A jornada de benfiquismo de ontem teve hoje por prémio um clássico na Luz. Os mais de 56 mil nas bancadas - pois é, a fasquia começa a baixar dos 60 mil -, os 94 mil que ontem votaram, e os outros milhões de benfiquistas espalhados pelo país e pelo mundo que fazem do Sport Lisboa e Benfica um dos maiores clubes do universo merecem, e exigem, RESPEITO.
O jogo desta noite, na Luz, da 11ª jornada, com o Casa Pia, é todo um clássico.
O adversário estacionou o autocarro à frente da sua baliza. Duas linhas de cinco, juntinhas, entre as linhas que marcam as duas áreas, a grande e a pequena. Clássico!
O Benfica entrou bem no jogo, chega à vantagem, e começou a baixar a intensidade. Clássico!
Com a passagem dos minutos, à medida que o jogo caminha para o fim, os jogadores começam a perder concentração. As decisões dos árbitros complicam-se, e a perda de concentração vai-se agravando, atingindo o climax já depois do minuto 90, e a vantagem esvai-se no período de compensação. Clássico!
Esta noite, na Luz, o Benfica começou a desmontar o autocarro do Casa Pia relativamente cedo. Aos 16 minutos marcou, depois de Rios já ter enviado um remate ao poste. Num golo com assistência (Plavidis) e finalização (Sudakov) espectaculares, trabalhadas dentro da cabine do autocarro. O Benfica ultrapassava os 80% de posse de bola, e o Casa Pia não ligava dois passes seguidos. A excepção aconteceu durante três ou quatro minutos, ali por volta da meia hora.
O Benfica que, como sempre, tinha entrado com um onze muito perto do habitual - com Otamendi de fora, a cumprir castigo pelo quinto amarelo (Palhinha só há um!) pedido em Guimarães (como Rios hoje o pediu, também para limpar antes do jogo com o Sporting), substituído por António Silva e, com Dedic regressado de lesão, com Aursenes na ala esquerda - entrou para a segunda parte com Prestiani a entrar precisamente para o lugar do norueguês, transferido para o lugar de Enzo, que tinha durante a primeira parte dado indicações de não estar em condições para prosseguir no jogo.
Se a ideia era voltar a espevitar o jogo, não resultou. De resto, Prestiani não está a resultar. É cada vez mais parra, e cada vez menos uva. Ainda assim não demorou mais a marcar que na primeira parte. Antes de expirar o primeiro quarto de hora, de penálti, Pavlidis marcou o segundo. O chamado golo da tranquilidade.
Que seria, não tivesse o árbitro, o lagarto Gustavo Correia, cinco minutos depois, inventado um penálti. Inacreditável. Tão inventado, e tão inacreditável que, na Luz - e por todo o lado - se tinha por inevitável a intervenção do VAR, a corrigir o destempero do lagarto. Mais inacreditável ainda: do VAR, nem sinal de vida!
Cartões amarelos, distribuídos a torto e a direito, reforçaram a instabilidade. E tranquilidade do segundo golo desaparecia de repente, como fumo.
Lembramos-nos então que, ontem, o Sporting trouxera três pontos dos Açores, graças a um golo no último minuto dos descontos, depois de o árbitro ter transformado um pontapé de baliza, a favor do Santa Clara, num canto a favor do Sporting. O árbitro João Gonçalves, e o assistente Ângelo Pinheiro, não viram o que toda a gente viu. Que o Quenda rematou a bola para fora, sem que ela tocasse em quem quer que fosse.
E veio-nos à memória que o campeonato da época passada foi precisamente decidido no dia 12 de Abril quando, nos Açores, numa das mais escandalosas arbitragens da época, o árbitro Cláudio Pereira oferecia os três pontos ao Sporting. E, exactamente como hoje, no dia seguinte na Luz, o árbitro António Nobre assinalava um penálti (com que o Arouca empatava 2-2, ironicamente o mesmo resultado de hoje), tão inacreditável como o de hoje, então por Otamendi "ter rasteirado o adversário com a cabeça". Também um clássico!
O VAR, que ontem nos Açores não pôde dizer ao João Gonçalves que o golo não poderia ser validado. Que há sete meses não quis dizer ao António Nobre que ninguém consegue rasteirar ninguém com a cabeça, como hoje não quis dizer ao Gustavo Correia que a bola bateu na barriga do António Silva, caiu-lhe para a coxa, e que daí ressaltou para lhe tocar na mão, não é um instrumento ao serviço da verdade desportiva. É simplesmente um instrumento ao serviço da manipulação de resultados!
Trubin defendeu o penálti, mas não havia maneira de escrever direito por linhas tortas: inacreditavelmente, Tomás Araújo, o primeiro a chegar à bola excelentemente defendida pelo guarda-redes do Benfica, ao tentar enviá-la pela linha de fundo chutou-a com força para dentro da baliza.
O terceiro golo até acabaria por chegar, por Barreiro, depois um minuto em campo. Foi celebrado nas bancadas como a circunstância merecia. Foi anulado, por fora de jogo, e a tranquilidade não voltou.
Era quase inevitável que um erro qualquer desencadeasse uma sucessão de outros, como num dominó. Aconteceu a meio do meio campo, no primeiro dos quatro minutos de compensação, e foi obra de Richard Rios, já depois de se ter feito ao tal amarelo. A cadeia propagou-se para dentro da área benfiquista, e tocou a todos. Trubin incluído.
