Mais uma etapa cumprida na corrida ao 38. Desta vez na Madeira, no Caldeirão dos Barreiros, com a oitava vitória consecutiva, o novo recorde da Liga, com mais uma boa exibição, e três golos sem resposta. Bem poucos para o que o Benfica - sem Gonçalo Guedes, impedido por lesão que obriga a intervenção cirúrgica ao menisco e, portanto, a ausência ainda prolongada, e sem Rafa, engripado - produziu, e para as oportunidades criadas no jogo.
Mais que mais uma etapa cumprida, foi mais uma confirmação da exuberância do futebol que o Benfica está a apresentar, e da superioridade para a concorrência.
O Marítimo entrou no jogo com a ideia de introduzir uns grãos de areia na máquina benfiquista, pressionando alto, e forte, na tentativa de roubar todos os espaços aos jogadores do Benfica, e impedi-los, assim, de porem os motores em funcionamento.
Durou pouco mais de cinco minutos. Essas estratégias são sempre de curta duração, a isso obriga o desgaste que provocam. Aos 10 minutos já a máquina de futebol do Benfica estava em funcionamento, entrando em velocidade cruzeiro a partir daí.
E quando a máquina entre na sua rotação normal, acontece espectáculo e, se não golos, muitas oportunidades para isso. E foi assim, muitas oportunidades. Mas poucos golos.
Na primeira parte apenas um. Porque João Mário estava como o modo de desperdício activado, falhando até um penálti. Foram três os golos que teve à mercê, e que desperdiçou. E porque, depois, o guarda-redes maritimista entrou em modo superlativo, negando dois golos, um a Neres e outro a Grimaldo.
Foram então quinze, os remates do Benfica. Todos em finalizações de grandes jogadas de futebol, que bem poderiam ter tido sucesso. Mas o golo tardou de mais. Chegou apenas à beira do intervalo, muito depois do penálti falhado (para as nuvens, ao tentar o remate em força para o meio da baliza) por João Mário, então a assistir Neres para uma finalização de grande classe.
O penálti falhado, à meia hora de jogo, foi um bálsamo para Marítimo. Depois de tantas às vezes se ter visto livre do golo, os jogadores acreditaram que todos os Deuses estavam do seu lado. E que, quem não marca, sofre. A reacção imediata acabou até com a bola dentro da baliza de Vlachodimos, que ainda não tinha sido obrigado a qualquer defesa. Toda a jogada foi bem armada, e próprio remate de grande espectáculo, mas já o árbitro assistente tinha assinalado o óbvio e evidente fora de jogo. Mas só por má colocação, porque na realidade, eram apenas 15 centímetros.
Acabou por nem sequer chegar a ser reacção. Foi apenas um acto isolado em toda a primeira parte, o Benfica não permitiu que fosse mais.
O que não ficara resolvido na primeira parte - o resultado - acabou por se resolver logo no arranque da segunda. Para o Benfica foi como se não tivesse havido intervalo. Entrou como saíra, ao mesmo ritmo, com a mesma qualidade, mas com a vantagem de marcar à segunda oportunidade, logo aos cinco minutos. João Mário, assistido por Grimaldo, mas beneficiando do pânico espalhado por Gonçalo Ramos na pequena área do adversário, redimiu-se dos falhanços anteriores. E voltou a igualar o jovem colega no topo da lista dos marcadores da Liga.
Sete minutos depois, o terceiro, numa jogada espectacular, com combinação perfeita, como sempre, entre Aursenes (mais uma exibição enorme) e Grimaldo (outra), concluída com o toque de calcanhar, de classe, com que deixou a bola para a finalização de Neres, que tinha precisamente iniciado a jogado, e bisar na partida. E o Benfica deu por cumprida a missão.
Tirou o pé do acelerador, e passou a gerir o jogo e o resultado, permitindo então ao Marítimo alguma bola. E a Vlachodimos tocar-lhe também. Fez a primeira defesa, e fácil, limitando-se a agarrar a bola, aos 65 minutos.
Novas oportunidades de golo, só para o Benfica. E só para os substitutos, logo depois das respectivas entradas, em substituições tardias. Aos 82 minutos saíram os marcadores dos golos, e entraram Musa e João Neves. Que logo a seguir ficou na cara do guarda-redes do Marítimo, proporcionando-lhe mais uma grande defesa. Musa teria a sua oportunidade 10 minutos depois.
