O meu obrigado ao Sr Anderson Luís da Silva. Obrigado, capitão!
Quinze anos, e 522 jogos oficiais (mais, só Nené, com 578) de manto sagrado. Seis campeonatos, três taças de Portugal, sete taças da Liga e quatro supertaças: 20 títulos. Ninguém fez mais!
Grande ambiente na Luz, à Champions. Grande jogo, intenso até mais não. Sofrido até não poder ser mais, neste regresso da Champions, no 500º jogo oficial de Luisão com o manto sagrado colado ao corpo.
O Borussia Dortmund é uma grande equipa, e tem um grande futebol, com uma dinâmica praticamente imparável. Ao Benfica restou resistir, sofrer e, tanto quanto possível, contrariar aquele futebol demolidor.
O Benfica sabia ao que vinha. Sabia que logo que a equipa alemã impusesse o seu futebol ficaria difícil contrariá-lo. E sabia que só tomando conta do jogo, e impondo o seu futebol próprio futebol, poderia retardar a entrada em funcionamento da máquina alemã.
Conseguiu-o durante os primeiros dez minutos, chegando a deixar pensar que conseguiria verdadeiramente discutir o jogo em todas as sua vertentes. E em todo o campo.
A verdade é que os restantes 35 minutos da primeira parte mostraram que não. O Dortmund encostou a equipa benfiquista à sua área, como no pugilismo se encosta o adversário às cordas. O Benfica não conseguia secar a fonte do futebol alemão, que alimentava as torrentes de ataque que apanhavam a equipa lá atrás, com as sucessivas vagas a rebentarem-lhe em cima.
Na segunda parte Rui Vitória deu a volta a este estado de coisas. Com a saída de Carrillo - não por ser Carrillo, nem porque estivesse pior que os outros - e a entrada de Filipe Augusto (o Samaris a perder espaço) permitiu que Pizzi subisse no terreno e, mesmo sem a secar, condicionar a nascente do futebol do Borussia, ali pelos lados do central Bartra. E assim o Benfica voltou a entrar melhor, voltou a discutir o jogo e, com a sorte que nestas coisas faz sempre falta, chega ao golo.
Este período voltou a não durar mais que dez minutos. Mas a torrente do futebol alemão nunca mais foi a mesma. E depois surgiu Ederson em todo o seu explendor, defendendo tudo. Até um penalti. E garantindo um resultado que é tão obviamente bom quanto provavelmente insuficiente para repetir os quartos de final da época passada.
No fim ficou uma alegria imensa. Como a chama. E as lágrimas do capitão, do senhor 500, a juntar ao suor de todos, e ao sangue de Lindelof e Ederson...
Vi – muito à posteriori, porque passei todo o fim-de-semana em posição off - o que toda a gente viu naquela absurda cena que envolve o Luisão naquela espécie de jogo de Dusseldorf. E tendo visto o que toda a gente viu, não me sinto orgulhoso da atitude do capitão da equipa do meu clube. Não tendo a gravidade de muito do que se vê nos campos de futebol, e especialmente em Portugal, preferiria que o capitão do Benfica se tivesse dirigido ao árbitro de outra forma. Sim, porque aquela corrida não foi para afastar os seus colegas do árbitro!
Dito isto, é tempo de dizer não vi - como ninguém viu – qualquer agressão ao árbitro. Nem vi – como ninguém viu – donde pudesse ter vindo! Não vi – como ninguém viu – qualquer razão para a queda do árbitro com todo aquele aparato, mas confesso-me impressionado com a encenação: demasiado realista e, a ter sido treinada, foi-o na perfeição.
O árbitro – ou artista? – quis fazer crer que tinha sido agredido. De outra forma não se entende que tenha dado o jogo por concluído. Mas também acabou por não mostrar o segundo amarelo – e o correspondente vermelho - ao Javi. Nem ao próprio Luisão! Mas nem isso é de relevar, porque de arbitragem, tinha-se já percebido, não entende ele nada. Ao contrário da arte de representação, onde se mostrou credenciais. Que lhe faltam nas lides do marketing, porque se aquilo foi para ganhar notoriedade… Mas sempre há uns milhões que ficaram a saber que se chama Christian Fischer. Sem isto ninguém saberia o seu nome!