No primeiro dia da nova presidência de Rui Costa, o Sporting é presenteado com três pontos nos Açores, o Porto com colinho em Famalicão, e o Benfica é decidamente atirado para fora da estrada do título.
Vamos passar por cima da primeira parte deste jogo de Guimarães. Não tanto por ter sido má porque, não tendo sido propriamente boa, também não foi pior que a maioria das últimas. Mas porque nos enganou a todos. Quando chegou ao fim estávamos mais convencidos que este Benfica e as suas circunstâncias, não dá para mais, como ando aqui a dizer há algum tempo.
Estávamos enganados. Afinal dá para mais, para muito mais.
Ao intervalo, Mourinho, que tinha iniciado o jogo com o seu onze base dos últimos jogos, que já inclui o Tomás Araújo em vez do António Silva, decidiu trocar Sudakov por Barreiro e Prestiani por Schjelderup. O jovem argentino tinha sido o jogador mais em evidência no Benfica, e também o mais rematador. Foi isso tudo, mas na realidade não foi eficaz. Sudakov, se bem que na senda das suas últimas exibições, sempre a deixar a deixar a ideia que está em retrocesso ou, no mesmo sentido e na terminologia de José Mourinho, a deixar a ideia que será neste momento um dos que não acreditam, tinha protagonizado a única sensação de golo de toda a primeira parte.
No último minuto da primeira parte, ao tentar recuperar uma bola perdida numa recepção imperfeita, incompatível com a sua qualidade, Sudakov pisou um adversário, Samu, e foi (bem) punido por João Pinheiro com o cartão amarelo. Para pressionar o vermelho, o jogador vimaranense teatralizou e os colegas armaram um sururu donde saíram amarelados Prestiani, e o lateral direito adversário, Maga, há muito enrolados.
Se sem qualquer condicionalismo Sudakov não é um jogador intenso, amarelado seria pouco mais que inútil. Já Prestiani, sempre sujeito a grande provocação por Maga e Telmo Arcanjo, com aquele sangue argentino que ferve em pouca água, amarelado, passaria a ser o mais sério candidato ao cartão vermelho.
Creio que Mourinho terá pensado mais nisto que propriamente em revolucionar o jogo com Barreiro e Schjelderup. Mas o futebol tem destas coisas, e os dois transformaram o futebol do Benfica. E viraram o jogo do avesso!
Barreiro, que não é, nem nunca será Sudakov, mostrou-lhe o que ele precisa de fazer para ser o craque que se apregoa. E Schjelderup, porventura revoltado por Prestiani lhe ter passado à frente, fez pela vida. O resto da equipa veio atrás, e foi demolidora. Com 10 minutos do melhor futebol que se tem visto, e que se julgava fora do alcance deste Benfica, nas suas circunstâncias. E as oportunidades de golo passaram a suceder-se a um ritmo avassalador.
À quarta oportunidade em sete ou oito minutos, Tomás Araújo marcou. Finalmente. Respondendo na perfeição, de cabeça, a um canto cobrado por Lukebakio, que tivera origem em mais uma defesa milagrosa do guarda-redes colombiano do Vitória, Castillho. Na circunstância a um remate de excelência do extremo belga, numa soberba cobrança de um livre.
Dois ou três minutos depois o Vitória ficou reduzido a 10, por expulsão de Fábio Blanco, numa entrada violenta sobre Barreiro. Se para os vimaranenses tudo estava difícil, pior ficou. É verdade que o tempo perdido com a expulsão - o guarda-redes simulou uma lesão (já era tempo de alguém se preocupar com estas coisas) para que o treinador reunisse com os jogadores e estudasse as substituições a fazer, durante mais de 5 minutos - quebrou grande parte do ritmo demolidor que o Benfica tinha imprimido à partida.
Ainda assim, sem atingir o brilho dos 10 minutos iniciais, a exibição prosseguiu com nota alta. Altíssima!
Só deu para mais dois golos, um de Dahl, à entrada do segundo quarto de hora, e outro de João Rego, acabado de entrar para substituir Lukebaku, a 5 minutos do fim. Mas poderia ter dado para muitos mais. O Benfica fez por isso. E a melhor exibição da era Mourinho, mas também dos últimos meses, merecia um resultado ainda mais condizente.
O jogo da nona jornada, com o Arouca, fechava na Luz um dia cheio de Benfica.
Poderia esperar-se uma noite quente, com o fervor que arrastou mais de 85 mil benfiquistas - 85.422, mais precisamente, e novo recorde mundial - para as secções de voto, a transferir-se para as bancadas da Luz. Mas não foi bem assim, e nem o mais expressivo resultado da época conseguiu que os mais de 60 mil nas bancadas exorbitassem em festa. Sinal dos tempos!
Depois do descalabro de Newcastle José Mourinho apresentou uma única novidade no onze. Obrigatória, de resto, pela lesão de Dedic. Sem que Aursenes naquele lugar fosse novidade, como novidade também não seria que não houvesse da formação algum lateral direito, chame-se Leandro ou outra coisa qualquer, a novidade foi Prestiani, acabado de chegar do mundial de sub-20.
A reacção ao anúncio do seu nome pela instalação sonora deu logo para perceber que Prestiani iria mexer com a bancada. E mexeu mesmo. Mexeu sempre que mexeu com o jogo, sempre que o agitou, e mexeu na altura em que saiu, aos 64 minutos, substituído por Schjelderup, no momento alto da noite da Luz.
