A rapaziada dos supermercados quer aproveitar a inflação para ganhar dinheiro à fartazana, estando-se nas tintas para as dificuldades de quem lhes alimenta os lucros. Mas não quer ficar mal na fotografia!
Por isso apressa-se para o melhor ângulo, e ajeita a gravata.
Mesmo com a taxa e inflação a cair, os bens alimentares continuam a custar mais todas as semanas nos supermercados. Comparando os dados dos preços praticados a 9 de março de 2022 com os aplicados a 8 de Março de 2023, Deco/Proteste conclui que há alimentos que já custam praticamente o dobro. A ASAE começou a fiscalizar e já instaurou 51 processos-crime a super e hipermercados por “especulação objectiva”, tendo detectado margens brutas de comercialização superiores a 50%.
A senhora Paula Azevedo, da SONAE, dona do Continente, não faz por menos, queixando-se de desinformação. E de danos gravosos para a reputação da rapaziada. Diz até que a sua empresa baixou as margens, para acomodar o aumento dos custos.
É grande a lata desta rapaziada. Tão grande que, depois, ainda vão pagar os impostos sobre estes lucros, engordados desta maneira, à Holanda. E ainda exigem ficar bem na fotografia...
Ontem e hoje têm sido dias de divulgação de dados do INE. Ontem, foi anunciado que o PIB cresceu 6,7% no ano passado, um crescimento histórico, o mais elevado dos últimos 35 anos. Hoje, que a taxa de desemprego subiu, em Janeiro, para 7,1% (6,7% em Dezembro). E que a inflação terá baixado em Fevereiro dos 8,4 para 8,2%.
Estes dias são sempre dias de grande agitação, com números para todos os gostos. E para todas as dúvidas!
Da inflação - tudo o que hoje mais importa - diz-se que segue a tendência decrescente (8,4 para 8,2%). Mas, se desse cálculo do índice de preços forem retirados a energia e os bens alimentares não-processados, passa a chamar-se inflação subjacente (inflação corrigida dos "preços mais voláteis"), e a tendência já é a contrária. Essa, continua a subir.
Ora, são precisamente esses "bens com preços mais voláteis", energia e bens alimentares não-processados, os que mais determinam o custo de vida da população em geral. São bens de primeiríssima necessidade, de que ninguém pode prescindir sem prescindir dos mínimos de sobrevivência. Aí não há substituição de consumo, há simplesmente privação!
Nos bens alimentares não-transformados, como carne e peixe crus, frutas e legumes, a subida dos preços no último ano nunca teve nada a ver com a a taxa de inflação oficial. E continua a não ter: a taxa de inflação que caiu em Fevereiro 8,4 para 8,2%, subiu de 18,5 para 20,1% nestes bens essenciais.
Entretanto vai abrir a época de apresentação de resultados anuais das empresas. Dos trimestrais, e dos semestrais, já fomos tendo notícias ao longo do ano. E sabemos o que foram. E sabemos o que foram nos sectores destes "bens com preços mais voláteis", da energia à distribuição alimentar. Resultados recorde!
Não são recorde dos últimos 35 anos, como o do crescimento do PIB. São recordes absolutos. Nunca antes ganharam tanto dinheiro.
Há aqui qualquer coisa que não bate certo: se quem compra é obrigado a comprar menos, como é que quem venda ganha mais?
Não há volta a dar à resposta, e lá teremos de ir parar aos preços. E novamente à inflação. E de novo aos "bens com preços mais voláteis". E lá ficamos finalmente a perceber que os baptizaram com esse bonito nome de "preços voláteis" para que nós não lhe chamemos, no mínimo, "pouca vergonha". Que sempre é mais bonito que "filhadaputice!
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