Os resultados eleitorais no Reino Unido vêm carregados de más notícias. Em primeiro lugar para as sondagens, cujo empate técnico que grarantiam dá, afinal, numa maioria absolutamente confortável dos Conservadores que, no momento em que escrevo e ainda com a contagem por encerrar, já atingiram o 322º deputado, a apenas um dos 323 da maioria absoluta. Depois, naturalmente, para os trabalhistas, com uma derrota histórica, e para os liberais-democratas. Também para a extrema-direita xenófoba, mas essa é uma óptima notícia...
As boas notícias foram evidentemente para David Cameron, a colher os louros de uma economia em crescimento, e com o desemprego nuns invejáveis 5%, em resultado de opções completamente demarcadas - e mesmo antagónicas - das seguidas na UEM, ao ritmo da batuta alemã. E para Nicola Sturgeon - os nacionalistas escoceses dizimaram os trabalhistas, que praticamente desapareceram do mapa eleitoral da Escócia -, voltando a colocar na agenda, poucos meses depois do referendo, a saída da Escócia do Reino Unido.
Boas notícias também para o eurocepticismo - é hoje claro que só o interesse no mercado comum prende os britânicos à UE -, o que não é novidade por aquelas bandas. Novidade é que nunca isso foi tão natural!
Acabei de concluir, no post anterior, que o dia de ontem não existiu: ontem foi um jogo de futebol! E, pelo vou vendo, hoje pouco mais é que o dia seguinte ao do jogo de futebol!
Procura-se justificar este absurdo com uma realidade tida como incontornável: a primeira final de uma competição europeia totalmente portuguesa!
O sucesso do futebol português – enquanto actividade de excelência, das poucas que somos capazes de apresentar à Europa e ao Mundo – materializado numa final portuguesa, funcionaria, neste momento de humilhação e de descrença colectiva, como motivo de orgulho nacional e de reforço de uma auto-estima que se encontra pelas ruas da amargura. E isto justificaria a onda de excitação do país que os media procuraram provocar, deitando mãos a todos os recursos, mesmo que desproporcionados e despropositados!
Não me parece que, apesar de não terem olhado a meios nem a custos, o tenham conseguido. Não me parece que, apesar dos esforços, tenham sido bem sucedidos nessa tarefa de pôr o país em festa.
Porque a crise e o desespero tomaram mesmo conta dos portugueses. Mas também porque o cariz regionalista a que entregaram a tarefa (como referi abaixo o lema da Antena 1 era que “a Irlanda é do Norte”, mas houve muitas mais expressões dessa arregimentada divisão regionalista) era em si mesmo paradoxal, se não mesmo inimigo desse desiderato nacionalista.
E na realidade esta final portuguesa teve muito pouco de portuguesa e muito menos ainda de portugalidade. Não tanto pela constituição das duas equipas portuguesas (e do Norte!), com apenas três portugueses cada à entrada (à saída eram ainda menos), que isso não acontece apenas em Portugal, mas pela falta de expressão portuguesa! Na festa, claro! E, essa, fizeram-na os jogadores do Porto, naturalmente… Com os estrangeiros – a enorme maioria, como vimos – embrulhados nas suas bandeiras nacionais. E até, pasme-se, com um dos seus únicos três portugueses em campo, e jogador da selecção nacional, embrulhado na bandeira de Cabo Verde. Bandeira nacional foi coisa que se não viu ontem naquela final portuguesa, de repetição absolutamente improvável. O próprio Falcao, melhor marcador da prova, marcador do único golo da partida e, talvez por isso, na linha habitual da UEFA, distinguido como o melhor jogador da final, que temos visto fazer um notável esforço em Portugal para se expressar em português, respondeu a todas as solicitações em castelhano, sem se lembrar que estava a falar para Portugal e para portugueses.
O cabo-verdiano Rolando falou em português: mas para dizer que se queria ir embora, que tinha aspirações a jogar num clube de maior dimensão! Paradoxos: somos um país de paradoxos!
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