Ficamos ontem a saber que, enquanto éramos espremidos até não mais termos para dar, em colossais aumentos de impostos que "ai aguentamos, aguentamos", e a troika por cá andava para tudo encobrir, 10 mil milhões de euros voavam para offshores com a complacência da máquina fiscal de Paulo Núncio, a mesma que nos penhorava até as cuecas.
E ficamos a saber que ficamos a saber isto porque passaram a ser publicadas umas estatísticas que no governo dos senhores Passos e Portas, no ministério das finanças do senhor Vítor Gaspar e da Senhora Maria Luís, o senhor secretário de estado Paulo Núncio, muito dado a tratamentos VIP, tinha deixado de publicar. E entre as últimas publicadas e as primeiras vindas a público, pela mão do actual ministério das finanças do senhor Mário Centeno, que os comparsas da senhora Maria Luís e do senhor Palulo Núncio querem demitir por causa de uns sms, havia um hiato de 10 mil milhões. Um buraco bem negro de 10 mil milhões!
Um buraco negro que mais negra faz a história daqueles quatro negros anos...
Já aqui tínhamos dado conta da indepedência do funcionamento do Estado. Não é só com este governo, mas em moldes especialmente grosseiros com este governo. Da forma como, contra os cidadãos, inverte o ónus da prova. Ou como é o pessoal da administração interna que comanda os inquéritos às polícias. Ou como é o das finanças a inquirir os actos do pessoal das finanças, e de como "no fim bate tudo certo".
Nada de novo. Tudo como dantes: quartel general em Abrantes... A Inspecção Geral de Finanças, inspecciona .... as Finanças. E, claro... no pasa nada!
A famosa lista VIP de Paulo Núncio não tem nada de mal e já está tudo arrumado. Porque afinal é como a pescada... Antes de o ser, já o era. Já existia, mesmo antes de ser criada... Não digam que não é notável.
É assim que, por cá e com esta gente, as coisas se passam. A ministra da Administração Interna também deu trinta dias para o inquérito da IGAI à actuação do polícia em Guimarães, e da polícia no Marquês de Pombal, nos festejos do Benfica...
É com esta independência, e com esta transparência toda, que as coisas se resolvem. A malta das Finanças investiga a malta das Finanças. A malta da Polícia investiga a malta Polícia... E por aí fora... No fim bate tudo certo!
O relatório da Comissão Nacional de Protecção de Dados, conhecido hoje, veio confirmar a famigerada lista VIP. E veio confirmar a sua composição: Cavaco, Passos, Portas e Núncio.
E veio ainda revelar que mais de 2300 pessoas alheias à Autoridade Tributária têm acesso livre aos dados fiscais de qualquer contribuinte. Todos, à excepção daqueles quatro nomes, vulneráveis à devassa geral!
De outra Comissão Nacional (não há só institutos e fundações, há ainda comissões), desta vez de Eleições, também não vêm boas notícias. Os votos na Madeira não batem certo, e nada pior em democracia do que dúvidas nas contagens e apuramento de resultados. Ou erros no sistema informático. Quando os resultados se afastam das sondagens alguma coisa está errada. O normal é que sejam as sondagens... Não é bom que sejam os resultados!
Nem é bom que nada disto, hoje, seja mentira. É mesmo muito mau!
Afinal o tema ainda não morreu. Houve jornais que não o deixaram cair, e afinal a lista VIP apareceu mesmo. Com quatro nomes. Quais Mourinhos... Quais Cristianos Ronaldos... Quatro nomes apenas gozam dessa prerrogativa da suprema importância: Cavaco, Passos Coelho, Paulo Portas e... Paulo Núncio, claro.
Um novo conceito: Verdadeiramente VIP. Para que não haja confusões!
Agora percebe-se a atitude da ministra das finanças. Para Paulo Núncio, Maria Luís Albuquerque não é verdadeiramente VIP. A vingança é terrível!
O tema - lista VIP do fisco - já ficou para trás. É assim por cá: os temas não acabam quando se esgotam, quando são alcançadas todas as consequências. Acabam e deixam-se para trás quando nos cansamos deles, e deixam de ser novidade. Ou quando surge outra novidade a sobrepôr-se. Nunca é boa altura para um avião cair, mas às vezes ...
Acabou, já faz parte do passado. E parece que está demitido o que havia a demitir. Estamos perto da Páscoa, mas não é por isso que nos lembramos do sacrifício do cordeiro pascal...
Maria Luís Albuquerque passou por isto como se não existisse, mandando multiplicar os jotinhas e anunciando cofres cheios. E Paulo Núncio não é cordeiro. É raposa. Ao que se diz por aí, a raposa que continua dentro do galinheiro!
O governo, em regime de alta produtividade, está a fazer de cada trapalhada – reproduzem-se como coelhos e crescem como cogumelos – gigantescas bolas de neve. Seja lá o que for, aparece e, em vez de ser logo atacado de frente e resolvido, não. O governo não consegue enfrentar problema nenhum, e muito menos resolvê-lo. Prefere escondê-lo, cobri-lo, com terra ou muitas vezes com estrume e, exactamente como nos cogumelos, naquele escurinho e com muita porcaria em cima, desatam a crescer sem parar.
Este último caso das listas VIP do fisco é apenas mais do mesmo. O cogumelo cresceu, cresceu, cresceu… e é hoje uma gigantesca bola a rolar descontrolada pela montanha abaixo, ameaçando cilindrar tudo à sua passagem. O secretário de estado Paulo Núncio corre em pânico à sua frente. O primeiro-ministro transpira, e são suores frios por ver uma coisa tão grande a passar tão perto.
O CDS está todo ele escondidinho, juntinho ao chefe, pouco preocupado que seja um dos seus a estar prestes a ser cilindrado pelo monstro rolante. Mas, espantoso mesmo, é ver a ministra da tutela a passear à vontade, verdadeiramente indiferente ao turbilhão que aquilo levanta à sua passagem. Nem a poeirada levantada a incomoda. Não é nada com ela…
Impressionante! Se calhar nada perturba a tranquilidade e o sono descansado de quem tem os cofres cheios… E um bunker, também escurinho, onde se esconder a dar ordens de multiplicação. Multipliquem-se! Como os coelhos. Ou como as trapalhadas...
O alto funcionalismo da administração pública é feito disto mesmo: de tipos zelosos dos seus mais nobres deveres na defesa dos mais nobres interesses da governança do país!
Quando meio mundo apontava o dedo ao coitado do Paulo, e a outra metade ao não menos coitado do Pedro, o zeloso director geral da nobre causa dos impostos abriu o peito e disse que foi ele. Que foi ele que criou a lista que não havia. Que não havia, mas que se lembrara de criar justamente quando viu que o coitado do Pedro andava a ser incomodado por gente má, do piorio, capaz de, só para lhe arruinar a vida, livremente vasculhar a sua vida fiscal. Clara e transparente. Sem nada a escoder...
Uma ternurinha!
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