Banana é fruta, como sabemos. E fruta, como também sabemos, entrou há uns anos no léxico do futebol e, daí, directamente para o futebolês. Como não podia deixar de ser…
Não sei se essa fruta tinha ou não banana, mas acredito que sim porque era fruta tropical. Que, sem banana, fica assim meio coxa. E fruta coxa não era a mais indicada para o efeito!
Há no entanto no futebol mais banana para além da fruta. Que não tem mesmo nada a ver com fruta e menos ainda com aquela fruta desse lado negro e batoteiro do futebol. Tem, pelo contrário, apenas a ver com o lado puro do jogo e com a sua incomparável estética.
Banana é aquele remate com a parte interior do pé que leva a bola a descrever uma curva. A curva da banana! É a curva inversa à da trivela, que já aqui trouxemos. É como uma irmã gémea da folha seca, de que também já falamos, e resulta num efeito espectacular pela forma como a bola contorna e ultrapassa os obstáculos que lhe tolhem o destino. Seja a barreira colocada à frente da baliza na cobrança de um livre ou apenas o guarda-redes que cobre por completo o ângulo, que é como quem diz que tapa o caminho mais próximo entre a bola e a baliza. Já sabemos da geometria que é uma linha recta a que determina a menor distância entre dois pontos. Daí a necessidade de recorrer à banana, porque o caminho mais curto está tapado!
Temos pois, no futebolês, banana na fruta da bandeja mais negra do futebol e banana como um dos mais espectaculares e eficazes gestos técnicos. E temos muitos bananas – tansos - no futebol!
O Capdevilla, por exemplo. Até poderá não ser exactamente um banana, mas não tenho dúvidas que se sente um banana. Eu fico apenas abananado: um tipo que é campeão do mundo e da Europa fica de fora por troca com o Jardel? Já não falo das outras contas, de estrangeiros e nacionais, e da formação. Essas ainda se aceitariam, embora se lamente que não tenham sido feitas mais cedo, no tempo próprio, antes, evidentemente, de negociar as contratações. Porque era nessa altura que se faziam contas: aos portugueses, aos da formação e aos outros. Assim já não ficaríamos abananados com a inscrição do César Peixoto na Champions, que não está inscrito na Liga nacional e com quem o Benfica não conta. Mas que conta para as contas com que a UEFA se deixa enganar. Outro banana!
Quem não é nada banana é Luisão. Que rima com espertalhão, o que quer dizer que há bananas por aí. É como uma moeda: se numa face está um espertalhão na outra está um banana!
Arranjou maneira de assegurar um ordenado do outro mundo até aos 35 anos. Ao que se diz pôs mais 600 mil euros por ano em cima do que já ganhava, que já de há uns anos a esta parte, sempre com a mesma estratégia, cuidava de rever anualmente. Agora não quer outra coisa que acabar a carreira no Benfica (pudera!), exalta a paixão de Jorge Jesus pelo Benfica e o carinho especial que tem pelo presidente. E, claro, aquilo que disse há dois meses quando regressou a Lisboa foi mal interpretado. Não era nada daquilo que queria dizer … e nós sentimo-nos um bocado bananas!
O Pedro Caixinha também me pareceu um bocado banana. A forma como pôs a equipa (União de Leiria) a jogar com o Porto é de um banana. Ou de outra coisa pior. Não esperou muito pela resposta e mandaram-no pregar aquele sermão - meio tolo e megalómano - para outra freguesia. Dentro de dias aí o teremos como comentador encartado nessas televisões todas, até porque houve um lugar que ficou vago.
Mas se tivesse que eleger o maior banana do nosso futebol não teria dúvidas: Ricardo Carvalho!
Linha de passe é uma das expressões do futebolês mais directas e mais claras. É de utilização exclusiva em futebolês – não se presta portanto a confusões – e percebe-se claramente ao que vem: é uma linha imaginária por onde a bola pode passar até chegar a um colega de equipa.
