VÍRUS DO ÁLVARO
Por Eduardo Louro
O vice-chanceler alemão e ministro da economia, Philipp Toesler – um tipo de ar asiático, que de vez em quando diz umas coisas que nos chateiam – encontrou-se hoje com o seu homólogo português - o nosso Álvaro – em Berlim, na abertura da primeira edição do Portugal Plus - uma espécie de bolsa de contactos promovida pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã – e aproveitou para declarar "exemplar para a Europa e para o mundo" a aplicação do programa de ajustamento financeiro em Portugal.
Disse coisas extraordinárias, como: "Apesar de todas as dificuldades, Portugal tem conseguido implementar a consolidação orçamental e as reformas estruturais, um caminho muito difícil, mas que está a ser traçado de forma exemplar para a Europa e para o mundo". Ou "Portugal está a percorrer um caminho extraordinário, e chegou o momento de lhe dar vida económica".
Ouvir, nesta precisa altura, coisas destas do número dois alemão - parceiro de coligação de Merkel – leva qualquer um a, mais que abrir a boca de espanto, começar a coçar na cabeça à procura de explicações.
Como é que, numa altura em que toda a gente percebeu – incluindo a troika, evidentemente, que até teve da dar mais tempo para atingir a meta do défice – que tudo falhou, que falhou o programa, como toda a gente anunciara que falharia, e falhou a sua execução, somos um exemplo para a “Europa e para o mundo”?
Como é que, depois de toda a gente e por todo o lado ter dito que o programa mataria a economia nacional, como matou, é, precisamente agora, que “chegou o momento de lhe dar vida económica”?
Terá isto alguma coisa a ver com a expressão de revolta que os portugueses finalmente conseguiram mostrar ao mundo?
Ou terá o homem simplesmente sido atacado pelo vírus do Álvaro?
Que, como se sabe, é uma bactéria que inverte a realidade para depois a projectar sob a forma de pastéis de nata: bem parecida, doce e quente. E com canela!
Parece-me bem que é isso. O homem foi contagiado e, sob o efeito do vírus do Álvaro, está em Marte. E nem é sequer por a Comissão Europeia ter ainda ontem lembrado, de Bruxelas, que havia lá uma tranche para chegar no início de Outubro… Que só chegará se tudo for cumprido bem direitinho…