Entrando no jogo sem Talisca - dir-se-ia que poupado a um eventual amarelo que o pudesse retirar do jogo de Alvalade, não fosse ter entrado para jogar a última meia hora - e com Pizzi, cada vez mais em fase pirilampo, no seu lugar, o Benfica começou por não esconder a frustração e a inquietação da inesperada derrota de Paços de Ferreira. Que as sucessivas ocasiões de golo acabariam por mitigar e que, mais tarde, os dois primeiros golos acabariam por decidamente enterrar.
Ficou clara a sensação que Paços não passou de um acidente, com o Benfica, na despedida de Janeiro, a regressar às exibições de ... Janeiro. Jogadas de bom recorte, jogadores sempre em movimento, muita bola, muitas ocasiões, e apenas poucos golos. Muito poucos golos para tantas ocasiões criadas. Apenas três, dois na primeira parte e outro logo a abrir a segunda, na conversão de um penalti assinalado para punir uma falta sobre o Samaris cometida ainda fora da área. Que não compensou nada dois outros que o árbitro Hugo MIguel - mais um mau árbitro - deixou por marcar por faltas sobre o Lima!
Tivesse o Benfica aproveitado um terço das ocasiões criadas e estaríamos perante uma goleda das antigas. O Boavista fez dois remates. Ambos ao minuto 69: o primeiro, à baliza - com grande defesa de Júlio César - e o segundo, na sequência do canto consequente a essa defesa, muito por cima da trave.
Fica um amargo de boca, e não é pela oportunidade falhada de uma goleada histórica. É pela estúpida lesão muscular de Júlio César, que o afastará, para já, de Alvalade. Lesionou-se a correr para uma bola que ia sair pela linha de fundo, junto à lateral. Não, não foi para evitar um canto. Para evitar um pontapé de baliza...
E já agora outro lamento: por que é não está já resolvida a situação do Maxi Pereira? Não é que se note em campo. É precisamente por isso!
Linha de passe é uma das expressões do futebolês mais directas e mais claras. É de utilização exclusiva em futebolês – não se presta portanto a confusões – e percebe-se claramente ao que vem: é uma linha imaginária por onde a bola pode passar até chegar a um colega de equipa.
Percebe-se assim que compete aos jogadores duma equipa abrir ou criar linhas de passe para os seus colegas e tapar as linhas de passe da equipa adversária, na fundamental e mais excitante das dialécticas do jogo. Encontrar as melhores respostas para esta dialéctica é o desafio que se coloca à dimensão táctica e à dinâmica de jogo. É disto que os treinadores terão que se ocupar! Está aqui uma das valências técnicas das competências gerais de um treinador de futebol, uma das mais exigentes actividades profissionais da actualidade.
As restantes passam pela comunicação – interna e externa – e pela gestão dos diferentes recursos, muito especialmente dos humanos, com especial ênfase na gestão psicológica - individual e de grupo – e na questão motivacional.
É principalmente aqui que tenho frequentemente sido crítico com Jorge Jesus. É aqui que lhe encontro os mais evidentes pontos fracos! E era, pensava eu, por outros – entre os quais ele próprio - terem chegado à mesma conclusão, que foi anunciada a contratação dos serviços do Prof. Manuel Sérgio!
Mas, ou porque não tenha ainda iniciado funções ou porque Jorge Jesus revele dificuldades de aprendizagem, a verdade é que a nova época arrancou carregadinha de erros básicos. De palmatória e cujo preço irá ser pago a curto prazo!
Em vésperas do primeiro – e decisivo, tão decisivo quanto o fora há um ano o desafio da supertaça com o Porto – jogo da época, onde se jogava o acesso à Liga dos Campeões – a mais importante e ambicionada prova do calendário mundial – Jorge Jesus voltou a demonstrar exuberantemente as suas incompetências. Em primeiro lugar porque ficou demonstrado que não tinha a equipa preparada para este desafio, ficando por provar que não tivesse recursos suficientes para, em particular porque era o mais gritante, constituir uma estrutura defensiva para encarar o jogo. Depois, perante essas evidentes dificuldades, optou por uma estratégia de salvar a pele, resguardando-se de um perspectivável insucesso com a incrível declaração de que a Champions não era objectivo prioritário do Benfica: na véspera de um jogo decisivo – pelas consequências desportivas e financeiras talvez o mais importante jogo da época – o treinador vinha dizer que aquele jogo não importava para nada, que os objectivos da equipa não passavam por ali. Inacreditável!
Depois, ainda, veio a cobertura dada ao inaceitável comportamento de Luisão. Que chegou quando quis, depois de mais de um mês de declarações impróprias e intoleráveis que reafirmou logo à chegada. Não poupou nas palavras, cortando todas as linhas de passe que a administração procurasse para resolver o conflito que ele despropositadamente abrira. Seguiu-se o inenarrável episódio Maxi Pereira: um jogador que jogara (e ganhara) a final da Copa América no domingo, em Buenos Aires, que viajou para o Uruguai (recorde-se que, no arranque da Copa América, se dizia que o Benfica teria um jacto privado na Argentina para, logo no domingo, trazer todos os seus craques), onde participou dos festejos com os seus compatriotas e onde foi ainda conhecer os seus filhos gémeos, entretanto nascidos, e que chegaria a Lisboa no próprio dia do jogo, poderia afinal alinhar! Inacreditável a este nível competitivo! Mas, para além de tudo, um atestado de desconfiança para o plantel que trabalhara toda a pré-época, aos jogadores que ele próprio contratou e um atestado de incompetência a si próprio em matéria de contratações.
