Durante muito tempo a estratégia do país para o Turismo, sempre uma das mais fortes componentes da nossa economia, a par das remessas dos emigrantes, assentava no "Sol e Praia". Muitos entendidos da matéria alertavam para os perigos de uma espécie de mono-produto, e avisavam que era preciso alargar a oferta.
Não sei se foi feita muita coisa para atingir esse desiderato, mas sei o que o terrorismo, e principalmente a instabilidade que se seguiu à Primavera Árabe, de há meia dúzia de anos a esta parte, fizeram por isso. Hoje o turismo português faz gala de apresentar mais um produto - a "Segurança", a acrescentar ao "Sol e Praia". Hoje Portugal é "Sol, Praia e Segurança". Que não é bem a mesma coisa que "sol e praia em segurança", como se sol e praia fosse sexo. Que às vezes também é!
Não. Segurança é, hoje, o mais determinante produto do pacote turístico que temos para oferecer. E valeu-nos mesmo dois dos mais disputados turistas da actualidade. Temos desde ontem em Lisboa dois turistas à procura do que de melhor temos para oferecer - "segurança"!
Os senhores Pompeo e Nethanyahu precisavam de conversar um bocadinho - talvez até uma partidinha de xadrez, quem sabe? (dominó? - não acredito!) - e escolheram Portugal. Claro que, sendo quem são, precisam mais de segurança que de sol. Que também aí está, de mãos dadas com a tradicional hospitalidade portuguesa, também central no rótulo do nosso pacote turístico.
Um cartoon de António, onde Trump, cego, é conduzido por um cão-guia com rosto de Netanyahu, que também é Benjamim mas conhecido por Bibi, que bem podia ser nome de cão, foi publicado, sem sua autorização e sem sequer disso ter sido informado, pelo New York Times.
Até aqui a única anormalidade é um jornal desta dimensão publicar um trabalho de um autor à sua completa revelia. Mas nenhum problema, a não ser que Trump use quipá, e que na extremidade da coleira esteja a estrela de David. Aí... alto lá!
Aí, o jornal foi acusado de anti-semitismo, e imediatamente tratou de retirar o cartoon, pedir desculpas e lamentar a falta.
Teria sido mais um grande jeito a Netanyahu, que já não tinha como articular o horror do holocausto com os horrores da sua governação. A partir de agora, e graças a esse grande vulto da civilização mundial chamado Jair Bolsonaro, Netanyahu não teria por onde sentir qualquer constrangimento...
Sabe-se que Netanyahu massacra a Faixa de Gaza apenas por duas razões: por tudo, e por nada. Desta vez bastou-lhe que Trump reconhecesse, contra o consenso internacional há muito estabelecido, a soberania israelita sobre os Montes Golã. E a campanha eleitoral em curso em Israel, onde as coisas lhe não estão a correr de feição.
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