Um país fascinante
A semana que agora termina, com mudança de hora e tudo, mostrou a quem andasse mais distraído o país que somos. Os governos que temos e o povo que somos.
Como sempre, é preciso que venha alguém de fora mostrar-nos mais claramente isso, porque, nós, cá vamos andando… Coube desta vez a tarefa à ministra das finanças da Suécia, desesperada com o incumprimento do(s) governo(s) português(es) do acordo de tributação aos cidadãos suecos residentes no país.
Mais 3 mil pensionistas suecos, de altos rendimentos, vivem em Portugal. Não tem mal nenhum, e só se lhe pode gabar o gosto. Viver em Portugal, com uma pensão catita, e sem pagar impostos, é das melhores coisas que se pode reclamar para a velhice. O governo sueco pretende que estes pensionistas paguem impostos. Lá ou cá. Mas que paguem impostos sobre os seus rendimentos de pensões. E assinou um protocolo com o governo português, que não o cumpre.
O que obrigou a ministra das finanças a perder a paciência e a dizer que "é fascinante" que os portugueses não se revoltem por ver os suecos viverem aqui com as suas ricas pensões de reforma sem pagarem um euro de IRS. E que, lado a lado com um sueco numa cama de um hospital, um português não se importe de estar a pagar para os dois, sabendo ainda que o sueco vive com um rendimento três, quatro ou cinco vezes superior ao seu.
É de facto fascinante. Já é fascinante que o governo português seja tão generoso com os cidadãos estrangeiros - e, já agora, com as empresas detidas por estrangeiros, como se voltou a ver com a EDP, e como se está a voltar a ver com o Novo Banco - e tão impiedoso com os nacionais. Ou, noutra escala, mas que também serve de exemplo, enquanto não permite aos portugueses nesta altura passar a fronteira do seu concelho, permite que turistas estrangeiros possam passear à vontade pelo país. Mas é ainda mais fascinante que os portugueses se não importem nada com isso!
É este o país que somos, que muitas vezes nos passa ao lado, e que a ministra das finanças sueca tratou de nos mostrar em todo o seu esplendor. Um país governado por quem trata os seus cidadãos abaixo de cão, com um povo que aprecia ser assim tratado.