O jogo foi de domínio e controlo claro do Benfica. Em parte por méritos próprios, em parte por manifesta incapacidade do Arouca. Teve cinco golos, três de penálti, o que, se não é inédito em jogos do Benfica, andará perto por lá. Dois - os dois primeiros, e também os dois primeiros golos, convertidos por Pavlidis - arrancados a ferro pelo VAR já que, pelo o nosso conhecido Hélder Carvalho, não haveria nenhum deles. O terceiro, já na compensação, como já não aquecia nem arrefecia, já não lhe custou nada ser ele próprio a assinalá-lo. Nos dois restantes, o terceiro veio de um canto, no período de compensação da primeira parte, pela cabeça de Otamendi que, desta vez, ao contrário do jogo da época passada, apenas derrubou a bola para dentro da baliza. E só o quarto, logo no início da segunda parte, em lance de bola corrida.
Mas não galvanizou as bancadas, que viram neste jogo mais razões para se conformarem que para se entusiasmarem. O que hoje se viu na Luz é provavelmente o melhor que futebol de Mourinho tem para nos dar. Na perspectiva resultadista é excelente. Ficamos todos contentes com goleadas de 5-0.
Mas quando na Luz, numa noite dos 5-0, e ao adversário que na época passada nos roubou o campeonato, o que mais nos faz vibrar é a ovação ao Prestiani, percebe-se que os benfiquistas estão conformados. Não lhe peçam é que se entusiasmem!
Foi "Dia de Clássico". De clássicos, porque o Sporting-Braga também é um clássico. E não correu mal: empataram, e bem. Mesmo que o Sporting continue com as bênçãos da vaca, como se fosse na Índia, e ... da arbitragem, como se voltou a ver.
O clássico do Dragão é sempre especial. Desta vez vinha em boa altura para o Porto, e má para o Benfica. O Porto só ganhava, só marcava, sem sofrer. Era um balão cheio, tudo lhe corria bem. O Benfica ... pelo contrário. Ao Benfica tudo acontece. Desta vez até uma virose, a afectar o plantel até à véspera do jogo, ao que se diz apanhada em Londres ...
O clássico teria que ter muito a ver com tudo isso. Era impossível que não fosse marcado por essa assimetria de desempenho das duas equipas. E por isso o Benfica surgiu no relvado do Dragão preparado para jogar um jogo de xadrez. E jogou-o bem.
Um jogo de xadrez é como o tango. Precisa de dois. Um precisa de dois para ser jogado, o outro para ser dançado. E o Porto, claro, também jogou xadrez. Mesmo que muitas vezes lhe acrescentasse outras nouances, mais de circo que de outra coisa. Muita fita, muita palhaçada, mas também muita traulitada.
O Benfica jogou melhor xadrez, Mourinho é especialista. Para o bem, e para o mal, o Benfica teve muito sangue frio, e pouco sangue quente. Mas lá está, o xadrez joga-se com sangue frio. Quem se permitir ferver acrescenta dificuldades.
Teve tanto de xadrez, e tão pouco de futebol, que o primeiro remate só apareceu já depois da meia-hora de jogo. E ainda assim num livre, por falta de Pêpê sobre Sudakov (que por ser claramente uma jogada promissora, ficando o 10 do Benfica em boas condições para atingir com êxito a baliza adversária, deveria ter sido punido com cartão amarelo, que teria consequências para o jogo, pouco tempo depois) cobrado pelo próprio. Isto já depois de Gabri Veiga ter agredido Rios, a meio da primeira parte, na altura em que finalmente os adeptos do Benfica começavam a conseguir entrar para as bancadas do Dragão.
O primeiro remate do Porto tardaria ainda mais 5 minutos. O primeiro canto - se o primeiro remate foi para o Benfica, o primeiro canto foi para o Porto - surgiu apenas em cima do intervalo. E foi o único da primeira parte. Não houve um fora de jogo, em toda a partida.
Para melhor se perceber o jogo de xadrez, como foi jogado pelas duas equipas, e até o sangue frio e quente que correu nos jogadores de cada uma, veja-se que o Benfica cometeu apenas 6 faltas, três em cada metade. Contra 16 do Porto (6 na primeira e 10 na segunda). E que, mesmo com a discrepância de critérios do árbitro Miguel Nogueira, o Porto foi admoestado com 6 amarelos, e o Benfica com dois. O primeiro, na primeira vez do árbitro, a Rios (por, quando já três ou quatro do Porto tinham feito tudo para o justificarem, ter chegado com o pé perto do ombro de um adversário, que se baixara em prática de jogo perigoso), e o segundo, na última vez de Miguel Nogueira, mesmo no fim do jogo, a Dedic. Um daqueles cartões salomónicos, dividido com o provocador, no caso Borja Sainz. Os restantes cinco - e mais quantas passaram em claro? - decorreram de entradas duras, a roçar a violência, de jogadores portistas.
Ou repare-se que, em termos de desempenho individual, provavelmente os três ou quatro melhores serão jogadores do Benfica: Dudic (o homem do jogo, para a insuspeita Sport TV), Sudakov, Rios e, Enzo. Ou que o melhor do Porto, o central Bednarek, não foi melhor que António Silva, hoje a alto nível.