Já em cima dos 90 entraram, em estreia, Tengstedt e Schjelderup, para substituirem Gonçalo Ramos e Aursenes, numa substituição que foi atrasada em dois ou três minutos, por dois cantos consecutivos para o Marítimo. Atraso fatal, já que nesse espaço de tempo o norueguês viu um amarelo. O quinto, que o deixa de fora do jogo com o Guimarães, na Luz.
Tengstedt ainda dispôs da última oportunidade de golo, mas não revelou maturidade para a aproveitar. E Gilberto ainda entrou para substituir Grimaldo, na esquerda, já em cima do final do jogo. Que não foi um passeio à pérola do Atlântico, mas que acabou por não ficar muito longe disso. Porque, ao contrário do que se vê com a principal concorrência, o Benfica está a fazer isso. A transformar dificuldades em facilidades. Ou ameaças em oportunidades, como se diz em "estratégia". Em oportunidades para demonstrar que está num degrau bem acima do dos oito pontos que nesta altura tem de vantagem!
No regresso à Luz, depois da noite de gala de Turim, o Benfica prosseguiu a sua caminhada totalmente vitoriosa, e a rota das grandes exibições, com um futebol de alto quilate, assombroso e de grande espectáculo.
Neste final de tarde de fim de Verão assistiu-se, na Luz, a mais uma exibição de gala do Benfica. Hoje sim, contra um adversário fraco. O Marítimo tem sido nestas primeiras sete jornadas a equipa mais fraca do campeonato. Hoje sim, podem desvalorizar a vitória do Benfica!
Mas não o farão, porque isso seria desvalorizar a do Braga, pelo mesmo resultado, contra este mesmo adversário. E a do Porto, com o mesmo número 5 de golos marcados, mas com um sofrido. Mas também não o podem fazer pela dimensão da qualidade da exibição benfiquista. E porque os 5-0 desta vitória, só são cinco porque o guarda-redes do Marítimo fez sete defesas que impediram outros tantos golos. E António Silva (mais uma enorme exibição, a respirar classe), naquele remate fantástico ao poste, Otamendi, João Mário, Gonçalo Ramos e Rafa, não conseguiram acertar na baliza em situações de golo cantado.
Foram 5, mas podiam bem ter sido 15!
O Marítimo entrou na Luz como entram - e têm entrado - todos os adversário: com dois autocarros à frente da baliza do Miguel Silva, duas linhas de cinco jogadores. Não era fácil furar aquelas duas barreiras, e durante a primeira metade do primeiro tempo o Benfica não preencheu todos os requisitos para fazer mexer o autocarro. Faltou mais velocidade, faltou rematar de longe e faltou chegada à linha de fundo.
Não faltaram mudanças de flanco, sempre dos pés de Enzo, e não faltou paciência. Foi esse o maior mérito da equipa do Benfica: paciência para circular a bola sem precipitações, sem falhar passes e sem deixar o adversário tomar fôlego e ganhar confiança. Pelo contrário, à medida que os minutos passavam, os jogadores do Marítimo iam perdendo oxigénio e confiança.
A velocidade que faltava ao jogo do Benfica começou a aparecer na segunda metade da primeira parte. A partir daí as oportunidades de golo começaram a desenhar-se em catadupa. Só deu num golo, de Rafa, já perto da meia hora, mas foram criadas condições e oportunidades para mais três ou quatro.
Logo no início da segunda parte chegou o segundo, e primeiro de Gonçalo Ramos. E depois foi continuar com a exibição bem lá em cima, numa avalanche e oportunidades, mas sem golos. Ou negados pelo guarda-redes maritimista, ou pelos deuses!
Acabaram por chegar atrasados, talvez por terem precisado de tempo para se aproximarem da perfeição. Só isso pode explicar o crescendo de qualidade dos últimos três golos. O terceiro, e segundo de Gonçalo Ramos, num espectacular toque de calcanhar, demorou quase 20 minutos. O quarto, de Neres, mais outro tanto. E por fim, então já perfeito, seis minutos depois, o golo de Draxler. Já bastava ser o primeiro do alemão com o manto sagrado, mas tinha ainda de ser o mais espectacular. Que bonito que foi!
