FUTEBOLÊS#134 LIGAR
Por Eduardo Louro
Desta vez o futebolês fixa-se num simples verbo: ligar. Com várias aplicações, mas sempre à volta do mesmo!
A equipa não está ligada, ou não consegue ligar o jogo ou mesmo manter a equipa ligada ao jogo ou voltar a ligar-se ao jogo – que é a mesma coisa - são expressões do futebolês à volta do verbo ligar. Mas não mais do que estas: não ligar ao jogo, por exemplo, já não é futebolês!
Quando a equipa não liga ao jogo, como tantas vezes acontece, deixando toda a gente à beira de um ataque de nervos – por exemplo, o Porto não ligou nada ao jogo com uma equipa de nome Santa Eulália, do passado fim-de-semana para a Taça, e o Vítor Pereira passou-se – o futebolês não se preocupa. Se o resultado der para o torto, o que não foi o caso do Porto – um miserável 1-0 ao tal Santa Eulália, mas ganhou – então lá vêm os tomba-gigantes, a estória de David e Golias e mais umas tantas frases feitas. Mas nada que o futebolês tenha criado!
Não estar ligada, ou não conseguir ligar o jogo - ou o inverso, na afirmativa - é a mesma coisa mas dita de forma diferentes. Não assim tão diferentes, mas diferentes!
Se a equipa não está ela própria ligada, com os diferentes sectores – a defesa, o meio campo e o ataque - a comunicarem fluentemente entre si, ligados que nem elos de uma corrente, não consegue ligar o jogo. O jogo não resulta fluente, consistente, harmonioso e consequente. Pelo contrário, surge como que curto circuitado, aos repelões, sem bola - porque perdida muito rapidamente – e sem nexo, causal ou qualquer outro.
A caixa que comanda a ligação - da equipa e do jogo – é o meio campo – talvez por isso há quem lhe chame o coração da equipa - onde cada peça é como um interruptor. O pivô ou os pivôs – pode ser um ou dois, o 6 ou o 6 e 8 – asseguram a ligação na primeira fase de construção, e o 10 a ligação à segunda fase, a decisiva.
É porque as coisas funcionam assim que o Benfica não está a funcionar. Com as saídas em simultâneo do Javi (6) e do Witsel (8) e com Aimar e Carlos Martins (os dois 10) permanentemente de fora, a equipa não tem sequer interruptores. E sem interruptores não há como ligar a equipa e, se a equipa não está ligada, não consegue ligar o jogo. Bem pode Jorge Jesus ir ao baú cheio de alas para procurar interruptores… Não resulta, como já se viu! E não se vê como é que, assim, Luís Filipe Vieira irá conseguir pagar a promessa dos três campeonatos em quatro anos, já para não falar de uma competição europeia…
Já no Sporting as coisas são diferentes. O Sá Pinto, provavelmente chamado ao comando por fazer faísca com facilidade, nunca conseguiu que a equipa ligasse o jogo, e rapidamente virou passado. O Oceano pegou na equipa, mas continuou desligada, sem fio de jogo. E no entanto os interruptores estão lá, o que não funciona são os próprios circuitos. Acreditam que os engenheiros (electrotécnicos) belgas sejam melhores que os portugueses, mas não é o que se diz por aí…
Manter a equipa ligada ao jogo é outra coisa bem diferente. Tem a ver com a reacção à marcha do resultado, que é preciso não deixar desnivelar.
Quando o resultado começa a pesar – dois, três, quatro – a equipa tende a desligar do jogo, a ficar cada vez mais longe da possibilidade de discutir o resultado. Às vezes basta um golo para trazer de volta a equipa, para a voltar a ligar ao jogo. Para lhe dar a ilusão e a crença de que ainda é possível. E por vezes surgem reviravoltas espectaculares, como sucedeu na semana passada na Alemanha, onde a selecção da Suécia, depois de estar a perder por 4-0, desatou a marcar e ficou de tal forma ligada ao jogo que só parou no último segundo, mesmo a tempo de chegar ao espectacular 4-4 final!