Quando fugiu ao xadrez, quando arriscou um bocadinho, o Benfica esteve perto do golo. Foi à entrada do segundo quarto de hora da segunda parte, quando um corte de Kiwior levou a bola à barra da baliza de Diogo Costa. Para que tudo fosse igual, também, quando o Porto arriscou um bocadinho, já ao minuto 90, com a entrada do seu puto maravilha, na primeira vez que tocou na bola, o Rodrigo Mora rematou também à barra da baliza de Trubin.
Como desabafou Mourinho, o Benfica sobreviveu. E está aí, bem vivo. Esperemos que sim, até porque isso de já "não dependermos apenas de nós próprios", não é conversa para agora.
Durante um mês e meio o Benfica teve sempre um jogo a menos que os adversários do campeonato. Hoje, chega ao final do dia com mais um. Como também tem bastantes mais - mais cinco - nas outras competições, os jogadores estão com uma sobrecarga bem maior que a dos adversários. Como não tiveram férias, nem pré-época, a desvantagem competitiva aumenta. Como as coisas correram mal, e tiveram de mudar de treinador, as dificuldades aumentam ainda mais um bocado. Como a carga competitiva não deixa tempo para treinar, a ponte de um treinador para o outro fica mais difícil de fazer, a cabeça fica mais pesada e, com pernas e cabeça pesadas, os jogadores não conseguem jogar.
Parece-me que é mais ou menos isto que marca o momento do Benfica. E é à luz deste momento que tem de se analisar a prestação da equipa, esta noite, na Luz, perante o Gil Vicente. Que não é uma equipa qualquer, é uma das que, até agora, melhor futebol pratica em Portugal. Como mostrou em todos os jogos que já disputou, incluindo no único que havia perdido, com o Porto, logo nas primeiras jornadas.
Foi preciso este jogo com o Gil Vicente para que todos percebêssemos a realidade actual do Benfica. Até aqui havia a ideia que a equipa tinha dificuldades contra equipas que estacionavam o autocarro à frente da baliza. Que o problema era não ter soluções para enfrentar essas equipas que defendem em bloco baixo, que fazem anti-jogo durante todo o tempo. Os jogos com o Santa Clara e, mais ainda, o último, com o Rio Ave, alimentavam essa ideia.
Hoje, o Gil Vicente mostrou que, jogando abertamente à bola, olhos nos olhos, colocou ao Benfica muito mais problemas que os outros adversários, que só defenderam. E deixou a nu que, também para esses, o Benfica não tem solução. Não porque não tenha, mas porque não consegue ter.
O Gil Vicente, de César Peixoto, foi melhor durante os mais de 100 minutos que a partida durou. Jogou muito melhor futebol, criou muitas mais oportunidades de golo - mais do dobro das do Benfica -, teve mais posse de bola (51%), mais cantos (7-0), mais remates (17-10), e mais do dobro dos remates enquadrados (9-4), para o que não contam os três que bateram nos ferros da baliza de Trubin. Nem o do golo anulado, no início da segunda parte, por 6 centímetros de fora de jogo!
Com Enzo afastado, o primeiro a atingir o quinto amarelo no campeonato (e Otamendi já vai no quarto, o que também revela muito do que por aí vai), Mourinho puxou Aursenes para a posição de médio defensivo. Deu a primeira titularidade a Lukebakio, na direita, antes do norueguês e, com Schjelderup na esquerda, deixava a equipa com asas para voar. Só que foi a equipa de César Peixoto a começar a voar, logo no pontapé de saída, com Trubin a impedir o golo por duas vezes no mesmo lance.
Não marcou aí, marcou logo a seguir, aos 10 minutos, num livre directo bem cobrado pelo maestro da equipa, Luís Esteves, mas ferido de ilegalidade. É que o lance nasce de uma falta, grosseira até, sobre o António Silva que João Gonçalves, mais um habilidoso árbitro do Porto, não assinalou.
O Benfica reagiu, especialmente por Lukebakio. Mesmo sem ser melhor, a equipa reagiu e, em quinze minutos, fechou o resultado, com dois golos de Pavlidis. O primeiro numa jogada de insistência, ao segundo remate. O terceiro na conversão de um penálti, depois de uma recepção de enorme classe de Lukebakio, após um grande passe de Otamendi, pouco passava de meio da primeira parte.
Na segunda parte o domínio dos gilistas acentuou-se ainda mais. A equipa grande foi sempre a de César Peixoto. A de Mourinho defendia. E passava a queimar tempo, logo a partir dos 80 minutos, o que serviu de pretexto a João Gonçalves para mais um amarelo a Richard Rios.
Podendo continuar a queixar-se da arbitragem, desta vez o Benfica não se pode queixar da sorte!
Os benfiquistas, esquecidos do que tem acontecido na Luz, tudo perdoado à equipa, Lage - qual cordeiro emulado - por longe, e cheios de fé na estreia de Mourinho, voltaram em massa à Luz. Mais de 57 mil, numa noite de terça-feira, para assistir à degola do inocente Rio Ave - há quatro dias depenado pelo Porto, em Vila do Conde - adversário da primeira jornada, adiada até hoje por força dos jogos da terceira pré-eliminatória de acesso à Champions, com o Nice, de boa memória.
Festa, muita festa à chegada. Tanta quanto a desilusão, à saída. Porque houve muito, se não tudo, de mais do mesmo.
Mais do mesmo na primeira parte. Mais do mesmo jogar para trás e para o lado, numa falsa ilusão de domínio pela posse de bola, que não servia para nada. Mais da mesma passividade, da mesma falta de agressividade. Mais do mesmo conformismo, com o tempo a passar sem que nada de futebol se passasse.