Mais um jogo decepcionante do Benfica, este da antepenúltima jornada do campeonato, nos Barreiros, contra o Marítimo.
Nelson Veríssimo, já com despedida confirmada, promoveu muitas alterações na equipa. De fora ficaram os laterais Gilberto e Grimaldo, à beira do quinto amarelo, e por isso poupado para o jogo com o Porto; Diogo Gonçalves, suspenso por acumulação de amarelos, Taarabt e Gonçalo Ramos. O miúdo Sandro Cruz estreou-se na equipa principal, a lateral esquerdo. Não foi brilhante na estreia, mas ninguém o foi. Gil Dias repetiu a titularidade, desta vez na ala direita, onde pareceu mais adaptado. Começou bem, mas depressa desmentiu quem tivesse chagado a pensar que ... desta é que iria ser. João Mário regressou à titularidade, e foi mais do mesmo - sabe jogar à bola, mas não traz nada para o jogo. Tal como André Almeida, também regressado à titularidade, mas apenas a justificar a despedida.
Mas, no meio de tanta decepção, a maior chama-se Paulo Bernardo. Há um mês, mais coisa menos coisa, os jornais anunciavam que iria ser aposta total até ao fim da época. É verdade que a jovem promessa não tinha conseguido afirmar-se nas oportunidades que se lhe tinham deparado, mas tem um potencial de qualidade que justificaria uma aposta continuada. Liberto da ansiedade da "prestação de provas", o jogador ganharia tranquilidade para afirmar a sua qualidade. Fosse isso para se mostrar ao mercado, fosse para se consolidar na equipa.
Ainda não resultou. Quando falta inspiração a toda a equipa, não sobra nada para Paulo Bernardo. E só pode voltar a desiludir.
E no entanto o jogo teve tudo para se tornar confortável para os jogadores do Benfica, e para lhes permitir exibirem-se sem grandes constrangimentos. O golo surgiu logo ao expirar do primeiro minuto, e não deu sequer para o Marítimo entrar por outro caminho que não fosse o de discutir o jogo no campo todo. O Benfica tem sempre grandes dificuldades quando encontra um autocarro à frente da baliza. Nunca pareceu que o adversário tivesse tido essa ideia, mas aquele golo logo a abrir também lha permitiria. O Benfica parecia ir tomar conta do jogo, mas aos poucos ia deixando cair essa ideia.
Depois, para ajudar ao contexto, o Marítimo ficou reduzido a 10 jogadores, perto do fim da primeira parte, com a expulsão de Cláudio Wink - que até estava a ser o jogador de melhor rendimento da equipa - por entrada violenta, e muito perigosa, sobre o estreante Sandro Cruz.
Mas nem nesse contexto, ainda mais favorável, os jogadores encontraram condições para dominar completamente os acontecimentos e deixar fluir a inspiração. Nunca, em 55 minutos jogados com mais um jogador, a equipa soube lidar com essa superioridade no campo. Arrisco a dizer que, neste campeonato, nenhuma outra equipa a jogar tanto tempo em inferioridade numérica dividiu tanto o jogo como hoje fez o Marítimo. É certo que não criou oportunidades para marcar, mas também é verdade que, a dois minutos do fim dos cinco de compensação, foi Vlachodimos, com a defesa do jogo a um remate de Alipour que sofreu um desvio num defesa do Benfica, que evitou o empate.
À parte o resultado, o melhor que o jogo teve foi a estreia de outro miúdo, Tiago Gouveia. Entrou para o lugar de João Mário, então já a jogar na ala direita, depois da saída de Gil Dias, e foi também o melhor que por lá passou.
Quando todos já só queremos queremos que isto acabe depressa, depois da conquista da Youth League no início da semana, é bom ver estes miúdos a chegar. Mau - mau de mais - foi o comportamento dos adeptos do Marítimo com o Sandro Cruz. Vaiaram-no cruel incessantemente durante todo o tempo depois da expulsão do jogador do Marítimo. Onde foi apenas vítima. Nunca culpado. Fazer isso a um jovem que se estreia na equipa, exactamente o mesmo jovem que passou pelo que passou há duas semanas em Vila do Conde, é desumano. Ignóbil, e mais um flagrante exemplo da falta de decência no nosso futebol, e da inexistente cultura desportiva no nosso país.
