O Nobel da Paz é sempre o que mais expectativas alimenta. É sempre o mais aguardado, e na maior parte das vezes o mais previsível. Politicamente correcto umas vezes, déjá vu, noutras, e pedrada no charco ainda noutras. Mas raras...
Desta vez falava-se de Merkel - pouco menos que chocante - e do politicamente correcto Papa Francisco. Não estou a dizer que o Papa Francisco o seja, estou a dizer que a sua "nomeação" o era. Falou-se até de Guterres, mas foi por pouco tempo e ninguém lhe pegou.
Supreendentemente a escolha caiu num nome que mais parece o de uma banda de jazz: Quarteto de Diálogo Nacional. Não é um grupo de jazz, se o fosse talvez fosse mais conhecido. É um quarteto porque integra quatro "organizações chave" da sociedade civil tunisina: União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), Confederação de Indústria, Comércio e Artesanato da Tunísia (UTICA), Liga dos Direitos Humanos da Tunísia (LDHT) e Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (ONAT). Foi formado no Verão de 2013 e "estabeleceu-se como uma alternativa, um processo político pacífico numa altura em que o país estava à beira de uma guerra civil".
Sem surpresa, Malala, a jovem paquistanesa que depois de heroína se tornou a maior activista do direito à educação é, aos 17 anos, Prémio Nobel da Paz. Parece até injusto que deixe para segundo plano o indiano Kailash Satyarthi, activista dos direitos das crianças, e em particular no combate ao trabalho infantil, que com ela partilha o prémio. Que raramente terá sido atribuído com tanta propriedade!
O Júri do Comité Nobel da Noruega revelou um desconhecido lado irónico que, bem vistas as coisas, não lhe fica mal. Realmente, e pensando melhor, nada obriga a levar tão a sério os prémios Nobel. Mesmo o da Paz, que é coisa muito séria!
Atribuir nesta altura o Prémio Nobel da Paz à União Europeia só pode ser brincadeira. O prémio monetário – enfim, ainda é qualquer coisa próxima do milhão de euros – pode ajudar a resolver qualquer coisa… Isto se a Alemanha se não quiser abotoar com ele todo!
Estes últimos dias, e em particular o de ontem, foram varridos por uma autêntica Krugmania. Três Universidades de Lisboa atribuiram-lhe o Doutoramento Honoris Causa e falou-se de Krugman a torto e a direito. E Krugman falou a torto e a direito, dando umas no cravo e outras na ferradura!
Disse que a Grécia iria sair do Euro e que Portugal tinha 75% de lá permanecer. Bom, se a primeira não é novidade nenhuma, a segunda, por muito bem que tenha sabido ao governo – que hoje, pela voz pausada (e pelos vistos bem vista) do ministro das finanças, já veio rectificar a queda do Produto para os 3,3% que a UE anunciara a semana passada, e o aumento do desemprego até aos 14,5% - também não. Há 25% onde tudo cabe, incluindo os erros de previsão do professor.
Reafirmou as suas posições de feroz adversário das políticas de austeridade, o que é simpático para os portugueses e nem tanto assim para o governo; mas reafirmou também que os salários deveriam descer entre 20 e 30%, o que inverte a ordem da simpatia. O que vale – e o que ele provavelmente não sabe - é que já não deve faltar muito para atingir esse desiderato. Valha-nos (mas pouco, porque dentro de poucos anos iremos querer muito de ter salários como os deles) que também afirmou que Portugal não tem que reduzir os salários para os níveis chineses
Ficava no ar um certo tom de contradição: como é que se pode ser contra as políticas de austeridade e defender reduções de salários?
Então esclareceu que o ideal seria que essa redução salarial em Portugal fosse acompanhada por aumentos nos salários dos alemães. Quer dizer, produzir barato em Portugal para que os alemães, com muito dinheiro nos bolsos, comprem.
Mas isso é fado: o nosso fado! Não é preciso ser um Nobel…