Percebe-se assim que compete aos jogadores duma equipa abrir ou criar linhas de passe para os seus colegas e tapar as linhas de passe da equipa adversária, na fundamental e mais excitante das dialécticas do jogo. Encontrar as melhores respostas para esta dialéctica é o desafio que se coloca à dimensão táctica e à dinâmica de jogo. É disto que os treinadores terão que se ocupar! Está aqui uma das valências técnicas das competências gerais de um treinador de futebol, uma das mais exigentes actividades profissionais da actualidade.
As restantes passam pela comunicação – interna e externa – e pela gestão dos diferentes recursos, muito especialmente dos humanos, com especial ênfase na gestão psicológica - individual e de grupo – e na questão motivacional.
É principalmente aqui que tenho frequentemente sido crítico com Jorge Jesus. É aqui que lhe encontro os mais evidentes pontos fracos! E era, pensava eu, por outros – entre os quais ele próprio - terem chegado à mesma conclusão, que foi anunciada a contratação dos serviços do Prof. Manuel Sérgio!
Mas, ou porque não tenha ainda iniciado funções ou porque Jorge Jesus revele dificuldades de aprendizagem, a verdade é que a nova época arrancou carregadinha de erros básicos. De palmatória e cujo preço irá ser pago a curto prazo!
Em vésperas do primeiro – e decisivo, tão decisivo quanto o fora há um ano o desafio da supertaça com o Porto – jogo da época, onde se jogava o acesso à Liga dos Campeões – a mais importante e ambicionada prova do calendário mundial – Jorge Jesus voltou a demonstrar exuberantemente as suas incompetências. Em primeiro lugar porque ficou demonstrado que não tinha a equipa preparada para este desafio, ficando por provar que não tivesse recursos suficientes para, em particular porque era o mais gritante, constituir uma estrutura defensiva para encarar o jogo. Depois, perante essas evidentes dificuldades, optou por uma estratégia de salvar a pele, resguardando-se de um perspectivável insucesso com a incrível declaração de que a Champions não era objectivo prioritário do Benfica: na véspera de um jogo decisivo – pelas consequências desportivas e financeiras talvez o mais importante jogo da época – o treinador vinha dizer que aquele jogo não importava para nada, que os objectivos da equipa não passavam por ali. Inacreditável!
Depois, ainda, veio a cobertura dada ao inaceitável comportamento de Luisão. Que chegou quando quis, depois de mais de um mês de declarações impróprias e intoleráveis que reafirmou logo à chegada. Não poupou nas palavras, cortando todas as linhas de passe que a administração procurasse para resolver o conflito que ele despropositadamente abrira. Seguiu-se o inenarrável episódio Maxi Pereira: um jogador que jogara (e ganhara) a final da Copa América no domingo, em Buenos Aires, que viajou para o Uruguai (recorde-se que, no arranque da Copa América, se dizia que o Benfica teria um jacto privado na Argentina para, logo no domingo, trazer todos os seus craques), onde participou dos festejos com os seus compatriotas e onde foi ainda conhecer os seus filhos gémeos, entretanto nascidos, e que chegaria a Lisboa no próprio dia do jogo, poderia afinal alinhar! Inacreditável a este nível competitivo! Mas, para além de tudo, um atestado de desconfiança para o plantel que trabalhara toda a pré-época, aos jogadores que ele próprio contratou e um atestado de incompetência a si próprio em matéria de contratações.
E Maxi Pereira jogou mesmo. Não entrou de início porque – e esta é mais uma das asneiras – jogou o Rúben Amorim, que não jogava há oito meses nem estivera na preparação da época.
E jogou o Luisão. E foi o capitão, como nada se tivesse passado.
E, como se nada se tivesse passado, parece que a administração da SAD do Benfica se prepara para ceder à habitual chantagem de Verão do Luisão, revendo-lhe mais uma vez o contrato. Tem sido assim todos os anos!
Parece mesmo que treinador e estrutura de gestão estão unidos na tarefa de cortar as linhas de passe para o sucesso. Porque, não haja dúvidas, tudo isto se paga. E bem caro!
Em tempo de pré-época mais um termo apropriado: titular!
Titular, em futebolês, não é o proprietário de qualquer título. Mas é proprietário, há também aqui uma relação de propriedade. De posse!