A águia Vitória não quis aterrar no seu poiso, e ficou-se ali por perto da grande área da baliza norte. Parecia mau agoiro para esta recepção ao Marítimo, agora de Vasco Seabra, o miúdo que na época passada fez a vida negra ao Benfica e que, por força da derrota imposta ao serviço do Boavista, que precipitou o desastre em que essa época se viria a tornar, e do empate, pouco depois, já ao serviço do Moreirense, apresentava um raro currículo de treinador imbatível frente às águias.
Por falar em treinador ... Jorge Jesus continuava fora do banco. Como acontecera no último jogo e voltará a acontecer no próximo, no Dragão, para a Taça. Mas não seria daí que viria o agoiro. Não era como o voo da águia Vitória...
O jogo começou como tantos outros - com o golo do Benfica. Logo aos 3 minutos: primeiro ataque, primeiro remate e primeiro golo. De Darwin, que o roubou ao Rafa. Bem roubado, de resto.
Como em tantos outros jogos, que começaram assim, também neste fez o adversário crescer. O Marítimo surgiu a pressionar no campo todo, e especialmente bem alto, logo em cima da área do Benfica, e com a isso a ganhar sucessivamente a bola. E a saber trocá-la. De tal forma que por volta do meio da primeira parte tinha 61% de posse de bola. Mas aí já o Benfica ganhava por 2-0, depois de Darwin ter bisado, agora de cabeça. Perfeito, o remate de cabeça. E já se percebia que Vasco Seabra tinha decidido imitar Carlos Carvalhal, vá lá perceber-se por quê ... Acredito que tenha sido por algum deslumbramento com os resultados desde que há um mês tomou conta da equipa - a substituir o espanhol Júlio Velasquez, que na época passada salvou a equipa da descida, para onde, nesta, estava a voltar a encaminhá-la - com duas vitórias e um empate, e um salto de gigante na tabela classificativa.
O Marítimo parecia o Braga de há umas semanas atrás. Quis discutir o jogo olhos nos olhos, e acabou da mesma forma, vergado ao peso dos golos e de um banho de bola. Não é novidade nenhuma. Em Portugal só os outros dois grandes conseguem discutir os jogos com o Benfica, e mesmo esses sempre a partir da exploração do lado estratégico do jogo, raramente apenas a mandarem-se para a frente. Como fizera o Braga, e fez hoje o Marítimo.
É certo que nem sempre, mas na maioria dos jogos em que encontram espaço para jogar, a qualidade dos jogadores do Benfica faz a diferença. Com o acumular dos golos, ao espaço junta-se a confiança. Com espaço, e com confiança, ninguém segura João Mário, Rafa, Darwin e a maior parte de todos os outros. Problema mesmo é quando não há espaço nem tempo. Os passes e as recepções falham, e a confiança vai pelo cano.
O festival de futebol começou a partir do meio da primeira parte. Pouco depois da meia hora Gilberto fazia o terceiro, e por aí ficou o resultado até ao intervalo.
Para a segunda parte nada do jogo se alterou, e o festival de bola acentuou-se ainda mais, com os jogadores em permanente movimento por todos os espaços do campo. Logo a abrir mais um golo - o quarto, com Rafa a desmarcar-se a concluir, com classe, um passe de Yaremchuk. E depois o quinto, com os papeis invertidos e com o ucraniano a regressar ao golo, que perseguia já com evidente desconforto.
E a equipa relaxou, como se o golo de Yaremchuk tivesse sido o visto que faltava ao jogo. Até Otamendi teve direito a dar férias à concentração competitiva que nunca abandona. E o Marítimo marcou então o golo de honra, que parecia inatingível. Vieram então as substituições, com o condão de renovar a ambição. Todos quiseram mostrar serviço, e tinham razões para isso. Gonçalo ramos precisava do golo, e foi dele o sexto. Seferovic também, e marcou o sétimo. E por marcar ficaram mais três ou quatro ... Mas nem isso foi suficiente para beliscar a eficácia goleadora da equipa no jogo.
Ficou um excelente ensaio para este tremendo final de ano, com os dois consecutivos - e decisivos - jogos no Dragão. Um bom ensaio é sempre animador, mesmo que saibamos que nem sempre é garantia de boa estreia.
O Benfica regressou ao campeonato, mas não regressou ao ponto donde partira. Regressou mais atrás, onde estava em Fevereiro.
