, justa pelas oportunidades criadas, mas à justa e com muito pouco encanto.
Só depois do golo Roger Schmidt começou a mexer na equipa. A tempo de duas agradáveis surpresas: a primeira nos aplausos a Arthur Cabral, quando foi substituído por Marcos Leonardo; a segunda, pouco depois, pela pacífica entrada de Kokçu que, com João Mário, substituíram Di María e o irreconhecível David Neres.
O Benfica surgiu hoje em Rio Maior no seu jeito, com o seu futebol que não entusiasma os adeptos, nem massacra o adversário. O efeito Kokçu notou-se logo na constituição do onze inicial, com Neres a pagar a factura. Saiu da equipa, daquela que vinha sendo dada como, finalmente, o onze base de Schmidt, para lá entrar - evidentemente - João Mário. A mensagem é simples, e fácil de perceber!
Com João Mário na ala esquerda - ainda por cima onde rende menos -, e Di Maria com lugar cativo na direita, e ambos com tendência a vir para dentro, o jogo do Benfica afunilou sempre, como é habitual. Se a tarefa do Casa Pia era defender, assim, tornava-se mais fácil. Com essa tarefa facilitada, e como o Benfica resolveu dar a primeira parte de avanço, o Casa Pia teve até oportunidade de querer mais qualquer coisa do jogo.
O Benfica acumulava posse de bola e pontapés de canto. Pouco mais. O mais perto que esteve do golo foi quando João Neves cabeceou a bola para dentro da baliza, que o árbitro anulou, por fora de jogo.
O intervalo não mudou nada. O Benfica voltou com os mesmos 11 jogadores, como quem acredita que fazendo as mesmas coisas, e da mesma maneira, seja possível atingir resultados diferentes. Foi preciso mais um quarto de hora para mudar alguma coisa, com a entrada de Arthur Cabral para o lugar Marcos Leonardo (é cada vez mais difícil encontrar-lhe atributos para ponta de lança fixo: não consegue jogar de costas para a baliza, nem tem o que se chama de faro de golo) e de Neres para o de ... Florentino. Que não foi muito apreciada pelas bancadas, maioritariamente benfiquistas, como sempre. Mas que nas circunstâncias do efeito Kokçu se compreende: Florentino tinha sido amarelado no final da primeira parte, e João Mário passaria a formar a dupla do meio campo com João Neves, para o que está mais talhado. E na verdade não correu mal.
Neres dinamizou o ataque, mas também ele vinha muito frequentemente para o meio. Uma espécie de "pecado original" da equipa. E Arthur Cabral dava o desconforto à defesa do Casa Pia que o seu compatriota nunca dera. Os cantos sucediam-se, mas agora também oportunidades claras de golo.
O problema é que, golos - já se sabe - apenas em transição. O Casa Pia também o sabe.Tomou todos os cuidados quando subiu no terreno e tentou evitar todas as oportunidades de transição rápida ao Benfica. Não o conseguiu por duas vezes: na primeira, ainda antes das substituições, Rafa não conseguiu marcar (um toque do defesa empurrou-o para um toque a mais na bola); na segunda, Arthur Cabral fez de Rafa e marcou um grande golo. Ainda antes da entrada no último quarto de hora.
A partir daí foi controlar o jogo, e levá-lo até ao fim. No registo do costume. Que não entusiasma, mas mantém a chama acesa.
António Silva viu o quinto amarelo, deixando-o já de fora, e arrumando com qualquer probabilidade de ficar de fora do dérbi. Nesse aspecto até poderia ter sido "encomenda". Mas não foi, foi apenas ridículo. E uma bizarria. Como bizarra foi aquela "cena" do Aursenes. É no que dá tanta mudança de posição. Já se estava a ver a guarda-redes!
Em noite eleitoral a Luz voltou a ficar abaixo dos 50 mil, no jogo com o Estoril. Ainda assim esteve lá gente a mais. Que não deveria ter entrado.
Com a sanção da UEFA suspensa por dois anos, os energúmenos das tochas quiseram a fazer uma demonstração de estupidez. O jogo esteve parado uns minutos, precisamente quando a equipa precisava de todos os segundos para desfazer o empate, já no fim da primeira parte. Mas nem é isto que mais choca, quem quer prejudicar o próprio clube está disposto a tudo, e nas tintas para o que prejudica a equipa. O que mais choca é que não haja no Benfica quem acabe com esta impunidade!
Rui Costa tem mais um problema para resolver. Seria bom que começasse a dar nota de que os começa a resolver.
Schmidt deu descanso a Rafa, Di Maria e João Neves. A acumulação de amarelos deu-o a Otamendi. Com quatro baixas, as novidades foram Tomás Araújo (no lugar de António Silva, que jogou no de Otamendi), Tiago Gouveia e Marcos Leonardo, o ponta de lança que desta vez saiu na rifa. E o sistema foi o 4X3X3 clássico, que com Rafa nunca se vê.
Poderia mudar o sistema, mas não mudava o futebol tipo do Benfica. O primeiro golo - um grande golo de Kokçu, hoje liberto de fantasmas, no lugar certo, foi um verdadeiro distribuidor de jogo - chegou no segundo remate (o primeiro tinha sido do mesmo Kokçu, na cobrança de um livre) ao quarto de hora de jogo. Logo a seguir poderia chegado ao segundo, numa bela tabela entre Aursnes e Gouveia, concluída com um grande remate de João Mário e uma boa defesa de Dani Figueira. O Benfica não estabilizou à volta do golo e dessa boa jogada, e foi o Estoril a crescer, a chegar ao empate na primeira vez que chegou à baliza de Trubin e, depois, a quase fazer o que quis do jogo.
Das bancadas começaram a chover assobios e, a seguir, as tochas. Valeu que, em cima do intervalo, David Neres foi à linha de fundo e cruzou para o segundo poste, donde Tiago Gouveia assistiu, de cabeça, Marcos Leonardo, para o segundo. Foi quase como se não tivesse havido intervalo. Logo no arranque da segunda parte, Tiago Gouveia marcou o terceiro, e arrumou com o resultado.
Mas poderia não ter arrumado. Porque o Benfica continuou a oscilar ao longo do jogo, e o Estoril continuou a jogar à bola. Tanto que o Trubin acabou com mais defesas que o Dani Figueira. E porque o árbitro Manuel Oliveira é o "verdadeiro artista". Como agora têm de comunicar ao público as decisões tomadas através do recurso às imagens do VAR, este "artista" teve a distinta lata de não confirmar o penálti que todos tinham visto, declarando simplesmente "que o jogador 22 não cometeu falta".
E pronto... temos que continuar à espera... Que isto passe, ou que se resolvam os problemas para acabar com isto.
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