Claro que fui um dos milhões de humanos que não quis perder a (re)estreia (18 anos depois) de CR7 no Teatro dos Sonhos., transmitida em directo pelas televisões para todo o mundo (excepto três ou quatro países, entre eles o Afeganistão e ... o Reino Unido, por razões de concorrência com outros jogos à mesma hora). O acontecimento mundial do dia, ainda mais notável por ser precisamente neste dia 11 de Setembro, dos 20 anos do dia em que o mundo mudou.
É absolutamente extraordinário como a marca Cristiano Ronaldo, hoje bem mais que o jogador, consegue fazer desta (re)estreia um acontecimento mundial. E foi de sonho!
Dois golos, de ambas as vezes a desbloquear o resultado. O primeiro, em cima do intervalo, quando o nulo resistia, numa oferta irrecusável do guarda-redes do Newcastle (largou a bola para a frente, a sua, mas também a de Cristiano); e o segundo, a meio da segunda parte, quando o resultado já estava de novo empatado; com o keeper deixar passar a bola entre as pernas.
Depois aconteceu o grande golo de Bruno Fernandes. Tudo correu bem. Marcou, também, e não houve livres, nem penaltis para cobrar. O terceiro de Ronaldo foi esperado até ao fim, mas não surgiu. Nem sequer oportunidade para isso. Apareceu o quarto golo do United, mas foi marcado por Lingard. Bem bonito, e muito bem construído.
Tudo perfeito em Old Traford, agora o teatro da lenda.
Ontem falava-se de Manchester. Que Cristiano Ronaldo estava a caminho do City. A explicação parecia simples - CR 7 não queria arrumar as botas sem voltar a ser campeão europeu, mais a mais depois de dois anos de tentativa falhada em Turim - e o City, de Guardiola, que ainda persegue o mais importante troféu do futebol mundial de clubes, apresentaria boas possibilidades de servir esse desejo. Mas não convencia os históricos do histórico United.
Para eles Cristiano é red devil, e nunca poderia ser anjo com as cores do rival, que libras das arábias resgataram à subalternidade. Seria inaceitável traição, e CR7 não é para isso - garantiam-no Rooney, Rio Ferdinand e tantos outros, do seu tempo, ou de tempos mais remotos.
E assim foi. O jacto privado que descolou de Turim aterrou em Manchester, mas desviou depois o destino para Old Traford, o Teatro dos Sonhos. Acredito que terá sido com isto que Cristiano Ronaldo sonhou - quando as luzes se começam a querer apagar, voltar a vestir a camisola vermelha que o projectou como estrela maior da galáxia do futebol!
Torço para que corra bem. Se não correr, ainda assim é bonito. Mais bonito do que ganhar mais uma Champions, e na condição inédita de o fazer por um terceiro clube.
O futebol já não é o que era, nem nunca mais será. Até pareceu que é, e sabe muito bem mesmo quando só parece.
Nova derrota - a quarta, em quatro jogos na Champions. Miserável campanha!
Esta noite, em Old Trafford, até se poderá invocar essa coisa da sorte e do azar. E a arbitragem. Que foi deplorável, negando um penalti claro ao Benfica para, no minuto seguinte, assinalar um, inexistente, a favor do Manchester United. Que o miúdo defendeu.
A sorte e o azar de uma bola no poste. Que sai pela linha de fundo, quando o remate foi do Raul Jimenez. Ou vai contra as costas do guarda-redes, e daí para a baliza, quando foi Matic, agora na equipa de José Mourinho, a rematar. É certo que que foi assim. Que a equipa não tem sorte, mas também parece que não faz por a merecer. Também tem que haver revolta contra a falta de sorte. E revolta é coisa que não se vê no Benfica. Não faz parte do discurso, não se sente em ocasião nenhuma...
Pelo capricho dos resultados, os 6 pontos que ainda estão em disputa poderiam chegar para o segundo lugar, e o consequente apuramento para os oitavos. Seria inédito, mas não deixa de ser uma hipótese. Também poderão dar para a Liga Europa. E também poderão não dar para coisa nenhuma, o mais provável do improvável cenário. Não ter conseguido um único ponto em quatro jogos, e achar que consegue todos os pontos dos dois jogos que faltam, é pouco credível.