Foi mais uma pobre exibição, perante um Marítimo a caminho da segunda Liga, na última posição da tabela classificativa. Tão pobre que até nem parecia que aquele Marítimo estava assim tão mal.
Teve uma novidade, este jogo. Duas, mas vamos à primeira, e mais significativa. Teve o primeiro penalti marcado a favor do Benfica. Foram precisas vinte e cinco jornadas para vermos alguém do Benfica com a bola à frente, parada ali na marca dos 11 metros. Foi Luca Waldschmidt, aos 20 minutos da primeira parte.
E que penalti! Foi tão claro quanto desnecessário, cometido por Hermes sobre Rafa, a sair da grande área, e naturalmente de costas para a baliza. O Benfica ainda não tinha criado qualquer oportunidade de golo, e mesmo remates, apenas dois. E valeu três pontos. Visto de agora, percebe-se que só assim o Benfica poderia marcar, tantas foram as oportunidades desperdiçadas. E quase sempre da mesma maneira, com jogadores isolados frente ao guarda-redes do Marítimo.
Apesar de ter jogado mal, o Benfica criou quatro ou cinco oportunidades claras de golo. E se fosse noutra altura da época, como acontecia há dois, três ou quatro meses, não teria ganho o jogo. Nesses tempos os adversários marcavam na primeira vez que chegassem à baliza, tal o desacerto defensivo de então. Agora já não é assim, a equipa defende bem, e o azar não está sempre atrás da porta. É que a equipa do Funchal teve duas ou três boas oportunidades para marcar, com Helton Leite a fazer duas boas defesas e, já no período de compensação, pela primeira vez batido, teve a sorte de o remate ter saído um pouco ao lado do seu poste esquerdo.
O futebol apresentado não foi muito diferente daquele velho estereotipo de passe para o lado e para trás, sem linha de fundo, com pouca presença na área e sem remates de fora da área. E os jogadores pareceram desconcentrados em muitos momentos do jogo, e desinspirados em tantos outros.
A segunda novidade foi o aparecimento, pela primeira vez, de uma jogada trabalhada, daquelas ditas de laboratório, na cobrança de um livre. E que jogada!
Mas como a equipa não encontrava forma de marcar, também essa foi perdida. Na circunstância por Otamendi, digna de ir directamente para os "apanhados". Fica também para a história deste campeonato, e logo no dia do também histórico penalti.
Também as antigamente famosas transições ofensivas de Jorge Jesus apareceram. A subida do Marítimo na segunda parte permitiram-no. E permitiram muitas mais do aquelas três. Se na primeira, por Rafa, e na última, por Chiquinho, acabado de entrar e já dentro dos cinco minutos finais de tempo extra, ainda se pode dizer que acontece, na segunda é apenas obra do egoísmo de Seferovic, a pensar na lista dos melhores marcadores. Tinha mais dois companheiros ao lado, todos sozinhos na cara do guarda-redes, e só tinha que desviar a bola para qualquer um deles. mas preferiu rematar e permitir a defesa (mais uma) ao guarda-redes do Marítimo, que lhe fez a mancha escancarando a baliza aos outros dois.
Com o resultado em 1-0, é imperdoável.
E assim se manteve o resultado magríssimo, fruto do tal penalti histórico. Mas com sofrimento desnecessário, e com Jorge Jesus - as substituições também não correram nada bem - a acabar o jogo com três centrais, com a entrada de Vertonghen, nos minutos finais.
Pode ser que seja o regresso das selecções. Os entendidos dizem que é sempre difícil. Que é difícil o regresso das selecções, e que é difícil o regresso das competições europeias. Como já não temos nada disso, pode ser que tenhamos agora o regresso àquele bocadinho de qualidade dos últimos jogos de Março.
Foi dia de regressos aos Barreiros, no Funchal. Regressou o Benfica, seis meses depois de lá ter deixado as últimas esperanças de revalidar o título, na época passada. E de lá ter deixado Bruno Lage. E regressou Jorge Jesus, um pouco mais de dois anos depois de lá ter sido traçado o seu futuro no Sporting. E desenhado o ataque a Alcochete.
Más memórias, portanto para o que é hoje o futebol do Benfica. Que se juntavam a outras más memórias recentes: duas derrotas consecutivas no campeonato, e uma longa série de péssimas exibições.
