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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

MAU FEITIO

    

Por Eduardo Louro

 

A entrevista de Miguel Sousa Tavares (MST) à Presidenta – é assim que gosta de ser tratada – Dilma Roussef, passada na SIC na véspera da sua primeira visita oficial a Portugal e à Europa, teve, para mim, um ponto alto. O entrevistador – personagem que não é conhecido exactamente pelo seu bom feitio – a determinada altura da entrevista, focado na estratégia de combate ao crime organizado no Brasil, referiu o suposto mau feitio da entrevistada. A referência ao seu mau feitio era, na circunstância, aquilo que nós portugueses entendemos como um atributo decisivo para aquele combate: duro - no caso dura, ou mesmo durona –, determinada e implacável!

Dilma fez um silêncio (mais ou menos) prolongado e não conseguiu disfarçar o desconforto. O Miguel Sousa Tavares, afinal como todos os que assistíamos à entrevista deste lado de cá, percebeu que alguma coisa não tinha corrido bem, quando a entrevista até corria solta e na melhor das cordialidades – ele não tinha levado para ali o seu próprio mau feitio –, rapidamente compreendeu que a bronca estaria no mau feitio.

E estava!

Explicaria a Presidenta do país irmão que, no português de lá, mau feitio queria dizer que algo de errado se passava com a sua roupa. Mau feitio tem a ver com problema de costura!

Percebemos, evidentemente, o desconforto. Mesmo sendo uma ex-revolucionária, Dilma é mulher! E é presidenta da república!

Nem sequer coloco a remota hipótese da fama do mau feitio do MST ter chegado ao palácio do Planalto – ao que se diz ele até morre facilmente de amores lá pelas terras de Vera Cruz – e de, prevenida, Dilma Roussef ter reagido já condicionada. Não era necessário tanto para se justificar uma afronta digna de um grave problema diplomático!

O mal entendido seria entretanto e rapidamente esclarecido, acabando afinal por não provocar mais que uma boa rizada, na qual haveria também eu de participar. Mas fiquei a pensar como, afinal, eu entendia aquela interpretação. Como ela me remetia para velhos usos que deste lado de cá demos, em tempos, a esta nossa língua!

Há muito, muito tempo, antes de cá chegar o prête à porter, também era esse o sentido que dávamos ao feitio. Talvez porque então nem sequer tivéssemos direito ao mau feitio ou, quem sabe, porque pobretes mas alegretes!

Pois era. Nesse tempo as mulheres iam às modistas e os homens aos alfaiates, mandar fazer as suas roupas. Levavam-lhes os tecidos – as sedas, os linhos, a fazenda – e pagavam-lhes o feitio!

E aí está como, também por cá, o feitio era o trabalho de confecção da costureira, da modista, como se lhe chamava, e do alfaiate. E, naturalmente, um mau feitio seria mesmo o mau trabalho na confecção do vestuário. Como continua por lá, apesar do pronto-a-vestir!

Enfim, coisas que o mau feitio do acordo ortográfico nunca resolverá!

Que mau feitio!

Por Eduardo Louro

 

 

O rei Midas é uma personagem da mitologia grega que focou conhecida pelo seu extraordinário dom de transformar em ouro tudo o que tocava. Ainda hoje há gente assim: não que transforme literalmente em ouro, mas com grande capacidade de acrescentar valor às coisas em que se envolve.

Mas também há as pessoas do pólo oposto: aquelas que têm o maldito condão de estragar tudo em que mexam. E há ainda fases da vida das pessoas em que é tiro e queda! Às vezes acontece também aos melhores.

O primeiro-ministro José Sócrates há muito que anda numa fase dessas: estraga tudo o que toca. O que é uma enorme desgraça porque, de há muito tempo a esta parte, é ele que toca em tudo…

Começou por ter uma semana em cheio, como há muito se não via. Eu, que há muito me apercebi deste seu maldito dom, se bem se lembram, bem avisei: não estrague, não diga nada!

É certo que já não ia bem a tempo de o prevenir sobre o Freeport – aí já ele pusera a boca no trombone – mas, caramba, ainda havia a história da PT para preservar…

Não resultou. Ignorou a minha recomendação e, claro, estragou tudo.

É que ninguém ligaria nenhuma ao pequeno pormenor de não ter sido ouvido pela Justiça no âmbito do caso Freeport. Ninguém queria saber se os investigadores tinham preparadas perguntas para lhe colocar. Se eram 27 ou apenas uma ou duas. E muito menos se apenas ficaram na gaveta por falta de tempo para o ouvir.

Não passariam de meros detalhes sem importância se ele não tem resolvido mexer no assunto. Mas pronto. Mexeu e agora já ninguém consegue deixar de achar bizarro que Sócrates não tenha sido ouvido num processo em que o seu nome e os dos seus familiares foram os que mais chegaram à opinião pública. Mexeu e agora, quando tudo poderia e deveria estar arrumado, ai está a suspeita de volta. Se calhar mais forte que nunca!

O caso da golden share da PT estava perfeito. Era óbvio que só tinha que estar quietinho e caladinho para colher os resultados de uma campanha que tinha corrido bem melhor do que alguém poderia imaginar. Era a perfeição absoluta!

Qual quê? Desatou a lançar foguetes sem se lembrar que nesta época de incêndios isso é coisa que não se faz. É mesmo proibido! E nem sequer teve ninguém que lhe lembrasse a velha lei de Murphy :“se pode correr mal então vai mesmo correr mal”.

E pronto: transformou a perfeição absoluta num negócio de espertos que vendem o interesse nacional por 350 milhões de euros … em suaves prestações!

Assim é difícil! Não há razão atendível que valha nem estado social que safe a coisa!

 

 

 

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