E Maxi Pereira jogou mesmo. Não entrou de início porque – e esta é mais uma das asneiras – jogou o Rúben Amorim, que não jogava há oito meses nem estivera na preparação da época.
E jogou o Luisão. E foi o capitão, como nada se tivesse passado.
E, como se nada se tivesse passado, parece que a administração da SAD do Benfica se prepara para ceder à habitual chantagem de Verão do Luisão, revendo-lhe mais uma vez o contrato. Tem sido assim todos os anos!
Parece mesmo que treinador e estrutura de gestão estão unidos na tarefa de cortar as linhas de passe para o sucesso. Porque, não haja dúvidas, tudo isto se paga. E bem caro!
Em tempo de pré-época mais um termo apropriado: titular!
Titular, em futebolês, não é o proprietário de qualquer título. Mas é proprietário, há também aqui uma relação de propriedade. De posse!
O titular é precisamente o proprietário, o dono: o dono do lugar! O lugar, a posição ocupada no xadrez da equipa, é um bem escasso. Só há 11 disponíveis!
Se a ambição faz parte da condição humana aspirar à condição de proprietário cobre uma das mais comuns ambições humanas. No caso do futebol, sendo um lugar na equipa um bem escasso, essa ambição toma outra dimensão: não há jogador que não ambicione ser o dono do lugar. Seja ele qual for!
Conforme já vimos, nesta altura de preparação da época começa por se construir o plantel: à volta de 25 jogadores, como vimos. Idealmente três guarda-redes, mais dois jogadores para cada lugar - um o titular e o outro o suplente - e mais dois jogadores polivalentes (se bem que haja polivalentes que são titulares), que possam cobrir certos imponderáveis. Todos ambicionam ser os donos do lugar mas nem todos o conseguem. Apenas alguns são titulares indiscutíveis, isto é, têm um estatuto de dono absoluto do lugar, sem deixar qualquer tipo de dúvida! Como há os que são eternos suplentes. E ainda os suplentes que são armas secretas!
Nesta altura de aquisições – a época irá durar até 31 de Agosto e, pelo que temos visto em Portugal, até ao lavar dos cestos é vindima – procura-se reforçar o plantel, mas acima de tudo a equipa. Exigem-se contratações de titulares indiscutíveis, daqueles que entram de caras na equipa! Mas nem sempre assim acontece…
Já ninguém sabe muito bem quantos jogadores já contratou o Benfica. Muitos e com pouco critério, como facilmente se constata: dispõe no plantel 20 (!!!) jogadores para o meio campo – no sistema de Jesus, em 4-4-2, dá para cinco (!!!) meios campos – , não tem jogadores para construir uma linha defensiva e não tem um ponta de lança de alternativa a Cardozo que, ao que se diz, até será para vender. E, sabendo há muito da óbvia e inevitável saída de Fábio Coentrão, é muito difícil entender como é que, entre tanta contratação, não há um único para o substituir.
Com este critério – ou, melhor, com esta falta de critério – é evidente que está fora de causa aquele requisito básico da entrada de caras na equipa. À excepção do guarda-redes Artur, e não é exactamente mérito seu ou da sua contratação, é porque o Moreira foi posto a andar e ficou lá o Roberto, nenhuma contratação vem com o estatuto de titular indiscutível.
Estatuto que têm indiscutivelmente o brasileiro Luisão – o capitão e agora o jogador com mais tempo de casa – e o uruguaio Maxi Pereira, pedras absolutamente basilares da equipa. Ambos ao serviço das respectivas selecções nacionais na Copa América e, ao que por aí se diz, pouco interessados em regressar. Luisão apontado ao PSG e Maxi (quem é consegue entender por que não foi o seu contrato renovado atempadamente?) a dizer – e só acredita quem for anjinho - que quer ficar por lá, pela sua terra natal.
É com enorme preocupação que vejo, sistematicamente, os jogadores de referência da equipa a sair ou a pretenderem sair. Foram saindo todos, mandados embora na maioria dos casos, e, agora, os dois únicos jogadores com mais de três anos no clube querem sair. Acredito que seja uma circunstância que agrade a Jorge Jesus - poderá, assim, ser ele o rei absoluto do balneário, condição sine qua non para o exercício da sua rudimentar liderança - mas será catastrófica para o Benfica!
E isto é tão mais preocupante quanto olhamos um pouco lá para Norte e continuamos a vê-los apanhar as lebres levantadas pelo Benfica e, pasme-se, a renovar o contrato com o Falcão – que também está na Copa América, com todos os grandes clubes europeus atrás dele, e que podia estar muito bem a tratar da sua vida com o Chelsea ou com o Real Madrid – fazendo passar a cláusula de rescisão de 30 para 45 milhões de euros. Esta sim, uma verdadeira jogada de mestre, mesmo que sobeje muita coisa por explicar!
Ah! E o agente do Falcão é o Jorge Mendes: o mesmo que levou o Fábio Coentrão para Madrid, lembram-se? Então lembram-se como foi diferente, como aí ele estava do outro lado…
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