O Benfica entrou com vontade de, se não apagar estas más memórias, pelo menos reverter as últimas tristes imagens que tem deixado. E, falando de imagens, se são as últimas que ficam, como se diz, as últimas deste jogo não apagam o que a equipa, antes, fez.
O jogo não pode ser visto à luz dos últimos dez ou quinze minutos. Antes, durante 75 minutos - curiosamente exactamente o contrário do que acontecera na quinta-feira passada em Glagow - o Benfica, sem fazer uma grande exibição, e nem isso era de todo possível, fez um jogo um pouco diferente, para melhor, dos que tem feito nestes últimos dois meses.
Entrou bem, pressionante, com os jogadores a agarrarem o jogo desde o início, e a criar oportunidades de golo, que era coisa que andava arredada das últimas prestações da equipa. Perante um adversário que foi o que costuma ser - completamente defensivo e, em vez de jogar, a "anti-jogar".
Nos primeira dúzia de minutos o Benfica dominou por completo o jogo e criou três oportunidades claras de jogo, fruto de uma pressão enorme sobre o adversário. Só que num alívio de bola para o meio campo do Benfica, onde Otamendi estava tranquilamente sozinho, o central decidiu efectuar um passe a isolar Rodrigo Pinho, que correra a desmarcar-se como que à espera do passe do adversário, como se fosse um colega de equipa. Que só teve fazer uma chapelada a Vlachodimos para fazer o golo.
Custa a crer. Custa a ver. Mas é assim, Otamendi, a quem entregaram a braçadeira de capitão, mais parece um agente infiltrado.
A equipa sentiu o golo, e mais ainda porque nos quinze minutos que se seguiram o Marítimo não permitiu que houvesse jogo. Aos poucos, e sempre que era possível jogar à bola - e era cada vez mais difícil porque também o estado do relvado era cada vez pior - o Benfica ia retomando o seu domínio inicial, e apresentando alguma qualidade, com Everton Cebolinha e Grimaldo em bom nível. E mesmo que com Valdschmidt desaparecido, e Seferovic inoperante, acreditava-se que era possível fintar a fatalidade. E aos 32 minutos do relógio, mas para aí aos quinze de jogo, Pizzi fez o golo do empate, a culminar mais uma bela jogada pela esquerda.
O segundo, e o da imprescindível vitória, em mais uma boa jogada concluída com um notável trabalho de Everton, surgiria só aos seis minutos da segunda parte, iniciada também a bom ritmo. Mas a partir daí a qualidade foi caindo, até bater bem lá em baixo nos últimos minutos. Por evidente falta de confiança, porque a equipa continua desequilibrada e sobre brasas.
Salvou-se a vitória, pela diferença mínima, afinal como as dos restantes três candidatos. E boa parte da exibição, mesmo que o número de passes errados, e de bolas perdidas em transição, seja ainda inaceitável. Para esta defesa suicida é que já não há palavras. Quando o adversário não cria problemas, como foi hoje o caso do Marítimo, logo aparece quem trata disso.
Noutras circunstâncias, noutro quadro que não o do actual Benfica, poderia dizer-se que é futebol. Que o futebol é mesmo isto, a velha frase feita do futebolês. Uma equipa joga, ataca, cria oportunidades para marcar, remata, mas a bola não entra. Há sempre mais uma perna a tapar o caminho para a baliza e, quando se consegue desbravar essa floresta de pernas, há um guarda-redes pela frente que defende tudo. E do seu lado há um guarda-redes que não defende nada, que nem toca na bola, Mas que em quatro vezes que vê adversários por perto, é obrigado a ir buscar a bola ao fundo da baliza. Aconteceu isso hoje no joga da Madeira. E o Benfica, que jogou, atacou e construiu mais de meia dúzia de oportunidades claras para marcar, não marcou e só não perdeu por quatro porque dois dos golos do Marítimo acabaram por ser obtidos em fora de jogo.
Mas, nas actuais circunstâncias do futebol do Benfica, não se pode dizer que é futebol. É mais tourada. O futebol do Benfica virou tourada.