Mesmo assim, mesmo que desse para acreditar, era ainda preciso que, quem em quatro jogos marcou apenas um golo, e sofreu dez, marcasse agora um mínimo de seis, sem sofrer nenhum. Deixemo-nos de tretas!
O futebol não é um jogo de sorte e azar… Não era, até surgir este Manchester United de Van Gaal, onde não cabe um jogador como Falcão. Ou cabe, para entrar nos últimos cinco minutos, já com o resultado da lotaria conhecido…
Até há seis jornadas atrás, este colosso mundial do futebol às mãos do holandês, arrastava-se pelos relvados ingleses, a que esta época ficou confinado, ameaçando repetir a classificação do ano passado, ali pelo meio da tabela. De repente, em Londres saiu-lhe a taluda: levando um monumental banho de bola do Arsenal, consegue ganhar por 3-1. E nunca mais parou. Nem de levar banhos de bola, nem de ganhar!
Hoje, nos Teatro dos Sonhos e frente ao Liverpool, a saga prosseguiu. Foi três vezes à baliza dos rapazes da cidade dos Beatles e fez três golos: um logo a abrir, como convém, outro a fechar a primeira parte, como é dos livros, e em fora de jogo descaradíssimo, e o último à entrada do quarto de hora final. Pelo meio, os coitados jogadores do Liverpool encontravam sempre pela frente mais uma perna. Quando se livravam dessa perna incómoda surgia-lhes um De Gea intransponível, a defender tudo… E quando o guarda-redes espanhol – em grande forma – não fazia tudo, lá estava o poste para fazer o resto…
Já lá vão seis jogos… De sorte para Van Gaal e azar para todos os outros que lhe surgiram pela frente!
O United perdeu os seus dois centrais -Vidic e Ferdinand -, que não eram nada fáceis de substituir. Para dificultar ainda mais as coisas, Van Gaal - que, a continuar assim, há-de arranjar muitos amigos em Manchester - usa três centrais na equipa, como fazia com a selecção holandesa. Se já era difícil arranjar dois, mais difícil, evidentemente, é encontrar três.
Isto explica Rojo. Mas torna muito mais difícil de perceber Garay... É mesmo complicado este Van Gaal. Muito ele gosta de dificultar as coisas...
Um estádio a aplaudir um adversário - Di Maria - que sai lesionado. Um estádio a cantar José Mourinho…José Mourinho… José Mourinho…
Um estádio a receber Cristiano Ronaldo como um rei. A real king. Cartazes de boas vindas por todo o lado. Welcome home, Ronaldo!
Isto é Old Trafford. Isto é o Teatro dos Sonhos. Isto é o futebol inglês e isto deveria ser o futebol. Em qualquer parte do mundo!
Depois foi um jogo de futebol. Sensacional, com tudo – mesmo tudo – o que o beautiful game tem para dar!
Com duas grandes equipas, mas com a equipa inglesa ainda maior. Com grandes jogadores, um já com 39 anos, a cumprir o jogo mil da carreira. Com dois grandes treinadores, mas com Mourinho ainda maior. Decisivo!
Decisiva a forma como percebeu o momento do jogo – a expulsão de Nani – e como decidiu: de imediato, sem um segundo de hesitação, retira o lateral direito – não estava lá a fazer nada depois da expulsão de Nani –, lança um médio de ataque criativo (Modric) e manda a equipa asfixiar o adversário junto à sua baliza. Preparava-se para esgotar as substituições e fazer entrar outro ponta de lança – Benzema – quando, sete minutos depois de entrar, Modric empatava. Para, apenas três minutos depois, Cristiano Ronaldo, sem festejar e a pedir desculpa aos adeptos, consumar a viragem no jogo e na eliminatória. Voltou atrás, em dez minutos tudo ficara resolvido. Que não acabado!
Com menos um, e a perder, o Manchester ainda fez do guarda-redes espanhol o melhor jogador em campo. E do árbitro um elemento decisivo no jogo!
Ele que fora decisivo no ritmo do jogo, deixando jogar e interpretando-o na perfeição. Que fora decisivo no momento do jogo, expulsando mal – sem qualquer justificação, embora se possa encontrar atenuantes - o Nani, e que voltaria a evidenciar-se ao perdoar duas grandes penalidades ao Sergio Ramos.
Tudo o que o jogo tem… num só jogo. Apaixonante!
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