Ontem foi dia de compras para o Estado português. Puxou do livro de cheques e comprou praticamente o resto da TAP. Puxou do ... Diário da República e comprou a Efacec.
Na TAP evitou a nacionalização, trocando o certo no cheque imediato pelo incerto num cheque futuro. Mas só isso, só essa parte do cheque. O resto não passa de adiar e engrossar o problema. Evita a falência mas apenas empurrando-a mais para a frente. Para um futuro não muito distante, e para encargos mais pesados, que somarão aos agora tomados.
Completamente diferente na Efacec. Sem cheque, apenas decretando a nacionalização. É que aqui, mesmo que o Estado quisesse, não tinha sequer a quem pagar. Ninguém sabe de quem são as acções de Isabel dos Santos. Arrestadas aqui, penhoradas ali, apenas se sabe que não são dela.
E, aqui sim, a resolver um problema que de há seis meses para cá mais parecia uma bola de ténis, de um lado para o outro entre a banca, com créditos e acções a garanti-los, e o governo, a quem sempre quis endossar o problema.
Trata-se de uma das grandes empresas da indústria nacional, com tecnologia, produto e mercado. E de uma das poucas multinacionais da economia portuguesa. Uma empresa de ponta e rentável, a interessar a muita gente por esse mundo fora.
Compra mais acertada não podia o Estado fazer. Tanto mais que a fez ao mesmo tempo que anunciava vendê-la... aos potenciais compradores, que não tinham a quem a comprar.
A (re)nacionaização da TAP está decididamente em cima da mesa. Era uma questão de tempo, que a actual crise resolveu rapidamente.
As contradições eram imensas, mas tornaram-se completamente insanáveis quando o comando foi entregue a um Bolsonaro dos aviões. "A música agora é outra" - proclamou ontem o ministro Pedro Nuno Santos numa audição regimental na comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação. Salvar a TAP é uma coisa, salvar os seus accionistas privados é outra, como também, e tão bem, disse.
Uma - a primeira - poderá ser papel do Estado. A outra evidentemente que não.
Nos tempos que correm, ter uma companhia de aviação de bandeira poderá ser um luxo. Mas também é soberania. Poderá sempre dizer-se que as coisas não estão para luxos. E que a soberania há muito que já lá vai... Mas ... "a música agora é outra"!
Aí está o primeiro orçamento aprovado pela esquerda, unida. Já não é surpresa, surpresa seria agora se o não fosse.
Surpresa é ver o liberais como Vítor Bento, e o PCP, do mesmo lado. Se esse lado for o da nacionalização de um banco, não é surpresa encontrar lá o PCP. Supresa é lá estar Vítor Bento. Mas se esse banco for o Novo dito, já com mais de mil milhões de prejuízos acumulados em menos de dois anos, já não é surpresa que lá esteja... Nacionalizar prejuízos - para os liberais - não é bem nacionalizar. Já para o PC, nacionalizar é bom porque sim. Porque lhe está na massa do sangue. E lá se vão as surpresas...
Surpresa também não é o bastonário da Ordem dos Médicos se opor à legalização da eutanásia. Já o sabíamos, mesmo que não saibamos onde acaba a posição pessoal e começa a corporativa. Surpresa é a argumentação rasca. Surpresa é que caia na pantominice de dizer que, com a eutanásia, quem hoje violenta física ou psicologicamente os idosos passaria a matá-los.
É isto que o bastonário está a dizer quando invoca estudos que indicarão que "um quarto dos idosos é submetido a alguma forma de violência, seja física, seja psicológica”, para concluir que "certamente todos percebemos com facilidade que esses idosos que são submetidos a essas formas de violência, a partir do momento em que seja descriminalizada/ legalizada a eutanásia, vão ser coagidos a optar pela eutanásia".
Surpresa é que pessoas destas não encontrem formas mais sérias de defender as suas ideias.
Mas, surpresa mesmo, é que um alto magistrado do mais importante orgão de investigação de crimes de colarinho branco seja detido por suspeita de corrupção. Ou será que não?