Uma tourada com aquelas pegas em que o forcado da cara se farta de levar tareia do touro. Uma primeira vez, e sai mal tratado. Volta a insistir, e leva mais forte ainda. Está todo partido, a sangrar por todo o lado, mas vai lá outra vez. Volta a levar mais, mas a cambalear e sem se aguentar em pé volta mais uma vez, com o cabo do grupo impávido a assistir ao massacre, de braços cruzados.
Foi neste estado que Bruno Lage hoje entrou nos Barreiros, no Funchal. Estranhamente a equipa até entrou bem no jogo, com vontade de resolver as coisas, como se nada se passasse com o homem da cara. Só que a sorte não ajudou - sabe-se que nestas situações raramente ajuda - , e bastaram pouco mais de 20 minutos para que o fulgor, e alguma qualidade, começassem a desaparecer.
E lá voltou o homem da cara já não a cambalear mas de rastos. Mexeu na equipa e foi um desastre. E a cada vez que mexia maior era ainda o desastre.
No fim saiu em maca, directamente para ... o cemitério. O verdadeiro destino que o cabo lhe traçara. E que anunciou com o seu habitual discernimento: "no fim do jogo o nosso treinador veio-me dizer que punha o cargo à disposição do presidente ... e que já não treinaria a equipa amanhã".
Havia uma certa expectativa à volta deste jogo de hoje na Luz, de relva nova. Também por isso, pela nova relva, mas por ser o regresso ao campeonato, três semanas depois, por suceder ao jogo da Champions - mito, ou não, estes jogos têm fama de ser complicados -, com menos de 72 horas de recuperação; porque o Marítimo vinha de treinador novo, com três semanas (quase uma pré-época) para preparar o jogo e, the last, not the least, porque o jogo era arbitrado pelo Fábio Veríssimo. Palavras para quê?
Creio que nem nas melhores expectativas caberia um jogo de tanta qualidade. Na primeira parte assistimos a um belo jogo de futebol. A segunda só não foi igual, ou até melhor, porque cedo - aos quinze minutos - Fábio Veríssimo pôs o Gabriel na rua e o Benfica ficou a jogar com dez. E naturalmente não poderia ser a mesma coisa.
Deve dizer-se que o Marítimo tem muito a ver com a qualidade que o jogo teve. Pela própria qualidade que lhe emprestou mas, acima de tudo, porque surgiu na Luz para jogar futebol. Querendo apenas jogar futebol, como que desafiou o Benfica a fazer o mesmo. E o Benfica aceitou o repto!
E o que se viu foi bonito de ver. O Marítimo entrou a jogar à bola - já com o dedo de José Gomes bem à vista - e não quis perder tempo. E o Benfica respondeu de imediato. Logo no primeiro minuto duas oportunidades, uma para cada lado. A dar o mote. E aos 8 minutos, na segunda oportunidade, o Benfica marcou, pelo goleador Pizzi.
Pareceu que o jogo foi de imediato para intervalo. Mas não foi - aconteceu apenas que o VAR demorou quase 5 minutos a confirmar o golo. No reinício parecia que não seria possível retomar o ritmo que o jogo trazia, mas depressa tudo voltou ao normal.
Aos trinta minutos o Benfica já ganhava por 3-0, com mais dois golos de Vinícius e, ao intervalo, para que o resultado espelhasse o que se tinha passado, teria de ter no placard qualquer coisa como 6-1.
A segunda parte iniciou-se no mesmo ritmo, e com apenas 10 minutos jogados já Vinícius tinha feito o hat-trick, deixando na Luz a certeza que aquilo não ficaria aquém dos 6-0 das duas últimas épocas.
Só que a expulsão de Gabriel mudou os dados do jogo. Mas não acabou com a exibição do Benfica. Mesmo com dez a equipa jogou bem, nunca permitiu qualquer superioridade ao adversário, e criou mais três ou quatro claras oportunidades de golo. De tal modo que, no fim, o melhor que aconteceu ao Marítimo foi mesmo o resultado.
Foi o regresso ao campeonato, ao quentinho cá de casa - na Europa, o frio é muito -, é certo. Mas foi um regresso uns bons furos acima daquilo que vinha acontecendo, mesmo que aqui e ali com sinais de retoma nalguns dos últimos jogos.
A dúvida que agora fica para esclarecer é se esta exibição resulta do desafio proposto pelo adversário, ou da decisiva retoma exibicional da equipa. Se, com adversários mais fechados, com marcações cerradas, e que levem o jogo para o confronto físico, não voltam as dificuldades.