Se a primeira parte na Vila das Aves tinha parecido um jogo de solteiros e casados, esta, esta noite na Luz, parecia um jogo de infantis. Os do Rio Ave não saíam lá de trás, queimavam tempo desde o pontapé de saída, defendiam com tudo e com todos, chegavam sempre primeiro às bolas divididas, e ganhavam todos os ressaltos. Os do Benfica regalavam-se com a bola, a circulá-la para trás e para o lado, e que deixava os oponentes regalados. Sempre que fosse para dar à bola outro destino, os do Benfica perdiam-na. Ou porque falhavam passes, dos mais ousados aos mais simples, de um ou dois metros, ou porque se deixavam antecipar, ou porque eram passarinhos.
Ao intervalo o resultado não podia ser outro que o 0-0, com o desespero a instalar-se nas bancadas, que descarregavam a ansiedade nos assobios ao anti-jogo do Rio Ave, em particular nas reposições de bola do guarda-redes.
Mais do mesmo, ainda no primeiro quarto de hora da segunda parte. Até porque do balneário veio tudo na mesma.
Foi então tempo da primeira defesa do guarda-redes Miszta, aos 55 minutos, a um cabeceamento de Pavlidis. Mas também da ovação a Dedic, por evitar uma transição perigosa do Rio Ave com um sprint e uma recuperação notáveis.
À entrada do segundo quarto de hora, o golo do Benfica marcava o fim do mais do mesmo. Como no primeiro golo das Aves, resultou da presença na área adversária, e acabou no golo de António Silva, à primeira, depois de a bola ter sido tirada de dentro da baliza, confirmado por Pavlidis. Só que o VAR viu qualquer coisa. Ainda não vi mas, chamado de Oeiras, o árbitro Sérgio Guelho - porque ligo pouco a árbitros, um nome que nem conhecia, mas que é, também, mais do mesmo (foi conivente com 90 minutos de anti-jogo, mostrou um amarelo logo no início do jogo a Ivanovic, por pretensa simulação fora da área, mas nunca penalizou qualquer jogador do Rio Ave, quando todos abusaram de conduta anti- desportiva, e com isso incendiou as bancadas, e desestabilizou os desestabilizados jogadores do Benfica) - disse que "o jogador número trinta pisou o adversário".
Logo a seguir, portanto já em pleno segundo quarto de hora, José Mourinho, que tinha repetido o 11 inicial da Vila das Aves, com Ivanovic, na esquerda, a não ser carne (ponta de lança) nem peixe (ala, ou extremo) resolveu mexer na equipa, corrigindo precisamente por aí, pelos alas que faltavam à equipa. Entraram Schjelderup, para a esquerda, e o estreante Dodi Lukebakio, para a direita, para a lógica saída de Ivanovic, e de Dahl, com Aursenes, o pau (para toda a obra) que começa a quebrar, a passar para lateral esquerdo.
Lukebakio agitou o jogo, e o Benfica passou então a deixar a ideia que o golo seria mesmo uma questão de tempo. As oportunidades sucediam-se, umas atrás das outras. Foi o chapéu do próprio Lukebakio. Foi a oferta de bandeja, que Rios falou em cima da linha de golo.
Até que o tempo chegou, na fórmula clássica do golo, tão simples e tão velha, que não se percebe porque não faz parte do cardápio do futebol da equipa: Lukebakio - quem mais? - foi à linha de fundo e cruzou para rasteiro para a zona de penálti. Lá estava Sudakov, no sítio certo, para o segundo golo em dois jogos.
O relógio marcava 86 minutos, e a Luz, em festa, respirava de alívio. Mas foi tempo de regressar ao mais do mesmo. A mais um golo sofrido nos descontos, no único remate à baliza. Com mais dois pontos ingloriamente perdidos, que colocam desde já, ainda em Setembro, a fasquia do título muito lá em cima.
Na Vila das Aves hoje foi dia de festa. Receber o Benfica é sempre motivo de festa para as localidades visitadas, e em especial para o tesoureiro dos seus clubes. Mas hoje era diferente, hoje era a estreia de Mourinho, no regresso ao comando da Benfica, 25 anos depois. E isso fez da Vila das Aves a capital do futebol, como bem se percebeu pelos jornalistas estrangeiros presentes na conferência de imprensa.
O jogo não esteve no entanto ao nível do acontecimento em que se tornou. Especialmente na primeira parte, em que foi francamente mau. Teve mais fases próprias de um jogo entre solteiros e casados (não sei se ainda há disso, mas o conceito subsiste) do que propriamente dignas de um jogo de futebol profissional num campeonato que pretende vir logo atrás dos big five.
José Mourinho tinha dito que os jogadores do Benfica tinham de morder. Qualquer coisa que já Bruno Lage tinha sinalizado quando reclamava mais agressividade no campo (e fora dele) para o Benfica, mas nunca logrou. No entanto - e Mourinho sabe tudo, mas talvez não saiba isto - o Benfica nunca conseguirá igualar o morder dos adversários no campeonato português. É impossível, porque contra o Benfica eles mordem como nunca.
Não se pode dizer que o Benfica tenha mordido, à luz do que se viu fazer aos jogadores da SAD do Vilafranquense deslocalizada para as Aves, com o nome de AFS, não mordeu; deu uns beliscões. Que no entanto deram para perceber uma nova atitude dos jogadores.
