Aí está mais um exemplo de um dos primeiros mandamentos do empreendedorismo: "faz de cada ameaça uma oportunidade". Vem do México, e do sector da construção civil, com uma construtora a apressar-se a oferecer os seus serviços a Trump para a construção do muro. Daquele muro!
Sabendo-se que Paulo Portas centrou a sua actividade neste sector de actividade, na América Latina, e em particular no país dos mariachis, desconfiamos logo que esta seja uma das empresas que serve. Não sei se aqui há dedo de Paulo Portas, mas lá que cheira a Portas, cheira...
Há pouco mais de um quarto de século a Europa festejou o derrube do muro que chamava da vergonha. Pensava-se então que caíra o último muro que a dividia e com ele o medo. O medo das perseguições, o medo de fugir, o medo da guerra sempre eminente… O medo de novos muros…
Sabemos hoje que, com o muro, caíram muitas coisas. Mas que também se levantaram muitas outras, algumas delas tão ou mais assustadoras do que as que caíram. Estaríamos porém longe de admitir que, depois de caírem fronteiras, seria possível voltar a levantar muros.
Mas eles aí estão, grandes e altos. Intransponíveis. E para ficar…
Primeiro foi a Hungria a anunciar a construção do seu muro, tapando-a da Sérvia. Não ligamos muito, era apenas mais uma extravagância de Viktor Orban, o xenófobo fascista a quem a Europa tudo admite e tudo tolera.
Mas a Áustria, em processo de crescente radicalização extremista onde a xenofobia medra todos os dias, não quis ficar atrás. E anunciou também o seu muro, precisamente na fronteira com a Hungria, de Orban.
Agora é o Reino Unido, que depois de se decidir pelo abandono da União Europeia, acaba de anunciar a construção do seu muro, a fechar a sua única porta de entrada e de saída para o continente, em Calais. A "Grande Muralha de Calais", como já lhe chama a comunicação social britânica vai começar a ser construído ainda este mês e visa impedir o acesso pelo Canal da Mancha.
Depois de se levantarem muros onde antes se derrubaram fronteiras, talvez fizesse mais sentido fecharem o túnel da Mancha. Mas não faz: os ingleses não querem fechar as portas aos seus camiões para a Europa. Querem apenas fechá-las è emigração. E isso faz-se com muros como, do outro lado do Atlântico, proclama Donald Trump, outro produto dos ventos dominantes no tempo que faz. Que faz deste um mundo perdido. Completamente perdido. Por muros. No meio de muros...
Foi a este ponto que chegou a Europa unida e única. À Europa da moeda única, que passou a Europa do pensamento único. A que não admite desvios, torcendo e esmagando quem desalinhe: o camion a acelerar em direcção ao Mini. À Europa de Schengen, que depois de derrubar fronteiras ergue muros... Atrás do que esconde ideias que a civilização condenou há três quartos de século.
É esta a Europa que demorou 50 anos a construir e apenas 5 a destruir. A Europa dos muros... A Europa do muro que caiu para que outros se reergam!
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