Nada no entanto apaga o que se viu hoje. Uma bela exibição colectiva, com todos os jogadores em grande nível, mesmo que Taarabt, e inevitavelmente Vinícius, tenham estado ainda um pouco acima. Domingos Piedade teria gostado. Pena que a expulsão de Gabriel tivesse impedido mais um resultado memorável. E que tenha impedido a integração de RDT com a equipa completa e naquele ritmo. Marcaria certamente, não haveria como não o fazer!
A quinta final, na Luz com o Marítimo, já ficou para trás. Foi vencida, e com distinção: grande exibição e 6-0!. Depois da eliminação da Europa, e nas condições em que aconteceu, e antes da deslocação a Braga, dificilmente se poderia esperar melhor.
O Benfica entrou - voltou a entrar - muito bem, a chegar ao golo logo aos dois minutos, num canto de laboratório, só possível por lá estar esse fantástico cientista que é João Félix. Chegou logo ao golo, sem qualquer penalti e sem nenhum jogador do Marítimo expulso. Nem de início, nem em nenhum outro momento, quando tantos tanto por isso fizeram.
Não se pode no entanto dizer que o Benfica tenha aproveitado esse golo para partir de imediato para uma grande exibição. Não. Descansou até um pouco em cima do golo e permitiu que o jogo fosse demasiado tranquílo durante alguns períodos da primeira parte. Com Seferovic infeliz como nunca se vira na finalização, o resultado chegou ao intervalo com esse golo único.
O Benfica entrou para a segunda parte de pé no fundo. E marcou o segundo logo ao quarto minuto (Pizzi). A partir daí os jogadores não mais levantaram o pé, e a equipa partiu à procura da perfeição. Encontrou-a e não mais a largou até ao fim do jogo. E foi uma delícia de ver!
E os golos foram aparecendo. Acabou na meia dúzia, mas o Marítimo bem podia ter repetido o 10-0 do seu rival do Funchal. Basta reparar que Seferovic, infeliz como nunca - hoje poderia lá estar a noite inteira a rematar, de toda a maneira e feitio, que a bola não entraria - ficou em branco e desperdiçou seis oportunidades claríssimas de golo. E que também Jonas ficou em branco, pese duas três oportunidades, daquelas que não costuma desperdiçar.
Uma goleada de meia dúzia - bis de João Félix e de Cervi, um de Pizzi e outro de Salvio -, sem golos do melhor marcador do campeonato, e sem golos de Jonas, parece estranho. Mas não é. É apenas o resultado do grande futebol que Bruno Lage trouxe para a equipa.
Faltam agora quatro finais. E muitas peripécias, certamente... Este jogo de hoje voltou a deixar muita gente assustada.
Mais uma exibição sofrível, mais uma vitória por 1-0, daquelas que valem os mesmos pontos mas que não dão saúde a ninguém, perante um adversário muito fraco e praticamente inofensivo. Inofensivo no sentido futebolístico, na incapacidade para atacar a baliza adversária porque, no campo e no jogo, o Marítimo foi tudo menos inofensivo. Pelo contrário, capacidade para ofender as pernas dos jogadores do Benfica não lhe faltou. Sabe-se que nessas coisas Petit não é muito diferente de Lito Vidigal.
De resto o jogo nem foi muito diferente do de Setúbal, na semana passada, mesmo que os jogadores do Marítimo não tenham batido tanto, nem o árbitro tenha sido tão mau. Teve no entanto uma novidade no golo do Jonas, porque aí não há novidade - se há golo, só pode ser de Jonas. À 13ª jornada, o Benfica chega ao primeiro golo de bola parada no campeonato. E de penalti - às três foi de vez. Isso mesmo, este foi apenas o terceiro penalti assinalado a favor do Benfica...
E não tem muito mais que contar, este jogo da Madeira. Outra vez muitos cantos e livres, tudo a continuar a dar em nada. Com Cervi - no lugar do lesionado Rafa -, Pizi, e Fejsa completamente fora de forma, vão valendo Grimaldo, Zivkovic, e Gedson, já que Jonas hoje só não passou ao lado do jogo porque esteve no penalti. E os mesmos equívocos de Rui Vitória nas substituições, onde só muda os jogadores.
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