Tour de France 2018 - IV
Não faltou animação na estapa raínha dos Pirinéus, mas no fim ficou a ideia que, afinal, não foi assim tão bom...
Esperava-se tudo desta etapa que partia do Santuário de Lourdes, ali num dos sopés daquele gigante montanhoso. Tudo o que para trás não tinha ficado resolvido teria de ficar hoje. E não foi bem assim: o que está resolvido, resolvido estava. Ou quase... Porque é quase sempre assim: quando as expectativas são demasiado altas, o bom não passa de sofrível e o excelente de suficiente.
A etapa foi bem viva, e muito mexida.Toda ela! Houve espectáculo e emoção, mas... Se calhar, numa etapa destas, colocar a meta vinte quilómetros depois do sítio onde ficava melhor, não é grande ideia. O ponto alto (literalmente), o clímax, encontrava-se no topo do L´Aubisque, mas aí só estava a meta de montanha. A da etapa estava em Laruns, 20 quilómetros depois, sempre a descer. Onde só não chegaram 10 corredores juntinhos porque, na descida, um adiantou-se um bocadinho (19 segundos) e outros dois atrasaram-se (12 segundos) outro bocadinho...
Mas uma etapa que faz perder mais de 7 minutos a Quintana - o grande perdedor do dia, talvez a ressentir-se da queda de ontem - e mais do dobro a Alejandro Valverde, não pode ser uma etapa mole.
Foram muitos os animadores, incluindo o rei da montanha, o francês Alphaville que, tendo andado muito tempo no grupo de frente, chegou à meta quase 20 minutos depois do polaco Roglic, o vencedor da etapa. E um dos vencedores do dia, ao subir ao terceiro lugar da geral. Mas Bardet e Mikel Landa fizeram tudo o que tinham a fazer para atacar os primeiros lugares, não ficaram a dever nada a ninguém.
Poderá parecer que não ganharam muito com isso, mas ganharam, e muito, em respeito e admiração. O francês seria terceiro na etapa, batido ao sprint pelo camisola amarela. E fixou-se no oitavo lugar da geral, logo atrás do colombiano: sétimo, na etapa e na geral. Que salvou "a honra do convento" da Movistar, depois do descalabro de Quintana e Valverde.
Mas - the last, not the least - esta etapa confirmou um miúdo de 21 anos como o grande ciclista da próxima década. Chama-se Bernal (na imagem) - Egan Bernal -, é colombiano, integra a equipa da Sky e, apesar da idade, é o pai de Froome. Também de Thomas, mas se hoje, mesmo perdendo o terceiro lugar, Froome não caiu desamparado pela classificação abaixo, foi apenas porque o miúdo o foi lá buscar e o rebocou montanha acima, até o levar ao grupeto dos primeiros. Aí chegado, passou para a frente e foi ele a puxar para ir buscar Bardet, que seguia lá na frente, já sem Landa, e até já sem Majka. Mesmo assim, depois de fazer isso tudo, chegou à meta logo a seguir ao grupo dos primeiros dez, pouco mais de minuto e meio depois do vencedor da etapa. E isto quer dizer duas coisas: a primeira é que, da Colômbia, continuam a chegar, todos os anos, grandes corredores para a elite do ciclismo mundial; e a segunda é que, noutra equipa, em que não tivesse de trabalhar para duas figuras como os dois britânicos, era menino para ganhar o Tour. Já e de caras!
Amanhã o contra-relógio fechará as contas finais. Os dois primeiros estão encontrados, só uma calamidade impedirá o galês de chegar, domingo, de amarelo aos Champs Elysées. E o holandês Dumoulin de ser segundo. Em aberto estará ainda o último lugar do pódio: Froome terá apenas que ganhar 13 segundos a Roglic, tarefa que há bem pouco tempo parecia fácil...