Disparar de costas
Carlos Costa, o anterior governador do Banco de Portugal, que não deixou boas memórias, quis agora que lhas escrevessem.
Não é raro que as "memórias" de quem não deixou boa memória reescreva a História, escrevendo "estórias". Não estou a dizer que tenha sido o caso, mas apenas que não se pode estranhar se o for. Até porque nestas "memórias" diz mal de toda a gente menos de si próprio
Costa, o Carlos, acusa Costa, o António, de intromissão política. Acusa-o de se ter intrometido na sua decisão de afastar Isabel dos Santos da estrutura accionista do BPI.
Acusa ainda de outras coisas, o primeiro-ministro e tantas outras pessoas, mas foi esta que apimentou e agitou a semana política.
António Costa negou, disse que era mentira. E anunciou uma acção judicial contra o antigo governador do Banco de Portugal. Ou seja, estamos perante a palavra de um contra a palavra de outro, seja qual for o valor que se dê á palavra de cada um. Nem um, nem outro, tem como a provar, sendo que é na do acusador que mais pesa o ónus da prova.
Os factos, no entanto, e sem me deter neles porque também não é esse o (meu) ponto, são bem capazes de estarem mais a favor do Costa - António - que do Costa - Carlos.
O que me traz aqui é Luís Montenegro que, sobre o tema, teve hoje esta tirada:
"O senhor primeiro-ministro limitou-se a negar essa intromissão e a remeter para processo judicial o dirimir desse diferendo. Uma coisa é o que o primeiro-ministro tem para dirimir com o ex-governador -- isso podem fazer nos tribunais --, mas há a questão política que não temos de esperar pelos tribunais. Em primeiro lugar é preciso saber se houve ou não intromissão".
É Luís Montenegro em todo o seu esplendor. "Limitou-se a negar" - então o que é poderia fazer mais? E como é que se resolve a "questão política" para se "saber se houve ou não intromissão"?
É Luís Montenegro a disparar, de costas, sobre tudo o que mexe sem sequer apontar. Não acerta em nada. Só espalha a caça!