A vitória de Rui Rio começou de imediato a produzir efeitos. Ou, talvez melhor, declarações.
Primeiro foi Manuela Ferreira Leite, a quem muita esquerda começara a afeiçoar-se, a dizer que o "PSD deve vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua". Nem sei o que mais impressiona - se o balde de água gelada que despejou em cima dos seus mais recentes camaradas, se a dificuldade de o PSD se libertar do diabo. Se, chamado por Passos, não veio, pode ser que venha agora para lhe ficar com a alma. Comprando, é claro...
Mais que desviarem-se desta declaração como quem se desvia de qualquer coisa sem importância, abandonada na beira da estrada, fugiram dela como o diabo foge da cruz!
A estrondosa acusação de Manuela Ferreira Leite - "o que António Costa estar a fazer é um verdadeiro golpe de estado" - produzida no seu espaço de comentário na TVI, não encaixa com nada do que há três ou quatro anos lá anda a dizer. Mas encaixa no seu próprio voto - ela sim, poderá agora dizer que não teria votado no PS, nem que seja a pensar que fica perdoada - e encaixa na perfeição na sua escala de valores, com a fidelidade bem destacado no topo, muito acima de todos os outros.
Não é o mais nobre dos valores... De tal forma que, para adquirir alguma nobreza, tem de chamar-se lealdade. Que já é outra coisa...
Manuela Ferreira Leite e Cavaco são dados como unha com carne. Mais do que afinidades – políticas, pessoais e profissionais – é mesmo uma grande cumplicidade que tem historicamente aproximado estas duas personalidades. Ainda há pouco se dizia que Manuela Ferreira Leite servia para dizer aquilo que o presidente não podia…
Ouvindo o que vem dizendo a anterior líder do PSD, e o que ainda ontem disse no seu novo espaço de comentário na TVI 24 – para onde entrou em substituição de Marques Mendes, entretanto transferido para a SIC – não nos vem à cabeça a ideia que Manuela Ferreira Leite e Cavaco estão de costas voltadas, que já nada têm em comum. Vem-nos à cabeça a ideia de gelatina!
Os filhos do regime recusam-se a abandonar a casa dos pais e acham que têm direito – sendo que direitos é aquilo que recusam a todos os outros, a quem apelidam de parasitas – a manter intactas as suas mesadas. Sejam elas em vencimentos, em pensões ou em subvenções. Ou em todas elas juntas! Para eles nada muda nem nada os faz mudar!
São muitos os filhos do regime e encontramo-los confortavelmente instalados no Banco de Portugal – que se colocou de fora dos cortes dos subsídios de natal e férias - , na Caixa Geral de Depósitos e mesmo na banca privada, na EDP, na PT, etc. E têm nome, têm muitos nomes!
Chamam-se Eduardo Catroga, que aos 72 anos passa a acrescentar às muitas pensões, subvenções e outros que tões, um vencimento anual de 639 mil euros na EDP. Que justifica pelo seu valor de mercado, que tem um valor de mercado como os outros gestores ou como os futebolistas, como o Cristiano Ronaldo. Até pode ser que tenha um valor de mercado, e até pode ser que seja alto, mas não é o caso: aquele é o valor que recebia o seu antecessor – António Almeida, certamente outro dos filhos do regime – que não seria também o seu valor de mercado, mas o que tinha recebido, com as devidas e merecidas actualizações, o seu antecessor e o antecessor do seu antecessor. Isto não é valor de mercado, isto é simplesmente a mesada que o regime atribui aos seus piquenos!
E chamam-se Paulo Teixeira Pinto, que depois de dois anos de presidência do BCP foi despedido com uma indemnização – sim, aquilo de que querem isentar os despedimentos – de cerca de 10 milhões de euros, e com uma pensão vitalícia de 30 mil euros mensais. O seu valor de mercado, certamente!
E chamam-se… bem, seriam mais umas dezenas de nomes. Todos bem conhecidos, mais que os Frexes e outros que tais que o PSD e o CDS não têm vergonha de colocar na administração da Águas de Portugal… Para além do mais em evidente conflitualidade de interesses!
Foram as mais diversas, dos mais variados sentidos e orientações e até, muitas das vezes, dos mais variados disparates, as reacções que atravessaram o país na sequência do downgrading da notação da Moody`s à dívida portuguesa.
Há pouco mais de um ano pouca gente em Portugal sabia o que era o rating. Poucos tinham ouvido falar em agências de rating e começavam então a aprender a soletrar nomes: Fitch, Standard & Poor´s e Moody`s!
Das mais diversas e desencontradas reacções há uma que me impressionou particularmente e que apontava para a desresponsabilização do governo anterior. De apagador na mão, logo houve quem corresse a gritar: “Vêm como isto nada tinha a ver com Sócrates?”
Impressionou-me a rapidez com que as forças arregimentadas à volta de Sócrates correram a agarrar esta oportunidade. E não posso deixar de repetir que a governação de Sócrates tem tudo a ver com isto, que foi ela – a pior do regime democrático - que, não sendo a única responsável pelo estado a que chegamos, trouxe o país para a banca rota. Como não posso deixar de entender a expressão de Pedro Passos Coelho quando diz que recebeu a notícia com um murro no estômago! Todos a percebemos!
Mas confesso que não me impressionou menos a forma como, agora na esfera do apoio ao governo, saltaram vozes a acusar de dedo em riste as agências de rating, em colisão frontal com o que, em idênticas circunstâncias, diziam poucos meses antes. Se isto não credível nem sério, e legitima as atitudes que pretendem apagar as responsabilidades de José Sócrates, passa a intolerável quando entre essas vozes se identifica a de Manuela Ferreira Leite e, muito especialmente, a do Presidente da República. Deplorável: isto também é lixo!
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