O titular é precisamente o proprietário, o dono: o dono do lugar! O lugar, a posição ocupada no xadrez da equipa, é um bem escasso. Só há 11 disponíveis!
Se a ambição faz parte da condição humana aspirar à condição de proprietário cobre uma das mais comuns ambições humanas. No caso do futebol, sendo um lugar na equipa um bem escasso, essa ambição toma outra dimensão: não há jogador que não ambicione ser o dono do lugar. Seja ele qual for!
Conforme já vimos, nesta altura de preparação da época começa por se construir o plantel: à volta de 25 jogadores, como vimos. Idealmente três guarda-redes, mais dois jogadores para cada lugar - um o titular e o outro o suplente - e mais dois jogadores polivalentes (se bem que haja polivalentes que são titulares), que possam cobrir certos imponderáveis. Todos ambicionam ser os donos do lugar mas nem todos o conseguem. Apenas alguns são titulares indiscutíveis, isto é, têm um estatuto de dono absoluto do lugar, sem deixar qualquer tipo de dúvida! Como há os que são eternos suplentes. E ainda os suplentes que são armas secretas!
Nesta altura de aquisições – a época irá durar até 31 de Agosto e, pelo que temos visto em Portugal, até ao lavar dos cestos é vindima – procura-se reforçar o plantel, mas acima de tudo a equipa. Exigem-se contratações de titulares indiscutíveis, daqueles que entram de caras na equipa! Mas nem sempre assim acontece…
Já ninguém sabe muito bem quantos jogadores já contratou o Benfica. Muitos e com pouco critério, como facilmente se constata: dispõe no plantel 20 (!!!) jogadores para o meio campo – no sistema de Jesus, em 4-4-2, dá para cinco (!!!) meios campos – , não tem jogadores para construir uma linha defensiva e não tem um ponta de lança de alternativa a Cardozo que, ao que se diz, até será para vender. E, sabendo há muito da óbvia e inevitável saída de Fábio Coentrão, é muito difícil entender como é que, entre tanta contratação, não há um único para o substituir.
Com este critério – ou, melhor, com esta falta de critério – é evidente que está fora de causa aquele requisito básico da entrada de caras na equipa. À excepção do guarda-redes Artur, e não é exactamente mérito seu ou da sua contratação, é porque o Moreira foi posto a andar e ficou lá o Roberto, nenhuma contratação vem com o estatuto de titular indiscutível.
Estatuto que têm indiscutivelmente o brasileiro Luisão – o capitão e agora o jogador com mais tempo de casa – e o uruguaio Maxi Pereira, pedras absolutamente basilares da equipa. Ambos ao serviço das respectivas selecções nacionais na Copa América e, ao que por aí se diz, pouco interessados em regressar. Luisão apontado ao PSG e Maxi (quem é consegue entender por que não foi o seu contrato renovado atempadamente?) a dizer – e só acredita quem for anjinho - que quer ficar por lá, pela sua terra natal.
É com enorme preocupação que vejo, sistematicamente, os jogadores de referência da equipa a sair ou a pretenderem sair. Foram saindo todos, mandados embora na maioria dos casos, e, agora, os dois únicos jogadores com mais de três anos no clube querem sair. Acredito que seja uma circunstância que agrade a Jorge Jesus - poderá, assim, ser ele o rei absoluto do balneário, condição sine qua non para o exercício da sua rudimentar liderança - mas será catastrófica para o Benfica!
E isto é tão mais preocupante quanto olhamos um pouco lá para Norte e continuamos a vê-los apanhar as lebres levantadas pelo Benfica e, pasme-se, a renovar o contrato com o Falcão – que também está na Copa América, com todos os grandes clubes europeus atrás dele, e que podia estar muito bem a tratar da sua vida com o Chelsea ou com o Real Madrid – fazendo passar a cláusula de rescisão de 30 para 45 milhões de euros. Esta sim, uma verdadeira jogada de mestre, mesmo que sobeje muita coisa por explicar!
Ah! E o agente do Falcão é o Jorge Mendes: o mesmo que levou o Fábio Coentrão para Madrid, lembram-se? Então lembram-se como foi diferente, como aí ele estava do outro lado…
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