Os jogadores do Benfica lutaram. Entregaram-se à luta. Jogar era outra coisa, isso eles não conseguiam fazer. Nem eles nem ninguém, a bola andava sempre para o ar. No chão, apenas os jogadores do AFS, onde sucessivamente se iam deitando para que o jogo parasse. Por isso os jogadores do Benfica passaram metade do tempo a lutar pela bola lá nas alturas; a outra metade passaram-no à espera que os adversários se levantassem.
Foi assim durante toda a primeira parte. Quando os jogadores do Benfica ganhavam a bola preferencialmente chutavam-na para frente, à solteiros e casados. Lá na frente alguma coisa haveria de acontecer. Ia acontecendo logo nos primeiros minutos, mas Ivanovic - a única alteração de Mourinho ao último onze de Lage, retirando Schjelderup, - decidiu tecnicamente mal, rematando, descaído para a direita, com a parte interior do pé direito. Ou pouco depois, quando Ivanovic marcou, mas que o árbitro Bruno Costa (outro velho conhecido) anulou por, alegadamente, Dahl ter cruzado a bola já depois de ter passado na totalidade a linha final, coisa que nem aquela câmara manhosa do poste de iluminação, que ainda lá deve estar desde que validou aquele golo do Sporting, na época passada, desta vez não confirmou, nem desmentiu. Ou depois da meia hora quando, já depois de ter ultrapassado o guarda-redes, o mesmo Ivanovic - que, ao contrário do que sucedia com Lage, e como parece mais natural, jogou mais perto da àrea, com Pavlidis mais dedicado à construção - enviou a bola para a baliza, interceptada in extremis pelo velho conhecido Devenish. E acabou mesmo por acontecer mesmo em cima do intervalo, e já depois do remate de Tomané ao poste esquerdo da baliza de Trubin, com o golo de estreia de Sudakov. Golo que resulta directamente de uma novidade relativamente aos últimos jogos: forte presença na área adversária.
Isso mesmo. Foi por, ao contrário do que vinha sucedendo com Bruno Lage, ter muita gente na área que foi possível disputar e ganhar sucessivamente a bola que, à segunda, Sudakov rematou com êxito para o golo redentor.
A ganhar, na segunda parte os jogadores do Benfica tranquilizaram-se. A perder, mas também já com bem menos pilhas, os do AFS passaram a morder menos, e a deixar que se jogasse mais à bola.
Jogar mais à bola significa ainda, e muito, jogar para trás e para o lado. O Benfica tem essa dependência mas, a ganhar, isso não tem grande mal. Hoje serviu para "chamar" os jogadores adversários, para os retirar lá de trás, donde, a perder pela diferença mínima, estas equipas não saem.
O penálti, sobre Otamendi, ainda antes de fechado o primeiro quarto de hora, que Pavlidis converteu, confirmou a mudança no jogo, e estabilizou definitivamente a equipa. Que então já funcionava com alguma fluidez pelas alas, com Dahl a preencher toda a esquerda, e Sudakov mais interior, e Dedic a carburar bem com Aursenes.
Bastaram menos de cinco minutos para o terceiro golo, finalmente por Ivanovic, bem construído pelos dois pontas de lança, depois de um passe de enorme categoria de Sudakov. Faltava ainda meia hora ao jogo, mas foi como se tivesse acabado ali!
O resto ... foi Mourinho. Na conferência de imprensa já só deu Mourinho. Os dois grandes trunfos que aporta ao Benfica, que aqui referi na altura própria, ficaram já à vista !
No Benfica só as bancadas nunca falham. 60 mil, mais uma vez, na Luz. Não é por falta de apoio que a equipa não sai da cepa torta!
Para a recepção à equipa açoriana Bruno Lage manteve aquele que tem sido o onze mais utilizado. A excepção foi Tomás Araújo, no lado direito da defesa, em vez de Dedic, impedido pela expulsão em Alverca, mas também pela lesão contraída ao serviço da sua selecção.
E que falta fez!
É o único jogador capaz de criar desequilíbrios nos adversários. É o único que pega na bola e vai por ali fora, rompendo o bloco baixo do adversário, criando disrupções com a introdução de dificuldades não esperadas ... É o único capaz de romper com a paz podre que o futebol lento, previsível e sem profundidade do Benfica instala nos seus jogos. É a pedra que o Benfica tem para lançar ao charco que é o seu futebol!
Sem ele o Benfica é o que se viu em Alverca, depois da sua expulsão. E o que se viu esta noite na Luz. E o que se viu foi uma equipa sempre capaz do pior. Pensávamos que, pior que na Amadora, não era possível. Mas Alverca conseguiu ser pior, e hoje, ainda pior.
A equipa voltou a não entrar propriamente mal no jogo. Mas bastou o primeiro quarto de hora para se esgotar por completo, e entrar na pasmaceira daquele futebol para o lado e para trás, de 75% de posse de bola para nada. E para o adversário ganhar a consciência que, dali, não sai nada. Aquilo a que chamam confiança.
Ao intervalo, com 75% de posse de bola, a pasmaceira traduzia-se em três remates enquadrados, dois dos quais nos primeiros oito minutos. Mais nada. O Santa Clara teve dois, e 4 cantos. A mais clara oportunidade de golo pertenceu até aos açorianos, e quanto já estavam reduzidos a 10, pela expulsão do defesa direito a seis minutos do intervalo, por falta grosseira sobre o Tomás Araújo, que o VAR não deixou que João Pinheiro deixasse passar com o simples amarelo que exibira.
