Não faltaram reacções ao sismo desta madrugada, de 5,3, 5,4 ou 5,9 na escala de Richter. Intensidades para todos os gostos (Instituto Português do Mar e da Atmosfera, Serviço Geológico dos Estados Unidos, ou Centro de Sismologia Euro-Mediterrânico), como as reacções. Também para todos os gostos.
Então é assim: há um sismo daqueles em que não é preciso fazer nada, e por isso nada foi feito. Mas foi um teste e correu bem.
Ainda bem. É que, na Madeira, o chefe do governo foi para férias em Porto Santo enquanto tudo ardia, para depois vir dizer que tudo tinha corrido bem. Só nos faltava agora que, com o chefe do governo da República de férias, no Brasil, um terramoto no continente não corresse bem.
A situação política na Madeira não tem nada a ver com a do país. Já percebemos que não.
Percebemos que não quando Miguel Albuquerque, o primeiro a exigir publicamente a demissão de António Costa, há pouco mais de dois meses, recusou determinadamente demitir-se. Quando Luís Montenegro, o segundo a exigir a demissão de Costa, declarou manter a confiança política em Albuqerque. E percebemos quando, do chefe do governo regional da Madeira sabemos que é, para além de arguido, suspeito de identificados actos de corrupção; enquanto, do chefe do governo do país, continuamos sem saber de que é suspeito. São tão diferentes que até a Polícia Judiciária, que dá sempre nomes sonantes às operações, chamou "influencer" a uma e deixou a outra sem nome, apesar do aparato: um Hercules C-130 (da esquadra bisontes), a aterrar na Madeira com 300 pessoas a bordo, transbordadas directamente para autocarros estacionados na pista, com os parques de estacionamento com a lotação esgotada por carros alugados para a operação.
Como uma coisa não tem nada a ver com a outra, a antecipação de eleições, que no país foi a decisão correcta, é absurda e sem nexo na Madeira - dizem. A melhor justificação para não aplicar na Madeira o que foi decidido para o país, acabou de ser apresentada por Manuela Ferreira Leite: o governo do PS já tinha oito anos; o do PSD, na Madeira, tem apenas dois meses!
Palavras para quê? São artistas portugueses, como dizia o velho anúncio...
Ontem a Madeira tremeu. Na escala política, equivalente à de Richter, o terramoto passou do grau 9. Não caiu tudo porque os alicerces são bem fundos. São muitos anos daquilo, uma espécie de construção anti-sísmica com perto de 50 anos.
Sabe-se que Miguel Albuquerque continua de pé, mas não firme. E sabe-se que, sabendo-se como as coisas foram acontecendo na Madeira nos reinados de Alberto João e Albuquerque, a terra alguma vez teria de tremer. Estranha-se é que tenha acontecido agora, e a partir de denúncias anónimas.
Cá pelo continente treme Luís Montenegro. Mas treme também o regime. Agora com mais violência.
E treme Sócrates, que já esfregava as mãos com a prescrição do pouco que o Juiz Ivo Rosa deixara sobrar. Três juízas da Relação "arrasaram" o Despacho de Instrução de Ivo Rosa, voltaram a confirmar as acusações e enterraram o fantasma de prescrição. Não sei se dá algum ânimo ao regime. Mas devia!
As eleições regionais da Madeira, ontem realizadas, animaram o espectáculo político do país.
O PSD já tinha deixado de ganhar sozinho na Madeira, já tinha precisado de dar o braço ao CDS, quando ainda se sabia o que valia. Apresentou-se coligado com o velho parceiro, que hoje, nem na Madeira nem em qualquer outro lado, ninguém sabe o que vale. Sabe-se - calcula-se - que valha pouco. Ganhou. Ganharam. Claramente, mas sem maioria absoluta e, consequentemente, com a necessidade de alargar a base parlamentar de apoio ao novo governo aos novos partidos que chegaram pela primeira vez à Assembleia Regional madeirense Chega, PAN e IL.
Bastando-lhe para a maioria parlamentar o deputado eleito pelo PAN, ou o outro eleito pela IL, pôde dar-se ao luxo de descartar, e assim continuar a empurrar com a barriga, a sombra arrepiante do Chega. É até provável que Miguel Albuquerque se socorra de ambos para se precaver de qualquer percalço, assim a jeitos dos que têm acontecido nos Açores.
Até aqui tudo normal. Mas não tão normal para evitar um fartote!
A jeito de aperitivo, começou pelo PS, objectivamente o maior perdedor, com Sérgio Gonçalves, o líder regional, a festejar por ter "mais votos em conjunto do que a terceira e quarta forças políticas que participaram neste ato eleitoral" e a garantir ter ficado “claro que o Partido Socialista é a única alternativa de governo para Madeira”. Continuou, como se fosse o prato de peixe, com Luís Montenegro a comparar "os 43,13% do resultado da coligação, os 41,37% que deram ao Doutor António Costa maioria absoluta". A caldeirada é prato de peixe, mas tão substancial que já dispensava prato principal.
Obviamente que não falta qualquer legitimidade eleitoral a Miguel Albuquerque para continuar à frente do governo regional. Legitimidade política e vergonha na cara é outra conversa!
E essa é conversa para continuar. A começar já no inevitável envolvimento do IL, do "menos Estado para tudo" na solução governativa que mais uso faz do " Estado para tudo" no nosso país!
O PSD ganhou as eleições regionais na Madeira à rasquinha. Perdeu a maioria absoluta, que mantinha desde sempre - há 43 anos, tantos quantos conta a História do estatuto autonómico - e apenas vai conseguir manter o poder porque, coligado com o CDS, tem mais um deputado que a esquerda. Ganhou à rasquinha e mantém o poder à rasquinha!
E no entanto, para Miguel Albuquerque foi uma vitória clara, inequívoca e estrondosa.
Mas nem assim o líder regional do partido e do governo conseguiu arrebatar o prémio do absurdo da noite eleitoral. O "non sense" absoluto ficaria mesmo para o apelo de Paulo Cafôfo ao CDS, e ao pleno da coligação negativa. Para o número 1 da lista do PS geringonça é coisa do passado. Agora é preciso passar para a geringonça com piruetas e mortais encarpados à retaguarda.
Já chegamos à Madeira?
PS: "Já chegamos à Madeira", vulgarmente utilizada em expressão de espanto, surpresa ou até de absurdo, é uma velha expressão mas não uma expressão velha. É bem nova. Há quem diga que decorre de se fazer no Funchal a primeira escala no transporte dos militares para a guerra colonial. Aí saídos, e pela primeira vez soltos das amarras da família e da ordem militar, os mancebos explodiam. Quando regressavam ao barco não eram mais os mesmos. E a ordem e o aprumo de até aí transformavam-se em caos para o resto da viagem.
O PSD ganhou, com maioria absoluta, as eleições regionais na Madeira. Nenhuma novidade, é assim há praticamente 40 anos... A novidade é que Alberto João Jardim continua a reclamar para si a vitória. Dá a ideia que se preparava para cobrar alguma coisa...
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