No recomeço Bruno Lage retirou o lateral direito da época passada para entrar Prestiani, passando a utilizar o lateral direito de há duas épocas - Aursenes. O primeiro quarto de hora voltou a ser mais espevitado, e acabou com o golo por que, equipa e adeptos, já desesperavam. De bola parada, coisa que na primeira parte nem existira. Numa recarga de Pavlidis.
Depois o jogo voltou à mesma pasmaceira. O tempo a correr e o Benfica sem fazer nada para acelerar o jogo, para sufocar o adversário, para não o deixar respirar. Nem para voltar a marcar, deve dizer-se. As substituições - Sudakov, em estreia absoluta, para a saída de Schjelderup, um dos menos maus; Henrique Araújo, para o lugar de Ivanovic, o cúmulo do desacerto; e Barreiro para o de Rios, quando o Enzo, com um amarelo por protestos, estava claramente na mira de João Pinheiro - não mudaram nada.
Continuava dono da bola. Mantinha os mesmos 75% de posse. Empatou até no número de cantos, 5 para cada lado. Mas permitiu 9 remates ao adversário. Cinco, apenas menos dois que os 7 de que dispôs, deles enquadrados. E deixava-se claramente a jeito de qualquer imponderável. Que surgiu, quase que inevitável, aos dois minutos dos quatro do tempo extra concedido por João Pinheiro, numa tentativa falhada de Otamendi atrasar, de cabeça, a bola para Trubin.
E nem se pode dizer que não tenha sido um castigo merecido!
O relvado de Alverca também não está assim tão longe do da Amadora. Para além disso, do mau relvado, o campo está minado. De resto isto está mesmo tudo minado... Bem fez o Bruno Lage em falar seco com a Sport TV, o VAR informal deste futebol cá do burgo. O VAR paralelo. Eles sabem tão bem o que fazem que até recearam que ele não comparecesse na conferência de imprensa. Fez quase tudo mal em Alverca mas, isso, fez bem.
O Benfica entrou no jogo com quatro alterações, relativamente ao jogo da passada quarta-feira. Inevitável a ausência de Akturkoglu, que já saiu, a ditar a entrada de Schjelderup no onze inicial. Depois, o Samuel regressou à baliza (e de que maneira!), saindo Trubin, Tomás Araújo, no lugar de António Silva, e Ivanovic na frente, no de Pavlidis. Barreiro manteve-se ali atrás do ponta de lança, vá lá perceber-se por quê.
E entrou bem. Logo aos 5 minutos, cinco minutos de domínio absoluto, na primeira oportunidade, Schjelderup marcou. E o golo mudou alguma coisa. Em relação aos 5 minutos iniciais mudou tudo.
O Benfica passou a jogar a ritmo de peladinha, de treino. Um treino de rabia. O que o Benfica passou a fazer foi isso, rabiar o Alverca. A bola circulava de um para outro jogador, ao primeiro, no máximo segundo toque; e os jogadores do Alverca corriam que nem loucos atrás dela ... e dos jogadores adversários. Não havia qualquer objectividade naquele jogo do Benfica; o objectivo esgotava-se na mera posse de bola, em mantê-la simplesmente para a manter. Bola para o lado e para trás. Quando ia para a frente, era para voltar para trás.
Pode chamar-se a isto domínio absoluto do jogo. Não me parece que seja. Até porque, de cada vez que os jogadores do Alverca conseguiam apanhar a bola, de tempos a tempos, o ritmo era outro. Invariavelmente por Chiquinho, regressado à Liga portuguesa depois da aventura inglesa, transitavam rapidamente até à baliza do excelente Samuel. Que teve de mostrar trabalho. E do bom!
Como a defesa do Benfica, com Tomás Araújo sempre em bom nível, e Samuel sempre seguro e tranquilo, dava conta do recado aquilo só era enfadonho. Não era perigoso.
Com 70% de posse estéril de bola, o Benfica acabou por marcar o segundo golo à terceira oportunidade, já em cima do intervalo, considerando a segunda naquele remate de Rios, em que a bola roçou o poste. Mas para isso foi preciso que o Dedic rompesse com aquele paradigma, ao romper pela área adversária fora, como já nos habituou, e marcar um golo de classe.
Os primeiros minutos da segunda parte apontavam para um jogo diferente. Com o Alverca mais subido, o Benfica ocupava melhor todos os sectores do campo e ficava mais confortável no controlo do jogo.
Só que o árbitro José Bessa, do Porto - claro -, não estava muito virado para aí. Ele, que na primeira parte, quando os jogadores do Alverca desesperados atrás da bola e das canelas dos adversários, só vira razão para amarelar, ainda bem cedo, Dedic, agora apitava a cada sopro dos vermelhos, e desatava a distribuir-lhe amarelos.
E assim foi correndo a primeira metade da segunda parte. A uma oportunidade do Alverca, negada por uma grande defesa do Samuel, respondia o Benfica com outra, no remate ao poste de Schjelderup. O resto era faltas e amarelos. Oito amarelos e um vermelho para o Benfica. Três, para o Alverca.
A segunda metade iniciou-se com a expulsão de Dedic. Bruno Lage, prevenindo, tinha retirado Rios, aproveitando para a despedida de Florentino, que já nem regressou com os colegas. Não fez o mesmo com Dedic e, à primeira oportunidade, José Bessa pô-lo na rua. A falta foi estúpida, e desnecessária. E não era para amarelo!
A partir daí o Benfica caiu no caos. O Benfica, com 10, tem que ter condições para jogar com o Alverca. Conseguiu-o com o Fenerbahçe. Se o Farioli, ao que disse, preparou os seus jogadores para jogarem em Alvalade com menos um, por ser esse o paradigma do Sporting, Bruno Lage tem que passar a fazer o mesmo. Porque está tudo armadilhado.
Podemos perceber que os jogadores dentro do campo sintam a inclinação. Mas é muito difícil aceitar uma estratégia com toda a gente a defender dentro da área, com a única preocupação de, sucessivamente, chutar a bola para longe. Sem que as costas folgassem enquanto o pau ia e vinha. Antes entregando sempre a bola ao adversário, logo ali, para ter o pau sempre colado às costas.
Foi assim que o Benfica entrou em sofrimento, nele arrastando os adeptos. Foi assim que sofreu o golo, num lance que começa numa carga sobre Samuel, ignorada pelo tal José Bessa, e ... pelo VAR paralelo. Na ressaca a bola volta a entrar na área, e ia até tranquilamente até às mãos do guarda-redes do Benfica, quando Otamendi, também ele obcecado pelo pontapé para a frente, falhou e deixou a bola mesmo a jeito do Davy Gui autenticamente fuzilar Samuel. Que não merecia ser ele a sofrer o primeiro golo da época do Benfica!
Mais de 60 mil na Luz - de novo - para a estreia do Benfica, à terceira jornada deste campeonato 2025-2026. Pelo calendário - que, ao contrário do que acontece com os principais rivais, vem repetidamente sorteando a primeira jornada do Benfica em casa, para que a última seja fora - a estreia teria acontecido há duas semanas, com o Rio Ave, jogo que, pela participação na pré-eliminatória de apuramento para a Chamipons, foi adiado para daqui a um mês.
Mais de 60 mil em festa. Porque é assim, vamos à Luz pelo coração e para fazer a festa. A reacção de cada um ao jogo pode ser muito diferente, mas festa é festa. E a Luz é festa, depois vem o jogo. Desta vez, com alguma surpresa, com Samuel Soares na baliza, e Trubin no banco; com Tomás Araújo, em estreia na época, ao lado de Otamendi, e António Silva no banco; com Obrador e sem Dahl. E, já agora, com Schjelderup de regresso aos titulares, com Aktürkoğlu de regresso ao banco, como tem sido habitual. Quatro alterações na equipa que há três dias jogara em Istambul.
O jogo não foi diferente do que têm sido os outros jogos do Benfica. O da Amadora, há uma semana, é outra história. O batatal onde foi disputado não dava para muito mais, e há sempre jogos assim. Não foi diferente porque este Benfica é isto, e não há volta a dar. É uma equipa de transições, não é de empurrar o adversário lá para trás, para o asfixiar em ondas sucessivas de ataque continuado.
Este é um jogo que cabe bem naquela coisa do copo meio-cheio ou meio-vazio.
Na primeira parte foi mais meio-cheio, apesar de uns 10 minutos mais desconfortáveis, ali à entrada do segundo quarto de hora. Muita bola (67% posse de bola), muitos remates (11) e muitas oportunidades de golo. Mas apenas dois golos. Dois bons golos, ambos em remates dentro da área, no mesmo lado direito, já de ângulo apertado, em duas belíssimas jogadas de futebol.
O primeiro surgiu de um excelente slalom de Dedic - daqueles que nos empolgam, e que desequilibram os adversários - culminado com uma abertura espectacular, para Ivanovic rematar para o lado direito do Bernardo Lopes, o excelente guarda-redes do Tondela (evitou quatro ou cinco golos), que naturalmente tapara o seu lado esquerdo. O segundo, 10 minutos depois, surgiu de uma combinação, em rápidas de trocas de bola, de primeira, entre Pavlidis e Schjelderup, culminada com a abertura do norueguês para a direita onde surgiu o seu compatriota Aursenes a rematar - uma bomba - de baixo para cima, indefensável.
Na segunda parte mais meio-vazio. A equipa manteve praticamente a mesma posse de bola, rematou praticamente o mesmo número de vezes (chegou ao fim com 21 remates), e criou o mesmo de oportunidades - mais de uma dúzia em todo o jogo -, mas falhava mais passes e falhava mais decisões. O Pavlidis ainda lá poderia estar a esta hora a rematar que não marcava.
Nas substituições (Schjelderup por Aktürkoğlu; Obrador por Dahl; Dedic por Prestiani; Ivanovic por Barreiro; e Enzo por Florentino) Bruno Lage poupou-o, e a equipa tudo fazia para lhe oferecer o golo, mas estava escrito que não era noite do grego. E foi Prestiani - também já merecia um golo - a marcar o terceiro, e a entrar na festa, já em cima dos seis minutos de compensação dados por Anzhony Rodrigues. Um árbitro desconhecido, novo mas igual aos outros. E também fraquinho!
Só uma achega - final - para o meio-cheio. Esta equipa do Tondela, em Braga, aos 10 minutos do jogo da primeira jornada, já poderia estar a ganhar por 3-0. Acabou a perder pelo mesmo resultado de hoje, na Luz - sofreu o primeiro golo a meio da primeira parte, num canto, da primeira vez em que os de Braga chegaram à baliza do Bernardo Lopes; o segundo, de penálti (manhoso); e o terceiro também no fim do período de compensação - mas criou mais do dobro das ocasiões de golo do Braga.
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